Foi a melhor escolha deixar Kiara na casa dos avós. Quando Kyle acordou, ele estava completamente acabado. Seus olhos estavam inchados, ele ficou sentado na cama, abraçando os próprios joelhos, prestes a começar a chorar novamente. Corri para a cozinha, levando um café e alguns sanduíches e frutas torcendo para que ele comesse.
— Kyle… — entrei no quarto, levando a bandeja e colocando na mesa de cabeceira.
Ele estava em silêncio, acariciando o outro lado da cama, olhando fixamente.
— Inúmeras vezes, eu tive medo que isso acontecesse. Porém, mesmo com medo, eu nunca cogitei a possibilidade que ela realmente pudesse morrer. Quando esse pensamento passava pela minha mente, eu cortava imediatamente, pois para mim, perder a Amellie, nunca foi uma possibilidade. — suas lágrimas estavam prestes a cair de novo.
Peguei uma camisa no guarda-roupa, e limpei as lágrimas dele.
— Você precisa se alimentar. — ele olhou para mim quando eu disse isso.
— Dói te ver, porque me lembra que eu a perdi. — isso significa que ele vai mesmo me mandar embora?
Ele pegou o sanduíche, e mordeu, não parecia estar com vontade de comer, parecia estar engolindo a força.
— Você… — não consegui perguntar, mas ele entendeu o que me incomodou.
— Teve o trabalho de preparar o café e o sanduíche, seria um desperdício não comer… — ele disse, com sua voz baixa e triste.
— … — ele precisa comer, porém assim é complicado. Se bem que ele está sendo muito educado.
Depois que terminou, ele me agradeceu e pediu para ficar sozinho. Avisei que pedi que Kiara ficasse mais um dia na casa dos avós dela, e ele novamente agradeceu. O resto do dia foi quieto. Tirando os momentos que ele voltava a chorar. Provavelmente o que era a pior para ele, é saber que como ela já estava morta há muito tempo, ele não poderia velar o seu corpo.
Novamente, estava entediada, decidi assistir TV para me distrair um pouco. Tentei deixar Kyle com privacidade, mas o volume estava baixo, então quando ele ficava muito quieto, eu ia olhar de relance. Acho eu que fazia isso tudo por pena, afinal, não é fácil lidar com a morte de alguém que ama tanto, e por mais que eu não entenda esse sentimento, por nunca ter sido amada, eu sei que deve ser difícil.
Então, mais ou menos às três da tarde, comecei a sentir muita dor.
— Argh… — foi repentino, então não pude tomar o remédio antes.
A dor ficou tão forte, que mesmo tentando conter a voz para não gritar, não consegui. Tremendo, tentei puxar a pequena bolsinha que eu usava para guardar os comprimidos, porém, acabou caindo longe.
— ARGH! SOCORRO, ARGH! — minha cabeça parecia prestes as estourar, os batimentos do meu coração estavam ficando muito fortes, que eu podia ouvir como se estivesse perto do meu ouvido.
Fiz todo esforço possível para pegar a bolsinha, mas não consegui. Nesse momento, Kyle veio correndo até mim.
— Onde está o seu remédio? — ainda bem que ele já sabia que eu precisava para as crises.
— B-Bolsa! — continuei revirando de dor.
Ele pegou, e então colocou um comprimido dentro da minha boca. Me pegando no colo, ele me colocou no sofá. Então, Kyle foi na cozinha pegar água. A droga era tão potente, que apenas ao tomar, a dor ia diminuindo quase que imediatamente.
Arfei por ar, eu já sentia como se fosse morrer se não tomasse a droga. O pânico sempre me atingia, e o medo da morte não saia da minha cabeça. A cada dia que passava, eu sabia que minha doença ia piorando, e eu, me tornando cada vez mais dependente dessa droga.
— Aqui… — ele me entregou a água.
Eu tomei, meu peito ainda estava doendo. Kyle se sentou e ficou me olhando.
