No cemitério, o sol já começava a se pôr, tingindo o céu com tons de laranja e dourado, enquanto a elite empresarial que comparecera ao velório começava a se dispersar. Afonso fazia seu papel impecavelmente, apertando mãos e agradecendo as condolências com uma expressão controlada. Ele sabia que, mais do que um momento de luto, aquilo era uma vitrine para o mundo dos negócios.
Quando o último empresário saiu, os irmãos e a viúva se reuniram na entrada do cemitério. Ester, com o rosto cansado, suspirou profundamente, olhando para os três filhos, e finalmente quebrou o silêncio:
– Espero que agora vocês se unam de verdade. Que deixem de ser tão frios uns com os outros.
Álvaro cruzou os braços, a mandíbula cerrada.
– A morte do nosso pai não vai me transformar em um cordeirinho, mãe. E, por falar nisso, eu não vou deixar Afonso continuar dominando tudo como sempre fez.
Ester fechou os olhos por um instante, tentando manter a calma, mas sua paciência estava por um fio.
– Álvaro, pelo menos por alguns minutos, esqueça essa maldita empresa! Somos uma família. Eu preciso de apoio agora, não de brigas.
Álvaro soltou uma risada amarga.
– Família? Apoio? Mãe, a vida inteira eu nunca tive apoio de ninguém aqui. Nem mesmo seu. Você sempre pensou só no Afonso, o filho perfeito, o herdeiro ideal.
Ester ergueu o olhar, ofendida, e respondeu firme:
– Eu não tenho filho preferido, Álvaro. Eu amo vocês três igualmente, mas vocês precisam parar de brigar como crianças.
Foi então que Alana, com um olhar provocador, entrou na conversa:
– A guerra já começou, mãe. E o pior de tudo é que o bastardo está vindo aí para tomar o que é dele também.
Afonso, que até então havia se mantido quieto, explodiu:
– Já chega, Alana! Essa conversa está me fazendo mal. E, se você não tem nada útil a dizer, é melhor ficar calada.
Alana virou-se para ele com uma expressão desafiadora.
– Você não manda em mim, Afonso. Eu digo o que eu quiser.
Sem mais paciência, Afonso virou-se para Ester e, segurando-a pelo braço, disse de forma firme:
– Mãe, vou te levar para casa. Você não precisa ouvir essas bobagens.
Ele a conduziu até seu carro, deixando os outros dois para trás.
Enquanto Álvaro e Alana permaneciam parados à entrada do cemitério, Alana quebrou o silêncio com a voz embargada:
– O único que me amava de verdade e que me chamava de princesa era o papai.
Álvaro olhou para ela com uma mistura de cansaço e amargura.
– Pelo menos ele te amava. A mim, ele odiou a vida inteira.
Do outro lado da rua, dentro de um carro discreto, Alifer observava a cena de longe. Aquele era o retrato perfeito de uma família fragmentada, e ele sabia que sua presença só traria mais turbulência. Sem chamar atenção, deu partida no carro, seguindo o caminho até a mansão Medrado, onde o próximo ato desse drama familiar estava prestes a começar.
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Depois de um longo dia vendendo empadas pelas ruas da cidade, Lavínia finalmente chegou em casa. O cansaço estava estampado em seu rosto, mas havia também um alívio por estar de volta ao seu pequeno refúgio. Sua mãe, Joana, foi direto para a cozinha, já começando a preparar o jantar com a energia de quem nunca parecia descansar.
Lavínia jogou-se no sofá, afundando entre as almofadas gastas, e pegou o controle remoto. Ligou a televisão, e o noticiário continuava repercutindo a morte do empresário Afonso Medrado Alcântara. As imagens da família no velório surgiram novamente na tela, desta vez com um foco maior em Afonso, o primogênito.
A reportagem fazia questão de destacar sua posição de destaque no império da família, além de sua postura serena durante a cerimônia. Lavínia, que inicialmente só olhava por curiosidade, sentou-se mais ereta no sofá ao vê-lo.
– Meu Deus, que homem... – murmurou para si mesma, com os olhos fixos na tela.
Ela cruzou os braços, como se tentasse conter um sorriso, mas não conseguiu desviar o olhar. A elegância de Afonso, mesmo em um momento tão sombrio, a fascinava.
– Não que isso vá mudar nada na minha vida – disse em voz baixa, rindo de si mesma. – Um cara desses nem sabe que eu existo, e se soubesse, provavelmente riria de mim.
Ela balançou a cabeça, tentando afastar os pensamentos, mas ainda manteve o olhar fixo na tela por mais alguns segundos. As câmeras capturavam Afonso com seus óculos escuros, o terno impecável, e aquele ar de alguém que sempre esteve no controle, mesmo em meio ao caos.
– Quem dera, hein, Lavínia? – comentou baixinho, agora rindo de si mesma novamente.
Joana apareceu na sala, com uma colher de pau na mão, olhando a televisão de relance.
– Você ainda tá vendo esse negócio, menina? Dá nisso ficar vendo gente rica, só dá vontade de sonhar com o impossível. Vem me ajudar na cozinha.
Lavínia desligou a televisão com relutância e foi até a cozinha, ainda com o pensamento dividido entre a simplicidade da sua vida e o universo distante que acabara de vislumbrar na tela.
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Atualizado até capítulo 82
Comments
Claudia
Lavínia a vida não é fácil, mais sonhar não tem problema 💞💞💕💕♾🧿
2024-11-25
1
Marilene Lena
Espero gostar 30/03/25...
2025-03-31
0
Anatalice Rodrigues
Não custa nada sonhar. O destino é que se encarrega das coisas /Slight//Slight//Slight/
2024-12-03
1