Capítulo 5: As Cordas que nos Prendem

Capítulo 5 - As Cordas que nos Prendem

Os dias se passaram em uma sequência inquietante para Scarlett. Desde o encontro arriscado com July no armazém, ela não conseguia se livrar da sensação de que alguém as havia visto. Embora Raika não tivesse feito mais perguntas, a tensão pairava entre elas como uma tempestade à espreita. Scarlett podia sentir a presença de Raika em cada passo que dava, observando-a com uma intensidade que a fazia se questionar o que Raika realmente sabia.

Naquela noite, Scarlett se preparava para mais um evento da família Mancini. Era uma reunião importante com aliados de longa data, pessoas que tinham tanta sujeira nas mãos quanto seu próprio pai. O tipo de encontro em que Scarlett precisava exibir lealdade incondicional à família.

Vestida em um longo vestido preto, ela olhou para o reflexo no espelho e, por um instante, quase não se reconheceu. As olheiras indicavam noites sem dormir e o peso das decisões que começavam a sufocá-la. Respirou fundo, passando os dedos pelos cabelos escuros, tentando se convencer de que poderia encarar aquela noite sem que ninguém percebesse o que se passava dentro dela.

Quando desceu as escadas, encontrou Raika à sua espera no hall da mansão. Ela estava vestida com um terno preto impecável, que destacava sua postura firme e vigilante. Seus olhos encontraram os de Scarlett, e a guarda-costas lhe ofereceu um breve aceno de cabeça.

“Você está pronta?” Raika perguntou, a voz calma e sem emoção, mas Scarlett podia notar uma ponta de tensão nas palavras.

Scarlett assentiu, tentando ignorar o aperto no peito. “Sim. Vamos.”

As duas caminharam até o carro e entraram, com Raika ocupando o assento ao lado do motorista. Scarlett observava as luzes da cidade passarem pela janela, enquanto tentava não pensar no fato de que, talvez, aquela noite pudesse marcar uma virada em sua vida – para o bem ou para o mal.

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O salão de eventos estava lotado quando chegaram. Homens e mulheres com sorrisos frios e cumprimentos falsos se misturavam, formando uma rede de interesses e manipulações. Scarlett sabia que o principal motivo da reunião era discutir as crescentes ameaças de rivais e ajustar alianças. Mesmo com a paz temporária entre as famílias, todos sabiam que conflitos poderiam eclodir a qualquer momento.

Assim que Scarlett entrou, foi recebida com abraços e sorrisos pelos conhecidos de seu pai. Ela se movia com a graça e a confiança que aprendera a adotar desde cedo, mas sentia os olhos de Raika a observarem de perto a cada passo.

Raika, que normalmente se mantinha em segundo plano, hoje estava mais próxima do que o usual, como se estivesse tentando interceptar qualquer aproximação suspeita. Scarlett sentia o peso dessa proximidade, uma mistura de segurança e incerteza. Sabia que Raika tentava protegê-la, mas também sabia que, no fundo, Raika estava atenta a qualquer deslize seu.

Durante a noite, Scarlett finalmente conseguiu um momento a sós para respirar. Caminhou até o terraço, onde a brisa fresca da noite lhe trouxe um pouco de alívio. Enquanto olhava para as luzes da cidade, ouviu passos atrás de si. Virando-se, encontrou Raika, que a observava em silêncio.

"Você não costuma deixar os eventos antes do tempo," comentou Raika, aproximando-se lentamente.

Scarlett suspirou, tentando ignorar o tom inquisitivo de Raika. "Apenas precisava de um pouco de ar."

Raika ficou ao seu lado, e as duas ficaram em silêncio por alguns instantes, olhando para o horizonte.

“Por que está se arriscando tanto, Scarlett?” Raika finalmente perguntou, quebrando o silêncio. “Eu vejo a tensão em você, sei que algo mudou. E, seja o que for, parece estar te afastando de tudo que conhece.”

Scarlett sentiu o coração acelerar, mas manteve a calma. “Às vezes, precisamos nos arriscar para encontrar quem realmente somos,” respondeu ela, sem revelar nada de concreto.

