No dia seguinte, a cidade de Seul estava coberta por uma leve névoa, típica do início do inverno, e o ar frio parecia intensificar as cores suaves do amanhecer. Junho acordou cedo, mais inquieto do que de costume. Ele tentava manter o controle de seus sentimentos, mas sabia que algo havia mudado. Sua conversa com Soo-ah, a vulnerabilidade que ela acolhera sem julgamentos, tocou uma parte de sua alma que ele há muito tempo mantinha escondida.
Ao olhar pela janela de seu apartamento, Junho sentiu o impulso de reviver uma das poucas paixões que ainda o conectavam a algo além do trabalho e das responsabilidades. Foi até seu piano, um instrumento que ele deixara de lado com o passar dos anos. A madeira escura e polida parecia um pouco mais fria do que ele lembrava, mas o simples toque das teclas o fez sentir uma saudade inexplicável. Sentou-se e respirou fundo antes de deixar que seus dedos percorressem o teclado, tentando se lembrar de antigas melodias que havia aprendido ainda jovem.
As notas flutuaram pelo ambiente, preenchendo o silêncio com uma melodia suave e melancólica. Era uma música que ele costumava tocar nos raros momentos em que precisava de paz. Mas, ao fechar os olhos, foi a imagem de Soo-ah que surgiu em sua mente. Ele tocou pensando nela, no sorriso gentil, no olhar que transmitia compreensão e ternura. Soo-ah havia despertado nele algo que a música apenas intensificava: uma vontade de viver que, até então, ele sentia como se estivesse se perdendo.
Naquele mesmo dia, Junho decidiu que queria compartilhar um pouco de seu mundo com ela. Talvez a música, como ela dissera, pudesse falar o que ele não conseguia expressar. Então, depois do trabalho, foi direto para a feira. Quando chegou, Soo-ah estava arrumando as frutas com a mesma dedicação de sempre, mas assim que o viu, sorriu com a familiaridade de quem já o esperava.
"Dessa vez você chegou antes," ela comentou, rindo ao perceber que ele estava ali bem mais cedo que o habitual.
"Hoje, eu queria te mostrar algo," ele disse, um pouco hesitante. "Algo que faz parte de mim, mas que raramente compartilho com alguém."
Soo-ah o observou com curiosidade. "O que é?"
"Se você tiver um tempo, gostaria que me acompanhasse até meu apartamento. Sei que parece estranho, mas prometo que não é nada demais," ele respondeu, tentando esconder o leve nervosismo.
Ela hesitou por um momento, mas ao ver a sinceridade nos olhos de Junho, assentiu com um leve sorriso. "Claro, eu confio em você."
O trajeto até o apartamento foi silencioso, ambos imersos em pensamentos. Assim que entraram no local, Soo-ah se surpreendeu com o contraste entre a imagem sofisticada e elegante do lugar e o Junho que conhecera na feira, alguém tão simples e gentil. O apartamento dele era impecável, decorado com tons neutros e com uma vista espetacular da cidade. Mas o que mais chamou a atenção dela foi o piano, no centro da sala, reluzindo sob a luz suave do fim de tarde.
"Você toca piano?" ela perguntou, encantada.
"Sim," ele respondeu com um sorriso. "Na verdade, costumava tocar muito. Mas, com o tempo, fui me afastando. Acho que hoje me lembrei de quanto isso significa para mim." Junho se aproximou do piano, convidando-a a sentar ao seu lado. Ele respirou fundo antes de deixar seus dedos tocarem as teclas, dando início a uma melodia suave e carregada de emoção. As notas dançavam pelo ambiente, preenchendo cada canto com uma intensidade quase palpável.
Enquanto tocava, ele percebeu que não estava apenas tentando impressioná-la. Aquela música era uma confissão silenciosa, uma forma de expressar tudo o que ele não conseguia colocar em palavras — o medo, a incerteza, mas também a esperança que ela lhe trouxera. Soo-ah o observava em silêncio, completamente envolvida pela melodia, sentindo cada nota como se fossem as palavras que ele não ousava dizer.
Quando terminou, o silêncio preencheu a sala, mas a atmosfera estava carregada de uma intimidade que transcendia qualquer palavra. Soo-ah olhou para ele, seus olhos brilhando de emoção. "Isso foi… lindo, Junho. Acho que você realmente colocou sua alma nessa música."
Ele sorriu, um pouco envergonhado, mas também aliviado. "Acho que foi a única forma de te mostrar o que sinto. É estranho… com você, eu me sinto capaz de mostrar partes de mim que sempre escondi."
Soo-ah segurou sua mão com delicadeza, seu toque trazendo uma sensação de conforto. "Você não precisa esconder nada, Junho. Nem de mim, nem de si mesmo."
Aquelas palavras, ditas com tanta simplicidade e verdade, fizeram com que ele percebesse o quão importante ela já era para ele. Soo-ah não era apenas uma companhia agradável ou uma distração em meio à sua rotina exaustiva. Ela era a pessoa que lhe devolvia algo que ele nem sabia ter perdido: a esperança. E, naquele momento, ele soube que, independentemente do que o futuro trouxesse, aquele laço que compartilhavam seria algo que carregaria para sempre.
Junho olhou para Soo-ah, sentindo que havia encontrado alguém que enxergava além das aparências, que via o homem que ele realmente era. E ali, sob a luz suave do entardecer e o som das últimas notas que ainda pairavam no ar, uma promessa silenciosa parecia se formar entre os dois — uma promessa de que, juntos, eles enfrentariam qualquer coisa.
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Atualizado até capítulo 58
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