A jornada começou numa manhã repleta de inquietação, entretanto, ela foi longa, precisamente devido à distância que foi percorrida em um período aproximado de um mês. Porém, nenhum acidente significante ocorreu no caminho.
Eles seguiram direto pela estrada principal rumo ao leste. Era uma jornada entediante onde nada acontecia.
Subaru: Foi assim na viagem de ida e volta para Pristella e também na passagem de Lifaus… mas a paz durante o caminho no reino Lugnica é bem legal.
Julius: O patrulhamento para manter a estrada principal e a ordem pública é essencial para proteger a paz do reino. Lugnica é particularmente cuidadosa com coisas assim, até mesmo quando comparada com outras nações. Eles devem ter uma baixa taxa de dano sobre grupos de bandidos e majuus.
Subaru: Você tá querendo dizer que outras nações não são assim?
Julius: O reino Gusteko não é capaz de manter a sua estrada principal em ordem em primeiro lugar, considerando que está sempre coberta de neve. Ela é afundada na neve que está lá desde o começo. Já quanto ao império de Vollachia e a cidade-estado de Kararagi, têm pessoas com diferentes modos e costumes em proporção ao amontoado de raças juntas e misturadas. Neste caso, pode ser difícil dizer que a ordem pública é mantida lá.
Subaru: Saquei.
As cabeças dos dois dragões terrestres estavam alinhadas, eles corriam energicamente enquanto Subaru e Julius conversavam.
Patrasche, de Subaru, e o dragão terrestre de Julius os lideravam e puxavam a grande carruagem de dragão com suas cabeças.
Todos na carruagem de dragão demorariam a reagir no caso de emergência. Essa era a formação que tinham, mas como podia se ver pela conversa que traçavam devido ao tédio, a jornada foi pacífica.
Subaru: Ah…
Julius: Subaru.
Além da jornada ser entediante, assim que viu que o cenário não mudava, ele começou a bocejar. Subaru pôs a mão na boca e ficou incrivelmente sonolento, enquanto Julius o olhava com reprovação.
Seu corpo estava sobre seu querido dragão. Rapidamente, levantou suas mechas que se mantinham sem balançar através da Proteção Divina da Quebra de Vento.
Julius: Eu entendo que você queira se livrar desta sensação de tensão, mas os momentos em que você se deixa relaxar são os mais perigosos. Não vou dizer que você está deixando sua mente vagar, mas não permitirei que você aja de uma maneira que alguém considere preguiçosa.
Subaru: Quanto mais você vai falar só por causa de um bocejo? Até mesmo você boceja também. Certo?
Julius: É claro que eu tenho esses tipos de funções corporais. Mas se você tem a consciência de um cavaleiro, então é possível se segurar na frente de outras pessoas, compreende? É isso que está faltando em você.
Subaru: Tá, tá.
Ele estava pressionando por uma reação com uma força perfurante e sarcástica, mas Subaru já estava se tornando um mestre em defleti-la. Já se aproximava dos 20 dias de jornada em que ele estava acompanhado por Julius. Fazer os dragões terrestres, que sempre estavam lado a lado, correr de Pristella para a mansão, e agora para as Dunas de Areia de Augria, permitiram que ele aprendesse a lidar com Julius.
Julius: Eu pensei que fazia parte da etiqueta olhar para a pessoa com quem está se tendo uma conversa séria.
Subaru: A pessoa está olhando para outro lugar durante a conversa séria por causa do timing. Você devia pegar leve também. Está se esforçando demais.
Julius: Você e eu não estamos de guarda, e por quê…
Subaru: Você não tem que ficar tão tenso. Eles não vão nos atacar tão rápido. Se eles tentarem lutar com a gente, não vamos morrer em um local tão espaçoso.
Subaru o interrompe e diz isso enquanto estala a cabeça. Julius pisca seus olhos, como se Subaru tivesse dito algo inesperado.
Depois disso, esse belo homem deixa escapar um pequeno suspiro.
Julius: Está claro para você que eu estou ansioso?
Subaru: Tá, apesar de que tô com a sensação de que é um tiro no escuro. Mas sinto que todos acham que você está se esforçando demais. Mais do que o norm-… na verdade, talvez você esteja agindo como sempre agiu…
Julius: No momento, você é o único aqui que sabe que sou apenas eu sendo eu mesmo, afinal.
Subaru: … É.
Quando Julius abaixou o tom de voz, naturalmente Subaru também abaixou o seu.
Eles não conseguiam escutar a conversa das garotas no fundo da carruagem de dragão, então as garotas não deveriam ser capazes de escutar a conversa deles também.
Eles eram manos, e tiveram vários problemas em suas posições, mas, no momento, estavam trabalhando juntos.
Talvez essa fosse a hora de conversarem um pouco mais francamente.
Subaru: Já foi discutido com o Roswaal antes, mas como andam seus semi-espíritos?
Julius: É como eu havia dito antes. Eles se reúnem ao meu redor, mas eles não descansam suas penas nos braços que eu estendo como poleiro. Parece que minhas palavras não os alcançam também.
Julius levanta seu braço em resposta à pergunta de Subaru, revelando os semi-espíritos.
Os seis semi-espíritos que brilhavam fracamente estiveram flutuando ao redor de Julius, o qual fazia o dragão terrestre correr. No entanto, piscavam na sua mão estendida como se confusos, tentando ir embora.
Ele pensa, “Entendo, realmente parece que o Julius perdeu seu contrato com seus semi-espíritos.”
Subaru: Não consegue fazer um contrato com eles de novo? Você consegue atraí-los de alguma forma, então isso não quer dizer que sua proteção divina está funcionando?
Julius: Parece que Proteção Divina da Atração de Espíritos ainda está com força. E, pelo contrário, isso está envolvido no mistério do reconhecimento deles. É como ter certas emoções grandes, incompreensíveis e incontroláveis.
Subaru: Não sei se eu deveria dizer algo assim, mas que tal resolver isso através de outros espíritos?
Julius: Eu teria considerado essa ideia, se eu fosse um usuário de espíritos que conseguisse pegar emprestado o poder de espíritos inferiores que vão para qualquer lugar, como a dona Emilia… mas eu não consigo trazer o poder dos espíritos perfeitamente dessa forma. Eu precisei de alguns anos para me conectar aos semi-espíritos também, de qualquer modo.
Subaru: … Bem, é verdade que a Emilia-tan não consegue trazer o poder normal do Puck como o de outros espíritos também. Acho que se tornar parceiro de um espírito é algo especial afinal de contas.
Julius: A Emilia e o Grande Espírito. Assim como você e a dona Beatrice.
Isso era complicado. Subaru não podia dizer algo como, “Vá encontrar outros espíritos” com alguém que também era um usuário de espíritos como ele. Era como pedir que ele largasse Beatrice, depois de ter sua conexão cortada. É claro, ele levantaria o dedo médio e recusaria, como resposta.
Quanto a Julius, sua relação com os seis semi-espíritos era exatamente a mesma coisa.
Julius: Portanto, no momento, eu posso apenas utilizar técnicas de espada para realizar minhas obrigações como cavaleiro. É claro, não acho que a espada seja inferior à utilização de espíritos, mas é verdade que minhas habilidades a tornam insuficiente.
Subaru: Essa também é uma jornada para conseguir isso de volta, e você falando esse tipo de coisa, com suas habilidades com a espada, é mero sarcasmo. E se você estiver lutando contra mim, é ainda mais sarcástico.
Julius estava falando sobre sua habilidade danificada e insuficiente com as técnicas de espírito.
Subaru certamente ficou exausto daquela força um ano atrás, na área de desfile da capital. Subaru, de fato, melhorou, se comparado com àquela época, mas ele não sentia como se a diferença tivesse sido alcançada.
Do ponto de vista de Julius, lutar com Subaru naquela época seria como tirar doce de uma criança. Era como lutar com um Subaru de cinco anos. Era por aí que estava a diferença de níveis de força entre eles.
Subaru: O Reinhard também é assim. Vocês têm um péssimo hábito de se subestimarem, hein. Tentar ser modesto demais vai acabar virando arrogância! Inclusive, essa parte já é do Akashi, ele ficou tão confiante de sua força atual, que não consegue segurar nem um pouco aquela arrogância e determinação dele. Eu acho que esses tipos de palavras são usadas em qualquer lugar.
Julius: Eu quero devolver a mesma frase para você, mas, hmm. Deixando eu, Akashi e você de lado, Reinhard não estava sendo modesto ou subestimando a si mesmo. Provavelmente.
Subaru: Nem modesto ou subestimando…?
Ao mesmo tempo, ele o imaginava como o herói ruivo, mas ele quebrava a cabeça com a diferença em reconhecimento.
