Entre a Lealdade e o Desconhecido.

O dia amanheceu chuvoso, como se o céu quisesse refletir o turbilhão de sentimentos que Laila carregava dentro de si. Desde o encontro com Jamil, ela não conseguira mais deixar de pensar nas palavras dele. A preocupação dele parecia genuína, mas algo em seu coração ainda a fazia hesitar. Ela não sabia exatamente o que ele queria dela. Estava claro que ele queria ajudá-la, mas a maneira como ele a olhava, a insistência em querer estar presente em cada momento de sua vida, a fazia questionar se havia algo mais por trás de suas ações.

Ela se levantou cedo, como de costume, para preparar o café. O cheiro de café fresco preencheu a casa e trouxe um pouco de conforto, mas a mente de Laila estava longe. Rami estava dormindo, tranquilo, como sempre. Ele não sabia das complicações que ela estava enfrentando. Ele apenas queria a presença dela, seu apoio incondicional. Laila se sentia culpada por não conseguir ser a irmã perfeita que ele merecia.

Após o café, Laila se dirigiu à loja de tecidos para mais um dia de trabalho. O clima estava pesado, e o caminho até lá parecia mais longo do que nunca. Cada passo, cada olhada das pessoas ao redor, a fazia se sentir como uma estranha. Sentia-se distante, em um lugar onde nunca seria completamente aceita. E, ainda assim, ela estava determinada a seguir em frente.

Ao chegar na loja, Dona Marilda estava organizando alguns tecidos na parte de trás, enquanto um cliente conversava com o vendedor. Laila foi até ela, cumprimentando-a com um sorriso tímido.

“Bom dia, Dona Marilda. Como está o dia hoje?”

A senhora sorriu gentilmente. “Ah, Laila, bom dia! O dia está tranquilo, por enquanto. Como você está? Cansada?”

Laila hesitou antes de responder. Ela estava cansada, mas não só fisicamente. “Um pouco, sim. Acho que os últimos dias têm sido difíceis, mas estou me acostumando.”

Dona Marilda percebeu a falta de entusiasmo na resposta e se aproximou. “Eu sei que não é fácil, querida. Mas quero que saiba que você está indo bem. Está aprendendo rápido e se mostrando muito dedicada. As coisas vão melhorar, você verá.”

Laila sorriu fraco, mas não disse mais nada. Ela sabia que estava fazendo o seu melhor, mas algo dentro dela ainda a consumia. Ela queria mais. Queria algo que lhe desse a sensação de que tudo aquilo valia a pena.

O dia seguiu normalmente, com Laila cumprindo suas tarefas na loja e tentando ignorar os olhares curiosos dos clientes. No final da tarde, quando estava prestes a fechar a loja, Jamil apareceu novamente. Ele entrou com uma expressão diferente daquela vez – mais séria, mais pensativa. Ele a observou por um momento, como se estivesse tentando medir algo em seu olhar.

“Laila, posso falar com você um instante?” Ele perguntou, sua voz mais suave do que o habitual.

Ela olhou para ele, sem saber o que esperar. Mas não conseguiu recusar. “Claro, Jamil. O que aconteceu?”

Ele se aproximou, e os dois saíram para o pequeno corredor que dava acesso à rua. O som da chuva se misturava com o murmúrio das pessoas nas ruas, criando uma atmosfera silenciosa ao redor deles.

“Eu... quero pedir desculpas, Laila. Sei que fui insistente na nossa conversa da última vez. Eu não queria te deixar desconfortável. Eu apenas... me preocupo com você e Rami. E, por mais que tente me controlar, é difícil não me envolver. Eu sei que talvez eu esteja ultrapassando limites, mas a verdade é que...” Ele pausou, olhando para ela com uma intensidade que a fez engolir em seco. “A verdade é que me sinto cada vez mais conectado a você.”

Laila sentiu um nó na garganta. As palavras de Jamil a atingiram com força. Ela não sabia como reagir. A ideia de que ele tinha sentimentos por ela a deixou confusa. Ela não esperava isso. Jamil sempre foi tão gentil, sempre tão preocupado, mas isso não significava que ela estava pronta para algo mais.

“Jamil, eu... não sei o que dizer. Eu agradeço por tudo o que você tem feito por mim e Rami, mas eu... não estou procurando nada além de amizade, eu acho. Eu não posso me envolver agora, não com tudo o que estamos passando.”

Ele a observou por um momento, como se estivesse absorvendo cada palavra que ela dizia. E então, sem dizer mais nada, ele assentiu.

“Eu entendo, Laila. Eu... eu realmente entendo. Não quero te pressionar de forma alguma. Mas, por favor, saiba que sempre estarei aqui para você. Sempre que precisar de alguém, é só chamar.”

Havia uma dor sutil na voz de Jamil, mas ele se controlou rapidamente, tentando esconder os sentimentos que agora eram claros para ambos. Laila sentiu um peso em seu coração, como se tivesse acabado de partir algo que ainda não sabia como cuidar.

“Obrigada, Jamil”, ela disse, a voz mais baixa do que gostaria. “Eu sei que você é uma pessoa boa. E isso significa muito para mim.”

Eles se despediram de forma silenciosa, e Laila voltou para dentro da loja, onde Dona Marilda já estava aguardando para fechar. Ela tentou esconder o turbilhão de pensamentos que a assombrava, mas a verdade era que, a partir daquele momento, nada seria mais simples. Ela estava dividida entre a gratidão que sentia por Jamil e o medo de que ele fosse mais do que ela podia lidar.

Naquele dia, ao voltar para casa, Laila se deitou com o coração apertado. Ela sabia que não poderia negar o que sentia, mas também sabia que sua prioridade tinha que ser Rami. Ela não sabia o que o futuro traria, mas uma coisa era certa: ela não poderia mais ignorar a conexão que existia entre ela e Jamil. Agora, tudo dependeria de como ela lidaria com isso.

Ela fechou os olhos, tentando afastar as dúvidas. O futuro era incerto, mas Laila sabia que a jornada estava apenas começando.

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Comments

Maria Das Graça da Costa

Maria Das Graça da Costa

á meu Deus tomara que dê certo á vida deles.

2025-01-15

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