Essas paredes. Essas malditas paredes. Mesmo cercada por todo esse espaço, com o salão imenso brilhando em mármore e cristal, elas parecem me esmagar. Cada lustre, cada taça de champanhe e cada risada abafada é uma lembrança cruel de onde estou: presa em uma vida que escolhi e que agora não é mais minha.
Sorrio. Sempre sorrio. Brinco com a taça na mão, esboçando a imagem da esposa perfeita. Perfeita… É isso que Felipe quer. O marido, o político, o homem que acredita que tem o controle de tudo. Mas ele não entende. Não sabe que esse teatro é minha única arma.
Ele também não sabe que ninguém conhece um homem melhor do que sua mulher. Eu sei de cada fraqueza, cada mentira, cada desvio. E não vou parar até ver ele pagar por tudo.
Da varanda, observo o salão lá embaixo, cheio de rostos mascarados por elegância e mentiras. Vejo Camila, a advogada, tentando se manter longe do Felipe. Ele está tão obcecado com ela que mal disfarça. Isso não me incomoda. Não machuca. Pelo contrário, é perfeito. É exatamente o que eu precisava para fazer tudo desmoronar.
Trago o cigarro aos lábios, a fumaça amarga preenchendo meus pulmões e me trazendo uma calma perigosa. É o único momento em que sinto controle. Então, antes mesmo de ouvir a voz, eu sinto o perfume dele. Lucas.
Ele sempre chega silencioso, como uma sombra confortável. Está ao meu lado agora, o cheiro da fumaça misturado com o dele, me tirando, por um instante, do pesadelo em que vivo. Lucas sempre foi minha fuga.
Quando tudo aperta, quando o mundo parece desabar, ele está ali – o homem que me lembra como é esquecer quem eu sou.
Mas hoje, Lucas não é apenas uma distração. Hoje ele traz algo mais. Seus olhos brilham, como os de um cúmplice ansioso pelo caos que está prestes a começar.
— Divertindo-se, minha rainha? — ele murmura, sua voz grave quase um sussurro.
Sorrio devagar, sopro a fumaça para o lado, provocando.
— Só estou esperando o show começar.
Ele ri, e o som é um estalo grave no ar, algo que faz meu corpo reagir.
— Achei que você gostasse de comandar o espetáculo. Quer ajuda?
Reviro os olhos, mas não consigo evitar um sorriso.
— Paciência, Lucas. O momento certo é tudo.
Ele inclina a cabeça, os lábios perigosamente perto do meu ouvido.
— Você me deixa louco, sabia? Essa tua calma é o que me mata.
Solto uma risada seca, controlada.
— Cuidado, Lucas. Ficar muito perto pode te queimar.
— Ah, mas você sabe que eu adoro brincar com fogo.
Ele passa o dedo no meu ombro, devagar, e sinto o calor de sua pele atravessando o tecido do meu vestido. Me afasto um pouco, apagando o cigarro no parapeito de ferro. Abaixo de nós, as luzes da cidade piscam, cheias de promessas vazias. Lagoas é assim: traiçoeira, como tudo e todos.
— Você tá mesmo pronta pra ver o circo pegar fogo? — Lucas pergunta, a voz baixa, quase rouca, mas com uma sinceridade perigosa.
— Mais do que nunca. — Olho para o salão novamente, com olhos que só ele entende. — Só preciso que ele dê o próximo passo em falso.
Lucas ri, malicioso.
— Ele sempre dá. Arrogante demais pra se proteger. Esse é o erro de todos os políticos.
Concordo com um leve aceno, observando Felipe. Ele está com Camila agora, como esperado. Sua obsessão vai ser sua ruína. Ele acha que controla tudo, mas mal percebe o que está acontecendo ao seu redor. Ele está metido em algo muito maior do que os esquemas sujos que eu já descobri. E dessa vez, ele me arrastou junto.
Lucas desliza a mão pelo meu braço novamente, num toque que faz meu corpo reagir contra minha vontade.
— Você acha que ele sabe sobre... nós?
Dou um sorriso irônico.
— Ele desconfia, mas não se importa. Enquanto eu continuar aqui, fingindo ser a esposa perfeita, ele vai fingir que nada acontece.
Lucas sorri, mas há algo mais nos olhos dele.
— E você? O que vai fazer?
Olho para ele, o sorriso nos meus lábios transformando-se em algo perigoso.
— Vou acabar com tudo. Com ele, com essa vida, com todos.
Lucas morde de leve o lábio, um gesto quase predatório.
— Só me avisa quando começar. Eu não perco esse show por nada.
Deixo a varanda e volto para o salão. Lá embaixo, Felipe se exibe com Camila, o sorriso cínico de sempre. Ele acha que está no controle. Passo por eles sem ser notada e me dirijo ao bar. Pego uma taça de vinho e sinto o peso de um olhar em mim. Quando viro, Miguel está ali.
— Sofia. — Ele sorri, casual, mas com aquele ar de quem sabe demais.
— Miguel. Pensei que alguém já tivesse dado um jeito em você.
Ele ri, um som irritantemente suave.
— Ouvi dizer que seu marido tá em apuros. E você, como sempre, no meio disso tudo.
Reviro os olhos.
— Não é da sua conta, Miguel.
— Verdade. Mas isso nunca me impediu antes.
Medimos os olhares, e odeio como ele parece ler algo em mim que tento esconder. Miguel sabe demais. Ele sempre soube.
— O que você quer?
— A verdade. Mas você sabe que ela sempre tem um preço.
Antes que eu possa responder, o som seco de um tiro corta o ar.
O salão mergulha no caos. Gritos, passos apressados, taças caindo no chão. Meu corpo congela por um segundo.
Quando volto a mim, vejo Felipe no centro do salão, o rosto pálido. Um dos homens de Rafael segura uma arma, ainda fumegante. No chão, um convidado. O mármore branco está manchado de vermelho.
A festa acabou.
Observo Felipe recuar, os olhos arregalados. Ele tenta se esgueirar para a saída lateral. Covarde, como sempre.
Respiro fundo e pego o celular. Envio uma mensagem rápida.
— Lucas. Está na hora.
Minutos depois, ele está ao meu lado.
— Ele correu?
— Tentou. Quero ele preso aqui. Ainda não é hora de escapar.
Lucas dá um sorriso sombrio.
— Pode deixar comigo.
Enquanto ele desaparece no caos, olho para o salão. As pessoas correm, os seguranças gritam, mas tudo o que vejo é Felipe. Ele não sai vivo dessa noite.
Hoje, ele vai aprender que controle é apenas uma ilusão.
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Atualizado até capítulo 47
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