Ele nunca pensou que daria de cara com opiniões divergentes sobre Reinhard, porque da perspectiva de qualquer outro, ele era o mais forte, um super-homem completamente inigualável.
Como resposta para a dúvida de Subaru, Julius disse “Não” e balançou sua cabeça.
Julius: Em se tratando da força verdadeira de Reinhard, eu e você temos a mesma nota alta para ela. Provavelmente, todos quem o conhecem compartilham do mesmo pensamento. Todos creem que ele alcançou o ápice da humanidade, ou talvez ele tenha transcendido ela.
Subaru: É impressionante o quanto que isso não é um exagero.
Julius: Ele mesmo está completamente a par do quanto isso não é sua força verdadeira. A primeira vez que eu o conheci, foi quando eu tinha por volta dos 10 anos de idade… Mas nunca mudou.
Subaru: Desde que você o conheceu quando ele tinha 10 anos? Sério?
Subaru se impressiona com as lembranças de Julius enquanto segurava na correia de Patrasche.
Desde quando Reinhard tornou-se a pessoa que é hoje? Ele pensou que era uma pergunta deveras filosófica, mas ao menos, parecia que a versão dele de 10 anos atrás havia estado completa.
O que significava que ele carregava um destino bastante heroico em suas costas.
Subaru: Reinhard tem sido o Santo da Espada desde então?
Julius: Ele ainda era uma criança de cinco anos quando sucedeu a Proteção Divina do Santo da Espada. O Santa da Espada anterior era a Theresia van Astrea… Ela morreu na grande conquista 15 anos atrás e a proteção divina foi transferida através da avó de Reinhard.
Subaru: Então… foi dessa forma, hã.
Ela morreu depois de lutar contra a Baleia Branca e ainda continuou a ser a Santa da Espada, humilhada após a morte.
Ela era a avó de Reinhard, esposa de Wilhelm, e desta vez seu espírito retornou para os céus.
Mas quinze anos atrás, a proteção divina foi herdada dentro de Reinhard.
Subaru: Como ele se sente…
Julius: Perdão?
Subaru: Ele tomou a proteção divina da avó dele desde que tinha cinco anos e, para piorar, ele recebeu o sangue do herói, né? Não consigo imaginar como ele se sente.
――Subaru de certa forma entendia o peso de ter a expectativa dos pais.
Subaru conhecia a dor de ser esmagado pelo peso das expectativas das pessoas ao seu redor.
É claro, o peso e as responsabilidades que Subaru e Reinhard carregavam eram extremamente diferentes, então comparar-se a ele pode ter sido rude por si só.
Subaru: Eu realmente sou forte. Sou tão forte que não tenho noites em que desejo ter um montante excessivo de força, apenas com pensamentos tristes sobre como sou fraco e não sou bom o suficiente.
Julius: Isso me soa um pouco sem pé nem cabeça.
Subaru: Cala a boca.
Subaru é feito de besta no meio da sua fala importante e faz um “tsc” com sua língua.
Subaru: De qualquer modo, pessoalmente eu sinto que as preocupações das outras pessoas são extremas. Não acho que o Reinhard seja o mesmo de quando tinha cinco anos, mas eu me pergunto como ele se sentiu.
Julius: Como você poderia esperar, eu também não sei o que ele sentiu naquela época. Mas…
Aquele foi o único momento em que Julius levantou o seu rosto enquanto cortava suas palavras.
Julius segurou com força na correia, olhando para sua frente, apertando os olhos para a luz do sol que o banhava.
Julius: … O momento em que eu vi Reinhard foi um momento de grande mudança para mim.
Dava para escutar, de alguma forma, o triunfo naquelas palavras.
Julius apertava os olhos devido à luz do sol, mas talvez ele não estivesse fazendo isso por causa do sol.
Talvez ele olhasse para Reinhard daquela época, com o mesmo tipo de olhar.
Subaru: Isso quer dizer que você e o Reinhard se conhecem há cerca de 10 anos, mais ou menos. Eu acho que isso mal cumpre o requisito para vocês serem amigos de infância, mas isso ‘tá certo?
Julius: Não? Sim, ali foi quando eu notei Reinhard, mas ele soube de mim muito depois… Ele me conhece desde que fui nomeado como um cavaleiro real. Isso aconteceu quando eu tinha 16, então eu o conheço pessoalmente há seis anos.
Subaru: … Esse é um período de tempo bem vazio, não?
Julius: Naquele tempo, eu não tinha a capacidade que ele tinha, já que ele tomou para si o título de Santo da Espada. Ele me fez perceber, ao ponto de ser doloroso, e esse foi o meu começo.
Julius falou suas palavras quietamente, ao contrário do seu tom de voz, o qual estava acalorado.
Em resposta ao olhar distante que tinha em seus olhos amarelos, Subaru concordou com aquela palavra: “começo”.
No topo daquelas obscuras palavras, aquele dia provavelmente estava vívido na memória de Julius.
Se esse foi o começo de Julius, então era certo que estaria claro em sua memória.
A própria memória do começo de Subaru ardia em seu peito, queimando sua alma.
A vez em que foi salvo por Emilia em um mundo diferente, a vez que Rem apoiou suas costas quebradas, a vez em que tomou a mão de Beatrice pelas chamas, todas aquelas vezes foram os “começos” para Subaru.
Subaru: Quando você diz que começou de lá, quer dizer então que você era surpreendentemente levado quando era criança? Como um nobre esbanjador ou um filho extravagante.
Ele foi de encontro com seu jeito de inserir seus sentimentos e disse com uma voz intencionalmente provocadora.
Não acreditava nem por um segundo que estava limitado apenas ao Julius, mas realmente pensava que ele era um jovem nobre espalhafatoso na primeira vez que o conheceu. E se fosse para ser uma história, o tipo de vida altiva que esse jovem nobre viveu em sua adolescência parecia ser clara.
Subaru pôs esses sentimentos e mudou o tópico para alterar o fluxo da conversa, o que fez com que Julius, de repente, se soltasse mais enquanto falava.
Julius: Eu gostaria que você mudasse a forma como diz. Só um pouco… mas tem partes que eu não posso negar.
Subaru: Sério!? Você realmente foi um nobre exibido!? Você chutava camponeses do topo de um cavalo e ficava pressionando os servos pegando no pé deles!?
Julius: Não consigo deixar de pensar no porquê de você ficar tão sorridente.
Julius encarou Subaru, que tinha ficado animado. Depois disso, Julius olhou para trás.
Ele não estava interessado apenas na carruagem de dragão, mas nas garotas também. É claro, ele não tinha que se esforçar muito para confirmar que não podia ouvir as conversas delas, mas era uma questão de ele sentir como se pudesse.
Julius: Quanto que você sabe sobre a minha linhagem?
Subaru: Nada.
Julius: Você respondeu tão imediatamente que parece que você gostou.
Ele realmente não tinha conhecimento algum sobre isso.
Subaru habilidosamente atirou seu peito para frente acima do dragão e Julius sorriu ironicamente para ele. Depois disso, ele sentiu sua espada de cavaleiro na cintura. Talvez tenha sido passada pela família de Julius. Pela sua face, dava para ver que ele tinha dúvidas sobre ser devidamente qualificado para empunhá-la ele mesmo, neste momento.
Julius: … Eu não sou o filho mais velho original da família Euclius.
Subaru: ...
Julius: Para ser mais claro, devo dizer que eu não sou o filho mais velho oficial. Alviero Euclius é o real chefe da família Euclius. Klein Euclius era seu irmão mais novo, o que o faz ser meu pai, apesar de já ter falecido e o genro é o chefe da família.
Subaru não respondeu às palavras que eram mais surpreendentes do que ele esperava.
Era difícil dizer o quanto da estrutura da sociedade nobre deste mundo se misturava com o conhecimento de sociedade que Subaru tinha, mas a posição de Julius era definitivamente complicada.
E também, neste caso, então como ficava a posição de seu irmão mais novo, Joshua Euclius? Ele sentia falta de seu irmão mais velho Julius e neste momento, aquele garoto estava perdido das memórias do mundo.
Julius: Eu não sei que relação meu eu atual tem com Joshua, que foi deixado em Pristella. Só de ele não restar em mim, talvez ele seja um jovem irmão que sucedeu o sangue do meu pai real, Klein Euclius. Ou talvez ele realmente seja um filho legítimo que sucedeu o sangue do meu pai adotivo, Albert Euclius.
Subaru: … E se for diferente?
Julius: "Irmãos" é apenas uma forma de falar, então talvez nossa relação, em essência, seja a de primos. Neste caso, Joshua Juukulius provavelmente se tornaria o chefe da família Euclius.
