A noite estava particularmente silenciosa, como se até mesmo os sons naturais tivessem decidido não perturbar o que estava por vir. Sophie caminhava ao lado de Lucian por um caminho de paralelepípedos, uma pequena lanterna em sua mão e um caderno preso firmemente debaixo do braço. Haviam decidido investigar uma mansão abandonada nos arredores da cidade, um lugar que, segundo Lucian, guardava pistas sobre os Selvagens.
Mas o silêncio entre eles parecia mais pesado do que a noite ao redor. Sophie ainda não sabia como se sentir sobre tudo isso. Lucian não era apenas um mistério. Ele era um enigma cheio de sombras, e Sophie não podia evitar a curiosidade crescente em saber mais sobre ele.
Enquanto andavam, ela finalmente rompeu o silêncio.
— Você disse que esses Selvagens têm um líder. Quem é ele?
Lucian hesitou, os olhos prateados brilhando levemente sob a luz fraca da lanterna.
— O nome dele é Darius. Ele é... perigoso, mesmo para vampiros como eu.
— Perigoso como?
Lucian parou de andar e virou-se para ela, a expressão séria.
— Ele é antigo. Muito mais do que eu. E tem um poder que poucos entendem.
Sophie franziu o cenho, tentando entender o que aquilo significava.
— Você fala como se conhecesse ele.
Lucian desviou o olhar, cruzando os braços.
— Conheço. Darius e eu... já fomos aliados.
As palavras pairaram no ar como um peso invisível. Sophie sentiu seu coração acelerar, mas não sabia se era de medo ou curiosidade.
— O que aconteceu entre vocês?
Ele não respondeu de imediato. Ao invés disso, começou a andar novamente, os passos mais lentos, como se estivesse mergulhado em memórias que preferia esquecer.
— Darius me ensinou muito do que sei. Quando fui transformado, há quase dois séculos, ele era meu mentor. — Lucian pausou, olhando para o céu escuro. — Mas ele tinha ideias... perigosas.
Sophie estreitou os olhos, sentindo que ele estava tentando evitar dizer algo.
— Que tipo de ideias?
Lucian parou e virou-se para ela. Seus olhos brilhavam de uma forma diferente agora, como se estivessem cheios de dor.
— Darius acreditava que vampiros deveriam dominar os humanos, não viver entre eles. Ele via sua espécie como superior, destinada a governar.
Sophie cruzou os braços, sentindo o frio da noite aumentar.
— E você discordava?
Lucian soltou uma risada amarga.
— No começo, não.
A admissão a pegou de surpresa.
— Então você também...
— Eu era jovem e tolo — interrompeu ele, a voz dura. — Quando fui transformado, perdi tudo. Minha família, minha vida... tudo o que eu era. Darius me ofereceu uma nova vida, um novo propósito. E eu aceitei, sem questionar.
Sophie permaneceu em silêncio, absorvendo o que ele dizia. Por mais que quisesse perguntar mais, sabia que Lucian estava se forçando a compartilhar isso.
— Fiz coisas... — continuou ele, a voz quase um sussurro agora. — Coisas que ainda me assombram. Segui Darius cegamente, acreditando que ele estava certo. Até que percebi que aquilo não era força. Era crueldade.
Ela o encarou, tentando imaginar o que ele poderia ter feito, mas incapaz de perguntar.
— Então você o abandonou? — perguntou finalmente.
Lucian assentiu lentamente.
— Tentei. Mas Darius não aceita deserções. Ele me considerou um traidor. E desde então, tem me caçado.
Sophie sentiu um calafrio.
— E agora ele está recrutando esses Selvagens para atacar humanos?
— Não apenas humanos. Ele está construindo um exército. — Lucian suspirou, esfregando a nuca. — Ele quer começar uma guerra.
Sophie olhou para ele, a mente girando com as informações.
— Por que você não contou isso antes?
Lucian deu um sorriso triste.
— Porque não queria que você me visse como eu era.
Ela permaneceu em silêncio, observando-o. Pela primeira vez, Lucian parecia... vulnerável. Não como o vampiro poderoso que enfrentava Selvagens sem hesitar, mas como alguém que carregava o peso de séculos de culpa.
— Não importa o que você era — disse ela, surpreendendo até a si mesma. — O que importa é o que você está tentando fazer agora.
Lucian a encarou, os olhos brilhando com algo que ela não conseguia definir.
— Você é... diferente, Sophie.
Ela riu, sem graça.
— Isso soa como algo que um vampiro diria antes de atacar alguém.
Lucian soltou uma risada suave, mas o momento de leveza foi breve.
— Preciso que você entenda, Sophie. A única razão pela qual ainda estou aqui, lutando, é porque acredito que ainda há algo que posso fazer para corrigir meus erros.
Ela assentiu, sentindo uma estranha conexão com ele.
— Então vamos começar por isso. Vamos descobrir como deter Darius.
Lucian inclinou a cabeça levemente, um pequeno sorriso curvando seus lábios.
— Você é mais corajosa do que a maioria dos humanos que conheci.
— Ou mais teimosa — respondeu ela, com um sorriso nervoso.
Enquanto continuavam caminhando em direção à mansão abandonada, Sophie não pôde deixar de pensar no quanto Lucian já havia vivido e no quanto ele ainda escondia. Mas, por algum motivo, ela sentia que precisava estar ali.
E, no fundo, sabia que esse vínculo com Lucian a levaria ainda mais fundo no perigo... e, talvez, na verdade sobre si mesma.
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Atualizado até capítulo 30
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