Capítulo 6 - Linhas Cruzadas
Scarlett acordou cedo naquela manhã, o cansaço pesando em seu corpo. Sua mente ainda estava imersa no alerta que July lhe dera na noite anterior: alguém sabia sobre elas. Desde então, um turbilhão de pensamentos a consumia. A sensação de estar sendo vigiada era constante, cada olhar, cada gesto em público agora pareciam suspeitos.
Sentada à mesa do café da manhã, com a luz do sol iluminando o salão principal da mansão dos Mancini, Scarlett se esforçava para manter a calma. Seu pai, Giovanni Mancini, lia o jornal do dia, os olhos atentos em cada notícia que dizia respeito aos negócios da família. Scarlett observava-o de soslaio, o coração acelerando toda vez que ele virava a página ou a encarava com aquele olhar penetrante.
Raika, como sempre, estava ali, em pé no canto do salão, com a expressão impenetrável, como se nada pudesse desviar sua atenção. Scarlett podia sentir os olhos de Raika sobre ela, mesmo quando evitava o contato visual. Raika não fazia perguntas, mas a tensão entre elas estava quase palpável, como se ambas soubessem que algo não estava sendo dito.
“Scarlett,” a voz grave de Giovanni a chamou de volta à realidade. Ele a observava com uma expressão séria, os olhos estreitados. “Você tem andado distraída ultimamente.”
Scarlett engoliu em seco, tentando parecer descontraída. “Desculpe, pai. Tenho tido muitas responsabilidades.”
“Certifique-se de que suas responsabilidades não estão lhe tirando o foco,” ele respondeu, o tom de voz carregado de advertência. “Nossa família não pode se dar ao luxo de cometer erros.”
Scarlett assentiu, mantendo a compostura, embora seu coração estivesse disparado. Ela sabia que Giovanni não estava ciente de seus encontros com July, mas o simples fato de ele perceber sua distração a deixava em alerta.
“Entendido, pai,” respondeu, firme.
Após o café da manhã, Scarlett decidiu sair da mansão. Precisava de um tempo para respirar e pensar sem ser constantemente observada. Foi ao jardim, um dos únicos lugares onde Raika geralmente a deixava sozinha. Porém, para sua surpresa, a guarda-costas a seguiu, os passos firmes ecoando no caminho de pedras do jardim.
“Raika,” começou Scarlett, virando-se para encará-la, com um misto de frustração e cansaço. “Eu só quero um pouco de tempo sozinha. Preciso… pensar.”
Raika cruzou os braços, o rosto inexpressivo. “Você sabe que não posso deixar você sozinha, Scarlett. Especialmente com tudo que tem acontecido ultimamente.”
Scarlett suspirou. “Você está se referindo a algo em específico?”
Raika hesitou por um momento, mas então se aproximou, baixando a voz. “Eu não sei o que está acontecendo com você, Scarlett, mas você mudou. E não é só o estresse dos negócios. Algo mais está acontecendo, algo que você não está me contando.”
Por um instante, Scarlett ficou em silêncio, sem saber como responder. A conexão entre elas era intensa, mas ao mesmo tempo, essa proximidade era sufocante. Raika estava ficando perto demais de descobrir a verdade, e Scarlett sabia que precisava manter distância – não apenas para proteger a si mesma, mas também para proteger July.
“Raika, eu agradeço sua preocupação,” disse ela, escolhendo as palavras com cuidado. “Mas algumas coisas eu preciso resolver sozinha. Confie em mim.”
Raika a encarou com um olhar intenso, os olhos brilhando com uma mistura de determinação e algo mais, algo que Scarlett não conseguia identificar. Ela podia ver a lealdade de Raika ali, mas também percebia uma ponta de mágoa e até desconfiança.
“Como você quiser,” respondeu Raika, se afastando lentamente, mas Scarlett sabia que a guarda-costas não desistiria tão facilmente.
