A mansão de vidro e mármore erguia-se no topo da colina, brilhando sob a luz da lua como um monumento de poder e arrogância. De lá, era possível ver as luzes frenéticas da cidade abaixo – um mar de ambição, segredos e pecados que respiravam em uníssono sob o manto da noite quente de verão.
No salão principal, a festa seguia como uma coreografia ensaiada: homens de ternos impecáveis e mulheres adornadas em luxo desfilavam entre taças de champanhe e promessas sussurradas. Uma música suave preenchia o ar, um murmúrio sedutor e perigoso que anunciava mudanças irreversíveis antes do amanhecer.
Camila segurava uma taça de vinho, o rubor do líquido refletindo o brilho dos lustres de cristal. Advogada criminalista, estava ali não por escolha, mas por obrigação. Felipe Almeida, seu cliente e anfitrião, era um deputado em ascensão.
Sua reeleição dependia da habilidade de Camila em soterrar uma investigação explosiva sobre desvio de verbas públicas. Enquanto sorria mecanicamente para outros convidados, ela sentia o peso esmagador do conflito interno – sua ética contra a sobrevivência no mundo implacável da política. Cada conversa parecia um duelo, uma troca onde as palavras eram armas carregadas.
Do outro lado do salão, Felipe Almeida circulava com a confiança de um predador entre empresários e políticos. Com um copo de uísque em uma mão e o sorriso meticulosamente ensaiado no rosto, ele era a imagem do poder. O casamento com Sofia era uma aliança conveniente, uma fachada perfeita para a estabilidade que ele precisava projetar.
Mas, ao encontrar os olhos de Camila na multidão, sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Desde que ela assumira seu caso, havia algo nela que o desconcertava – uma força irresistível e perigosa que ameaçava desmoronar o controle que ele tanto prezava.
Na varanda, Sofia Almeida observava a festa com um olhar distante e uma postura altiva. O riso falso, os olhares furtivos entre seu marido e Camila, tudo era uma humilhação silenciosa. Anos vivendo como peça em um jogo de xadrez político haviam sugado o brilho de seus olhos.
Cansada, acendeu um cigarro – um hábito que escondia como um segredo vergonhoso. Enquanto a fumaça subia em espirais, uma figura emergiu das sombras: Lucas, um policial corrupto, deslizou ao seu lado com a familiaridade de quem conhece os mesmos becos escuros.
— Precisa de companhia? — ele perguntou, um sorriso torto nos lábios.
Sofia deu uma tragada profunda antes de responder, soltando a fumaça devagar.
— Talvez.
Do outro lado da festa, Miguel, um jornalista investigativo, sentia o peso do celular em sua mão. Para ele, o aparelho era tanto uma arma quanto uma bússola, guiando-o em sua busca por provas contra Felipe. Mas, enquanto sua mente gritava para se concentrar, seus olhos estavam presos em Clara, uma enigmática empresária que acabara de entrar.
Dona de uma rede de boates e conhecida por sua frieza, Clara parecia carregar uma melancolia cuidadosamente escondida sob sua elegância.
Quando seus olhares se cruzaram, algo pulsou entre eles – uma conexão que ambos sabiam ser perigosa.
Clara, por sua vez, mantinha a postura de gelo. Ela atravessava o salão com um vestido preto que parecia moldado à sua silhueta, cada passo calculado, cada gesto refletindo controle. Mas o olhar de Miguel a desarmava de uma forma que não podia permitir. Não agora, quando seus próprios segredos estavam à beira de serem revelados.
Então, como uma sombra que subitamente invade a luz, Rafael, o líder de uma das gangs mais temidas da zona norte, entrou no salão. O contraste entre o terno preto e as tatuagens que subiam pelo pescoço anunciava sua presença como uma ameaça silenciosa. Ele não pertencia àquele mundo de luxo e hipocrisia, mas estava ali por Ana. Ana, a mulher que amava – e que ele não sabia ser uma policial infiltrada em sua organização.
Ana observava Rafael de longe, o coração apertado pelo peso de sua missão. Sabia que se apaixonar por seu alvo era o maior erro que podia cometer. Agora, estava dividida entre a lealdade ao trabalho e os sentimentos que não conseguia controlar. Sabia que, se sua verdadeira identidade fosse descoberta, o preço seria a morte – para ambos.
Perto da entrada, Letícia, uma psicóloga experiente, mantinha um olhar analítico sobre os convidados. Muitos daqueles rostos eram conhecidos de suas sessões – políticos corruptos, homens torturados por seus próprios crimes.
Mas a presença de Henrique, um paciente problemático, fazia sua pele arrepiar. Ele havia prometido manter distância, mas agora estava ali, encarando-a do outro lado do salão. E o que mais a assustava era perceber que parte dela gostava daquela atenção.
O fio de tensão que pairava no ar finalmente se rompeu quando uma discussão explodiu no centro do salão. Miguel avançou um passo em direção a Felipe, a voz carregada de indignação.
— Você acha que pode continuar enganando todo mundo, Almeida? A verdade sempre aparece.
Felipe respondeu com um sorriso cínico, a máscara que usava para esmagar seus oponentes.
— A verdade é o que eu digo que é, meu caro. E você deveria tomar cuidado com isso.
Antes que mais palavras fossem ditas, um grito cortou o ambiente. Todos se viraram para ver Sofia tropeçar e cair na piscina, enquanto Lucas a puxava de volta à superfície.
— Alguém se empolgou demais! — ele brincou, provocando risadas nervosas.
Sofia emergiu da água, o vestido molhado colado ao corpo e os olhos brilhando com uma mistura de raiva e determinação.
— Está tudo bem, querida? — perguntou Felipe, com o falso cuidado de quem jogava para a plateia.
— Nunca estive melhor — respondeu Sofia, com um sorriso afiado como uma lâmina.
A festa continuou, mas cada pessoa naquele salão sabia que a noite era um divisor de águas. Os olhares furtivos, as palavras não ditas, as traições silenciosas – tudo indicava que a tempestade se aproximava. Na manhã seguinte, Lagoas acordaria diferente. Para alguns, aquele seria o último amanhecer.
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Atualizado até capítulo 47
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