Capítulo 5

Lara estava em observação no hospital. Uma semana parecia uma eternidade para ela, mas mal sabia que essa semana guardava uma companhia inesperada que transformaria seus dias.

No primeiro Dia Rafael apareceu logo pela manhã, com um sorriso discreto e uma sacola de papel na mão.

"Trouxe algo pra você, peixinho," disse ele, estendendo-lhe a sacola.

Lara levantou uma sobrancelha, curiosa. Dentro havia... uma miniatura de um peixe dourado, feito de feltro, com olhos arregalados e um sorriso bobo.

"Pra que isso?" riu, sem entender.

"Pra você não esquecer do apelido," ele brincou, piscando. "Além disso, o peixe dourado é símbolo de sorte. Achei que você poderia usar um pouco disso."

Lara apertou o peixe de feltro com carinho, sentindo o gesto sincero dele. "Muito obrigada, Rafael. Isso é... é fofo, de verdade."

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No segundo dia, Rafael chegou no final da tarde, trazendo uma caixa de chocolates.

"Mas eu nem posso comer chocolate, Rafael!" protestou, rindo ao vê-lo se aproximar.

"Eu sei, mas achei que poderia dividir com as enfermeiras e garantir um atendimento VIP," ele piscou, ganhando uma risada de Lara. "Pensei que poderia funcionar como suborno."

As enfermeiras, que passavam pelo corredor, ouviram e sorriram, rindo da audácia dele. Rafael acenou para elas e, antes de sair, Lara viu que ele realmente distribuiu alguns chocolates, o que fez com que todas se divertissem.

No terceiro dia, Rafael trouxe um maço de flores silvestres, colhidas na própria vila.

"Eu sei que as flores de hospital são tristes," disse ele ao entregar o buquê colorido. "Essas aqui são mais animadas, igual a você."

Lara cheirou as flores e sorriu, seu quarto iluminado pelas cores vibrantes. "Obrigada, Rafael. Você... realmente não precisava fazer isso."

"E eu achando que você já sabia que eu sou insistente," ele disse, puxando uma cadeira para se sentar ao lado dela. "Sabe que você tem um sorriso muito bonito quando não está disfarçando?"

Lara revirou os olhos, fingindo não ligar, mas no fundo seu coração se aqueceu com o elogio.

Na manhã do quarto dia, Rafael apareceu com uma revista de palavras cruzadas.

"Você achou mesmo que eu ia ficar entediada aqui, não é?" ela brincou, pegando a revista.

"Acha que está livre de mim tão cedo?" ele respondeu, desafiador. "Agora eu quero ver você resolver as palavras cruzadas em menos de cinco minutos."

Lara gargalhou, e os dois passaram a tarde juntos, entre risos e tentativas de resolver as palavras cruzadas. De vez em quando, Rafael lançava palavras absurdas para fazê-la rir, como "hipopótamo" ou "anticonstitucionalissimamente," mesmo quando não faziam o menor sentido.

No quinto dia, Rafael trouxe um livro de poemas irlandeses.

"Esse é pra você se inspirar," disse ele, com uma expressão meio tímida. "Ou talvez, pra você ler e me contar depois, porque poesia nunca foi meu forte."

Lara olhou para ele com surpresa e abriu o livro, lendo algumas linhas em voz alta. Rafael a escutava atentamente, como se as palavras trouxessem algo novo para ele.

"Você sabia que você é mais doce do que parece?" ela perguntou, entre um poema e outro, com um olhar divertido.

"Vou considerar isso um elogio, peixinho," ele riu, coçando a nuca.

Quando Rafael chegou no sexto dia, ele trazia um violão.

"Hoje eu trouxe um show exclusivo," ele disse, com um sorriso travesso.

Lara riu e, ainda que surpresa, sentiu uma felicidade inesperada quando ele começou a tocar algumas canções populares, cantando baixinho para não incomodar os outros pacientes. Sua voz era suave, e Lara sentiu que a melodia acalmava seu coração.

No fim da pequena apresentação, ela aplaudiu com um brilho nos olhos. "Você me surpreende cada dia mais."

"Vou colocar isso na minha lista de talentos," ele respondeu, piscando.

No último dia da semana, Rafael apareceu com uma pequena vela aromática.

"Pra você se sentir em casa," ele explicou. "Eu sei que o cheiro de hospital não é muito agradável."

Lara sorriu, comovida com o cuidado dele. "Eu não sei o que fiz pra merecer tanta atenção, Rafael."

Ele a olhou nos olhos, sério. "Eu só quero que você se sinta melhor. E, enquanto isso não acontece, eu estarei aqui."

Lara sentiu os olhos marejarem. Aquela semana, que começou com medo e incerteza, foi se tornando um dos períodos mais especiais da sua vida. Ela sentia que não estava mais sozinha, e Rafael era uma presença constante que lhe dava forças para lutar.

E, naquela noite, enquanto ele se despedia com um abraço leve, ela percebeu que, de alguma forma, ele havia se tornado parte essencial de sua vida.

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Finalmente, o dia da alta de Lara chegou, e ela estava animada ao se imaginar voltando para casa e reencontrando Rafael. Afinal, ele esteve com ela durante toda a semana, e ela esperava vê-lo ansioso para buscá-la. Porém, ao chegar à recepção, foi seu irmão, Steven, quem a aguardava.

"Steven?" perguntou, surpresa, olhando em volta. "Cadê o Rafael? Achei que ele viria."