Julius disse calmamente e, dessa maneira, a verdade o atravessou.
A esta altura, Julius não entendia a complexidade desta forma de falar, mesmo que ele realmente fosse quem estava com a posição. Se Julius e Joshua fossem irmãos de verdade, então Julius seria quem sucederia a família Euclius. No entanto, se Julius não fosse o irmão de Joshua, então seria correto dizer que Joshua seria o sucessor da família Euclius.
E então Julius não sabia como confirmar isso; a existência de Joshua foi tirada do mundo e Julius havia perdido as memórias de seu irmão além de não saber onde ele estava.
Julius: Era algo inevitável, mas quando eu penso nisso, torna minha posição muito complicada. Não saber sobre seu próprio amanhã não é muito prazeroso, embora no momento, eu deveria me preocupar mais comigo vacilando que sobre o futuro da família Euclius.
Julius disse isso aparentemente como brincadeira, talvez porque Subaru tenha recebido isso com surpresa.
A boca de Subaru estava seca. Ele range seus dentes enquanto sente uma irritação em seu estômago. Ele estava extremamente preocupado sobre como Julius estava agora.
Julius: Já que eu tinha esse tipo de história, eu era instável naqueles dias. Meu pai adotivo me levou até o castelo real, foi aí que eu demonstrei a péssima educação que me foi ensinada e eu desejei voltar para casa. Foi então que eu vi Reinhard, que ainda tinha oito anos de idade… Isso é tudo.
Julius escolheu finalizar a conversa em um modo meio forçado.
Ele não teve coragem de dar uma resposta ou algum comentário inteligente. Ele viu Julius olhar para frente de uma maneira solitária e parou de morder seus molares.
Então, o que veio logo depois foi uma pergunta.
Subaru: Por que você de repente teve vontade de me contar isso?
Julius: Eu pensei que você era alguém que estava me escutando. Talvez eu tenha me equivocado?
Subaru: Não, é verdade e tudo mais… Foi mal, mas não é isso que eu estava querendo dizer. Não é estranho que você tenha esse tipo de papo comigo?
Julius: Não, não é. Isso era conhecido por Reinhard e Felix… pessoas entre cavaleiros reais. É claro, senhorita Anastasia também sabe. Não tem nada de especial.
Subaru não entendeu coisa alguma, enquanto sua face se transformava em um franzido.
Mesmo se ele dissesse que todos sabiam, não era algo que ele podia espalhar. Como esperava, ele sentiu como se parecessem palavras não-naturais.
Talvez Julius tenha entendido o descontentamento que Subaru possuía no olhar.
Ele puxou a correia e apertou o passo do dragão apenas um pouco.
Julius: Sim, é algo que todos sabem… Então foi por isso que talvez eu quisesse que você agora soubesse também. Talvez eu quisesse que você soubesse, uma das duas pessoas que mais me conhece no mundo nesse exato momento.
O dragão terrestre azul acelera enquanto balança sua cauda e a expressão de Julius não podia mais ser vista.
Dito isso, ele não estava indo tão rápido a ponto de deixá-lo para trás. Era o jeito dele ser metido como de costume, apenas declarando o fim da conversa.
Subaru: Hm, está bem. Valeu por cuidar de mim, Patrasche.
O dragão negro que corria levantou sua cabeça e olhou para Subaru. Em resposta a seus gestos de dizer “Vamos bater de frente com o dragão terrestre na frente?”, Subaru demonstrou seu agradecimento e fez carinho na cabeça daquela dama.
Subaru: … Isso não foi normal de minha parte.
Ele soltava aquelas pequenas e perversas palavras de sua boca.
Estava ele se tornando fraco? Ou talvez, estava ele dando ares de protagonista de um drama trágico?
Na verdade, “Irritante” era a única maneira de expressar seus sentimentos.
Subaru: Ah, cacete. Eu sou o quê, um idiota? Não, eu sou um idiota…
Subaru coça a cabeça e libera sua irritação apenas pela sua boca.
No fim, ele não tinha uma resposta exata para o que Julius falou desta vez.
E ele não teria uma resposta exata até estarem de frente para as Dunas de Areia de Augria.
Uma resposta não chegaria até mesmo quando o grupo chegou na cidade “Mirula”, que estava próxima às Dunas de Areia.
————
Cerca de 3 dias antes, enquanto Subaru e companhia ainda seguia em viagem até as Dunas de Areia de Augria, aquele jovem dos cabelos alvos seguia fazendo o trabalho que lhe foi entregue há 1 mês.
Akashi Taiga, ocultando seu corpo com seu velho manto preto e capuz, caminhava por um bosque em meio a uma floresta ao Sul das Dunas de Augria.
Seus passos eram lentos e tranquilos, enquanto seu olho esquerdo, tomado por uma cor azul celeste, manteve-se afiado e encarando cada direção ao seu redor. "Está muito quieto, ele pensou, cessando seu caminhar enquanto a sola de seus zori paravam sobre o gramado seco.
Akashi: Isso é estranho, não encontrei nenhum receptáculo por aqui... eu, geralmente, posso ver o miasma ativo por vários quilômetros de distância. Mas, agora...
Akashi tinha a capacidade e alcance necessários para "ver" o miasma no corpo de outras pessoas, mesmo que estivessem em outra nação, em uma estimativa, o garoto podia enxergar o miasma de moradores da mansão do Roswaal até a cidade de Banan, e mesmo nesse raio de alcance, nem mesmo uma fagulha de miasma foi ativa.
Enquanto o jovem cruzaria seus braços, tentando pensar em possibilidades...
– Você disse "miasma"?
Akashi: —Hã?
A voz feminina surgiu alí atrás de Akashi, era como se ela simplesmente houvesse aparecido, sem nem dar sinais de aproximação. O garoto se virou espantado, rapidamente posicionando uma das mãos ao cabo da espada carmesim, Kagotsurube Isshin, em sua cintura.
Mulher: Não precisa ficar tão alarmado, eu não vim até você para incomodar.
Akashi: H-Hm... me desculpe, eu estava perdido em pensamentos então acabei me assustando.
Relaxando os ombros, Akashi largou o cabo da espada, ainda que mantivesse sua guarda alta, ele reposicionou-se para que pudesse olhar para os olhos dourados daquela bela mulher misteriosa.
As mãos brancas daquela jovem moça descansavam sobre sua cintura esbelta. As vestimentas, que contariam com um quimono branco puro imaculado com uma esfera verde-limão e o lado direito sobre o esquerdo, dando a impressão de roupas funerárias, mas com a saia encurtada até o meio da coxa e expondo livremente suas pernas longas e esbeltas.
Akashi, como o forte apreciador de beldades femininas que é em sua adolescência, não pôde evitar de ter a pele levemente parda de seu rosto tomada por um tom sutilmente rosado. A mulher de cabelos brancos e esverdeado diante dele seguia o encarando silenciosamente, ela parecia aguardar por algo, talvez a pergunta que havia feito quando chegou alí.
Akashi: ... que gata.
Mulher: O que disse?
Akashi: Não, nada. Me desculpe, uhm, eu quis dizer... o-olá!
Mulher: ... olá. Bom, parece que terei de perguntar de novo, então.
Akashi: P-Perguntar?
O susto, juntamente com a surpresa de ver uma mulher tão linda e jovem diante dele, fez com que Akashi esquecesse totalmente da pergunta não respondida no começo disso tudo.
A mulher, cruzando os braços, fitou Akashi com um olhar seco e arrepiante.
Mulher: O que é o tal "miasma" que você acabou de mencionar? Isso explica o porquê de você estar sempre de um lado para o outro nesses últimos dias?
Akashi: Como você...—?!
Mulher: Há 5 dias atrás, pessoas estavam comentando sobre um garoto de capuz que atacou pessoas em diversos vilarejos e cidades nessa região, esse mesmo garoto estava constantemente viajando e atacando pessoas comuns que, misteriosamente, tomavam atitudes agressivas e se tornavam mais cruéis com pessoas conhecidas. Isso me deixou curiosa, e como estou nas redondezas, porquê não ir atrás e conseguir algumas respostas?
Akashi: Já estão falando sobre mim, de novo? Nesse ritmo, vão me chamar de criminoso procurado outra vez. Parece que ir direto pro ataque não é mais uma opção.
Mulher: Responda-me, isso tudo tem algo a ver com esse miasma?
Enquanto Akashi tentava se manter no papel de falador distraído, para tentar esquivar-se do assunto e não meter uma mulher desconhecida no meio, a própria permaneceu firme, e parecia estar perdendo a paciência com Akashi, na verdade, ela parece estar se contendo... era como se houvesse algo no interior dela, que a forçasse a se segurar antes de agir exageradamente.
