Helena
Meu nome é Helena Rossi. Tenho 25 anos e já aprendi que a vida raramente se preocupa com o que você quer. Meus sonhos nunca foram extravagantes: eu queria abrir minha própria livraria, um espaço pequeno e acolhedor, onde pudesse cercar-me de histórias que me inspirassem a escrever as minhas. Sempre achei que tinha tempo, que poderia alcançar isso com esforço e paciência.
Mas a vida decidiu me ensinar uma lição dura. Meu futuro não estava nas minhas mãos.
Cresci em uma família que já foi respeitada e influente. Meu pai, Alessandro Rossi, costumava ser um homem admirado, tanto pela sua habilidade nos negócios quanto pelo seu carisma. Minha mãe, Serena, era a alma da nossa família, forte e sábia. Ela era quem mantinha tudo no lugar. Quando ela morreu, cinco anos atrás, meu pai desmoronou.
Foi doloroso ver o homem que antes era meu herói se transformar em alguém incapaz de lidar com a realidade. Ele se perdeu em dívidas e más decisões, vendendo pedaços do que restava de nossa vida, até que, finalmente, não havia mais nada a oferecer.
A não ser eu.
Três dias atrás, meu pai me chamou para uma conversa “urgente”. Quando entrei no escritório, percebi sua postura nervosa. Ele não conseguia me encarar. Na mesa, havia um envelope grosso com o nome Sebastian Carter gravado no topo.
“Helena, eu preciso que você entenda algo,” ele começou, sem me olhar.
“Seja direto, pai. O que está acontecendo?”
Ele respirou fundo e empurrou o envelope em minha direção. “É um contrato… de casamento.”
Eu ri. Era uma reação automática, mais de incredulidade do que de humor. “Você está brincando comigo, certo? Um contrato de casamento? Isso é coisa de filme, pai.”
“Não estou brincando.” Sua voz saiu firme, mas havia algo implorando por compreensão em seus olhos. “É um acordo com Sebastian Carter. Ele é um dos homens mais poderosos do país. Concordar com isso significa que nossas dívidas desaparecerão. Você terá uma vida estável. E eu… eu poderei respirar de novo.”
Peguei o envelope com mãos trêmulas e o abri, minhas emoções oscilando entre raiva e choque.
As cláusulas eram claras e objetivas, como se a ideia de unir duas vidas fosse apenas um acordo de negócios. Eu seria obrigada a comparecer a eventos ao lado dele, manter as aparências de um casamento feliz, mas sem expectativas emocionais ou físicas. Era tudo tão frio, tão impessoal.
“Sério, pai? Ele quer comprar uma esposa? E você acha que eu deveria concordar com isso?”
“Não é assim, Helena. Você não está entendendo. Eu fiz isso por você, para garantir que você tenha um futuro.”
“Um futuro? Você acha que ser vendida como um objeto vai me garantir um futuro?” Meu rosto queimava de raiva enquanto eu me levantava, empurrando o contrato de volta para ele.
“Se você não fizer isso, as consequências serão muito piores,” ele disse, com a voz baixa. “As pessoas para quem devo dinheiro não são o tipo que aceita desculpas, Helena. Isso não é só sobre mim. É sobre nós dois.”
Por mais que eu quisesse gritar com ele, sabia que ele estava certo. Eu podia não gostar, mas a alternativa era inimaginável. Ainda assim, não consegui esconder a sensação de traição.
Dois dias depois, um advogado apareceu na porta da minha casa. Nathan, o advogado de Sebastian, era tão frio e impassível quanto o contrato que trazia. Ele parecia desconfortável, como se também soubesse que o que estava fazendo era errado, mas que não tinha escolha.
“Senhorita Rossi,” ele começou, enquanto tirava os papéis de sua pasta. “Este é o contrato atualizado, com algumas condições que o senhor Carter pediu para reforçar. Ele quer ter certeza de que você está confortável antes de assinar.”
Eu ri sem humor. “Confortável? É sério?”
Nathan não respondeu, apenas empurrou o contrato na minha direção. Eu li cada palavra com cuidado. Lá estava tudo de novo: um casamento de fachada, um acordo impessoal, regras e mais regras.
Mas o que me deixou mais irritada foi o tom do documento. Ele falava de mim como se eu fosse uma peça de propriedade, algo que precisava ser regulamentado.
“Eu não vou assinar isso,” disse, cruzando os braços.
“É sua escolha,” Nathan respondeu calmamente. “Mas sugiro que pense bem nas consequências.”
Ele me deixou sozinha com o contrato. Passei horas encarando aquelas palavras, sentindo a raiva crescer dentro de mim.
No fundo, eu sabia que não tinha escolha. O peso da dívida do meu pai era uma corrente em volta do meu pescoço, e esse contrato era a única chave para me libertar.
Quando Sebastian ligou mais tarde naquele dia, a raiva ainda estava fresca em minha mente.
“Helena,” ele começou, com a voz controlada. “Quero ter certeza de que você entende os termos antes de prosseguirmos.”
“Entender?” Minha voz saiu carregada de sarcasmo. “Entender que estou sendo tratada como um item de uma transação? Acho que entendi perfeitamente, Sebastian.”
“Isso não é pessoal,” ele disse, como se isso devesse me confortar. “É um acordo que beneficia ambos. Você resolve os problemas de sua família, e eu resolvo os meus.”
“E quais são os seus problemas?” perguntei, sem conseguir esconder a curiosidade.
Ele hesitou por um momento antes de responder. “Minha imagem. Preciso de estabilidade, de uma parceira que compreenda o que está em jogo. Não estou pedindo amor, Helena. Só honestidade e comprometimento com o que acordarmos.”
Eu bufei. “E você acha que isso é suficiente para me convencer?”
“Não espero que você goste disso. Mas espero que entenda.”
Desliguei o telefone sem dizer mais nada.
Naquela noite, li o contrato mais uma vez e, com lágrimas nos olhos, assinei. Não por mim, mas porque sabia que, sem isso, meu pai perderia mais do que seu orgulho.
Eu ainda tinha meus sonhos, mas sabia que eles precisariam esperar. Por enquanto, eu precisava me preparar para enfrentar Sebastian Carter e descobrir como sobreviver ao que estava por vir.
Porque, mesmo nesse casamento arranjado, eu não deixaria de ser quem sou.
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Atualizado até capítulo 80
Comments
Raquel Leal Sánchez
Ficar sem ler é tortura, autora, atualiza por favor!
2024-12-15
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