Tyler estava na ponte desde a manhã. O sol alto no céu não fazia diferença para ele. Ele olhava as águas tranquilas abaixo, mas sua mente estava longe, distante de tudo que o cercava. O tempo parecia ter parado ali. Ele não queria voltar para casa, não agora, não quando tudo parecia um peso sobre seus ombros. A cada passo que dava para longe de sua casa, sentia-se mais leve, mais livre. A ponte se tornou seu único refúgio. O lugar onde as luzes ainda brilhavam suavemente no começo do dia, mas a medida que o sol ia se pondo, a escuridão tomava conta, transformando o lugar em um mistério. Mas, para Tyler, a escuridão era reconfortante, ela envolvia sua alma de uma maneira que nenhum lugar mais poderia fazer.
Ele não queria pensar nas brigas dos pais, na solidão que sentia ao chegar em casa, sem ninguém para perguntar como ele estava. O pai, Ricardo, parecia ter sempre mais tempo para Sophia do que para ele. Mesmo com o calor do dia, ele se sentia mais confortável aqui, com os pés balançando sobre o parapeito da ponte, olhando para o horizonte e apenas existindo.
Enquanto isso, em casa, Sophia estava perdida em uma luta interna. Sabia que algo estava errado, sabia que seu irmão não voltaria tão cedo, mas não conseguia sair em busca dele. Ela sentia uma necessidade imensa de ir atrás de Tyler, de garantir que ele estava bem, mas seu pai, Ricardo, jamais permitiria isso. Para ele, Sophia era a prioridade, a menina pequena que ainda precisava de cuidados. Ele sempre a tratava como se fosse a coisa mais preciosa do mundo, e qualquer gesto de cuidado para com Tyler parecia ser desconsiderado.
Sophia se aproximou do pai, que estava no sofá, assistindo TV. Seus olhos estavam cansados, como se o esforço de lidar com tudo ao seu redor já tivesse consumido suas forças. Ela engoliu a angústia e se aproximou.
— Pai, eu... preciso sair. Tyler está lá fora, e não sei onde ele está. Ele não voltou para casa.
Ricardo a olhou, e seus olhos se estreitaram com um olhar que ela conhecia bem. Era um olhar de quem não queria ser incomodado. A voz dele, calma mas firme, a fez hesitar.
— Sophia, você não vai sair. Você sabe que não é seguro. E Tyler sabe se virar. Ele é mais velho, ele sabe o que está fazendo. Não podemos sempre correr atrás dele.
Sophia sentiu uma pontada no peito. Ela queria argumentar, insistir, mas sabia que não adiantaria. O pai nunca a deixaria sair sem uma razão muito forte, e a razão de Tyler não ser tratado da mesma forma era clara: para Ricardo, Sophia era a prioridade. Ela era o centro do seu mundo, e ele não se importava se isso significava deixar Tyler para trás.
Ela olhou para o lado, sentindo o peso da frustração e da impotência. Cada vez mais, ela sentia que, apesar de tudo, era ela quem se importava mais com o irmão. Não importava que ele fosse mais velho, ou que ele não pedisse ajuda. Sophia sabia que, no fundo, ele ainda precisava de alguém que o visse, que o escutasse. Ela não podia mudar a forma como o pai a tratava, mas, naquele momento, queria poder mudar o mundo ao redor deles.
Júlia, por sua vez, estava em casa mais cedo que o habitual. Ela sentia um alívio momentâneo ao chegar, mas logo foi tomada pela tensão do ambiente. O cheiro da casa, a sensação de prisão que se formava a cada dia, fazia com que ela quisesse sair novamente, se afastar. Mas, naquele momento, não tinha para onde ir.
Renata estava na cozinha, lavando os pratos, quando ouviu os passos de Júlia. Seu olhar foi frio, como sempre. Ela não parecia entender a angústia da filha. Tudo parecia uma afronta para ela. Júlia não gostava de discutir, mas não conseguia se conter.
— Mãe, eu disse que ia sair e voltei. Não precisava me receber assim — falou Júlia, já sentindo a frustração se acumular.
Renata virou-se, com os olhos endurecidos.
— Não era pra você sair sem avisar, Júlia. Fiquei aqui preocupada. Você não pensa em como isso me afeta? Tudo na sua vida parece ser sobre você, não é? Eu estou tentando manter essa casa funcionando, e você se acha no direito de sair assim, sem dar explicações!
Júlia sentiu uma raiva se formar dentro dela, mas sabia que não podia deixar isso tomar conta. Ela não podia se perder naquele mar de discussões intermináveis.
— Eu só precisava de um tempo, mãe — sua voz estava mais baixa, mas ainda assim carregada de uma dor que ela não sabia como expressar. — Não soube como lidar com tudo aqui. Mas não foi por mal.
Renata bufou, voltando-se novamente para os pratos, como se a filha já não fosse mais parte da conversa.
— Você nunca entende, não é, Júlia? Nunca pensa em como as coisas afetam a gente. Eu não posso ficar aqui, preocupada com você, se você não me avisa o que está fazendo.
Júlia respirou fundo, sentindo o peso de suas palavras, mas sabia que aquela conversa não a levaria a lugar nenhum. Virou-se e caminhou para o quarto, onde o silêncio a acolheu novamente, mas dessa vez, era o silêncio pesado da solidão. Ela desejou que, pelo menos por um momento, alguém olhasse para ela de verdade, sem cobranças, sem críticas.
Enquanto isso, Sophia olhava pela janela, impotente, tentando encontrar Tyler nas ruas, sabendo que ele estava por aí, em algum lugar, perdido na escuridão da noite que ele fazia questão de abraçar.
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Atualizado até capítulo 33
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