Capítulo - 2

Conex

A caçadora caminha atrás de mim, seus passos silenciosos, mas precisos. Mesmo sem olhar, posso sentir sua presença, não porque ela seja imponente, mas porque o ar ao seu redor parece vibrar com algo que não consigo identificar. Experiência, talvez. Ou confiança.

Mas há algo mais. Algo que não combina com os outros enviados pela Confederação.

— Então, é você quem nos salvará dessa infestação? — pergunto, mantendo minha voz baixa enquanto atravessamos a trilha.

Não é provocação, mas quero medir sua reação.

— Salvar? Não. Estou aqui para caçá-los. — ela responde sem hesitar.

Sua voz é firme, sem sinal de dúvida, mas há um toque de cansaço. Não físico, mas algo mais profundo. Interessante. Meu foco retorna à floresta enquanto caminhamos. O meu Planeta não é gentil com os distraídos, e este trecho do território é traiçoeiro.

As árvores são altas e fechadas, lançando sombras densas. Mesmo assim, meus olhos ajustados podem enxergar claramente. O solo está marcado por trilhas frescas, sinais dos rastejantes.

— Quanto tempo até chegarmos ao ninho? — ela pergunta, quebrando o silêncio.

— Pouco. Eles não são bons em esconder suas trilhas. Eles não precisam se esconder porque sabem que são maioria — digo firmemente.

Ela não responde, mas dando uma rápida olhada para ela, percebo o leve inclinar de sua cabeça, como se estivesse analisando minhas palavras. É uma boa ouvinte. Isso é raro. Meus companheiros da matilha seguem em silêncio, mas sei o que estão pensando. Eles também a estão avaliando.

— Então, Conex, me fale sobre esses rastejantes. Você disse que eles são diferentes. Como? — ela finalmente pergunta, sua voz interrompendo meus pensamentos.

— Eles se adaptaram ao nosso planeta. Os rastejantes daqui são maiores, mais rápidos. Não são só vermes gigantes. Isso os torna especialmente perigosos — digo.

Ela estreita os olhos, pensativa. Então, diz:

— Isso explica porque vocês pediram ajuda. Não imaginava que rastejantes poderiam evoluir tão rápido.

Sem demora, afirmo:

— Eles evoluem rápido porque não têm outra escolha. Assim como nós.

Paramos por um momento, e eu sinalizo para minha matilha ficar em alerta. O vento mudou. Posso sentir o cheiro de algo... diferente.

— Estamos perto. O ar sempre fica pesado próximo a rastejantes. Você sente isso? — pergunto, voltando minha atenção para ela.

— Sim. Mas não é só o ar. É o silêncio. — ela aponta.

E ela está certa. A floresta, que até minutos atrás estava cheia de sons sutis, folhas farfalhando, pequenos animais se movendo, agora está quieta. Mortalmente quieta.

— Prepare-se. — digo, soltando minhas garras.

Ela acena, e percebo a movimentação em seu orb, que começa a emitir um leve brilho azulado. A tecnologia humana sempre me fascinou, mas nunca confiei nela. No entanto, essa sua armadura parece ser mais do que uma simples máquina.

— Conex, tem algo que você precisa saber sobre esses ninhos. — ela diz de repente, sua voz baixa, quase um sussurro.

— O quê? — Pergunto.

— Eles não apenas sugam os nutrientes do solo. Eles os transformam. A própria terra ao redor do ninho pode se tornar... viva. E hostil. Fique atento.

Sinto um arrepio percorrer minha espinha. Não gosto de surpresas. Continuamos em silêncio, cada passo mais cauteloso do que o anterior. Quando finalmente alcançamos a entrada do vale onde o ninho está localizado, a visão me faz parar.

É pior do que imaginei.

O terreno está deformado, como se algo estivesse corroendo a terra de dentro para fora. Estruturas orgânicas negras emergem do solo, pulsando como se fossem vivas. Rastejantes menores circulam ao redor, mas sei que os maiores estão escondidos, esperando.

— Então é isso. — digo, apertando os punhos.

— É isso. — ela responde, com os olhos fixos no ninho.

Por um momento, tudo fica quieto. Mas é apenas o prelúdio do caos que está prestes a começar.