Raika permaneceu em silêncio, mas havia algo em seu olhar que parecia compreender mais do que deveria. Scarlett desviou o olhar, tentando ignorar a conexão que começava a se formar entre elas. Aquela proximidade era perigosa, e Scarlett sabia que estava brincando com fogo ao permitir que Raika se aproximasse tanto.

Antes que pudesse responder, ouviu o som de seu celular tocando. Ao olhar o visor, viu que era uma mensagem de July. Sentiu um frio na espinha ao abrir a mensagem, torcendo para que ninguém percebesse.

"Temos um problema. Preciso te ver. Agora."

A mensagem curta e urgente de July fez seu coração disparar. Algo estava errado. Scarlett guardou o celular rapidamente, tentando não demonstrar o nervosismo. Raika continuava a observá-la, como se pudesse sentir a mudança em sua postura.

"Preciso sair por um momento," disse Scarlett, tentando parecer despreocupada. "Voltarei em breve."

Raika a observou com um olhar desconfiado. “Onde você está indo?”

“Não é da sua conta,” respondeu Scarlett, tentando manter a firmeza na voz. Ela sabia que estava ultrapassando limites ao responder daquela forma, mas não podia arriscar que Raika a seguisse.

Ela se virou para sair, mas Raika agarrou seu braço, mantendo-a no lugar. "Você não pode sair assim, Scarlett. Não sem me dizer onde está indo."

Scarlett puxou o braço, sentindo uma mistura de raiva e frustração. "Eu não preciso de sua permissão, Raika. Sei me cuidar."

Raika hesitou por um momento, mas então soltou o braço dela, permitindo que Scarlett se afastasse. Com um último olhar de advertência, Scarlett virou-se e caminhou rapidamente até a saída. Sabia que estava ultrapassando limites e que Raika provavelmente desconfiaria ainda mais depois daquela atitude, mas não tinha outra escolha.

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Ao sair do evento, Scarlett pegou um táxi para o ponto de encontro com July. Seu coração estava acelerado, e uma parte dela estava apavorada com a possibilidade de serem seguidas ou de Raika aparecer de repente.

Chegou ao local combinado, uma área deserta nos arredores da cidade. Assim que desceu do táxi, viu July esperando por ela, com uma expressão de preocupação. Scarlett correu até ela, sentindo o alívio de estar ao seu lado, mas também o peso do medo.

“O que aconteceu?” Scarlett perguntou, tentando controlar o nervosismo.

July a puxou para um canto mais afastado, falando em um tom urgente. “Descobriram sobre nós, Scarlett. Alguém sabe que estamos nos encontrando.”

O mundo de Scarlett pareceu parar por um momento. “Como assim? Quem sabe?”

“Eu não sei ao certo, mas recebi um aviso de alguém do meu lado. Disseram que estavam nos observando e que, se continuarmos, vão nos caçar.”

Scarlett sentiu o pânico se espalhar por seu corpo. Ela sabia que aquilo era uma possibilidade, mas ouvi-lo de forma tão concreta a fez perceber o quanto estava arriscando. Se a família descobrisse, não apenas ela, mas July também estaria em perigo.

“E agora? O que vamos fazer?” Scarlett perguntou, sentindo a urgência na própria voz.

July segurou suas mãos, os olhos cheios de determinação. “Precisamos ser mais cuidadosas. Se realmente querem nos separar, isso só significa que estamos mexendo em algo que eles temem.”

Scarlett assentiu, tentando conter as lágrimas. Por mais que o medo a consumisse, o desejo de estar ao lado de July era ainda mais forte. Sabia que, por mais que os riscos aumentassem, não poderia desistir.

“Então vamos continuar,” disse ela, determinada. “Mas dessa vez, não vamos deixar que nos peguem.”

July sorriu, e, naquele momento, Scarlett soube que, apesar de tudo, encontraria uma maneira de proteger o que tinham – mesmo que isso significasse enfrentar as pessoas que ela mais temia.

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