Depois de saírem da feirinha, Lara e sua mãe foram para casa, onde Mary sugeriu que preparassem uma refeição tradicional irlandesa para o jantar. O cheiro das ervas e do alho se misturava com o aroma da carne assando, enquanto elas trocavam sorrisos e lembranças de infância, aproveitando aquele momento de tranquilidade.
No meio do preparo, o som de passos apressados e vozes do lado de fora chamou a atenção das duas. Quando Mary abriu a porta, uma voz familiar ecoou pela casa.
"Steven!" exclamou Lara, o rosto iluminado por uma surpresa alegre.
Seu irmão mais velho, Steven, entrou com um sorriso emocionado, a esposa e os dois filhos ao seu lado. Ele caminhou até Lara, e, sem dizer uma palavra, a puxou para um abraço apertado. Ficaram assim por um longo momento, em silêncio, mas Lara percebeu que ele estava chorando, as lágrimas caindo de leve no seu ombro.
"Ah, minha irmã," ele disse, a voz embargada. "Eu sinto tanto por tudo isso. Mas estou aqui, nós todos estamos. E vamos passar por isso juntos, Lara. Prometo."
Ela respirou fundo, sentindo a sinceridade nas palavras do irmão e na firmeza do abraço. Ao se afastarem, Steven a olhou nos olhos, com um sorriso de conforto. "Nada vai me impedir de te apoiar. Estou com você, sempre."
Com o coração mais leve e o rosto molhado de lágrimas, Lara sorriu e abraçou os sobrinhos e a cunhada, sentindo a força da presença da família ao seu redor. A noite continuou em clima de união, cada um compartilhando histórias e relembrando momentos felizes.
Depois de um jantar saboroso e cheio de risadas, todos foram para a sala de estar. Steven, querendo quebrar um pouco a tensão que ainda pairava, foi até o som antigo da sala e colocou uma música tradicional irlandesa animada. A melodia tomou conta do ambiente, e ele imediatamente puxou sua esposa para dançar, fazendo uma reverência exagerada que arrancou risadas de todos. Logo, ele também chamou Mary, e a mãe de Lara entrou na dança com os passos leves e alegres de quem se lembrava dos tempos de juventude.
Lara, sentada no sofá, observava a cena. O riso de sua mãe e o olhar de carinho entre Steven e sua esposa a tocaram profundamente. Sentia uma mistura de nostalgia, esperança e algo mais que não conseguia definir. Uma promessa se formou em seu coração, como uma chama que renascia.
"Se eu viver, terei minha própria família."
Ela fechou os olhos, deixando aquela esperança crescer dentro dela, e se permitiu imaginar um futuro onde poderia dançar com quem amava, rir e criar memórias como aquelas. A doença parecia apenas um detalhe, uma dificuldade que ela se esforçaria para vencer. Ali, cercada pela força e pelo amor de sua família, Lara sentiu que poderia enfrentar qualquer coisa.
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Na manhã seguinte, a luz suave do amanhecer iluminava Ennis, revelando uma vila em plena animação. Era o dia do tão esperado Festival do Amor Irlandês, e por todos os lados, moradores trabalhavam nos últimos preparativos: laços coloridos pendiam das fachadas, lanternas de papel enchiam as ruas, e corações de diversos tamanhos e materiais decoravam cada esquina.
Lara despertou cedo, aproveitando a tranquilidade da manhã antes que as festividades começassem. Mesmo com o tratamento que estava enfrentando, ela mantinha o hábito de correr, sentindo que isso lhe dava uma sensação de liberdade e energia. Depois de vestir seu traje de corrida e amarrar os tênis, saiu de casa e seguiu até um caminho de pedras que cruzava uma área verdejante da vila.
Ao correr pela estrada entre as árvores, Lara sentia o vento fresco no rosto e o cheiro de terra úmida. Seus passos ressoavam entre as folhas, e ela se deixava levar pelo ritmo. Mais adiante, empolgada pelo cenário, resolveu subir uma colina que dava uma vista privilegiada da vila e dos campos ao redor.
