No terceiro dia após seu retorno à Irlanda, Lara e sua mãe foram ao hospital. As paredes brancas e o ambiente estéril faziam Lara se sentir um pouco desconfortável, mas ela sabia que era o primeiro passo para seu tratamento. A mãe, ao seu lado, oferecia palavras de conforto a cada instante, segurando sua mão durante os exames e tentando aliviar um pouco da ansiedade que pairava no ar.
Depois das consultas e dos primeiros preparativos para o tratamento, Mary sugeriu algo para animá-las. "Filha, por que não aproveitamos para dar uma volta? Ouvi dizer que está tendo uma feirinha aqui perto. Vamos lá?"
Lara assentiu, tentando ignorar o peso da última hora. Caminhar pela cidade, como antigamente, poderia ser exatamente o que ela precisava para arejar a mente.
As duas saíram do hospital e seguiram pelas ruas que começavam a ganhar vida com as barracas coloridas da feirinha. O aroma de pães frescos e o som de risadas enchiam o ar, e Lara se sentia momentaneamente leve, como se o peso de sua condição desaparecesse por um instante.
Mas, enquanto passeava, algo mais chamou sua atenção: uma área mais afastada, cheia de adereços em formato de corações, com luzes penduradas entre as ruas e guirlandas delicadas adornando as fachadas. As decorações vibravam com tons de vermelho e rosa, contrastando com o verde das plantas que cresciam nas paredes antigas.
"Por que aqui?" ela murmurou, fascinada pela beleza inesperada daquela parte da cidade.
"Está curiosa, peixinho?" Rafael apareceu por trás dela, dando um leve susto, mas com um sorriso brincalhão. Lara deu um pequeno salto, mas riu, surpresa e um pouco aliviada ao ver um rosto conhecido.
"Rafael! Você me assustou! E... 'peixinho'?" Lara riu, tentando disfarçar o leve rubor que subia às bochechas.
Ele piscou para ela com um sorriso descontraído. "Ora, nunca viu a preparação para a Festa do Amor Irlandês, não é? Está quase na época. É uma celebração antiga aqui em Ennis. Todas as pessoas da vila se juntam para decorar as ruas."
"Festa do Amor Irlandês... Interessante," Lara murmurou, absorvendo a ideia. "Mas você trabalha aqui? Está ajudando a decorar?"
Rafael riu, já pegando uma caixa cheia de pequenos corações para pendurar em uma das árvores. "Sim, digamos que sou o faz-tudo por aqui. Onde precisa de ajuda, lá estou eu. Decorar, pintar, consertar... O pessoal da vila sempre me chama."
Ela observou enquanto ele pendurava os corações com uma precisão cuidadosa, sem perder o sorriso no rosto. Havia algo fascinante na forma como ele se envolvia no trabalho, sempre com bom humor e sem parecer que era uma obrigação.
"Então, você conhece todo mundo da cidade?" Lara perguntou, cruzando os braços e observando-o com curiosidade.
"Praticamente. Desde pequeno, eu me envolvo nessas tradições. Gosto de ajudar e ver as coisas tomarem forma, sabe?" Ele a olhou, notando seu interesse. "Para mim, essas festividades fazem Ennis ser o que é: uma cidade viva, cheia de histórias e pessoas que cuidam umas das outras."
Enquanto ele amarrava mais um coração em um poste, Lara sentiu uma sensação familiar de pertencimento. Mesmo estando fora por tanto tempo, aquela tradição de Ennis a envolvia novamente, e a presença de Rafael tornava o momento ainda mais especial.
"Você já participou de alguma dessas festas?" ele perguntou, olhando-a com curiosidade.
"Não... na verdade, saí de Ennis muito cedo. Voltei só agora," Lara respondeu, um pouco constrangida. "Mas é... é reconfortante ver como a cidade mantém suas tradições. Não me lembrava que tudo isso era tão vivo."
Rafael assentiu, entendendo o que ela queria dizer. "Então, dessa vez, você tem que participar. É uma experiência que vale a pena. E tenho certeza de que os moradores adorariam te conhecer mais."
Lara sorriu, sentindo-se estranhamente à vontade. Pela primeira vez desde que voltou, a ideia de se reconectar com a cidade e suas tradições parecia menos distante e mais acolhedora. E, talvez, com Rafael ao lado, a ideia de redescobrir Ennis se tornasse ainda mais interessante.
Rafael terminou de pendurar um dos corações e se voltou para Lara, com um sorriso travesso no rosto.
"Quem sabe você não encontra o amor no festival, hein?" provocou ele, levantando uma sobrancelha.
Lara riu, mas deu de ombros, desviando o olhar. "Duvido muito... estou longe de querer um 'amor' agora."
Ele a observou por um instante, os olhos brilhando com uma mistura de curiosidade e humor. "Parece que esse peixinho teve o coração quebrado."
Lara parou por um momento, surpresa com a observação, sentindo um leve constrangimento. Não queria se abrir sobre suas dores com alguém que acabara de conhecer, e desviou o olhar, tentando disfarçar.
Percebendo a hesitação dela, Rafael sorriu de leve e mudou de assunto, apontando para uma pilha de enfeites ao lado. "Vamos lá, que tal me ajudar um pouco? Ainda temos muitos corações para pendurar."
Ela assentiu, aliviada pela troca de assunto, e os dois começaram a colocar mais adereços pela rua. Enquanto trabalhavam, alguns moradores mais velhos passaram por ali e acenaram para Rafael, sorrindo ao vê-lo.
"Ei, Rafael, Rebeca não vai gostar de te ver decorando a cidade com outra garota, hein?" disse um dos idosos, piscando para ele com um ar de brincadeira.
Lara sentiu um leve desconforto, não esperando aquele comentário. Ela o olhou de relance, tentando disfarçar o interesse súbito. Será que ele já tinha alguém? Embora soubesse que não deveria se importar, uma pontada de curiosidade a incomodava.
Rafael, no entanto, apenas riu e deu de ombros, sem parecer se importar com a provocação dos outros. Eles continuaram pendurando os corações, e Lara, tentando focar na tarefa, acabou se surpreendendo com o quanto estava se divertindo.
Depois de algum tempo, ela olhou o relógio e percebeu que já estava na hora de encontrar a mãe. "Eu tenho que ir. Minha mãe deve estar me esperando na feirinha."
Antes que ela pudesse se afastar, Rafael a chamou, com aquele sorriso travesso de sempre. "Ah, só pra esclarecer: Rebeca é minha irmã mais nova." Ele piscou, com um brilho divertido nos olhos.
Lara ficou vermelha, percebendo que ele tinha notado seu constrangimento. Ela riu, um pouco sem graça, e se despediu, apressando o passo pela rua enquanto tentava entender por que ele quisera compartilhar aquilo com ela.
Enquanto caminhava de volta para a feira, seu pensamento vagava entre as palavras dele e o olhar brincalhão que acompanhava cada provocação. Era só uma amizade surgindo... certo? Mas algo nela lhe dizia que esse "peixinho" ainda ia querer mergulhar de volta naquela direção.
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Atualizado até capítulo 40
Comments
Mehayo official
Valeu a pena cada segundo! ⌛️
2024-11-20
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