O cemitério ficava em uma cidade pequena, a algumas horas de distância. O tipo de lugar onde o tempo parecia se mover mais devagar, arrastando-se com a brisa morna que balançava as folhas das árvores antigas.
Leonardo dirigia, as mãos firmes no volante, enquanto eu observava a paisagem desfilar pela janela. Nenhum de nós havia falado muito durante o trajeto. Ele respeitava meu silêncio, mas eu sentia seu olhar ocasional sobre mim, como se tentasse decifrar meus pensamentos.
A verdade é que nem eu conseguia.
O nome de Victor pesava no ar desde que saímos da cidade. Parte de mim queria acreditar que essa viagem me traria paz. Que ver seu túmulo com meus próprios olhos encerraria esse ciclo de paranoia.
Mas outra parte… outra parte se recusava a confiar em Leonardo.
— Você tem certeza de que ele está enterrado aqui? — perguntei, finalmente quebrando o silêncio.
Leonardo assentiu, sem desviar os olhos da estrada.
— Eu verifiquei. A família trouxe o corpo para cá após a explosão. O pai dele tinha raízes nesta cidade.
— Estranho. Victor não parecia o tipo de homem que se importava com laços familiares.
— Não se importava. Mas os vivos nem sempre decidem o destino dos mortos.
Fechei a boca. A simplicidade com que ele disse aquilo me incomodou.
✦
O cemitério se espalhava por uma colina coberta de grama alta, o portão de ferro enferrujado rangeu quando Leonardo o empurrou para nós passarmos.
O lugar estava deserto. Nenhum visitante, nenhuma cerimônia. Apenas o vento frio sussurrando entre as lápides antigas.
Leonardo caminhava à frente, os passos lentos e certeiros. Ele sabia exatamente onde estava indo.
— Por que você se importa tanto com isso? — perguntei, apressando meu passo para acompanhá-lo.
— Eu te disse. Se Victor está vivo, ele é um problema para nós dois.
— E se ele estiver morto?
Leonardo parou por um instante, me encarando.
— Então alguém está usando o fantasma dele para brincar com você.
Suas palavras se enrolaram em minha mente, desconfortáveis.
Continuamos caminhando em silêncio até que ele parou diante de uma lápide de mármore cinza, sem adornos extravagantes. Apenas um nome gravado com precisão:
Victor Hernández
1978 – 2024
A data de sua morte. Cinco meses atrás.
Meus olhos se fixaram na pedra fria, mas meu coração continuava correndo como se houvesse algo fora do lugar.
— É isso? — perguntei, a voz baixa demais.
— É isso.
Ficamos ali, parados, enquanto o vento soprava.
Eu esperava sentir alguma coisa. Alívio, talvez. Um nó se desfazendo no meu peito.
Mas tudo o que senti foi… nada.
A lápide não tinha a presença que eu temia. Não havia sombra de Victor ali, apenas pedra e terra.
A única coisa que me prendia era o homem ao meu lado.
Leonardo ficou calado, observando-me de esguelha. Sua expressão permanecia neutra demais.
— Ele está mesmo morto — sussurrei, mais para mim mesma do que para ele.
— Sim.
De repente, aquela certeza me atingiu como um golpe.
Se Victor estava morto, quem estava brincando comigo?
Virei lentamente para encará-lo.
— Você parece saber demais sobre tudo isso, Leonardo.
Ele não respondeu.
— Como você sabia onde ele estava enterrado? Como sabia sobre as mensagens?
Seu olhar se estreitou, mas ele manteve a compostura.
— Eu te disse. Eu também recebi mensagens.
— E se não foi Victor que mandou?
Leonardo deu um meio sorriso, mas não havia humor ali.
— O que você está insinuando, Isabela?
Cruzei os braços, tentando ignorar o desconforto que crescia dentro de mim.
— Talvez você não seja a vítima que está tentando parecer.
Leonardo deu um passo mais perto. Eu não recuei, mas o ar entre nós ficou pesado.
— Você acha que eu estou por trás disso?
— Acho que você tem seus próprios segredos.
Ele me estudou por um longo momento antes de soltar um suspiro baixo.
— Todo mundo tem segredos, Isabela. Você mais do que ninguém deveria saber disso.
Sua resposta não me acalmou.
— Se Victor está morto, eu não preciso mais de você.
— Eu não estaria tão certa disso.
Havia algo na forma como ele disse aquilo, uma certeza desconcertante que me fez querer partir dali imediatamente.
Leonardo Vasquez não parecia mais uma vítima.
E naquele momento, eu soube: não podia confiar nele.
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Atualizado até capítulo 58
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