Capítulo - 4

Conex

Minhas palavras ainda ressoam no ar enquanto a observo se afastar de mim, e saltar no rio, ela me lança um último olhar firme e desafiador. Antes de desaparecer sob um mergulho, me diz:

— Só para constar, meu nome é Melinda, e eu não acredito em contos de fada.

A luz azulada da lua banha a água ao seu redor, iluminando sua silhueta de forma quase etérea. Fico parado por um momento, engolindo em seco, tentando absorver a magnitude do que acabara de acontecer entre nós. Foi selvagem, intenso e... irrevogável.

Levo a mão ao pescoço, verificando se ela realmente não me cortou. E percebo que estou intacto. Mas a verdade é que estou longe de estar ileso. Há algo nela, em seu olhar, sua força, sua fúria, que penetrou em mim mais profundamente do que qualquer lâmina poderia.

Sem pensar muito, levanto-me e salto no rio. A água fria envolve meu corpo, mas não faz nada para acalmar o calor que ainda pulsa dentro de mim. Emerjo próximo a ela, minha respiração ainda irregular.

— Melinda é um belo nome — digo, minha voz rouca e carregada de algo que nem eu consigo definir. — Combina com você. O que tem de linda, tem de forte.

Ela vira-se para mim, seus olhos cravados nos meus. Há algo ali que me desafia, algo feroz que me faz querer chegar mais perto, mesmo sabendo que ela ergueria muralhas mais altas para me manter à distância. Ela sorri, mas é um sorriso cínico, debochado, que só aumenta meu fascínio.

Mal sabe ela que o que aconteceu entre nós não foi apenas um ato físico. Foi mais do que isso. Para nós, os lupinos do planeta Ômega, o instinto escolhe. E quando escolhe, não há volta. Nosso acasalamento a marcou, quer ela aceite ou não.

— Por que você me olha tanto? — ela pergunta, o tom carregado de sarcasmo, mas algo em sua voz vacila levemente. — Você realmente não está achando que vou cair de amores aos seus pés, está?

Sorrio com seu comentário, um sorriso genuíno, mas também cheio de algo que ela não compreende, ainda não. Então, digo:

— Não, Melinda, não espero que caia de amores. Mas saiba de uma coisa: você pode negar tudo o que quiser, mas para mim, você já é minha companheira.

Ela sorri, um sorriso que exala provocação e desafio. Lentamente, Melinda se aproxima de mim, tão próxima que posso sentir a leve pressão de seus seios expostos tocando meu peitoral.

Meu corpo reage instintivamente, um misto de tensão e desejo queimando em minhas veias, mas mantenho meu olhar fixo no dela, intenso e inabalável.

— Sua companheira? — ela diz, com a voz baixa, quase um sussurro, mas carregada de ironia. — Somente em seus sonhos, não é, querido?

Ela inclina a cabeça levemente, seus olhos brilhando como se estivesse se divertindo com a situação, mesmo sabendo da gravidade de suas palavras, ao prosseguir:

— Eu não pertenço a ninguém. Muito menos a você.

Suas palavras são afiadas, mas há algo por trás delas, algo que ela tenta esconder, talvez para se proteger ou para não dar margem ao que sente. Antes que eu possa responder, ela continua, sua voz agora mais firme:

— Aliás, se não esqueceu, existem mundos entre nós. Mundos nos separam. Então, faça um favor a nós dois: esqueça tudo o que aconteceu aqui. Foi apenas um erro momentâneo, algo que nunca deveria ter acontecido.

Minha mandíbula se aperta, mas permaneço em silêncio enquanto ela termina, suas palavras agora carregadas de uma frieza que sei que não é completamente verdadeira.

— Para o nosso próprio bem... e para a segurança da missão. — Finaliza ela.

Melinda recua um passo, seus olhos ainda fixos nos meus, esperando uma resposta. Eu sinto o peso de suas palavras, mas também percebo algo mais profundo, um muro que ela levantou para esconder o que realmente sente.

— Você pode tentar se convencer disso — digo finalmente, minha voz baixa, mas firme. — Mas não adianta mentir para mim. Nem para você mesma.

Seus olhos se estreitam, como se estivesse prestes a me responder com outra frase cortante, mas em vez disso, ela vira as costas e sai da água, pegando suas roupas.

Eu fico aqui por um momento, observando-a, sabendo que esta não será a última vez que ela tentará fugir do que agora somos, ou do que podemos ser.

Saio da água rapidamente, minhas pegadas molhadas deixando marcas na terra enquanto visto minha calça. Melinda está de costas, colocando suas roupas íntimas, quando de repente um som profundo, faz a terra tremer sob nossos pés.

Nossos olhares se encontram instantaneamente, alarmados. Todo o embate verbal de segundos atrás desaparece, sendo substituído por uma tensão que já conhecemos bem demais.

— Outro rastejante? — ela pergunta, enquanto seu olhar varre o horizonte em busca da ameaça. — Mas acabamos com o ninho! Não tinha sobrado nenhum!

Eu abro a boca para responder, mas o som ensurdecedor do solo se partindo me interrompe. Um rastejante colossal emerge da terra, sua pele grotesca pulsando com energia sombria.

Sem perder tempo, minha transformação começa. Pelagem branca como a neve cobre meu corpo enquanto ossos e músculos se ajustam à forma lupina. Minhas patas tocam o chão com força, e, em um rosnado baixo, digo:

— Rápido, suba nas minhas costas!

Melinda hesita por um instante, mas logo obedece, subindo com agilidade. Assim que sinto seu peso sobre mim, lanço-me em disparada pelos relevos acidentados, saltando com precisão enquanto a criatura nos persegue, suas mandíbulas mastigando o ar logo atrás.

— Espera aí — ela diz, agarrando-se à minha pelagem. — Você fala na sua forma de lobo?

— Sim, Melinda — respondo em meio à corrida, meus olhos fixos no terreno à frente. — Mas agora não temos tempo para explicações. Por falar nisso, cadê aquele seu orb?

— Foi dar uma volta — ela responde, quase engolindo as palavras por causa dos solavancos da minha corrida.

Solto um grunhido frustrado, ao dizer:

— Ótimo! Agora que precisamos, ela não está aqui.

Melinda bufa, claramente tão irritada quanto eu, e diz:

— E como se isso não fosse ruim o suficiente, estou só de roupas íntimas! Essa coisa apareceu do nada antes que eu pudesse terminar de me vestir.

Eu corro mais rápido, desviando de rochas e árvores enquanto a criatura continua em nosso encalço.

— Se servir de consolo — digo com humor seco —, roupas provavelmente não vão importar se essa coisa nos pegar.

— Ah, ótimo, Conex. Muito reconfortante. — Ela rebate, mas sinto que está se esforçando para manter o tom leve, mesmo com a adrenalina subindo.

O som do rastejante ecoa mais alto, e sei que o confronto é inevitável.

— Segure firme — aviso, preparando-me para um salto maior.

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Comments

Cleide Almeida

Cleide Almeida

cm certeza tem maus d um ninho

2025-01-30

1

Bred

Bred

cara deve tá a mil já kkkkkkk

2025-01-07

0

Bred

Bred

depois que já rolou kkkkk

2025-01-07

0

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