Minha vida em Nova York se resumia a dois estados: muita correria e pouco descanso. Estava trabalhando mais do que nunca, especialmente no caso de Nicole. Aquela garotinha me tocava de um jeito especial, e eu queria ajudá-la a todo custo. Com os exames em mãos, as dúvidas haviam acabado. O diagnóstico estava claro: leucemia. Não seria fácil. Nicole tinha uma batalha longa e difícil pela frente, e meu coração apertava só de pensar no sofrimento que ela e sua família enfrentariam.
Pedi que a mãe entrasse no consultório sozinha. Queria conversar com ela antes de falarmos com Nicole. Assim que ela atravessou a porta, percebi o peso que carregava. Seus olhos estavam fundos, as olheiras escuras denunciavam noites em claro. A tensão em seu rosto mostrava que ela já esperava o pior.
— O que minha filha tem, doutora? — perguntou, a voz hesitante, quase um sussurro.
Seu olhar era uma mistura de esperança e medo, e naquele momento, eu queria mais do que nunca poder dar uma notícia diferente. Engoli em seco e procurei as palavras certas.
— Você precisa ser forte, mais do que sei que já é. A Nicole tem leucemia.
Foi como se o chão tivesse desaparecido sob seus pés. Ela levou uma mão à boca, a outra ao peito, enquanto lágrimas escorriam por seu rosto. O som do seu choro era doloroso, quase sufocado, como alguém que já conhecia aquele tipo de perda.
— Não, doutora Júlia… Não pode ser… — disse entre soluços. — Já passei por isso antes, com meu marido. Eu o vi definhar, dia após dia, até que não sobrou nada além de uma sombra dele mesmo. — Sua voz se partiu, carregada de dor. — Meu Deus, não vou aguentar passar por isso de novo…
Ela se curvou para frente, os ombros sacudindo com a intensidade do desespero. Meu coração se partia ao vê-la assim, mas eu sabia que precisava ser forte por ela. Respirei fundo, tentando manter a compostura, mas uma lágrima traiçoeira rolou pelo meu rosto.
— Eu entendo sua dor, e sinto muito por tudo o que você já passou — disse com suavidade, levantando-me para pegar um copo d’água. — Mas a Nicole é uma menina forte, e nós temos tratamentos para ajudá-la. Vamos fazer tudo o que for possível, eu prometo.
Entreguei o copo, mas suas mãos trêmulas mal conseguiam segurá-lo.
— E se não der certo? — perguntou, a voz quase inaudível. — E se ela acabar como ele?
Me ajoelhei ao lado dela, tocando levemente sua mão.
— Eu não posso prometer que será fácil, mas posso prometer que faremos tudo o que estiver ao nosso alcance. Não estamos sozinhas nessa. Nicole tem você, e você tem a mim e minha equipe. Vamos lutar juntas.
Ela fechou os olhos, tentando controlar a respiração, enquanto apertava o copo contra o peito. A dor ainda estava lá, mas algo na minha voz pareceu acalmá-la. Pelo menos um pouco.
— E agora, doutora, como vai ser? — pergunta ela, segurando o copo contra o peito, como se fosse o único apoio que tivesse naquele momento.
Respirei fundo antes de responder, escolhendo cada palavra com cuidado para não agravar ainda mais o peso que ela já carregava.
— Vamos fazer mais alguns exames, incluindo uma ressonância, para entender melhor o estado da Nicole. A medicina tem avançado dia após dia, e com isso estamos descobrindo novos tratamentos. Estamos aqui para lutar por ela — disse, tentando transmitir confiança.
Ela acenou lentamente, secando as lágrimas com a manga do casaco.
— Vou orar muito para que a história da minha Nicole seja diferente, que ela seja curada... — disse, com a voz embargada. Fez uma pausa, olhando para o chão, como se estivesse mergulhada em lembranças. — Sabe, eu descobri que estava grávida da Nicole duas semanas depois da morte do meu marido. Era o sonho dele ser pai. Ela foi como um bálsamo na minha alma, trouxe luz quando tudo parecia perdido.
