Sophie não conseguia tirar os olhos de Lucian. Aquele homem – ou vampiro, como ele alegava ser – a deixava inquieta de maneiras que ela não sabia explicar. Eles estavam sentados em um velho banco de madeira em um parque abandonado, cercados pela penumbra da madrugada. As árvores ao redor lançavam sombras grotescas, mas a presença de Lucian parecia manter qualquer perigo à distância.
— Por que eu? — Sophie finalmente quebrou o silêncio, a voz mais firme do que esperava. — Por que você decidiu me salvar?
Lucian, que até então parecia perdido em seus próprios pensamentos, ergueu os olhos prateados para ela. Eles brilhavam, mas não de forma ameaçadora. Havia algo neles, uma profundidade que Sophie não sabia se queria desvendar.
— Eu não queria me envolver — ele começou, a voz baixa e quase hesitante. — Mas quando vi você... algo mudou.
Sophie engoliu em seco.
— Mudou como?
— Não sei. — Lucian desviou o olhar, como se estivesse desconfortável com a própria resposta. — Só sei que, por algum motivo, eu não podia deixar que eles te machucassem.
Ela permaneceu em silêncio, tentando decifrar o que aquilo significava. Ele parecia sincero, mas como ela poderia confiar em alguém que acabara de admitir ser uma criatura da noite?
— Quem são eles? — perguntou finalmente, mudando o foco para as perguntas mais práticas. — Os que me atacaram?
Lucian respirou fundo, como se aquela explicação fosse uma que ele preferisse não dar.
— Vampiros, como eu. Mas eles não são como eu. — Ele fez uma pausa, olhando para o horizonte como se escolhesse suas palavras com cuidado. — São chamados de Selvagens. Vampiros que se entregaram completamente aos instintos primordiais, sem controle, sem humanidade.
Sophie franziu o cenho.
— E por que estão matando pessoas?
— Alimentação. Poder. Vingança. — Lucian listou, o tom amargo. — Para eles, os humanos não são nada além de presas ou brinquedos descartáveis.
— E você? — Sophie perguntou, a voz baixa. — O que somos para você?
Lucian não respondeu imediatamente. Ele inclinou a cabeça levemente, os olhos encontrando os dela com uma intensidade quase desconfortável.
— Vocês são o que resta de minha humanidade — disse ele, finalmente, as palavras tão sinceras que fizeram Sophie recuar um pouco.
O silêncio caiu entre eles novamente, pesado, mas cheio de perguntas não ditas. Finalmente, Sophie decidiu que precisava saber mais.
— Você disse que esses Selvagens estão matando pessoas, mas por quê? Há alguma razão específica?
Lucian assentiu lentamente.
— Eles estão organizados. Algo que não é comum para Selvagens. Há um líder... alguém que conseguiu controlá-los. — Ele parou por um momento, a mandíbula apertada. — Ele quer destruir o equilíbrio entre nosso mundo e o de vocês.
— Equilíbrio? — Sophie arqueou uma sobrancelha.
— Humanos e vampiros coexistem, mesmo que você não perceba. — Lucian cruzou os braços. — Alguns de nós preferem viver discretamente, mantendo nossas vidas à margem do seu mundo. Outros... querem dominar.
Sophie sentiu um arrepio percorrer sua espinha.
— E onde eu entro nisso?
Lucian se levantou, começando a caminhar pelo pequeno espaço aberto à frente. Ele parecia desconfortável, como se odiando o que estava prestes a dizer.
— Você está no lugar errado, na hora errada, Sophie. Mas agora que eles sabem de você, você se tornou um alvo.
Ela apertou os punhos, tentando ignorar o medo crescente.
— Então você quer que eu fuja?
Lucian parou de andar e olhou para ela, sério.
— Fugir não vai adiantar. Eles sempre encontram.
— Então o que eu faço? — Sophie levantou-se, a voz subindo. — Você aparece do nada, me salva de... monstros, me conta que é um vampiro e que agora minha vida está em risco? O que exatamente você espera que eu faça com isso?
Lucian deu um passo em direção a ela, a expressão endurecida.
— Eu espero que você lute.
Ela piscou, surpresa.
— Lutar? Como?
— Você é uma investigadora, não é? — Ele arqueou uma sobrancelha. — Você tem habilidades. Conhecimento. Eu preciso de alguém do seu lado para ajudar a rastreá-los.
Sophie soltou uma risada amarga.
— E o que me garante que você não vai me usar como isca?
Lucian se aproximou ainda mais, os olhos cravados nos dela.
— Se eu quisesse usar você, Sophie, já teria feito isso.
Ela prendeu a respiração, sem saber se era o tom de voz ou a proximidade que a afetava tanto.
— Eu... não sei se posso confiar em você — admitiu ela, por fim.
Lucian deu um meio sorriso, mas havia algo de triste nele.
— Eu também não confiaria. Mas, por enquanto, somos aliados.
— E se eu disser não?
Ele suspirou.
— Então eu continuarei protegendo você, mesmo que não queira.
Sophie sentiu uma mistura de frustração e fascínio crescer dentro dela. Quem era esse homem – essa criatura – que insistia em se colocar como seu protetor, mesmo quando ela mal o conhecia?
Depois de alguns momentos, ela fechou os olhos e respirou fundo.
— Certo. Eu ajudo você.
— Ótimo — disse Lucian, mas o alívio em sua voz era evidente. — Mas uma coisa antes de começarmos.
— O quê?
Lucian a encarou, o tom grave.
— Você precisa entender que isso vai mudar sua vida para sempre. Não há como voltar atrás.
Sophie hesitou, mas sabia que ele estava certo. Nada seria como antes.
— Já parece tarde demais para voltar, não acha?
Lucian sorriu de lado, o brilho em seus olhos suavizando por um breve momento.
— Então estamos juntos nisso.
Enquanto as sombras da noite os envolviam, Sophie sabia que havia dado um passo em direção a algo muito maior do que ela jamais imaginara. E, apesar do medo, uma parte dela não podia negar a excitação que aquilo trazia.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 30
Comments