Chegando ao topo, foi surpreendida por uma visão encantadora: uma pequena manada de ovelhas descia pela colina, com ovelhas fofas e saltitantes que ocupavam todo o caminho. Ela ficou parada, rindo sozinha, encantada com a cena. Mas, ao levantar os olhos, teve uma surpresa ainda maior: Rafael, vestido como um típico pastor de ovelhas, guiava o rebanho, com um cajado na mão e um sorriso no rosto.
Lara o observou por um instante, depois cruzou os braços e, com um sorriso divertido, brincou: "Até pastor de ovelhas, Rafael?"
Ele riu ao vê-la, o sorriso fácil iluminando seu rosto. "Bom dia, Lara! Não exatamente. Só estou ajudando o senhorzinho que mora aqui na montanha. Ele cuida dessas ovelhas há décadas."
Lara assentiu, ainda achando graça da cena. "Parece que você é mesmo o faz-tudo de Ennis."
"E você parece cheia de energia para quem acabou de correr tanto," ele comentou, observando o leve rubor nas bochechas dela. "Quer aproveitar a descida com a gente?"
Ela deu de ombros, sorrindo. "Claro. Já corri o suficiente por hoje."
E então começaram a descer a colina juntos, caminhando lado a lado entre as ovelhas, que troteavam tranquilamente ao redor deles. Rafael conduzia o grupo com facilidade, e Lara achou divertido vê-lo no papel de "pastor".
"Então, você já cuidou de ovelhas antes, ou essa é uma das mil habilidades que você já desenvolveu em Ennis?" perguntou ela, rindo.
Rafael sorriu, ajeitando o cajado. "Quando você passa tanto tempo aqui, acaba aprendendo um pouco de tudo. E sinceramente, acho que sou bem melhor com ovelhas do que com decoração de festas."
Ela riu, sentindo-se à vontade. A conversa fluía leve e espontânea, como se fossem velhos amigos. "Devo dizer, você leva jeito para isso. As ovelhas parecem até te obedecer!"
Ele deu uma piscada, mantendo o tom brincalhão. "É o charme irlandês, peixinho. E você, o que está achando do festival?"
"É lindo ver todo mundo animado e preparando tudo. Traz um clima especial para a vila, sabe? Faz parecer que Ennis é o lugar mais acolhedor do mundo."
Rafael assentiu, os olhos brilhando com a mesma afeição pela cidade que ela começava a sentir. "É isso que eu amo aqui. É como se cada pessoa fizesse parte de algo maior, sabe? E hoje, quem sabe, você descubra um pouco mais sobre o que torna Ennis tão especial."
Eles continuaram descendo até a base da colina, onde se despediram do rebanho. Lara se sentia renovada, como se o passeio tivesse enchido seu espírito de leveza. Observando o céu claro e sentindo o vento fresco ao lado de Rafael, ela se deu conta de que, ali, em Ennis, estava redescobrindo não só as tradições, mas também uma nova sensação de esperança.
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A noite finalmente chegou, e com ela o tão esperado Festival do Amor Irlandês. Em casa, a cunhada de Lara não perdeu tempo em arrumá-la, escolhendo um vestido simples e elegante que realçava sua beleza natural. Ao se ver no espelho, Lara ficou surpresa com a imagem que via; estava linda, com um brilho especial nos olhos.
"Ah, isso é exagero!" protestou, sorrindo. "Não precisava de tanto."
Sua cunhada riu, ajeitando os últimos detalhes. "Quem sabe você não encontra o amor hoje, hein?"
Lara revirou os olhos, rindo. "Não estou procurando nada disso, mas obrigada."
Logo depois, ela, sua mãe, Steven e o resto da família seguiram para o festival. A vila estava iluminada por luzes suaves que pairavam sobre as ruas, enquanto músicas alegres ecoavam pelo ar. Todos dançavam e riam, e o clima era de pura celebração.
Mesmo sem admitir para si mesma, Lara se viu buscando por Rafael entre a multidão. Seus olhos percorriam as pessoas, tentando disfarçar, até que seu irmão, percebendo, se aproximou com um sorriso brincalhão.
"Está procurando algo, maninha?"
Lara balançou a cabeça, tentando despistar. "Claro que não! Só estou olhando em volta."