O garoto, suspirando, encarou a mulher com uma feição de "mas que saco", coçando atrás da cabeça antes de retirar o capuz, revelando seus cabelos brancos presos num coque, assim como seu rosto com mais clareza e, por fim, seus olhos de cores distintas.
Akashi: Porque eu deveria contar? O que pensa em fazer?
Mulher: Então realmente tem, certo? Sendo assim, agora responderei você. O motivo da minha curiosidade, é que casos como as 6 pessoas dessa região ocorreram em Kararagi, alguns foram tolos o suficiente para atacar minha casa e tentar me contaminar com uma névoa estranha. Depois que senti a presença de mais seres como aquelas pessoas aqui, neste lugar, eu vim até aqui para investigar e tentar descobrir o que está havendo.
Akashi: Então o surto está começando... espere, e como você lidou com os de Kararagi?
Mulher: Da forma que qualquer pessoa lidaria, eu matei aqueles 12 homens humanos num instante.
—?!
Os olhos de Akashi se arregalavam, espantado com o que ouvia naquele momento.
————
Mirula era uma verdadeira cidade solitária.
Ela possuía uma estrutura adequada, mas era consideravelmente menor que lugares como Pristella, a Cidade das Comportas; Costuul, a Cidade Industrial e o Reino de Lugnica.
O reino tinha manutenções em todos os lugares para as estradas principais dispostas no seu interior. A carruagem de dragão teve uma viagem sem problemas à caminho de Mirula, mas aquela última parada da ponta leste tinha sido tão sem graça como nunca antes visto.
Emilia: Mas talvez não desse para evitar. Olhando no mapa, daqui em diante tem apenas as Dunas de Augria ao leste… E ali ao sul está a maior floresta do reino, né? Estamos longe das cinco cidades e também sabemos que não tem muitas pessoas andando por aqui.
Diz Emilia, enquanto olha pela cidade, caminhando ao lado de Subaru.
Ela usava um manto branco que cobria sua cabeça. Sua aparência e lindo cabelo prateado estavam ligeiramente escondidos. Uma garota bela como Emilia, aparecendo em uma área rural, chamaria a atenção dos moradores. Isso era Subaru brincando, mas ela também tinha uma posição de alta classe. É por isso que ela demonstrava uma leve consideração não apenas por sua aparência, mas também para evitar problemas que envolvessem sua linhagem.
Dito isso, esses não eram os únicos motivos do porquê de ela ter sua cabeça e boca cobertas.
A outra razão para se esconder era devido ao efeito especial “desastroso” do vento arenoso.
Subaru: Não pode expandir para leste ou sul, e ainda por cima essa brisa arenosa é garantida. Complicado.
Emilia se mantinha a favor do vento, Subaru puxava o tecido que vestia em sua face, que se mantinha do lado contrário para servir como uma leve barreira contra o vento, enquanto murmurava aquelas palavras escondendo seu rosto. Quando ele movia sua língua, sentia a areia esfregando em seus dentes e isso o fazia se sentir bem mal.
Esse vento arenoso vinha para dentro da cidade como se estivesse sendo soprado das dunas de areia ao leste.
Parecia como se o vento fosse soprar contra a cidade continuamente em dias de ventania. Era crucial ter roupas que protegessem contra a areia ao andar pela cidade.
Emilia: Subaru, o que foi?
Subaru: Nada não. Eu só estava pensando em como as coisas saíram diferente do que eu havia imaginado quando ouvi que era um deserto.
Emilia inclinou sua cabeça para Subaru enquanto ele olhava para ela com uma olhadela.
Seu corpo estava escondido ao máximo, já que ela estava usando uma capa que cobria dos seus pés até a sua cabeça. A ideia de Subaru era de que, basicamente, garotas bonitas deveriam agradar aos olhares das pessoas ao seu redor com trajes variados. No entanto, elas não podiam fazer isso usando roupas de defesa tão alta.
Falando em deserto, ele pensava em roupas para dançarinas que protegiam contra a luz do sol… como eram chamadas mesmo?
Subaru: De qualquer forma, talvez nós devêssemos ter escutado o conselho do dono da pousada.
Emilia: É o "Tempo de Areia" agora, não é? Não tem ninguém na estrada, afinal.
O vento não estava muito forte, mas a areia estava se transformando em poeira, talvez por conta da sua leveza. Neste campo de visão amarelo e brumoso, ninguém além de Subaru e Emilia podiam ser vistos na estrada da cidade.
Os habitantes da cidade, acostumados a este evento, trancavam-se durante o “Tempo de Areia” quando o vento arenoso soprava, suas construções até ficavam com as janelas e portas fechadas.
Era verdade de que o tipo de vista que teriam dentro do vento arenoso era certo, além de ser bastante difícil de respirar. Era tão ruim que o dono da estalagem os parou e disse para não saírem durante o “Tempo de Areia”.
No entanto, havia um motivo para terem desconsiderado esse aviso.
Subaru: É assim que funciona na cidade. O vento nas dunas de areia não é assim, né?
Emilia: … Não, acho que não.
Não era uma corrida “na seca”, mas eles saíram no “Tempo de Areia” de propósito, para que pudessem se preparar mentalmente.
As circunstâncias do caminho até as dunas de areia, que tinha vento arenoso soprando e areia por todo o lugar, não eram tão ruins fora do “Tempo de Areia”. Eles estavam distantes das dunas de areia e também não podiam ver bem na cidade com construções compactas.
Eles tinham que se preparar o mais rápido possível para a severidade do caminho para as dunas de areia.
Emilia: De qualquer forma, que tal entrarmos em alguma loja? Já que é bem possível que a gente vire blocos de areia se continuarmos assim.
O que Emilia apontou enquanto se limpava da poeira de areia era uma construção do outro lado da estrada. O local que parecia ser um bar ou algo do tipo, parecia ser um abrigo temporário de refugiados.
As outras lojas não pareceram convidativas, mas ao menos a entrada estava aberta.
Eles se apressaram para a construção, conforme Emilia havia sugerido.
Removeram o máximo de sujeira que podiam na porta, feito isso, lentamente entraram no bar.
Dono: … Sejam bem-vindos ao vento arenoso.
Quando entraram no bar, o dono, que polia um copo do outro lado da mesa, olhou para eles e os cumprimentou com uma voz baixa. Pela voz baixa, ele não parecia ser muito receptivo, provavelmente porque em apenas um olhar percebeu que Subaru e Emilia estavam cobertos de areia.
Eles de fato removeram o quanto puderam, mas ainda havia bastante areia grudada neles. Eles bateram a areia e adentraram à loja, apesar de terem se sentido mal fazendo isso.
Dono: O que vocês gostariam de pedir?
Subaru: Leite frio.
Emilia: Leite quente.
Em resposta às duas pessoas que se sentaram na mesa e fizeram seus pedidos, o dono apertou seus olhos e não falou nada.
Subaru: Não parecem estar vendendo muito… o negócio vai mal no Tempo de Areia?
Subaru remove seu capuz com o qual se cobria e faz essa pergunta ao dono, enquanto degusta o leite que foi trazido. O dono insociável responde com um “Aahhh” e diz:
Dono: Até na melhor das horas o movimento de pessoas é baixo para essa cidade. Gerenciar uma loja durante o nascer do sol é tipo um hobby.
Subaru: Sei. Então como forasteiros e clientes devemos ser fregueses, hein.
Dono: Não estou tão certo disso, até mesmo se você beber leite num bar e se parecerem fregueses. Aqui está o seu, senhorita.
Emilia: Uau, obrigada.
O dono estende o leite quente para Emilia. Ela segura no copo de cerâmica e respira. A garota soprando o leite vê Subaru se curvando para frente na mesa.
Subaru: Já que não tem outros clientes, então você está desocupado agora, né? Se importa de me ouvir um pouco?
Dono: Mesmo que eu tivesse, é proibido conversar com alguém no meio do serviço dizendo que está com tempo livre… O que forasteiros como vocês gostariam de saber?
Subaru: Sendo sincero, eu gostaria de saber sobre as Dunas de Augria.
Subaru levanta seu dedo e o confronta com os detalhes de sua pergunta. Assim que o fez, o dono alterou sua expressão pela primeira vez.
O calmo dono de cabelo acinzentado, apertou seus olhos dubiamente sob suas sobrancelhas negras. Após isso, ele comparou Subaru e Emilia e deixou escapar um suspiro.
Dono: Eu não sei que tipo de piada é essa, mas não se atrevam a irem para lá se vocês forem tratar como se isso fosse um piquenique. Vocês só vão acabar morrendo.
Subaru: Ei, ei, o que que você tá falando? A gente tá com cara de que estamos brincando pra você?