Seus olhos brilhavam com uma mistura de amor e dor, um peso que nenhuma mãe deveria carregar sozinha.
— Tenho certeza de que a história da Nicole será diferente — respondi, com um sorriso que eu esperava ser reconfortante. — Ela será curada.
Ela me olhou por um instante, como se procurasse alguma faísca de esperança no meu rosto, e respirou fundo, tentando se recompor.
Quando percebi que ela estava mais calma, pedi que chamasse Nicole. Minutos depois, a porta se abriu, e a garotinha entrou.
Nicole era ainda mais encantadora do que eu lembrava. Seus cabelos estavam presos de lado com uma presilha brilhante, e ela usava um vestido rosa que a fazia parecer uma boneca saída de um livro de histórias. Meu coração se apertou.
Ela me olhou com curiosidade e um sorriso tímido, sem saber que estávamos prestes a ter uma conversa difícil.
— Doutora, minha mãe disse que você quer falar comigo. Eu tô bem? — perguntou, a voz doce e suave como um sussurro.
Sentei-me em frente a ela, nivelando-me ao seu olhar.
— Nicole, você está um pouco doente, sim. Mas te prometo uma coisa: juntas, vamos vencer essa doença, combinado? — perguntei, estendendo minha mão.
Ela hesitou por um momento, seus olhos castanhos analisando os meus, e então tocou minha mão com a sua pequena e delicada.
— Sim, combinado — respondeu, com um sorriso que parecia carregar toda a força do mundo.
Olhei para a mãe, que agora mantinha um semblante sereno, embora eu soubesse que por dentro ela estava se fragmentando. Ela escondia o sofrimento para passar tranquilidade à filha, um ato de amor que exigia mais força do que qualquer palavra poderia expressar.
Após aquela conversa, expliquei sobre os próximos passos. Fiz os pedidos de exames necessários e pedi urgência nos procedimentos. Encaminhei-as ao laboratório para as coletas e, em seguida, para a sala de ressonância.
Enquanto elas saíam do consultório, observei mãe e filha de mãos dadas, um contraste entre a fragilidade de Nicole e a força que sua mãe tentava demonstrar. Meu coração estava pesado, mas determinado. A batalha delas estava apenas começando, e eu estaria lá a cada passo do caminho.
Assim que elas saíram do consultório, mergulhei em uma corrida frenética para montar a equipe que se juntaria a mim nesse caso delicado. Precisávamos dos melhores profissionais, e eu sabia exatamente quem procurar. Fui direto ao encontro do Dr. Túlio, um dos melhores hematologistas pediátricos do hospital, e do Dr. Gusmão, um oncologista reconhecido por sua experiência em tratamentos infantis.
Marquei uma reunião com ambos, e, ao sentarmos na sala reservada, compartilhei os detalhes do caso de Nicole.
— Já adiantei alguns exames e vou encaminhar tudo para vocês. Sei que, daqui para frente, vocês estarão à frente do tratamento, mas quero ajudar em tudo que for possível. Quero acompanhar de perto. — Minha voz soava firme, mas havia um peso em cada palavra.
Dr. Túlio sorriu gentilmente.
— Claro, será um prazer ter você nos ajudando, Dra. Júlia. É importante para a Nicole que você esteja envolvida.
— Pode ficar tranquila, doutora. Faremos o melhor possível, e você estará por dentro de cada passo — acrescentou o Dr. Gusmão, com um tom encorajador.
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Atualizado até capítulo 29
Comments
Rosilene Santos
Minha prima já teve essa doença mais graças a Deus Tá curada
2025-03-07
0
Jaildes Damasceno
Coitadas da mãe e filha. Mais creio que Júlia e a equipe vão conseguir
2025-01-16
0
Erlete Rodrigues
a doença já é difícil com criança minha nossa senhora ‼️‼️‼️
2024-12-19
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