O sol estava mais quente do que o normal naquele dia, mas nada disso parecia importar. Quando entrei na sala de aula, percebi imediatamente o burburinho das meninas, suas conversas animadas misturadas com risadinhas e gestos entusiásticos. Algo estava acontecendo, algo importante, e elas estavam todas excitadas sobre isso.
— Helena, você ouviu? — disse minha amiga Beatriz, enquanto se aproximava, os olhos brilhando de excitação. — A Casa Morales está em Martins do Sul!
— Casa Morales? — perguntei, ainda um pouco atordoada pela agitação. Nunca tinha ouvido tanta empolgação em relação a uma casa.
Ela fez um gesto largo, como se quisesse me dar uma pista.
— A maior casa política de Santa Aurora! Eles estão aqui para, provavelmente, buscar uma esposa para o herdeiro!
Ouvi um murmúrio entre as outras meninas. Algumas estavam visivelmente empolgadas, outras mais céticas. A ideia de que a Casa Morales, uma das casas mais poderosas, pudesse estar em Martins do Sul já era o suficiente para fazer qualquer um se perguntar o que isso significava para o futuro.
Fui até o grupo para entender melhor.
— Vocês sabem mais sobre isso? — perguntei, tentando me inserir na conversa.
Clara, uma das meninas que sempre gostava de falar em voz alta, respondeu antes das outras.
— Estão dizendo que o herdeiro da Casa Morales pode estar procurando uma esposa aqui, em Martins do Sul. E sabe o que isso significa?
— O quê? — perguntei, curiosa.
Ela olhou ao redor, como se fosse contar um segredo.
— Que uma de nós pode se tornar a esposa do príncipe herdeiro de Morales, Helena! Isso seria incrível! Imagina... uma aliança com uma casa tão poderosa!
Eu fiquei pensativa. Uma aliança política, um casamento com alguém da Casa Morales... tudo aquilo era tão distante de mim, tão irrelevante para o que eu realmente queria. Claro, a política e as alianças de casamento eram fundamentais para a estabilidade de Santa Aurora.
Logo, a professora entrou na sala, interrompendo a conversa, e todos se calaram. Ela olhou para todas nós com um sorriso enigmático, como se soubesse exatamente o que estava acontecendo em nossas mentes.
— Meninas, hoje vamos falar sobre a importância das casas de Santa Aurora — anunciou ela, com uma voz firme, mas acolhedora.
As meninas começaram a murmurar novamente, mas desta vez, eram todas ouvidos atentos. Sabíamos que, como estudantes da Escola Senhorita do Sul, precisávamos aprender sobre as casas e seu impacto em nossa nação. A professora se virou para a lousa, onde havia escrito os nomes das casas: Morales, Martins, Albuquerque, Monteiro, Ribeiro e Oliveira.
— Helena — ela disse, e um calafrio percorreu minha espinha. Não era incomum ser chamada, mas naquele momento, parecia diferente. Ela me olhou com expectativa, como se eu tivesse a obrigação de saber a resposta. — Você pode nos dizer qual é o papel da Casa Morales em nossa nação?
A sala inteira virou os olhos para mim. Eu poderia sentir as faíscas de curiosidade queimando nos olhares das minhas colegas. Claro que eu sabia a resposta, e deveria saber. Afinal, minha família, a Casa Martins, fazia parte desse sistema, e eu já aprendera isso durante todos os anos de minha educação. Mas, ao mesmo tempo, me senti sobrecarregada pela responsabilidade de explicar algo tão complexo.
Levantei-me lentamente, meu coração batendo mais rápido. A sala estava em silêncio, e todas esperavam que eu fosse a voz da sabedoria naquele momento.
— Bem — comecei, tomando um fôlego profundo —, o país Santa Aurora é composto por seis casas, cada uma com um papel essencial para o funcionamento da nossa sociedade e economia. A Casa Morales, especificamente, é responsável pela liderança política e administrativa. Eles controlam o poder central e são os anfitriões de muitos eventos diplomáticos internacionais. São eles que organizam as principais infraestruturas do país, como a energia, e também têm influência direta sobre as políticas que nos afetam, tanto internamente quanto no cenário internacional.
Fui interrompida por uma pergunta de uma das meninas, Clara, que sempre gostava de desviar o foco.
— Mas, Helena, como isso afeta nossa cidade? Eu sei que a Casa Martins tem muito a ver com a agricultura e a produção de alimentos, mas qual é o papel real da Casa Morales em Martins do Sul?
Parei por um momento, tentando organizar meus pensamentos.
— A Casa Morales é a força política que une as casas — continuei, tentando simplificar. — Eles garantem que os outros territórios e casas funcionem em harmonia. Para manter a estabilidade de Santa Aurora, cada casa precisa colaborar, e a Casa Morales faz a mediação entre todas. Se não fosse pela Casa Morales, o equilíbrio que temos hoje, com a Casa Martins abastecendo o país e as outras casas cuidando das suas respectivas áreas, não existiria. Eles são os responsáveis pelas alianças políticas, pela manutenção do poder.
A professora sorriu, satisfeita com minha explicação, e os murmúrios cessaram. Mas, na verdade, eu sabia que minha explicação tinha sido apenas superficial. Eu estava evitando o fato de que a Casa Morales, com seu poder político, tinha muito mais influência do que qualquer uma das outras casas, e esse poder se estendia até mesmo a influenciar nossas famílias e alianças matrimoniais. A menção ao herdeiro da Casa Morales e sua busca por esposa não era apenas uma fofoca entre meninas. Era uma realidade que poderia moldar todo o nosso futuro.
Quando terminei, a sala ficou em silêncio por um momento. Algumas meninas trocavam olhares de compreensão, outras pareciam sonhar com as possibilidades. Eu, por outro lado, sentia uma leve sensação de desconforto, como se estivesse presa em um jogo de peças de xadrez onde meu movimento já estava predeterminado.
A professora acenou com a cabeça, sinalizando que o assunto estava encerrado. No entanto, antes que pudesse prosseguir, uma das meninas levantou a mão.
— Professora, será que isso significa que uma de nós pode se casar com o herdeiro de Morales? — ela perguntou, a voz cheia de curiosidade.
A sala se encheu de murmúrios novamente, e a professora sorriu, como se estivesse esperando por aquela pergunta.
— Essas questões, minhas queridas, são decididas entre as famílias e suas alianças. O casamento entre casas não é algo que acontece da noite para o dia. É um processo complicado, onde interesses políticos e pessoais se misturam. A Casa Morales, como outras casas, tem seus próprios interesses, e quem será escolhida para uma união como essa não depende apenas de beleza ou simpatia. Depende do que cada uma de nós pode oferecer em termos de poder e influência.
Aquelas palavras ficaram em minha mente por muito tempo. Afinal, eu sabia que, no fundo, minha família já estava envolvida nesse jogo. A Casa Martins tinha suas próprias ambições, e eu era apenas mais uma peça nesse vasto tabuleiro.
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Atualizado até capítulo 83
Comments
Grace 🌻🌷
Clara, é o nome da irmã, da amiga e também de uma das colegas ⁉️😂
2025-03-10
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