Dono: Com o que mais o meu alerta agorinha pareceu para você? Aquele lugar é um mar de morte, onde todos que vão nunca retornam, e morrem. Não é um lugar para se ter um encontro com uma mulher.
Subaru: Eu certamente acho que o efeito de ponte suspensa é uma tática válida, mas eu não tô tão encurralado. Emilia-tan, fala com ele também.
Emilia: Sopra, sopra, tá quente… hein? O que foi? Desculpa, eu não estava ouvindo.
Subaru: Observe: os caminhos da E.M.T.
Dono: Eu vou dar um conselho útil para vocês. Vão para casa antes que morram.
O dono olha para as interações de Subaru e Emilia e a esperança que tinha neles só piorava e piorava.
Dito isso, não era como se o dono estivesse falando isso por maldade. Ele de fato sabia sobre os perigos das Dunas de Augria devido a sua reputação. Porém…
Subaru: Não podemos sair. Nós temos apenas um caminho para seguir em frente. Além disso, a única coisa que podemos fazer é escolher o caminho mais seguro possível. Você entende, não é?
Dono: São vocês que não entendem. Escuta aqui. Aquelas dunas de areia são impossíveis. O miasma da Bruxa vagueia pela toca dos majuus, não dá para chegar perto da Torre de Vigia.
O dono começou a falar sobre as ameaças das dunas de areia enquanto se irritava com o comportamento insistente de Subaru. Ele aponta para janela, que estava fechada para prevenir a entrada de areia, enrolando seus lábios enquanto apontava em direção ao lado leste da cidade.
Dono: Todo ano tem pessoas que nem vocês, que tentam ir sem o menor cuidado para as dunas de areia. Eles vão atrás da torre do Sábio no mar de areia… mas ninguém chegou lá. Nada seria melhor do que retornarem com vida, mas a maioria ou fica só o pó no mar de areia, ou se tornam comida de majuu.
Subaru: É verdade que ninguém nunca chegou lá antes?
Dono: Creio que a torre no mar de areia foi construída centenas de anos atrás. O número de idiotas que tentaram chegar lá não diminuiu. Se alguém realmente chegou lá, não tem como ele não ter se mostrado. Você não sabe? Aquele cara acabou fracassando mesmo sendo um "Santo da Espada".
Conquistar a Torre de Vigia Plêiades era um desafio impossível até mesmo para Reinhard.
Foi-lhe dito pelo próprio Reinhard, ele também falou da dificuldade anormal de conquistar a Torre de Vigia.
Mas mesmo assim, as pessoas que tinham que superar isso eram o grupo atual de Subaru.
Subaru: É claro, nós não vamos fazer nada estúpido como entrar lá sem nenhum plano. É por isso que estamos juntando informações. Fazer isso em um bar é o básico, não acha?
Dono: Sério? Por que fazer isso em um lugar que você bebe saquê?
Subaru: Se você quer que eu te explique em detalhes, provavelmente não vou conseguir, mas não seria porque todos ficam falantes depois que bebem álcool e aí acabam soltando todo tipo de rumor?
Dono: Então é basicamente fofoca. É inaceitável ir lá sem qualquer plano, mas depender de um plano inútil também é ruim.
Subaru: Guehh! Sua lógica é certeira!
Subaru é vencido pela razão e instantaneamente se desaponta enquanto bebe seu leite.
Geralmente sempre que Subaru conversa com adultos, ele não consegue acompanhar o rumo da conversa. O dono também estava acostumado a falar com pessoas que desafiavam as dunas de areia descuidadamente. Na realidade, não era como se Subaru desafiasse as dunas de areia descuidadamente, mas o dono encarava ele da mesma forma que encarava os outros, por não conhecer a sua realidade.
Nesse ritmo eles acabariam voltando sem ganhar uma única pista, e…
Dono: De qualquer maneira, para você levar uma garota para um inferno como aquele é…
Emilia: Perdão, Sr. Dono. Você tem se preocupado conosco e ainda assim o Subaru só fica reclamando.
Justo quando Subaru estava prestes a se entregar, Emilia interrompeu o Dono que começava a dar seu sermão. Os olhos do dono se arregalaram com as palavras de Emilia, que começaram com um pedido de desculpa.
Emilia rapidamente curvou sua cabeça ao ver a reação do Dono.
Emilia: Obrigada por toda a ajuda que você nos deu, mesmo que nós não sejamos conhecidos.
Dono: Me desculpe também por pegar no pé de vocês. Porém, eu mantenho meus argumentos. Eu dou de cara com jovens como vocês constantemente.
Emilia: Realmente houveram muitas pessoas que tentaram ver o "Sábio"?
Dono: Bem, não tem muitas pessoas que têm um espírito forte para se encontrar com o "Sábio". A maioria das pessoas que tentaram conquistar as Dunas de Augria querem ser honradas. Claro, tem pessoas que dizem que vão obter a sabedoria do Sábio caso as coisas ocorram bem, mas dizer que elas vão conseguir uma recompensa ao chegar na torre também é um engano.
O dono deixou cair os ombros e suspirou, com um olhar que poderia ser dito como esgotado.
Justo como havia dito, ele provavelmente tinha visto muitos desafiarem a Torre Plêiades. Talvez ele aparentasse ser gentil até mesmo com o rosto do jeito que era. Parecia que ele podia sentir vergonha.
Emilia: Quer dizer que as pessoas não viram o "Sábio"…?
Dono: Nunca soube de alguém que tenha chegado tão longe. De acordo com os rumores, o Sábio ainda está observando do topo de sua torre e ele pune pessoas insolentes… mas não é como se eu tivesse testemunhado. Não posso deixar de pensar nas dunas de areia como uma armadilha para caçar presas e deixar iscas.
Emilia: Você mencionou o miasma da Bruxa. O que é isso?
Dono: É a mesma coisa que eu falei. Uma toca de majuus está à frente… No reino, existem vários tipos de raças de majuus em diversos locais. Mas, naquelas dunas de areia, têm todos os tipos de espécies.
O dono, mesmo falando em voz baixa, era tagarela.
Quando a Emilia engoliu em seco, o dono olhou ao longe.
Dono: O Cão Rei Pintado e o Rato de Asas Negras têm um lado fofo. Os Unicórnios e as Minhocas Terrestres da Areia são bestas encontradas apenas aqui. Também, se houver um jardim em solo arenoso, esse é o local de caça do Urso Floral.
Emilia: Urso Floral…
Dono: Aparentemente só podem ser encontrados em Kararagi. Eles são majuus que têm flores desabrochando por todo o corpo. Assim que você se deixar enganar por sua aparência e se aproxima dele, ele engole suas vísceras.
Subaru: Majuus realmente são… nojentos…
Quem contou para ele sobre majuus cujo propósito era matar humanos?
O dono deu uma fungada para ele como se dissesse “Eu avisei”, enquanto Subaru franzia o rosto e escutava atentamente.
Dono: Mas o perigo com o que você tem tomar mais cuidado, até mesmo mais do que os majuus, é o miasma. Sim, tem perigos como o vento arenoso e mudanças climáticas, mas sua maior preocupação deve ser o miasma.
Subaru: O miasma não é algo que você reconhece intuitivamente, né.
Subaru questionava o dono que havia se calado novamente.
Subaru ouviu a palavra miasma várias vezes antes e podia até imaginar o que era baseando-se na impressão que a palavra dava. Basicamente tinha efeitos ruins no corpo e na mente, além de parecer evidente de ser ar ruim para o corpo.
Para ele parecia ser diferente um gás nocivo, mas talvez fosse algo próximo a isso.
Emilia: Hmmm, Subaru. Se descrito, um miasma poderia ser chamado de mana poluída por coisas ruins. Não dá para ver com os olhos, mas é algo que está em todo lugar, não sabia?
Subaru: Ah… então mana é miasma?
A fala de Emilia surpreende Subaru. A explicação era fácil de entender, mas as implicações eram um pouco diferentes do que Subaru havia imaginado.
Mana verdadeiramente possuía uma grande influência para utilizadores de magia e espíritos. No entanto, se apenas vivessem suas vidas e simplesmente usassem dragões terrestres para se locomoverem, então mana não era lá essas coisas.
Mas, Emilia lentamente balançou a cabeça como se tivesse previsto o espirito desapontado de Subaru.
Emilia: Você não pode subestimar o miasma. Mana normal é algo puro, que não tem cor nem direção. Mas miasma… só de tomar a mana poluída por coisas ruins através portal, corrompe as criaturas no seu interior. Levando em conta que um portal é um órgão que naturalmente consome mana, isso é algo que não pode ser evitado.
Subaru: Não dá para fazer sua respiração parar permanentemente, afinal.
