Capítulo 2

Lara estava sentada na sala fria do hospital, as mãos entrelaçadas sobre o colo, o olhar fixo na porta pela qual o médico entraria a qualquer momento. A ansiedade apertava seu peito, mas algo dentro dela dizia que as notícias não seriam boas.

Finalmente, Dr. André entrou, com uma expressão séria e pesarosa. Ele puxou uma cadeira e se sentou à sua frente, respirando fundo antes de começar a falar.

"Lara, os resultados chegaram", ele disse, pausadamente. "Infelizmente, o diagnóstico é mais grave do que esperávamos. Seu câncer está em estágio avançado. Vamos precisar iniciar o tratamento o quanto antes."

Ela o encarou, tentando entender o que aquelas palavras significavam. "Quanto... quanto tempo eu tenho?" perguntou, com a voz fraca.

Dr. André baixou os olhos antes de responder. "Seis meses, talvez um pouco mais. Até setembro, no início da primavera, mas não podemos garantir. Estamos falando de um tratamento agressivo, Lara. A quimioterapia poderá prolongar sua vida e dar-lhe uma chance, mas o caminho será difícil."

O mundo ao redor dela pareceu desmoronar. Primeiro, a traição de Eric com Gabi, e agora isso. A sensação de que tudo estava se desfazendo era esmagadora. As lágrimas começaram a cair, silenciosas, enquanto ela tentava absorver a realidade que lhe fora imposta.

Ela agradeceu ao médico, se levantou em um gesto automático, e caminhou em direção à saída do hospital, como se estivesse flutuando. Lá fora, o céu estava nublado, refletindo o que ela sentia por dentro. Lara encostou-se em uma parede, o rosto molhado de lágrimas, e olhou para o céu.

"Por que... por que comigo?" murmurou para si mesma, tentando entender.

Um misto de raiva e tristeza tomou conta dela, mas logo veio uma decisão. Se aqueles eram seus últimos meses, então ela não os passaria se lamentando. Haveria lágrimas, sim, mas também haveria vida. Uma vida pela qual ela lutaria com todas as forças, mesmo que o tempo fosse curto. Era isso que ela precisava decidir ali, naquele momento.

Pouco tempo depois, ela pegou o celular e ligou para sua mãe.

"Alô? Mãe?" Sua voz saiu fraca, mas ela tentou soar firme. "Eu... estou pensando em ir para casa. Para Ennis."

"Lara?" Sua mãe respondeu, com um tom preocupado. "Querida, você está bem? Por que essa decisão de repente?"

Lara hesitou, mas sabia que precisava contar a verdade. "Eu... preciso de vocês, mãe. As coisas aqui não estão fáceis. Recebi um diagnóstico... grave."

A voz do outro lado ficou silenciosa, como se sua mãe estivesse processando a notícia.

"Querida... vamos passar por isso juntas, Lara. Venha para casa. Estaremos todos aqui para você."

As palavras de sua mãe trouxeram um conforto que ela não sentia há muito tempo. Lara decidiu que iria para Ennis, sua cidade natal na Irlanda. Lá, ela teria a chance de recomeçar, de viver seus últimos meses ao lado de sua família, sentindo o calor do lar, o amor de sua mãe, e a paz que tanto precisava.

Duas semanas depois, Lara desceu do avião em Shannon, o aeroporto mais próximo de Ennis. O vento irlandês bateu em seu rosto, frio e reconfortante, trazendo uma sensação de familiaridade que ela havia esquecido. Lá estava sua mãe, esperando-a com um sorriso melancólico e um abraço apertado que lhe tirou o fôlego.

"Oh, minha filha..." a mãe sussurrou enquanto a abraçava. "Vamos enfrentar isso juntas, não importa o que aconteça."

Lara assentiu, deixando-se envolver pelo carinho da mãe. Aquelas palavras, simples, traziam um alívio que ela tanto precisava.

Ao chegar em Ennis, Lara redescobriu a cidade com novos olhos. O verde das colinas, o barulho suave do rio Fergus, e o cheiro da grama molhada. Ela prometeu a si mesma que viveria intensamente cada dia. Os sorrisos, as risadas, os abraços - tudo isso agora tinha um valor que ela nunca havia compreendido antes.

Naquela mesma noite, ao olhar para o céu estrelado do lado de fora, Lara murmurou para si mesma. "Não vou desistir, nem de viver, nem de lutar. A primavera ainda vai chegar, e eu quero estar aqui para ver."

Depois de murmurar suas palavras de determinação, Lara decidiu que não estava pronta para voltar para dentro de casa. Ainda era cedo, e o céu estrelado de Ennis parecia lhe chamar. Ela precisava de um momento para processar tudo o que sentia, e o som suave do rio Fergus a atraía como um convite para uma noite de paz.

Caminhando ao longo das margens do rio, Lara se sentia mais leve, quase em paz, como se o vento frio e a paisagem tranquila lavassem um pouco do peso que carregava. Aproximou-se da água, hipnotizada pelo reflexo da lua nas ondas, e se inclinou um pouco mais para ver o brilho nas pedras do fundo.

De repente, o solo molhado deslizou debaixo de seus pés, e antes que pudesse reagir, ela perdeu o equilíbrio, os braços agitando no ar em uma tentativa desesperada de se segurar em algo. Com um grito abafado, ela caiu direto na água gelada, que a envolveu rapidamente, tirando seu fôlego.