— Sua doença… Jason deu o diagnóstico de Amellie a você. Ele estava mentindo, ou você também é usuária de drogas? — não senti que ele estava exigindo uma resposta, mas sabia que não poderia deixar passar, pois ele estava atento.
— Eu não sei… como eu disse, perdi a memória, então eu realmente não lembro de muitas coisas. Sei que desde que Martin me encontrou, eu venho passando por isso, essas crises. — era melhor manter a farsa da perda de memória.
— Sendo assim, acho melhor te levar em outro médico, por via das dúvidas. — isso significa que ele vai me manter aqui?
Não quis perguntar, caso ele pudesse mudar de ideia.
— Obrigada… — ficamos em um silêncio constrangedor.
Kyle olhou para os próprios pés, eu não sabia o que dizer, e parecia que ele também estava assim. Era uma situação complicada para nós dois.
— Amanhã… vamos repassar o acordo. — ele se levantou e foi para o quarto.
Naquela noite, ele não chorou mais. Mesmo assim, eu fui ao quarto dele duas vezes, e depois disso, acabei pegando no sono.
...Dia seguinte:...
Kyle já tinha acordado, e feito café da manhã quando me levantei. Ainda não parecia bem, mas, não fiz perguntas desnecessárias. Uma coisa é certa, hoje nossa conversa decidiria tudo. Acredito que ele vai me deixar ficar, porém, ainda não sei o que esperar.
— Não precisa ficar tão nervosa, é notório que está preocupada. — deixei aparentar tanto?
— É um pouco complicado… — me sentei, e tomei o café.
Ele ficou em silêncio, e então se sentou também. Estava me esperando para o café da manhã, ainda parecia péssimo, porém melhor do que ontem. Depois do café, fomos ao escritório dele para conversarmos.
— Preciso saber seu nome. Talvez você não lembre dele, certo? Me recuso a me referir a você como Amellie quando estivermos sozinhos, sendo que você não é ela. — ele não estava errado, também achava melhor assim, mas obviamente não falaria o meu nome verdadeiro.
— Realmente não me lembro, então qualquer nome serve. — foi a melhor resposta que encontrei.
— Tem algum que goste? — ele me olhou com expectativa.
— Não. — quando eu pensava assim, realmente não tinha nenhum nome que eu gostava particularmente.
— Então, tudo bem se eu escolher um por você? — nesse momento, acabei percebendo que Kyle era um homem amável, não apenas para sua esposa.
— Sim. — não tinha problema para mim.
— Então, Eva. — não sabia dizer se gostei ou não.
— Acha que meu nome parece ser esse? — Kyle me olhou atentamente.
— Não, mas acho que combina com você. Bom, Eva, gostaria que você pudesse continuar aqui, apenas por um tempo. Até eu criar coragem para dizer a verdade, a minha filha e os pais de Amellie. — ele suspirou. — Ainda não consigo enfrentar a realidade, então, sei que vão precisar de mim quando eu contar isso, preciso me recuperar para ser forte por eles.
— Eu entendo, talvez realmente seja melhor assim. — ele pretendia enfrentar isso sozinho agora.
— Seja amável com eles, eu… não vou contar que você não era ela. Vou forjar sua morte, então, faça com que eles possam ter a versão da boa filha, e boa mãe que tanto desejam dela. — ele disse isso quase chorando.
— Você pensa o mesmo que eu, não é? É injusto para eles serem enganados assim. — ficou estampado na expressão dele.
— Eu sei. — foi tudo que ele disse.
Nosso contrato iria continuar, mesmo com a morte de Amellie. Não tinha certeza de qual seria a duração, porém, já não me preocupava tanto com isso.
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Atualizado até capítulo 63
Comments
Thayana Lima
Menina que situação 🤔
2025-02-13
1
GAMER W (TITANS BR)
agora eles se apaixonaram e descobriram a verdade
2024-11-11
1