Cap 02: Partindo de Coração Partido

15 de janeiro de 2014…

Minhas malas estavam todas prontas, exceto meu coração, que parecia despedaçado. As palavras de Nick ecoavam na minha mente: "E os nossos planos? Você pode fazer Medicina aqui! Namoro à distância não vai dar certo, só vamos nos machucar. Eu não quero que você vá, mas também sei que não posso te pedir para escolher. Então, para evitar essa escolha, vou te ajudar… nosso namoro acaba aqui."

Quando saí pela porta, minha mãe me abraçou com força. Eu sabia que para ela também não estava sendo fácil. Mas sabe quando você tem um sonho desde criança e, de repente, ele está ali, ao seu alcance, pronto para se tornar realidade? Era assim que eu me sentia. Meu sonho de ser médica, como meu pai, estava se concretizando — e na mesma faculdade onde ele se formou. Para mim, isso significava muito mais do que apenas seguir uma carreira; era uma forma de manter meu pai próximo, de honrar sua memória, seguindo seus passos e fazendo o que ele tanto amava.

— Se cuida, minha menina — disse minha mãe, enquanto me envolvia em um abraço que desmoronava todas as minhas forças.

— Vou sentir saudades... muita, muita mesmo — murmurei, tentando conter as lágrimas.

— Não chore, tudo vai ficar bem. Sei que está assim por causa do Nick. Acho que deveria procurá-lo antes de partir — aconselhou, com ternura.

— Não, mamãe. Ele sempre disse que não gosta de despedidas — respondi, beijando sua testa.

Com passos pesados, me dirigi ao táxi que já me esperava. Coloquei minha mala no porta-malas e, antes de entrar, fiz uma pausa. Meu olhar se voltou automaticamente para a casa dos Evans, e foi então que o vi. Nick estava à janela, o semblante abatido.

— Eu te amo, Nick! — gritei, mas ele apenas saiu de vista, sem uma palavra, sem um gesto. Aquilo me quebrou ainda mais.

Acenei para minha mãe, joguei um beijo no ar e entrei no táxi. Assim que a porta se fechou, as lágrimas vieram com força, acompanhadas pelas lembranças. Imagens da minha infância, dos momentos especiais com meu pai, dos natais perfeitos na casa dos Evans... E, principalmente, de todos os instantes com Nick. Nosso amor foi único, tão marcante que jamais seria esquecido, mesmo que agora estivesse apenas no passado.

24 de dezembro de 2014...

Era véspera de Natal, e pela primeira vez eu passava a data sozinha. Só eu e uma pilha de livros. Minha mãe havia ligado, implorando que eu fosse passar o Natal em casa. Por um breve instante, considerei. Talvez, ao ver Nick, houvesse uma chance para nós dois. Mas qualquer esperança foi enterrada uma semana antes, quando Brennda, minha "melhor amiga", postou uma foto sentada no colo dele. Marcou-me ainda por cima! Falsa. Safada.

Nick já estava em outra. E eu? Aqui, chorando como uma idiota por alguém que me deixou no esquecimento. Mas prometi a mim mesma que não seria por muito tempo. Eu também o esqueceria.

Adormeci sobre os livros, em um sono tão profundo que, ao acordar, percebi que tinha babado. Que horror! Era minha mãe, me ligando antes da meia-noite.

— Nosso primeiro Natal longe uma da outra... Estou com tanta saudade — disse ela, com a voz embargada.

— Também estou com saudade, mamãe. Como estão todos aí? — perguntei, esperando, na verdade, notícias de Nick.

— Estão bem, meu amor. E o Nick... bom, ele parece estar melhor. Está cursando advocacia. Verônica Evans está orgulhosa dele, fechou o semestre como o melhor aluno da turma.

Não era a notícia que eu esperava ouvir, mas, ao menos, ele estava bem.

— Que bom... — respondi, segurando as lágrimas.

— Filha, só liguei para te desejar um Feliz Natal. Te amo muito.

— Feliz Natal, mamãe. Também te amo muito — despedi-me, com a voz trêmula.

Quando o relógio marcou meia-noite, olhei ao redor. Pela primeira vez, meu Natal não tinha uma mesa farta, nem o Nick me enchendo de beijos. Era só eu, sozinha em um quarto, com uma fatia de pizza fria e uma Coca-Cola sem gás.

— Que merda de Natal — murmurei, deixando uma lágrima escorrer.

Os anos foram passando, e embora o Nick não fizesse mais parte da minha vida, ele também nunca foi completamente esquecido. Pensar nele já não doía, mas sua lembrança permanecia como um eco do passado. Agora, estou no meu décimo segundo semestre na faculdade de medicina aqui na França. Durante todos esses anos, só passei dois natais com minha mãe, ambos quando ela veio me visitar. Desde que me mudei para cá, só voltei a Boston uma vez por ano, sempre em datas em que tinha certeza de que o Nick não estaria por lá. Afinal, ele se mudou para Nova York logo após concluir a faculdade.

Desde o fim com Nick, tive apenas dois relacionamentos. O primeiro foi com Francisco, um italiano gentil e divertido. Namoramos por um ano, mas, quando ele começou a falar sobre casamento, percebi que não era isso que eu queria e decidi terminar. Agora, estou com Deven, um médico cardiologista que conheci no hospital onde faço residência. Estamos juntos há quatro meses. Ele é simpático, carinhoso e apaixonado pela medicina, assim como eu. Por enquanto, mantemos nosso relacionamento em segredo, o que acaba sendo mais fácil com a rotina intensa da residência.

Escolhi me especializar em pediatria, algo que sempre esteve no meu coração. Trabalhar com crianças tem sido um desafio, mas é também onde me sinto mais realizada. Meu dia a dia na residência é exaustivo, entre plantões, consultas e estudos. Passo boa parte do tempo no hospital, entre alas de neonatologia e pediatria geral, acompanhando pequenos pacientes em suas lutas diárias. Embora cansativo, é gratificante ver o sorriso das crianças e o alívio nos olhos dos pais quando conseguimos ajudar.

A pediatria é minha paixão, mas confesso que manter equilíbrio entre a residência e minha vida pessoal é um desafio constante. Apesar disso, Deven tem sido um apoio silencioso e valioso. No entanto, às vezes me pergunto se estou pronta para abrir meu coração completamente novamente.

Júlia

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Comments

Adriane Alvarenga

Adriane Alvarenga

Kelly linda, me sinto a protagonista dessa sua história....consigo me ver nela... meu sonho de infância era fazer medicina "A tão sonhada pediatria "....cheguei a prestar vestibular, não passei...rsrs, na UFMG, em MG, era muito difícil...ainda é, mas hoje tem muitos recursos. No ano seguinte, ia tentar novamente, mas já estava noiva e o meu noivo não ficou muito feliz com o que eu queria. Desisti do meu sonho e já tinha me formado em magistério. Fui dar aulas para educação infantil. Trabalhei por 38 anos e meio, me aposentei na mesma escola. Mas hoje.....penso que não deveria ter desistido desse meu sonho....

2025-03-18

1

Fatima Maria

Fatima Maria

MINHA AUTORA EU ESTOU AMANDO DEMAISSS O SEU LIVRO 📙 E ESTOU MARAVILHADA COM A HISTÓRIA E ESTE CASAL ENTÃO UAUUUU.

2025-02-25

3

Luciana

Luciana

já me apaixonei e estou ansiosa por mais capítulo

2024-12-17

0

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