O Ritual Esquecido.

A manhã seguinte amanheceu carregada de um silêncio pesado. Clara passou boa parte da noite acordada, revivendo as palavras dos moradores e os avisos sobre o espelho. Ela usava o colar dado pela jovem do grupo, apertando o amuleto de prata contra o peito como se fosse uma âncora que a mantivesse no presente. No entanto, os sussurros, mesmo distantes, pareciam nunca realmente desaparecer.

Determinada a entender mais sobre o que estava enfrentando, Clara voltou à biblioteca. O diário de Hugo, com suas anotações macabras, parecia ser a única pista confiável. Mas ao folheá-lo novamente, percebeu que muitas páginas haviam sido arrancadas.

“Por que ele destruiria partes do diário?”, Clara murmurou, frustrada. Mas sua curiosidade se transformou em esperança quando notou que as bordas de uma das prateleiras estavam soltas, como se algo estivesse escondido ali.

Com esforço, ela puxou a madeira e encontrou um compartimento secreto. Dentro, havia um pequeno maço de papéis dobrados e amarelados. As páginas arrancadas.

Ela os desdobrou com cuidado. A caligrafia era a mesma de Hugo, mas parecia ainda mais frenética, com linhas irregulares e manchas de tinta como se ele tivesse escrito com pressa ou desespero. O texto falava sobre o espelho e uma tentativa de selar seu poder.

"O espelho não pode ser destruído. Ele é uma âncora, um canal. Mas talvez, apenas talvez, possa ser selado... É preciso realizar o ritual completo. Contudo, os ingredientes são difíceis e perigosos. A mansão protege o espelho, e ela se voltará contra qualquer um que tentar detê-lo."

Clara continuou lendo, sentindo o peso das palavras em cada linha. O ritual exigia três elementos principais: uma flor chamada “lágrima negra”, que crescia apenas em solo amaldiçoado; cinzas de algo que tivesse sido destruído pelo espelho; e o mais perturbador de todos — sangue fresco de uma pessoa inocente.

Ela afastou os papéis, como se o simples toque os tornasse mais reais. “Isso é loucura. Como vou encontrar essas coisas? E... sangue de uma pessoa inocente?”

Enquanto pensava, as palavras de Joaquim ecoaram em sua mente: "A casa não quer que você vá, mas também não quer que você fique."

A mansão parecia saber o que ela descobrira. O ar ao seu redor ficou mais pesado, e as sombras nos cantos da biblioteca pareciam se alongar. Clara levantou-se rapidamente, mas o som de passos ecoando no andar de cima fez seu coração parar.

Ela sabia que estava sozinha. Pelo menos deveria estar.

“Tem alguém aí?”, chamou, mas sua voz soou pequena.

Os passos pararam, mas Clara sentiu que algo a observava. Ela pegou o diário e os papéis, guardando-os em sua bolsa antes de sair da biblioteca. Enquanto caminhava pelos corredores, teve a sensação de que as paredes estavam mais próximas, quase sufocantes.

Chegando ao hall, olhou novamente para o grande espelho. Desta vez, evitou seu reflexo. Mas, mesmo sem encará-lo diretamente, percebeu algo estranho: a superfície parecia mais escura, como se uma fumaça negra dançasse atrás do vidro.

O colar em seu pescoço pareceu vibrar levemente, e ela agarrou o amuleto com força. “Você não vai me pegar”, murmurou, sem saber se falava para o espelho ou para a própria casa.

Decidida a começar sua busca, Clara voltou ao diário. A flor “lágrima negra” parecia ser o primeiro passo. Hugo mencionava que ela crescia no cemitério atrás da mansão, um lugar que ele descreveu como “enraizado na dor”.

Apesar do receio, Clara saiu pela porta dos fundos. O vento gelado soprou contra seu rosto, e o céu parecia mais escuro do que deveria para aquele horário. O cemitério não estava longe, mas era cercado por uma cerca enferrujada e quase engolido por ervas daninhas.

Clara abriu o portão com dificuldade, o som do ferro rangendo parecendo um grito no silêncio. Lá dentro, as lápides estavam desgastadas, os nomes quase apagados pelo tempo. Algumas estavam inclinadas, enquanto outras haviam tombado completamente.

No centro do cemitério, Clara viu algo que a fez parar: uma única flor negra, crescendo entre as rachaduras de uma lápide antiga. As pétalas brilhavam como se estivessem molhadas, mas o ar ao redor parecia mais frio, quase congelante.

“Lágrima negra”, sussurrou, reconhecendo a descrição do diário.

Ela se aproximou lentamente, ajoelhando-se para colher a flor. Mas, assim que seus dedos tocaram a haste, o chão ao seu redor pareceu tremer. Clara recuou, segurando a flor com força, e viu rachaduras se espalhando pelo solo.

De repente, uma mão pálida emergiu da terra, agarrando seu tornozelo. Clara gritou, tentando se soltar, mas a força era surpreendente. Outras mãos começaram a surgir, ossudas e cobertas de terra, como se algo estivesse tentando sair das profundezas.

Ela puxou a perna com toda a força que tinha, finalmente se libertando. Correu de volta para a mansão, o som de algo arranhando o solo atrás dela. Assim que atravessou a porta dos fundos, a fechou com força, trancando-a com o trinco enferrujado.

Ofegante, Clara olhou para a flor em sua mão. Apesar do que acabara de acontecer, ela sabia que não podia desistir. Este era apenas o primeiro passo, e os próximos seriam ainda mais perigosos.

Ao olhar para o espelho no hall, sentiu que ele a observava, como se soubesse que ela estava tentando enfrentá-lo. A superfície escura parecia pulsar levemente, e Clara soube, naquele momento, que a mansão não tornaria sua missão fácil.

E ela estava apenas começando.

✨Muito obrigada por acompanhar mais um capítulo! ✨

Fico imensamente grata por você ter dedicado seu tempo para ler a minha história. Cada leitura, comentário e curtida significam muito para mim e são o que me motiva a continuar escrevendo. Saber que você está aqui, torcendo pelos personagens e acompanhando suas jornadas, torna tudo mais especial.

Se você gostou deste capítulo, por favor, considere deixar um comentário! Adoraria saber suas opiniões, teorias e o que mais você gostaria de ver nos próximos capítulos. E se puder, compartilhe com amigos que também possam gostar da história. Seu apoio faz toda a diferença e me ajuda a crescer como autora!

Mal posso esperar para trazer mais emoções e surpresas para você no próximo capítulo. Até lá, cuide-se e continue sonhando!

Com carinho,

Biazinha 💖

Mais populares

Comments

Ivana Nassau

Ivana Nassau

eu não teria coragem de ficar numa mansão dessas😱😱😱

2024-11-30

3

Valentina Valente

Valentina Valente

Ela deveria cobrir o espelho.

2024-12-19

0

Ver todos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!