Enquanto tentava se recompor na água, ouviu uma voz surpresa, porém divertida, vindo da margem.

"Precisa de ajuda ou está apenas se refrescando?"

Lara, encharcada e sem fôlego, levantou o rosto e viu um homem parado na margem, rindo, mas claramente preocupado. Ele estendeu a mão para ela, com um sorriso brincalhão nos lábios.

"Bem... eu estava só... verificando a temperatura da água!" Ela respondeu, tentando manter alguma dignidade. "Mas acho que uma mão amiga seria bem-vinda."

Ele se inclinou e segurou a mão dela, puxando-a para fora do rio com um puxão firme. Lara escorregou um pouco mais, fazendo com que ele precisasse segurá-la pela cintura para evitar outra queda.

"Sou Rafael," ele disse, ainda rindo, enquanto a ajudava a se equilibrar.

Lara levantou o olhar e se deparou com o rosto dele sob a luz suave da lua. Rafael era alto, com um porte firme e seguro, o tipo de presença que não passava despercebida. Seus cabelos escuros caíam de maneira ligeiramente desordenada, como se o vento tivesse se encarregado de desalinhar cada fio, mas o efeito era charmoso, quase casual. Seus olhos, de um tom profundo de mel, refletiam uma suavidade acolhedora, algo que parecia confortá-la de imediato, apesar do jeito brincalhão.

"Lara," respondeu, constrangida, enquanto tentava espremer a água do seu casaco. "E... obrigada. Eu estava apenas tentando aproveitar a noite. Não sabia que o rio teria outros planos."

"Bom, o Fergus gosta de surpreender os visitantes. É como uma tradição por aqui!" Rafael disse, piscando para ela. "Você está bem? Quer dar mais um mergulho ou prefere uma caminhada em terra firme desta vez?"

Ela riu, um riso sincero que parecia lavar um pouco da angústia que carregava. "Acho que prefiro o chão firme, obrigada. Mas que recepção, hein?"

Os dois começaram a caminhar lado a lado ao longo da margem, conversando sobre a cidade, o rio e a vida em Ennis. Rafael, com seu jeito descontraído e sorriso caloroso, parecia despertar em Lara algo que ela pensava ter perdido: uma sensação de leveza, de estar presente e, acima de tudo, viva.

Rafael a acompanhou até sua casa, caminhando ao lado dela enquanto a noite caía suavemente sobre Ennis. A lua, cheia e luminosa, iluminava as ruas tranquilas, banhando tudo com uma luz prata que parecia mágica. O som do Fergus ao longe era como uma música suave, completando o cenário sereno da noite.

Quando chegaram à porta, Lara viu sua mãe, Mary, à janela, com um olhar preocupado. Ao perceber a filha, o semblante de Mary suavizou, mas logo se transformou em uma expressão de alívio.

"Minha filha, você está bem?" Mary perguntou, a voz trêmula, vindo rapidamente ao encontro de Lara.

"Sim, mãe, tudo bem. Só... um pequeno acidente." Lara sorriu, tentando amenizar a situação, mas não pôde deixar de notar o olhar atento e cauteloso da mãe.

Rafael, que até então permanecera em silêncio ao fundo, sorriu suavemente. "Foi um prazer te conhecer, Lara. Espero que o Fergus seja mais educado na próxima vez."

"Obrigada, Rafael." Lara agradeceu, ainda com um sorriso sincero, embora sentisse uma leve desconforto por ter que se despedir tão rapidamente.

Rafael fez um leve aceno de cabeça e, antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa, se virou e seguiu seu caminho pelas ruas iluminadas pela lua. Lara o observou até ele desaparecer na esquina, um fio de curiosidade despertando dentro dela.

Quando finalmente entrou em casa, Mary a abraçou com alívio. "Lara, você estava tão distante hoje. Mas que bom que voltou bem. E aquele rapaz, quem é ele? Parece ser bem educado."

Lara hesitou por um momento, refletindo sobre o encontro inesperado. "Ele é... Rafael. Acabamos de nos conhecer. Estava por aí, passeando."

Mary, com um sorriso compreensivo, continuou: "Ele é muito bem visto aqui em Ennis. Todo mundo fala bem dele. Um bom rapaz. Você deveria tentar se aproximar de pessoas assim, minha filha."

Lara, ainda imersa na noite tranquila e no estranho conforto que Rafael havia proporcionado, ficou pensativa. "Sim, talvez..."

Subiu para o quarto, suas palavras flutuando na mente. Algo sobre Rafael a intrigava. Ele era novo em sua vida, mas parecia ter deixado uma marca. Não sabia ainda o que isso significava, mas a curiosidade estava ali, crescente, como uma semente plantada em solo fértil.

Ela se deitou, olhando pela janela. A lua ainda brilhava intensamente, e Lara se perguntava o que mais essa nova fase em Ennis poderia trazer para ela, e se Rafael teria algum papel nisso.

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Comments

Andréa Karlla Silva Farias

Andréa Karlla Silva Farias

Rafael fará um dos maiores papéis em tua vida Lara.

2024-11-30

0

Andréa Karlla Silva Farias

Andréa Karlla Silva Farias

Será que esse diagnóstico foi trocado ❓

2024-11-30

0

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