Mais adiante, algumas pessoas mais velhas dançavam no centro, e todos ao redor batiam palmas, acompanhando o ritmo animado. De repente, um senhor sorridente caminhou até Lara e a convidou para dançar. Ela hesitou, sem saber se devia aceitar, mas Steven a incentivou.
"Vai lá, Lara. Não se recusa um convite como esse!"
Ela acabou cedendo, acompanhando o senhor nos passos simples da dança. Ria ao tentar acompanhar o ritmo, sentindo-se leve e feliz, cercada por aquela energia de festa e união. Enquanto girava, notou que Rafael estava por perto, observando a dança ao lado de sua irmã, Rebeca, e de uma amiga. Ele a cumprimentou com um sorriso divertido, e Lara, sem conseguir conter o riso, acenou de volta.
Quando a música parou, Lara estava um pouco ofegante e sentia o coração acelerado, mas não de cansaço, e sim de empolgação. Foi quando Rafael se aproximou com um sorriso travesso.
"Agora é minha vez, peixinho. Vou te mostrar o que é uma dança de verdade."
Mesmo um pouco cansada, ela não resistiu ao convite. Aceitou sua mão, e eles começaram a dançar juntos, Rafael a guiando com passos leves e firmes. Ele parecia fazer a dança parecer fácil, e Lara se deixou levar pela música e pelo jeito divertido dele. A noite parecia perfeita, cheia de magia e leveza.
Mas, de repente, Lara sentiu uma forte tontura. Em questão de segundos, uma fraqueza a tomou, e ela mal teve tempo de colocar a mão na boca antes de sentir um gosto amargo e metálico. Tossiu, e pequenas gotas de sangue apareceram em sua mão. Rafael, que estava segurando sua mão, notou imediatamente a expressão dela e a mudança em sua postura.
"Lara, o que aconteceu?" Ele perguntou, alarmado.
Antes que ela pudesse responder, as forças a abandonaram, e ela começou a desfalecer. Rafael a segurou firme, o rosto tomado pela preocupação. Steven, que viu tudo, correu até eles, e logo todos estavam reunidos ao redor, chocados e aflitos. Rafael, sem pensar duas vezes, a pegou no colo e, com a ajuda da família de Lara, se dirigiu rapidamente ao hospital.
Ao chegar lá, a equipe médica levou Lara para exames, e Rafael se sentou na sala de espera, inquieto, tentando entender o que estava acontecendo. Ele observava os rostos aflitos da mãe de Lara e de seu irmão, sentindo uma dor desconhecida apertar seu peito.
Após algum tempo, Steven se aproximou dele, o rosto sombrio. "Ela tem câncer, Rafael. Um câncer avançado."
A notícia o atingiu como um soco, e ele sentiu o chão faltar por um momento. As lembranças da noite leve e alegre que haviam acabado de compartilhar pareceram distantes, quase irreais. Era como se o mundo tivesse mudado completamente em poucos instantes.
Depois de algum tempo, Rafael teve permissão para entrar no quarto. Encontrou Lara deitada, pálida, mas com um olhar sereno, apesar de tudo. Ele se aproximou devagar, sentando-se ao lado dela.
Ela sorriu, sem forças, mas ainda tentando manter o bom humor. "Me desculpe por arruinar sua dança..."
Ele pegou sua mão com carinho e balançou a cabeça. "Não diga isso. Só me prometa que ainda dançaremos mais algumas vezes."
Lara o olhou, surpresa com o tom carinhoso em sua voz. "Rafael... eu não sei como será daqui pra frente."
Ele apertou levemente sua mão, os olhos firmes e determinados. "Ainda há esperança, Lara. Eu não sei muito sobre o que você está passando, mas sei que você é forte. E, se depender de mim, você não vai enfrentar isso sozinha."
Lara sentiu uma mistura de alívio e emoção,"Um desconhecido que se tornou um amigo"
vendo que ele estava ali ao seu lado, com aquele brilho determinado. No fundo do coração, uma nova chama de esperança se acendeu, e, naquele momento, ela soube que, mesmo com a incerteza, ainda havia motivos para lutar.
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Atualizado até capítulo 40
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