Capítulo 2 – Olhos que Queimam
O salão do Palazzo di Venezia reluzia sob o brilho dos lustres de cristal, enquanto o murmúrio das vozes elegantes e a música clássica criavam uma atmosfera de sofisticação e mistério. Valentina Moretti deslizava entre os convidados, sua figura envolta em um vestido preto de seda que abraçava suas curvas com precisão, contrastando com a máscara dourada que escondia parte de seu rosto.
Ela não estava ali por diversão. O baile de máscaras era uma oportunidade para investigar figuras influentes — uma matéria que poderia abrir portas para sua carreira no jornalismo. Contudo, em meio a tantos rostos desconhecidos e sorrisos falsos, ela não esperava que uma presença pudesse capturar toda a sua atenção.
Ao virar-se para pegar uma taça de champanhe, Valentina sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha. Um olhar intenso a observava do outro lado do salão. Ela desviou os olhos, tentando ignorar a sensação, mas seu coração pulsava de maneira fora do comum. Respirou fundo e se forçou a encarar novamente.
Ali estava ele.
O homem mais elegante daquele lugar. Alto, vestido em um impecável terno preto com gravata de seda, uma máscara prateada realçando a perfeição de seus traços firmes. Seu cabelo negro estava penteado para trás, revelando a estrutura poderosa de seu rosto, enquanto seus olhos azuis — profundos e perigosos — a queimavam como uma promessa silenciosa.
Por um instante, o mundo ao redor desapareceu.
Valentina sentiu a garganta secar. “Controle-se”, pensou, repreendendo a si mesma. Estava ali a trabalho, não para se distrair com um desconhecido magnético.
Como se atraído pela própria força do destino, ele começou a caminhar em direção a ela. Cada passo parecia calculado, cada movimento carregado de uma confiança que fazia o ar ao redor parecer mais denso.
— Não sabia que Vênus em pessoa estaria aqui esta noite. — Sua voz grave e aveludada deslizou sobre Valentina como um toque invisível.
Ela arqueou uma sobrancelha, escondendo o rubor que ameaçava colorir suas bochechas.
— E eu não sabia que os galanteios estavam tão fora de moda — respondeu, em um tom afiado, mas com um sorriso discreto.
O homem sorriu, divertido, como se estivesse diante de um desafio interessante.
— Talvez eu precise me atualizar... Mas temo que não há nada em mim que possa competir com sua presença. — Ele ergueu uma taça de champanhe em um brinde silencioso. — Leonardo Costa.
Valentina hesitou por um momento. O sobrenome “Costa” soou familiar, mas o efeito daquele homem sobre ela era avassalador demais para que sua mente trabalhasse de forma lógica.
— Valentina... Moretti.
Leonardo estreitou levemente os olhos, como se o nome dela tivesse um significado que ele preferia manter em segredo. Mas o sorriso em seus lábios não vacilou.
— Encantado, *signorina* Moretti.
Antes que Valentina pudesse responder, ele estendeu a mão para ela.
— Uma dança?
Seu coração deu um salto. Não havia razão para aceitar. Não havia razão para confiar nele. Mas, naquele momento, ela queria saber o que significava aquela tensão elétrica entre os dois. Contra o que julgava ser o seu bom senso, Valentina entregou-lhe a mão, sentindo o toque quente e firme de Leonardo.
No centro do salão, ele a envolveu com firmeza e cuidado, conduzindo seus passos com perfeição. As notas suaves do piano pareciam se perder no vazio enquanto os dois se moviam em perfeita sintonia.
— Você não parece uma mulher que se deixa conduzir facilmente — murmurou Leonardo, seus lábios quase tocando o ouvido dela.
— Não sou. Talvez eu esteja apenas... analisando o inimigo — respondeu Valentina, encarando-o.
Leonardo sorriu, uma sombra de perigo passando por seu olhar.
— Então tomara que sua análise não descubra algo que não possa suportar.
O coração de Valentina bateu mais forte. Havia algo naquela frase que soava como um aviso, mas era tarde demais para recuar. Ela sabia que aquele homem não era seguro. Ele era sombra e mistério. Mas, por algum motivo, seu corpo e mente recusavam-se a se afastar.
Quando a música cessou e Leonardo a soltou suavemente, ela sentiu uma ausência absurda.
— Espero que possamos nos ver novamente, *Valentina*. — Ele pronunciou seu nome como se o saboreasse, deixando-a estática no meio do salão.
Antes que pudesse dizer algo, ele desapareceu entre os convidados, deixando apenas o perfume amadeirado e sedutor no ar.
Valentina ficou parada, com a respiração descompassada, sentindo que acabara de entrar em um jogo do qual não poderia mais escapar.
Naquele instante, ela não sabia que tinha acabado de conhecer o homem que mudaria sua vida para sempre.
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Atualizado até capítulo 46
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