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Mais tarde naquele dia, Scarlett recebeu uma mensagem de July. A urgência das palavras era clara: elas precisavam se encontrar novamente. Mesmo com o aviso de que estavam sendo observadas, ambas sabiam que esse relacionamento perigoso era a única coisa que as mantinha firmes. Sem July, Scarlett sentia que não suportaria a pressão, e o mesmo parecia ser verdade para July.
Elas combinaram de se encontrar em um hotel discreto nos arredores da cidade. Scarlett saiu à noite, inventando uma desculpa para despistar Raika. Quando chegou ao hotel, seu coração estava acelerado. Ela sabia que o risco de ser seguida era alto, mas a necessidade de ver July era ainda maior.
Assim que entrou no quarto, encontrou July esperando por ela, os olhos cheios de preocupação. Scarlett correu para ela, e as duas se abraçaram com urgência, como se aquele abraço fosse a única coisa que as conectava ao mundo real.
“Você está bem?” July perguntou, as mãos segurando o rosto de Scarlett, que assentiu, tentando acalmar-se.
“Sim, mas estamos andando sobre uma linha muito fina, July. Raika está cada vez mais desconfiada. Eu sinto que ela já sabe algo.”
July respirou fundo, o rosto tenso. “Então precisamos ser mais cuidadosas. Eu também tenho tido problemas do meu lado. Meu chefe está cada vez mais desconfiado, e sei que ele está investigando cada passo que dou.”
A menção ao chefe de July fez Scarlett estremecer. Sabia que July trabalhava para uma das famílias rivais, o que tornava a situação ainda mais arriscada. Se a relação entre elas fosse descoberta, não haveria clemência para nenhuma das duas.
“Mas eu não posso perder você, Scarlett,” July sussurrou, os olhos brilhando com uma intensidade desesperada. “Você é a única coisa que me mantém forte.”
Scarlett sentiu o peso daquelas palavras. Elas haviam se conhecido em um momento de vulnerabilidade mútua, e agora estavam presas uma à outra, em um laço tão forte quanto perigoso. Mesmo sabendo dos riscos, Scarlett não conseguia se afastar. July representava tudo que ela desejava e não podia ter: liberdade, amor, a chance de ser ela mesma, longe das amarras da família.
Antes que pudesse responder, ouviu o som de passos do lado de fora do quarto. As duas congelaram, trocando olhares de pânico. O risco de serem descobertas parecia mais real do que nunca.
“Precisamos sair daqui,” sussurrou Scarlett, puxando July em direção à porta dos fundos. Elas saíram rapidamente, tentando fazer o mínimo de barulho possível. Scarlett sentiu o coração disparar enquanto corriam pelos corredores estreitos do hotel, até conseguirem alcançar a saída de emergência.
Assim que chegaram à rua, Scarlett parou para recuperar o fôlego, observando os arredores com cautela. O silêncio da noite parecia pesado, mas, pelo menos por enquanto, estavam seguras.
“Isso não pode continuar assim,” disse July, a voz trêmula. “Nós vamos ser pegas, Scarlett. E você sabe o que isso significa.”
Scarlett assentiu, sentindo o medo apertar seu peito. Sabia que se fossem descobertas, enfrentariam não apenas a ira de suas famílias, mas também a de seus aliados. A traição entre famílias era imperdoável.
“Eu sei, July. Mas eu não posso deixar você,” sussurrou, segurando a mão dela com firmeza. “Nós encontraremos uma saída. Precisamos encontrar.”
July a olhou com tristeza, e Scarlett percebeu que, apesar do amor que as unia, ambas sabiam o preço que poderiam pagar. Mas, naquele momento, Scarlett fez uma promessa silenciosa a si mesma: faria tudo para proteger July, mesmo que isso significasse trair tudo e todos ao seu redor.
Enquanto as duas se separavam, com o coração pesado e a mente fervilhando, Scarlett sabia que seu tempo estava se esgotando. Raika estava cada vez mais próxima da verdade, e as forças que as cercavam estavam prontas para esmagá-las se descobrissem o que realmente estava acontecendo.
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Atualizado até capítulo 50
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