— Você já fez isso muitas vezes? — pergunto, minha voz mais baixa agora.

— Mais vezes do que gostaria. E você? Já liderou uma missão contra algo assim?

— Algumas vezes. Mas lutei minha vida inteira. Não é diferente agora.

Ela me lança um olhar rápido, e pela primeira vez, vejo algo em seus olhos que não havia notado antes: respeito.

— Então vamos fazer isso direito. — ela diz.

E juntos, avançamos. Sem demora começo minha transformação. Sinto meu corpo se alongar, a musculatura se ajustar, e minha pelagem branca brilhar sob a luz filtrada pelas árvores. Ouço o farfalhar suave enquanto minha forma lupina toma o lugar da humana.

A caçadora para por um instante, observando-me. Há fascínio em seus olhos, mas não é o momento de refletir sobre isso. O chão abaixo de nós vibra, e o som agudo de terra sendo rasgada ecoa pelo vale.

Um enorme rastejante salta do solo, sua carapaça reluzente e cheia de espinhos, os múltiplos olhos encarando-nos com fome primitiva. A caçadora reage primeiro. Seu traje se ajusta ao seu corpo em um segundo, cobrindo-a completamente com uma precisão quase artística.

Ela desliza para baixo da criatura como uma sombra fluida, enquanto seus braços brilham em um tom quente. Uma rajada de fogo explode de seus punhos, atingindo o rastejante com força.

Eu, por outro lado, lanço-me no ar, uivando. O som ressoa como um comando à natureza ao meu redor. O vento obedece, girando em torno de mim como um aliado feroz, e eu o utilizo para impulsionar meus ataques. Minha mandíbula e garras rasgam a carapaça da criatura, enquanto meus sentidos lupinos me guiam com precisão.

É um caos calculado.

Por um momento, é como se estivéssemos em sincronia perfeita. Ela ataca por baixo, desferindo golpes precisos e mortais, enquanto eu a complemento de cima, usando minha força bruta e o poder do vento. Nossos movimentos são quase coreografados, como uma dança feroz entre dois guerreiros de mundos diferentes.

Nossos olhares se encontram em meio ao caos. Há algo em seus olhos, determinação, coragem, e talvez algo mais profundo que me desarma por um segundo. Meu coração dispara, mas não é por causa do perigo iminente. É a intensidade de seu olhar, tão focado e vivo.

De repente, percebo o movimento sutil de outro rastejante, seus movimentos calculados pronto para me atacar.

— Cuidado! — a caçadora grita, sua voz cortando o barulho da batalha.

Antes que eu consiga reagir, ela se lança em minha frente, suas rajadas de fogo interceptando a criatura. O golpe faz o rastejante recuar, e eu aproveito a abertura. Com um salto, afundo minhas garras no pescoço vulnerável da criatura, rasgando-o com força até que o rastejante emite um grito agonizante antes de cair imóvel no chão.

Ficamos aqui, ofegantes, a adrenalina ainda pulsando. A carcaça do rastejante jaz entre nós, fumaça saindo das queimaduras que a caçadora causou e cortes profundos marcando o restante.

Ela se endireita, sua armadura se ajustando enquanto seus olhos me analisam.

— Você está bem? — pergunta, a preocupação em sua voz me surpreendendo.

— Sim. Você salvou minha vida. — admito, minha voz grave, mas sincera.

Ela dá de ombros, tentando minimizar o momento.

— É para isso que estou aqui, não é?

Eu a encaro por um momento, percebendo que há muito mais nessa caçadora do que aparenta. Movido por isso, digo:

— Se continuarmos assim, talvez essa missão tenha uma chance de sucesso.

Ela sorri de lado, e algo me diz que essa parceria será tão desafiadora quanto os rastejantes.

— Vamos, temos mais trabalho a fazer. — Diz ela.

E juntos, seguimos em direção ao ninho, onde a verdadeira batalha nos espera.

Mais populares

Comments

Claudia Claudia

Claudia Claudia

tô super empolgada do jeitinho que amo 😍😍😍

2025-03-14

1

Vitinho

Vitinho

OMG 😲

2025-02-13

1

Vic

Vic

Dois é demais llkkkk

2025-02-13

1

Ver todos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!