CAPÍTULO 2

O telefone permaneceu intocado sobre a mesa durante três dias. Eu o olhava de relance, como se ele pudesse ganhar vida a qualquer instante, mas não tinha coragem de desbloqueá-lo. As mensagens de Victor pareciam pulsar, vivas, presas naquela tela.

Na quarta noite, decidi que não podia continuar assim.

Respirei fundo e deslizei o dedo pela tela trincada. As palavras estavam lá, exatamente como eu lembrava:

"Você achou que podia fugir de mim?"

"Ainda não acabou."

Minhas mãos estavam firmes, mas dentro de mim, o pânico fervia. Eu precisava de respostas. E a única forma de obtê-las era encarar aquilo de frente.

Sentei no sofá, as costas curvadas, e digitei o nome dele na barra de pesquisa. Victor Hernández.

A cada letra que surgia na tela, meu coração martelava no peito, pesado e irregular. Eu quase esperava que nada aparecesse — que ele continuasse como uma sombra, sem vestígios no mundo real.

Mas não foi o que aconteceu.

Os resultados se espalharam diante de mim, manchetes antigas e fotos familiares demais. No centro de uma das matérias, uma imagem de Victor, seu sorriso frio, o olhar afiado que eu jamais esqueceria. Era como ver um fantasma.

Meus olhos desceram pelo texto, as palavras dançando diante da minha visão turva:

"Empresário Victor Hernández morre em explosão misteriosa."

A matéria era datada de cinco meses antes. Li e reli o título, incapaz de compreender. Continuei descendo:

"A polícia local confirma que Victor Hernández, empresário conhecido, faleceu após uma explosão em uma de suas propriedades particulares. O incidente permanece sob investigação, mas indícios apontam para um possível vazamento de gás. O corpo foi encontrado entre os escombros, embora em condições irreconhecíveis. DNA confirmou sua identidade."

Larguei o telefone.

Victor estava morto.

As palavras giravam em minha mente, mas não pareciam reais.

Levantei-me, andando de um lado para o outro do apartamento. A sensação de estar sendo observada, de que ele estava à espreita em cada esquina, era tudo mentira? Uma ilusão que eu mesma alimentei?

Mas… e as mensagens?

Corri de volta ao telefone, abrindo os detalhes do número que havia me enviado as mensagens. Nada. Nenhuma identificação.

De repente, a livraria abaixo do apartamento pareceu absurdamente silenciosa. O prédio respirava comigo, e cada estalo das paredes soava mais alto do que deveria.

Se Victor está morto… quem está me mandando essas mensagens?

A ideia de que outra pessoa poderia estar jogando comigo se insinuou lentamente, fria como gelo descendo pela espinha.

Me aproximei da janela e puxei a cortina, espiando a rua deserta lá embaixo. A luz do poste ainda piscava, lançando sombras irregulares na calçada. Nenhum sinal de alguém me observando. Nenhum carro parado onde não deveria estar.

Mas o desconforto persistia.

Voltei para o sofá e deixei o telefone de lado. A imagem de Victor na tela ainda queimava na minha memória. Por mais que tentasse me convencer, uma pergunta se recusava a desaparecer:

E se ele não morreu?

A matéria dizia que o corpo foi encontrado, mas e se houvesse um engano? E se Victor tivesse manipulado tudo, como tantas vezes fez no passado?

Conhecendo ele, aquilo não parecia impossível.

Aquela noite foi mais longa que as anteriores. Mesmo sabendo que Victor estava, supostamente, morto, eu continuei ouvindo passos que não existiam e sentindo olhos sobre mim.

Talvez eu esteja me tornando paranoica.

Mas no fundo, eu sabia.

Alguém estava por trás daquilo.

E, morto ou não, Victor ainda não havia saído da minha vida.

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Comments

Kelyane Maria

Kelyane Maria

acho que vou ter que ler o primeiro livro para eu entender quem é Victor e o que aconteceu

2025-01-18

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