Dono: A interpretação da senhora está correta, mas o miasma que vagueia pelas dunas de areia é ainda pior… O miasma de lá não apodrece apenas as criaturas, mas a comida e a bebida também.
Subaru: Você quer dizer que a comida fica incomestível?
Dono: Quero dizer que quando você come, a poluição do miasma avança. Você vai enlouquecer só de ter um pouco dele passando pelo seu portal. Tente tomar diretamente pelo estômago. A poluição vai engolir você por inteiro.
Subaru: E o que acontece então? Vai continuar depois da pessoa enlouquecer?
Dono: Dizem que você morre na loucura. Para falar a verdade… bem, eu não posso negar.
O dono balança a cabeça com um olhar pálido em seu rosto.
Ele provavelmente havia visto antes, apesar de não falar disso diretamente. Ele tinha visto os momentos finais de pessoas sendo violadas pelo miasma enquanto enlouqueciam até morrerem.
Dono: Seria melhor se vocês não passassem por lá.
Emilia: Obrigada pelo leite. E pela conversa também.
Emilia bebe todo seu leite quente e expressa sua gratidão com o dono que começava a concluir a conversa.
O dono provavelmente sabia como eles estavam gentilmente tentando obter informações da conversa, lá pelo meio dela. Ele também continuou a falar até agora e tentava mudar os planos de Subaru e Emilia.
Ele simplesmente sentia-se triste por eles. Mas ainda assim, Subaru e os outros ainda iriam para o mesmo lugar.
Emilia: Eu paguei. Vamos indo, Subaru.
Subaru: Está bem… vamos, então.
Emilia colocou na mesa uma moeda de prata e puxou as mangas de Subaru. Ela deu até de mais por dois copos de leite, mas isso também incluía uma gorjeta pela informação e seus cuidados.
Eles se levantaram, falaram seus agradecimentos para o dono e começaram a sair do bar.
Dono: … Tem sido assim aqui por cerca de um ano, mas pessoas agora notam que há pássaros que voam em direção às dunas de areia.
Eles se cobriram novamente com as roupas, se preparando para o vento arenoso, quando uma voz os chamou de trás. Quando eles se viraram, o dono virou as costas para eles e continuou a falar como se estivesse fazendo um monólogo enquanto limpava um copo.
Dono: As pessoas que viram eles, dizem que voaram em direção à torre e se espalhou como uma piada. Não tenho nenhuma prova disso, mas…
Foi nessa hora que o dono parou a frase e guardou o copo.
E aí ele falou:
Dono: Se em algum momento vocês ficarem em dúvida, tentem procurar por um pássaro. Se tiverem sorte, pode ser que ele leve vocês para a torre.
Dono: Apesar que, vocês obviamente já vão estar com o maior azar se estiverem em dúvidas nas dunas de areia. Ainda mais cedo, eu contei sobre isso para um garoto encapuzado, talvez vocês consigam se encontrarem durante sua viagem.
Subaru e Emilia se entre olhavam silenciosamente, um sorriso de "é, eu sei" surgia em seus rostos, enquanto saíram da loja sem falar mais nada.
Quando eles foram lá fora, notaram que o vento estava consideravelmente mais fraco. Emilia confirmou que conseguia ver melhor em comparação à quando entraram no bar, olhando de volta para Subaru.
Emilia: Por hora, vamos voltar para a pousada e nos encontrar com todos, já que Anastasia e os outros talvez já estejam de volta agora.
Subaru: É, acho que é uma boa. Também tô interessado nos resultados que eles tiveram. Aí, Emilia-tan, você também acha que...?
Emilia: Sim, eu acho. Parece que vamos nos reunir com ele de novo, não é?
Subaru: É... heh! Ei, Akashi! Não vá embora sem nos dar um "oi" antes, hein!?
Subaru exclamava para os céus, usando suas mãos para aumentar o som de sua voz, Emilia o observava com um sorriso sutil. Sem demora, o rapaz suspirou e logo ficou de pé em frente a Emilia, que cobria seu rosto novamente, começando a caminhar enquanto servia como proteção para o vento.
E então, assim que chegaram a um ponto em que não podiam mais ver o bar, Emilia murmurou silenciosamente.
Emilia: O homem da loja estava com uma perna a menos.
Subaru: … Eu não percebi.
Emilia: Eu não sei onde ele se machucou… mas me pergunto se foi por causa "daquilo".
Subaru também sabia o que Emilia queria dizer a partir de suas palavras pensativas.
O dono era legal e expressava seu forte sentimento sobre os perigos das dunas de areia para dois viajantes estranhos.
Se era um aviso baseado em suas experiências, então as pessoas que o desconsideravam e seguiam em direção as dunas de areia eram cruéis. Este era o sentimento.
—————
A tensão cresceu por um instante no ar, enquanto Akashi fitava a mulher à sua frente com uma expressão mista de surpresa e preocupação. "Doze homens mortos em um instante?" ele pensou, sentindo um leve arrepio percorrer sua espinha. A naturalidade com que ela afirmou aquilo deixava claro que ela não era alguém comum.
Akashi: Então você está dizendo que simplesmente... os matou? Assim, sem mais nem menos?
Mulher: "Sem mais nem menos"?
Ela inclinou a cabeça levemente para o lado, os olhos dourados brilhando com uma frieza afiada.
Mulher: Eles já não eram mais humanos. O que quer que tenha infectado aqueles homens estava os transformando em algo terrível, aberrações que emanavam um mal imprescindível. Eliminar tais criaturas foi necessário para me proteger.
A resposta dela foi direta e sem hesitação, deixando Akashi com mais dúvidas do que certezas. Apesar disso, ele sabia que havia uma verdade em suas palavras; pessoas contaminadas com miasma costumavam perder sua humanidade rapidamente, enquanto os com maiores concentração de miasma já eram possuídos por um ser demoníaco que provavelmente diria um monte de besteiras maldosas e cruéis. Ele já havia enfrentado muitos desses casos em sua jornada recente, e presenciado casos como o de Regulus Corneas e Seth, que eram possuídos diretamente pelas Quatro Calamidades do fim, graças á maior conexão com o miasma que eles tinham.
Coçando sua bochecha, Akashi decide responder, enquanto se lembrava de fatores importantes para extinguir o miasma.
Akashi: ... mas... você não retirou o miasma do corpo deles, certo?
Mulher: Não, e nem sabia que isso é possível. Eu apenas os matei para acabar com aquilo logo, isso é ruim?
Akashi: Heh, incluindo a parte de que você matou várias pessoas, sim é bem ruim. O "miasma de Nazgaroth" só pode ser removido com uma certa habilidade, então eu entendo que você não tenha conseguido eliminar ele antes. Mas, como você matou os possuídos, você acabou entregando as almas deles de bandeja para seres sombrios e perversos que se alimentaram delas... neste momento, 12 almas estão sendo consumidas por criaturas terríveis que almejam nos matar.
Mulher: É isso, então... bem, se eu soubesse disso, teria apenas os nocauteado, agora só nos resta lamentar. Agora, sua vez de falar, garoto. O que exatamente está causando esse surto? E por que você está tão envolvido nisso?
Akashi hesitou. Ele sabia que revelar tudo para uma completa estranha poderia ser arriscado, mas ao mesmo tempo, havia algo na presença dela que o fazia sentir que talvez, apenas talvez, ela pudesse ser confiável, mesmo tão intensa e que grite por "sangue". Além disso, ela já sabia o suficiente para fazer perguntas pertinentes, e fugir da conversa poderia piorar as coisas.
Akashi: Tá bom, eu explico, mas antes me diga o seu nome.
Mulher: Justo. Eu me chamo... Zarestia.
Akashi: Zarestia, hein? Certo.
Ele ajeitou a postura e cruzou os braços.
Akashi: Meu nome é Akashi Taiga, é um prazer. Bem, esse "miasma" que mencionei é uma espécie de energia maligna. Ele é capaz de corromper as pessoas, tornando-as mais poderosas, só que mais agressivas, violentas e, em casos extremos, as transformando em aberrações. Eu estou rastreando focos dele há algum tempo, tentando impedir que se espalhe... principalmente para lidar com o fator mais importante sobre esse miasma.
Zarestia: Um fator mais importante?
Akashi acenou com a cabeça assertivamente, encarando-a com seriedade.
Akashi: A alma dessas pessoas tomadas pelo miasma possui duas funcionalidades, serem um vínculo com este mundo, ou alimento. Sendo um vínculo, entidades de outro mundo podem tomar posse dos corpos dessas pessoas, usando-as como um meio para vir a esse mundo e destruir tudo, principalmente os mortais. Sendo alimento, bem, eu já te contei um pouco sobre isso... eu ainda não entendi muito bem essa parte, mas sei que a maneira de alimentar estes seres... fortalecendo-os enquanto se preparam para invadir esse mundo daqui há um ano, retirar o miasma dos corpos das pessoas afetadas tem os atrasado e enfraquecido pouco a pouco. Essa é a tarefa que me foi entregue.