Steven deu de ombros, franzindo o cenho. "Não vi o Rafael nos últimos dias. Na verdade, ninguém sabe dele desde o festival. Achei que ele estivesse ocupado."

Lara ficou em silêncio, uma inquietação crescendo dentro dela. O Rafael que ela conhecia jamais a deixaria sozinha sem uma explicação. Algo estava errado.

Três dias depois

Os dias seguintes só aumentaram a preocupação de Lara. Tentou telefonar para ele, mandou mensagens, mas tudo sem resposta. Por fim, decidiu que não podia esperar mais. No fim daquela tarde, pegou o casaco e foi direto para a casa de Rafael.

Quando chegou, notou a falta de vida em volta da casa. A grama parecia descuidada, e a luz das janelas estava apagada. Respirou fundo e bateu na porta. Um longo silêncio se seguiu, até que passos lentos e arrastados se aproximaram, e a porta se abriu.

Rafael apareceu à sua frente, pálido, com olheiras profundas e uma expressão confusa. Ele tossiu levemente ao vê-la, como se estivesse surpreso.

"Lara? O que você está fazendo aqui?" perguntou, a voz rouca e débil.

Lara o examinou, alarmada com seu estado. Ele estava visivelmente fraco e mal se aguentava em pé.

"Eu que pergunto! Sumiu sem dar notícias, Rafael. Fiquei preocupada," disse ela, tentando esconder a preocupação. "Entre, vai descansar."

Ela pegou seu braço e, antes que ele pudesse protestar, ajudou-o a caminhar até o sofá. Rafael tentou sorrir, mas a expressão logo se quebrou em uma tosse intensa.

"Eu... estava planejando ir te ver... mas... parece que meu corpo tinha outros planos," murmurou, deitando-se com esforço.

Lara balançou a cabeça, com um misto de irritação e preocupação. "Você se esforçou tanto por minha causa e agora está assim! Eu vou cuidar de você, Rafael."

Nas horas seguintes, Lara assumiu o papel de cuidadora, colocando compressas frias para baixar sua febre e trazendo chá e sopa que preparou na pequena cozinha. Ao longo da noite, Rafael oscilava entre breves cochilos e momentos de lucidez, mas o sorriso brincalhão que ela conhecia estava ausente.

Quando ele despertava, Lara tentava distraí-lo com conversas, mas logo percebia que a febre o deixava confuso. Em certo momento, Rafael a olhou como se a visse pela primeira vez e murmurou:

"Lara... você veio mesmo," ele sussurrou, surpreso, com os olhos brilhando. "Pensei que era um sonho."

Ela riu suavemente, ajeitando a coberta sobre ele. "Sim, vim te salvar de você mesmo, teimoso."

Ele sorriu, mas seus olhos ficaram subitamente sérios. "Eu... eu só queria que você soubesse que... que eu estive lá. Mesmo quando você não sabia."

Lara ficou intrigada, mas antes que pudesse perguntar, ele adormeceu de novo, exausto. Ela continuou ao seu lado, zelando por ele a cada suspiro, a cada pequena febre que voltava. Foi só ao amanhecer que ela decidiu se levantar e se preparar para ir embora, imaginando que ele precisava de um bom descanso.

Quando ela se aproximou da porta, sentiu uma mão segurar a sua. Rafael, com os olhos entreabertos, a puxou para perto dele.

"Não vá," ele murmurou, a voz carregada de vulnerabilidade que Lara nunca imaginou ver nele.

Ela olhou para ele, surpresa, e sentiu o coração bater mais forte ao ver o olhar que ele a lançava, um olhar sem as brincadeiras habituais, sem máscaras. Aquele era Rafael, puro e sincero.

"Eu só... não quero que vá," repetiu ele, com o olhar entre o sono e o delírio da febre.

Ela sentiu as bochechas corarem, mas se aproximou, colocando a mão sobre a dele. "Eu fico. Mas só até você melhorar, Rafael."

Ele a puxou para mais perto, até que seus rostos ficaram próximos, e Lara quase podia ouvir as batidas descompassadas do coração dele. Rafael parecia prestes a dizer algo, mas seus olhos pesaram e ele adormeceu de novo, segurando a mão dela com força. Ela ficou ali, sentindo a pulsação dele acalmar, com o rosto ainda corado.

No dia seguinte, Rafael acordou com a febre finalmente baixa. Ele olhou para Lara, confuso, mas com um sorriso fraco.

"Então... como eu te dei trabalho ontem?" ele perguntou, a voz carregada de arrependimento.

Ela riu, aliviada por vê-lo melhor. "Mais do que você imagina. Não sabe como foi teimoso, tentando me impedir de cuidar de você."

Rafael franziu a testa, como se tentasse se lembrar de algo. "Eu... eu só lembro vagamente. Foi... foi você que esteve aqui o tempo todo?"

Ela assentiu, e ele tentou lembrar de detalhes, mas cada lembrança parecia embaçada. Com um toque de hesitação, ele perguntou, quase rindo: "Eu não fiz nada constrangedor, né?"

Lara mordeu o lábio, tentando esconder o rubor. "Nada que eu vá contar," brincou, fazendo-o rir, embora o riso logo se transformasse em uma tosse fraca.

No fundo, Rafael tinha uma vaga sensação de que algo importante havia acontecido entre eles naquela noite, mas ele sabia que, qualquer que fosse a lembrança perdida, agora ele sentia algo profundo por ela - algo que o fazia desejar que aquelas visitas não terminassem ali.

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Eduarda

Eduarda

Rafael é um querido

2024-12-04

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