CAPÍTULO 3

A campainha tocou no final da tarde, interrompendo o silêncio denso que pairava no apartamento.

Eu não esperava visitas.

Minha primeira reação foi ignorar. Talvez fosse Enrique, mas ele nunca subia sem avisar. Continuei sentada à mesa, os dedos girando distraidamente a xícara de chá frio.

A campainha tocou de novo, mais insistente.

Levantei-me devagar, o corpo pesado com a desconfiança que já havia se tornado parte de mim. A cada passo até a porta, minha mente gritava para não abrir.

E se for ele?

Mas não podia ser Victor. Não depois do que eu havia lido.

Olhei pelo olho mágico.

Um homem estava parado do outro lado. Alto, de ombros largos e uma postura relaxada, como se não estivesse incomodado em esperar. Vestia um terno cinza claro, que parecia deslocado na simplicidade daquela cidade. Seu rosto estava parcialmente sombreado pela luz do corredor, mas eu consegui ver o suficiente.

Não o conhecia.

— Isabela?

A voz grave atravessou a madeira da porta como se ele soubesse que eu estava ali.

Demorei um instante para responder.

— Quem é você?

— Leonardo Vasquez.

O nome não acendeu nenhum alerta imediato, mas algo na forma como ele disse aquilo — calmo demais, confiante demais — me fez hesitar.

— O que você quer?

— Conversar.

— Eu não conheço você.

— Mas eu conheço você.

Meu coração acelerou. A frase era um gatilho, disparando alarmes em minha mente.

— Acho que você está enganado.

— Não estou. — A voz dele não se alterou. — Eu sei por que você está aqui, Isabela.

Silêncio.

Afastei-me da porta como se ela pudesse se abrir sozinha. As paredes pareciam se fechar ao meu redor, e de repente, eu estava com dificuldade para respirar.

Como ele sabia meu nome?

Voltei ao olho mágico. Leonardo continuava lá, imóvel, como se soubesse que eu estava assistindo. Quando nossos olhos se encontraram — mesmo através da distorção do vidro —, senti um arrepio percorrer minha espinha.

Ele sabia.

— Não vou machucá-la — disse, como se adivinhasse o que se passava na minha mente. — Mas eu acho que podemos nos ajudar.

— Ajudar com o quê?

Ele hesitou, como se ponderasse o que dizer.

— Com Victor.

A menção ao nome dele fez meu sangue gelar.

Abri a porta apenas o suficiente para que nossos olhares se encontrassem sem barreiras.

— O que você sabe sobre Victor?

— O suficiente para saber que ele não está tão morto quanto você gostaria.

O mundo pareceu se inclinar.

Eu poderia ter fechado a porta na cara dele. Poderia ter recusado continuar aquela conversa. Mas, em vez disso, deixei que o medo me guiasse.

— Entre.

Leonardo ocupava o espaço do pequeno apartamento com uma presença que parecia grande demais para aquele lugar. Ele se sentou no sofá, cruzando as pernas com uma tranquilidade desconcertante.

Observei-o de perto enquanto me mantinha na defensiva, os braços cruzados sobre o peito.

— Como você conhece Victor?

— Negócios. — Leonardo deu um leve sorriso, mas ele não chegou aos olhos. — Tínhamos interesses em comum… até ele decidir que queria tudo para si.

— Isso não explica por que você está aqui.

— Porque, Isabela, eu sei o que Victor fez com você.

Prendi a respiração.

— E como exatamente você sabe disso?

— Digamos que Victor não era muito discreto quando queria se gabar das coisas que possuía.

— Eu não sou uma coisa.

— Eu sei. — Ele ergueu as mãos em sinal de rendição. — Mas para Victor, todos eram.

As palavras dele carregavam uma verdade que eu conhecia bem demais.

— Ele está morto.

— Talvez. — Leonardo inclinou-se para frente, apoiando os cotovelos nos joelhos. — Mas o problema com homens como Victor é que eles sempre deixam algo para trás.

— Como você sabe que ele está me observando?

Leonardo estreitou os olhos, me analisando.

— Porque eu também recebi mensagens.

O ar ficou pesado.

— Do mesmo número?

— Não. Mas as palavras… eram as mesmas.

Meus joelhos quase cederam. Afundei na cadeira à frente dele, tentando processar o que aquilo significava.

— Isso não faz sentido.

— Eu sei.

Por um instante, o silêncio se espalhou entre nós. Leonardo me observava como se esperasse que eu quebrasse primeiro.

— O que você quer de mim? — perguntei, a voz um fio fraco.

— Só quero entender o que está acontecendo. Se Victor está vivo… nós dois temos problemas.

Ele tinha razão, mas havia algo mais.

— E se ele estiver morto?

Leonardo sorriu de novo, dessa vez com algo sombrio por trás do olhar.

— Então, precisamos descobrir quem está fingindo ser ele.

Eu queria acreditar que aquilo era uma coincidência. Que Leonardo estava lá por algum motivo egoísta, mas seguro.

Mas no fundo, eu sabia que não era tão simples assim.

— Fique longe de mim, Leonardo.

Ele se levantou, ajeitando o paletó com calma.

— Isso não depende de mim. Se Victor está atrás de você, não vai parar até conseguir o que quer.

Enquanto ele caminhava até a porta, lançou um último olhar por cima do ombro.

— Quando ele voltar, você vai me procurar.

Leonardo saiu, deixando o apartamento mergulhado em um silêncio sufocante.

Eu queria odiá-lo por ter trazido Victor de volta à minha mente. Mas a verdade era que ele não precisava ter vindo até aqui para isso.

Victor nunca tinha realmente partido.

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Comments

Kelyane Maria

Kelyane Maria

Tô achando que ele vai ser mais uma pedra no sapato dela

2025-01-26

1

Kelyane Maria

Kelyane Maria

sei não estou desconfiada dele/CoolGuy//CoolGuy/

2025-01-26

1

Kelyane Maria

Kelyane Maria

😱😱😱😱

2025-01-26

1

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