Zarestia: Interessante. Mas por que exatamente você? Isso não parece ser algo que um jovem como você deveria lidar sozinho.
Akashi: Porque se eu não fizer, quem vai? Além disso, eu tenho uma... habilidade especial que me permite detectar e remover o miasma das pessoas. É um trabalho ingrato, mas alguém precisa fazer.
Além disso, o que também movia Akashi a agir em prol desse dever era àquela mulher, àquela que lhe trouxe ao mundo, dando-lhe sua vida, em troca da dela. A mãe de Akashi, Kyoko Taiga, foi escolhida para dar a luz ao "Guerreiro Escolhido" do reino Celestial, e desde então, Akashi tem vivido para cumprir esse dever e honrar sua mãe.
Zarestia o observou em silêncio por um momento, avaliando cada palavra e gesto. Parecia que ela estava pensando se deveria confiar completamente nele ou não. Finalmente, ela falou, com um leve suspiro.
Zarestia: Entendo. Então você está se arriscando para proteger os outros. Admirável, mas perigoso.
Ela estreitava os olhos.
Zarestia: Porém, isso significa que temos um inimigo em comum. Esses focos de miasma devem ter uma fonte. Alguma ideia de quem ou o que está por trás disso?
Akashi: No momento, eles apenas surgem aleatoriamente em pessoas específicas. Aquelas com pouca força de vontade, ou um coração tomado por maldade e perversão são alvos frequentes... recentemente, lidei com uma garotinha, o que significa que eles não escolhem gênero ou idade, são todos farinha do mesmo saco.
Zarestia: Nesse caso, que tal fazermos uma aliança temporária? Eu ajudo você a eliminar esses focos e, em troca, você me ajuda a descobrir mais sobre o que está acontecendo.
A proposta dela pegou Akashi de surpresa. Ele normalmente preferia trabalhar sozinho, mas algo no tom confiante e direto de Zarestia o fez considerar a ideia. Antes que pudesse respondê-la, os olhos de ambos arregalavam-se, um súbito frio na espinha surgiu, enquanto seus estômagos se reviravam.
Uma pressão invisível parecia esmagar o ar ao redor deles, tornando cada respiração pesada, como se o próprio ambiente fosse hostil.
Uma sensação totalmente arrepiante e ameaçadora surgiu ao norte dali, uma sensação familiar para ambos.
Akashi: I-Isso é...!
O garoto deu um passo para trás, o coração disparado enquanto sua mente tentava processar a energia opressora que o atingia.
Zarestia: De onde está vindo isso? É tão poderoso que parece estar nos cercando!
Akashi: Está vindo do norte daqui, como eu consigo ver, dá pra notar que fica num lugar alto... mas distante...
Zarestia: Ao norte...
Ela pareceu saber de onde estaria vindo o poderoso miasma, logo fitando Akashi enquanto lhe informava.
Zarestia: Tudo o que tem ao norte daqui são as Dunas de Areia de Augria, provavelmente, você está vendo o miasma localizado em algum lugar na torre do "Sábio" que existe lá.
Akashi: Na torre do "Sábio"?
O garoto se lembrava da conversa em Priestella sobre a intenção de Subaru, Anastasia e companhia em ir até as Dunas de Augria. Ele não sabia se já haviam chegado, se estavam a caminho ou se haviam desistido, mas tinha certeza de uma coisa: aquele seria o ponto de encontro com seus amigos mais uma vez.
As Dunas de Augria eram uma terra árida e cruel, onde tempestades de areia obscureciam o horizonte e o calor intenso tornava o ar sufocante. Criaturas ferozes, majuus, vagavam pelo deserto, caçando qualquer coisa viva. Cercando a torre do Sábio, o berço do poderoso miasma que acabara de "nascer", aquele lugar era o pior campo de batalha possível.
A sensação opressora do miasma era como um grito silencioso que ecoava na alma, crescendo em intensidade. O ar ao redor parecia enegrecido, pulsando com uma energia maligna, como se o próprio mundo estivesse se desfazendo ao redor daquele ponto.
Akashi sabia que precisava agir, mas o dilema o consumia. Kararagi já estava na mira do miasma, e ele não podia simplesmente abandonar o local para lidar com outro problema. Resolver a questão ali tomaria tempo, e tempo era o que ele menos tinha. Mesmo assim, sua decisão estava tomada: ele iria às Dunas de Augria.
Akashi: Nesse caso, eu irei até as Dunas de Areia verificar o que está me esperando. Enquanto isso, você poderia fazer um favor, em prol de nossa aliança?
Zarestia: Hm... está bem, o que é?
Akashi: Eu preciso que você volte para Kararagi, cuide das coisas por lá e tente não matar ninguém, pode ser?
Zarestia o encarou por poucos instantes, logo, um brilho de determinação em seus olhos amarelos surgiram.
Zarestia: Muito bem, Akashi Taiga, vou seguir esse plano por enquanto. Mas não me culpe se eu acabar me divertindo demais em Kararagi.
Akashi: Peço para que não se divirta tanto, por favor. — Muito bem, eu vou indo agora, se eu for com velocidade máxima, devo levar uns 2 dias para chegar, 3 se as coisas correrem mal.
Zarestia: Até a próxima, então. Torço para que possamos nos reencontrar no futuro.
Akashi apenas sorriu, virando-se na direção da fonte daquele poder intenso. Um instante depois, o som do vento cortando o ar ecoou, e ele desapareceu. Zarestia permaneceu no mesmo lugar, sua expressão calma enquanto uma brisa levantava os fios de seu cabelo branco.
Zarestia: Que tolice, Zarestia. Você erguer a mão para um humano...
————
Anastasia: Parece que o Natsuki e a Emilia-san retornaram em segurança.
Eles voltaram para a pousada. A pessoa que recebeu Subaru e Emilia era alguém que deveria estar lá fora assim como eles estiveram. Era Anastasia.
Anastasia trocou suas roupas, ela tinha um sorriso elegante e belo enquanto se sentava na cama.
A pousada em que o grupo estava era uma pousada de primeira classe de Mirula.
Ainda era injusto compará-lo à pousada Pavilhão Pluma d’Água, de Pristella, mas não havia outra maneira de compreender, além de dizer que era por causa das diferenças qualitativas que as cidades tinham.
Subaru: Onde está o Julius?
Anastasia: Depois que ele me mandou para a pousada, ele disse que iria dar uma volta pela cidade um pouco. Acho que ele não está acostumado a ter areia nos olhos. Igual a vocês. Como foi?
Subaru: Eu realmente queria ter óculos para proteger contra a poeira. São como vidros transparentes e eles cobrem o rosto por aqui como proteção. Não dá para a gente fazer eles?
Subaru se lembra de óculos aquáticos e pergunta sobre eles enquanto aponta para os olhos. Anastasia inclina a cabeça ao escutar essas palavras e diz “Entendo” enquanto concorda.
Anastasia: Temos que nos preocupar com coisas como materiais de vidro e sua durabilidade, mas é algo que vale a pena considerar… talvez. O Tempo de Areia não é um problema sem relação com Kararagi, então pode ser uma ideia útil.
Subaru: Eu não estou tentando falar sobre patentes no futuro distante. Se não tivermos essas coisas… bem, contanto que a gente não evite o “Tempo de Areia”, eu não acho que vá ter algum problema.
Emilia: Parece que as maiores preocupações são os majuus e o miasma além da areia. Beatrice e eu podemos lidar com o miasma com espíritos menores… mas vamos depender da Meili para os majuus.
Emilia disse isso e olhou em direção ao quarto ao lado, do outro lado da parede.
No momento, Beatrice deve estar monitorando Meili naquele quarto. Ele quis ser sentimental e quis acreditar que Meili não os trairia, mas uma ofensa antiga é uma ofensa antiga. Não era como se ele pudesse confiar nela facilmente. Eles não podiam dizer com completa confiança que sua conexão com sua mãe havia sido cortada, além de que, sua mãe proibi-la de falar também não era uma impossibilidade.
Subaru: Então vamos depender da Anastasia para nos guiar. Isso é arriscado.
Emilia: Embora seria aceitável chamar isso de usual. Ah, tem a questão do Akashi estar por essas redondezas também, será que ele vai ficar irritado se ver Meili andando conosco?
Subaru: Você não está errada, mas se explicarmos tudo direitinho, talvez ele nem se importe.
Emilia: Hmmm... veremos, então.
