O sol da manhã brilhava forte sobre São Paulo, iluminando as ruas movimentadas e o caos típico da cidade. Laila estava na cozinha, preparando o café enquanto Rami se sentava à mesa, brincando com os poucos brinquedos que trouxe da Síria. Ele parecia alheio ao novo ambiente, perdido em seu próprio mundo. Laila sorria para ele, tentando manter a calma, mas dentro de si sentia uma mistura de ansiedade e tristeza. Tudo parecia tão diferente.
Na noite anterior, depois de chegarem à casa, Jamil os havia deixado sozinhos, prometendo voltar no dia seguinte para ajudá-los a se instalar. Ele mencionou rapidamente que tinha compromissos, mas que ficaria à disposição sempre que precisassem. Laila sabia que ele estava sendo gentil, mas algo em seu jeito de agir lhe causava uma sensação desconfortável, como se houvesse algo que ele não estava dizendo.
Enquanto preparava o café, Laila tentava se concentrar nas tarefas cotidianas. Ela sabia que precisava de um emprego, algo para começar a se estabelecer, mas o idioma era uma barreira. A saudade de sua terra, da família, dos amigos que deixara para trás, pesava em seu coração. Ela se perguntava o que aconteceria com ela e Rami. Como seria a vida deles no Brasil? O que encontrariam em um país tão distante e diferente?
Foi quando a porta da sala se abriu, e Jamil entrou com um sorriso caloroso, como sempre. Ele estava vestido de forma simples, mas elegante, e sua postura trazia uma confiança tranquila.
"Bom dia, Laila. Como estão as coisas?" Ele perguntou, se aproximando da mesa onde Rami estava sentado.
"Bom dia, Jamil", Laila respondeu, tentando esconder a apreensão em sua voz. "Estamos nos adaptando. Mas ainda é tudo muito novo para nós."
Jamil assentiu, compreensivo. "Sei como é difícil começar do zero. Mas vocês estão em um lugar seguro agora. Acredite, as coisas vão melhorar."
Laila olhou para ele, notando a sinceridade em seus olhos, mas algo ainda a inquietava. Ela não conseguia entender o porquê. Havia algo em Jamil que ela não conseguia decifrar.
"Eu trouxe algumas roupas e alguns alimentos para vocês. Além disso, encontrei um trabalho para você, Laila", ele disse com um sorriso. "Uma loja de tecidos precisa de ajuda. Eles estão procurando alguém para organizar e limpar. Eu falei com o dono e ele me disse que vai pagar bem. Se você se sentir confortável, pode começar amanhã."
Laila ficou surpresa. "Eu... eu não sei o que dizer, Jamil. Eu não esperava..."
"Não precisa agradecer. Estamos todos aqui para ajudar uns aos outros", respondeu Jamil, sorrindo de maneira calorosa, mas seus olhos pareciam esconder algo.
Após o almoço, Laila e Rami saíram para dar uma volta no bairro. O calor era intenso, mas as ruas estavam cheias de pessoas, e a mistura de sons, línguas e cheiros lhe dava uma sensação de que ela estava em um lugar estranho, mas ao mesmo tempo acolhedor. Ela olhava para as crianças brincando na rua, para os vendedores ambulantes oferecendo suas mercadorias e se perguntava se um dia ela seria capaz de se sentir parte de tudo aquilo.
"Você acha que vai dar certo, Laila?" Rami perguntou, segurando a mão dela enquanto caminhavam lado a lado.
Laila olhou para o irmão, com um sorriso suave. "Eu espero que sim. Só precisamos ser pacientes, Rami. As coisas vão melhorar, eu prometo."
Naquele momento, Laila não sabia o quanto ela estava se enganando. Ela não sabia que sua vida, a vida de Rami, e até mesmo a vida de Jamil, estava prestes a mudar para sempre.
Quando voltaram para a casa, Jamil ainda estava lá, sentado à mesa, mexendo em alguns papéis. Ele parecia ocupado, mas ao ver Laila, seus olhos brilharam com uma expressão que ela não soubera identificar.
"Eu vou sair por um tempo", disse ele, levantando-se. "Mas, Laila, quero que saiba que pode contar comigo para o que precisar. Eu... quero ajudá-los de verdade."
Laila assentiu, mas seu coração estava dividido. Ela sabia que não podia ficar esperando que as coisas se resolvessem por si mesmas. Ela precisava fazer algo por si mesma, por Rami. Mas a ajuda de Jamil parecia ser a única coisa que ela tinha por enquanto.
"Obrigada, Jamil", ela disse, a voz baixa, mas cheia de gratidão. "Você tem sido muito gentil."
"Não é nada", ele respondeu, saindo pela porta. "Nos vemos em breve."
Sozinha com Rami, Laila se sentou na cama, tentando lidar com a avalanche de emoções que a inundava. A saudade de casa, a incerteza sobre o futuro, o medo do que estava por vir. Ela se levantou e foi até a janela, olhando para as ruas movimentadas lá fora. O Brasil era estranho, mas, ao mesmo tempo, era um lugar cheio de possibilidades. Ela só precisava aprender a confiar nas novas oportunidades que surgiriam.
Mas uma coisa Laila sabia: sua luta estava apenas começando.
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Atualizado até capítulo 33
Comments
Rita DE Cassia Gomes
😢
2025-01-16
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