Alessandro
Meu nome é Alessandro Rossi, e, se há algo que aprendi na vida, é que tudo pode desmoronar em um instante.
Eu não sou o homem que costumava ser. Havia um tempo em que meu nome era sinônimo de sucesso, quando eu era respeitado e admirado. Empresário, pai, marido. Eu tinha tudo. Mas agora, tudo o que resta são memórias de uma vida que eu destruí com minhas próprias mãos.
O começo do fim foi quando perdi Serena, minha esposa.
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Serena era o coração desta família. Era ela quem mantinha os pés no chão enquanto eu vivia nas alturas, negociando, crescendo, arriscando. Ela tinha uma sabedoria silenciosa, uma maneira de me fazer ver a realidade sem nunca me diminuir.
Quando ela adoeceu, pensei que era apenas uma fase. Serena era forte. Era o tipo de pessoa que nunca se deixava abater por nada. Mas o tempo foi implacável, e a doença foi mais cruel do que qualquer inimigo que enfrentei nos negócios.
Eu a perdi em questão de meses. Uma manhã ela estava ali, sorrindo para mim, dizendo que tudo ficaria bem. Na manhã seguinte, ela já não estava mais.
A morte de Serena foi um golpe do qual eu nunca me recuperei. Não só perdi minha esposa; perdi minha bússola. Sem ela, comecei a tomar decisões ruins. Me joguei no trabalho, pensando que poderia preencher o vazio com números, contratos e aquisições. Mas as escolhas que fiz foram impulsivas, movidas pelo desespero de fugir da dor.
Foi assim que tudo começou a desmoronar.
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No início, pensei que poderia recuperar o controle. Peguei empréstimos para cobrir os erros. Depois, peguei mais empréstimos para cobrir os primeiros. Era uma espiral sem fim. E quando percebi, estava preso em um buraco tão fundo que não conseguia mais enxergar a saída.
As pessoas que costumavam me admirar começaram a virar as costas. Os bancos deixaram de atender minhas ligações. E aqueles que ainda se importavam comigo, ou fingiam se importar, eram os tipos de pessoas que você não quer dever nada.
Foi quando Sebastian Carter apareceu.
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Eu já conhecia o nome dele, é claro. Quem não conhece? Ele é jovem, mas tem mais influência do que muitos empresários que estão no mercado há décadas. Um homem que sabe o que quer e não tem medo de fazer o que for necessário para conseguir.
Quando meu advogado me disse que Carter queria marcar uma reunião comigo, confesso que fiquei surpreso. Por que alguém como ele se interessaria por um homem falido como eu?
No dia da reunião, fui até seu escritório. Era exatamente como eu imaginava: sofisticado, minimalista, mas com um ar de poder que era impossível ignorar.
Sebastian estava sentado atrás de uma mesa imensa, com a postura de alguém que já venceu o jogo antes mesmo de começar. Ele me cumprimentou com um aperto de mão firme, mas não havia calor em seus olhos.
“Senhor Rossi,” ele começou, direto ao ponto. “Sei que está enfrentando dificuldades financeiras.”
A maneira como ele disse aquilo, sem rodeios, fez meu estômago revirar.
“Não é segredo,” respondi, tentando manter a compostura.
“Também sei que as pessoas para quem você deve dinheiro não são conhecidas pela paciência.”
Ele estava certo, é claro. Eu devia a homens que preferiam resolver as coisas com violência do que com palavras.
“E o que você tem a ver com isso, Carter?” perguntei, cruzando os braços.
Ele sorriu, mas não era um sorriso amigável. Era calculado, quase predatório. “Eu tenho uma proposta que pode resolver seus problemas.”
A curiosidade me venceu. “Estou ouvindo.”
“Quero que sua filha, Helena, se case comigo.”
Eu ri. Não consegui evitar. A ideia parecia absurda. “Você quer se casar com minha filha? Por quê?”
“Preciso de estabilidade,” ele explicou, como se estivesse falando de uma aquisição empresarial. “Minha imagem precisa ser reforçada. Um casamento com alguém como Helena, de uma família tradicional como a sua, seria benéfico para ambas as partes.”
Minha mente girava. A proposta dele era simples, mas carregada de implicações.
“E o que você oferece em troca?”
“Vou pagar todas as suas dívidas,” ele disse, sem hesitar. “E, além disso, vou garantir que você tenha uma quantia suficiente para recomeçar.”
Era tentador. Era mais do que eu poderia imaginar. Mas a ideia de usar minha própria filha como moeda de troca era nauseante.
“Por que não pede a ela diretamente?” perguntei.
“Porque isso é um negócio, senhor Rossi. E negócios são feitos entre aqueles que entendem o que está em jogo. Cabe a você convencê-la.”
Eu saí daquela reunião com um peso ainda maior nos ombros. Por mais que odiasse admitir, Sebastian tinha razão. Eu estava encurralado. Sem sua ajuda, não havia outra saída. Mas como eu poderia pedir a Helena que sacrificasse sua liberdade, seus sonhos, para corrigir os erros que eu cometi?
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Naquela noite, fiquei acordado até tarde, pensando. Revivi todos os momentos em que falhei como pai, todos os sacrifícios que Serena fez para manter nossa família unida.
No fundo, eu sabia que Helena tinha força suficiente para enfrentar isso. Ela era como a mãe dela, resiliente e determinada. Mas isso não tornava a decisão mais fácil.
No dia seguinte, chamei Helena para conversar. Quando contei sobre a proposta de Sebastian, ela reagiu exatamente como eu esperava: com raiva, incredulidade e uma tristeza que quebrou meu coração.
“Você está realmente me pedindo para fazer isso?” ela perguntou, sua voz tremendo.
“Eu não quero pedir, Helena. Mas eu não vejo outra solução.”
Ela me olhou como se eu fosse um estranho. “Você está me vendendo, pai. É isso que está fazendo.”
“Não é assim. Ele não é um homem mau. Ele pode te oferecer uma vida que eu nunca mais poderei dar. E... e eu não tenho escolha.”
“Você sempre tem escolha,” ela rebateu, antes de sair da sala, batendo a porta atrás de si.
Fiquei sentado ali, sentindo o peso do que havia feito.
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Sebastian cumpriu sua promessa. No dia seguinte à assinatura do contrato por Helena, ele transferiu o dinheiro e quitou todas as minhas dívidas.
Mas o preço que paguei foi alto.
Talvez um dia Helena me perdoe. Talvez não. O que sei é que, enquanto ela partir para essa nova vida, eu ficarei aqui, carregando o peso de minha falência – não apenas financeira, mas também como pai.
E essa é uma dívida que nunca poderei quitar.
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Atualizado até capítulo 80
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