Subaru sorriu para a rara interrupção de Emilia e olhou então para Anastasia. Ela estava sentada ereta na cama e continuou a conversa dizendo “Mas então”,
Anastasia: Então o Taiga está por aqui também? Isso pode nos ser útil, caso o encontremos, não vamos ter tantos problemas até a torre do Sábio.
Subaru: O dono de um bar nos contou sobre um garoto de capuz que passou por essa cidade pela manhã. Eu tenho a forte intuição de que é o "nosso" garoto.
Emilia: Hehe, "nosso garoto" soa como um cachorrinho.
Subaru: Então, o Akashi é o cachorrinho da nossa chapa? Agora faz sentido sua rivalidade com o Garfiel.
Emilia riu sutilmente com o comentário de Subaru, que decidiu brincar um pouco mais com aquele assunto. Anastasia apenas observou a situação, mas logo prosseguiu.
Anastasia: Muito bem. Se acalmem até nós completarmos o que viemos fazer aqui. Os ajustes nas rodas da carruagem de dragão e como nós vamos fazer com a entrada para as dunas de areias vão ser obrigações minhas, afinal.
Emilia: Ah, certo… perdão. Estamos meio que deixando você cuidar de tudo.
Anastasia: Está tudo bem, tudo bem, já que em troca, eu vou contar com você se tratando de poder de luta.
Anastasia calmamente balançou sua mão.
Os objetivos de que ela falava: um deles era adaptar a carruagem de dragão para entrar nas dunas de areia. Geralmente, se assume que uma carruagem de dragão vai viajar apenas ao longo de uma estrada principal, ou ao menos de uma estrada. Porém, a estrada dessa vez era em sua maioria uma estrada de areia, então uma carruagem convencional de dragão não poderia se mover bem nela.
Eles tinham a opção de largar a carruagem e montar nos dragões, mas tinham muitas mulheres e crianças. Considerando também havia Rem inconsciente, a opção não era realista.
Dessa forma, era necessário ajustar a carruagem para as áreas de deserto, além de ser necessária algumas alterações para os dragões terrestres.
Subaru: Não dá para deixar Patrasche para trás. Deixá-la seria ridículo.
Emilia: Aquela garota é reeeeealmente esperta. Se você falar em deixá-la para trás, ela talvez morda te Subaru…
Na verdade isso bem que podia acontecer, então ele não podia dar uma resposta. E mais, ele não queria deixá-la.
Emilia: Então que tal viajar sem a carruagem de dragão…
Anastasia: Isso não é tão sério quanto uma negociação. Eu apenas falei que vocês deviam se acalmar e vocês realmente escutaram, afinal.
Ela sorriu carinhosamente, mas Subaru sentiu que era diferente do normal, então ele começou a sentir calafrios.
Tinha a carruagem e outra questão para resolver. De forma resumida, era o ritual de passagem para lidar com as dunas de areia.
Em outras palavras, se as candidatas da seleção real Emilia e Anastasia se tornassem indetectáveis nas Dunas de Augria, quem se responsabilizaria? Era assim que era.
No momento, você podia dizer que essas duas tinham as posições mais importantes do reino. Se aquelas duas inesperadamente se metessem em algo sério, como serem enterradas nas Dunas de Augria, naturalmente que não seria claro o responsável e é de se esperar que sejam feitos esforços tenazes.
As Dunas de Augria, sem contar com alguém que cuidasse das próprias dunas, um lorde feudal aparecendo no fim e governando os arredores de Mirula não teria uma carga de responsabilidade suportável.
Por isso, Anastasia foi até os lordes feudais inferiores antes de tudo para escrever e convencê-los com um argumento: “Não importa o que aconteça, essa é a responsabilidade do próprio candidato.”
Anastasia: Ainda assim, eles podem ser culpados por não me impedirem… minha vida não é apenas minha. É uma grande responsabilidade, você não acha?
Emilia: Isso tem sido verdade desde o começo. Não é por causa de algo como a seleção ou os candidatos. Se encontrarmos o "Sábio" e não acharmos maneiras de recuperar várias coisas, vai haver muitas pessoas que não poderão ser salvas. Não é algo para se dizer de repente.
Anastasia: Você com certeza está sendo o mais confiável possível.
Anastasia olhou de volta para Emilia, que fez aquela declaração, no que parecia ser de um jeito alegre em alguns aspectos. Após isso, ela inclinou sua cabeça e olhou para Subaru enquanto dizia “Então?”,
Anastasia: Fora a informação do Taiga. Conseguiram alguma coisa no passeio de vocês? Não é possível que vocês saíram simplesmente para se acostumar a ter areia nos olhos, correto?
Subaru: Bem, não é como se a gente tivesse saído para ir num encontro no meio do Tempo de Areia. O plano era a gente ouvir os conhecimentos de alguém que já estava familiarizado.
Emilia: A pessoa da loja ter informações foi uma coincidência, no entanto.
Subaru: Minha perspicácia está certeira por ter escolhido aquele bar.
Emilia: Eu tenho a sensação de que fui eu que escolheu aquela loja…
De qualquer modo, qualquer que tenha sido a sequência dos eventos e de quem foi o mérito, é informação irrelevante.
Anastasia também deu um olhar pensativo quando eles falavam do bar anterior.
Anastasia: Procurar por um pássaro… hmm.
Subaru: Sério que foi isso que deixou você curiosa?
Anastasia: Bem, as outras partes são só coisas para enfrentar as Dunas de Augria e metade das etapas é senso comum. De qualquer jeito, a parte interessante é essa diferença. Pássaros e coisas do tipo parecem mais sensíveis ao vento misturado com miasma.
Emilia: Agora que você disse, é verdade…
Como resposta às palavras de Anastasia, Emilia entrou em reflexão profunda enquanto sentia seu cabelo. Quando Subaru olhou para Emilia, ponderando com um olhar, ele olhou gentilmente trazendo sua face para perto de Anastasia.
Subaru: ――Não tem como você ter algo em mente, né?
Anastasia: Nada de especial em mente. Porém, isso foi algo bem interessante pra mim.
...
Anastasia: Não faça uma cara de dúvida como essa. Olha, você vai deixar ela desconfiada.
Ele podia ver os sentimentos verdadeiros de Echidna ligeiramente em seu rosto, mas falar nada iria fazê-la se retirar. Por sorte, Emilia não viu a interação de agora já que estava pensando profundamente. Mas, no coração de Subaru, por alguma razão ele se sentia como um adultero escondendo freneticamente sua traição.
Subaru: Quando a gente deve sair?
Anastasia: Devemos sair cedo, né? A conversa preocupante sobre a carruagem de dragão ainda não foi decidida… talvez devêssemos sair depois da gente arrumar a bagagem que vamos levar.
Subaru: Amanhã seria muito rápido, que tal lá pelo próximo dia?
Anastasia: Acho que dá para ser assim. A parte boa é que, se o Taiga já estiver na torre do Sábio, é possível que ele tenha limpado o caminho e acabado com alguns majuus para nós.
Quando Anastasia falou isso e chegou a um acerto, Emilia também acenou concordando.
Depois disso, ela olhou em direção à janela da sala que estava fechada para que a areia não entrasse e apertou os olhos.
O que Emilia olhava com seus olhos azuis-púrpuros era a vista do leste do outro lado da janela.
Ela viu uma sombra bem longa que se mantinha visivelmente em pé com uma altura extensa, aparentando ser maior do que as lojas e casas.
Emilia: Torre de Vigia Plêiades.
Ela ficou de pé sozinha e chamou aquela estrutura com o tom de um sino de prata.
A torre de destino era tão alta que ela podia olhar até de Mirula.
――Era possível deixar de notar algo tão grande?
Subaru tinha aquela pergunta em mente, desde que ele começou a ver a torre de vigia Plêiades ao longo do caminho, antes de chegar em Mirula.
O que alguém faria e quais erros eles cometeriam para não serem capazes de encontrar um marco como aquele?
Mas, por outro lado, o aviso do dono também o perfurava quando ele pensava nisso.
Subaru: Não ter um plano está fora de cogitação, e ter um plano vazio é bem ruim, né…
Qualquer que seja o caso, eles não tinham a opção de fugir do desafio.
Isso é exatamente o porquê deles usarem meios que o permitiriam ter uma chance, significa que isso apenas aumentaria suas chances.
Eles devem ser diferentes de aventureiros que o Dono falou que eram despreparados por terem planos fracos. Era nisso que ele acreditava.
Era por isso que Subaru não percebeu. Ele não perceberia.
――Não importasse o que acontecesse, fugir de um desafio não era uma opção.
Ele não percebeu a esta altura, que ele já estava se privando do primeiro caminho.
...Continua......
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Atualizado até capítulo 44
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