Junho acordou no dia seguinte com um pensamento inesperado. Mesmo com todas as obrigações que o esperavam — reuniões, documentos para assinar, decisões que moldariam o futuro de sua empresa — o rosto de Soo-ah invadia seus pensamentos como uma lembrança insistente. Ela não era apenas uma garota vendendo frutas em uma feira. Havia algo mais. Algo na forma como ela sorria, como os olhos dela se estreitavam ao focar em detalhes, como se estivesse sempre buscando a beleza em cada pedaço do mundo ao seu redor. Uma artista, ele supôs. E isso despertava nele uma curiosidade que há muito tempo não sentia por ninguém.
Apesar da rotina pesada, ele se pegou desviando o caminho da empresa para passar pela mesma feira. Era uma decisão impulsiva, quase irracional para alguém como ele, mas Junho percebeu que precisava seguir esse impulso, mesmo que não fizesse sentido. Ao chegar, foi recebido pelos sons e aromas que já haviam se tornado familiares, mas seu olhar procurava por ela. No meio das barracas, lá estava Soo-ah, ajeitando com cuidado uma pilha de laranjas, concentrada como se cada fruta tivesse sua própria história.
Ele se aproximou, e ao vê-lo, ela ergueu o olhar, surpresa e com um sorriso tímido. Diferente do dia anterior, Soo-ah parecia um pouco mais reservada, talvez desconfiada. Junho, percebendo a leve hesitação dela, fez um esforço para tornar a conversa leve, casual, como se fossem apenas dois desconhecidos trocando algumas palavras sobre frutas e feiras. Mas, para ele, o momento era mais profundo. Cada detalhe dela o fascinava — desde o tom suave da voz até a maneira como suas mãos se moviam delicadamente, quase como se desenhasse com gestos.
"Você sempre vem aqui?" ele perguntou, tentando esconder o quanto realmente estava curioso sobre a vida dela.
"Quase todos os dias. É um trabalho simples, mas me permite ajudar minha família e ainda ter tempo para estudar," ela respondeu, com um toque de orgulho e serenidade que cativou Junho. Ele nunca precisara pensar em dinheiro, em compromissos domésticos ou no peso de uma vida modesta. Aquela realidade era distante, mas ao ouvir as palavras dela, sentiu uma admiração que não sabia ser possível.
Curioso, ele perguntou sobre o que ela estudava. Soo-ah, sem perder o sorriso, respondeu que fazia artes, com um brilho nos olhos que revelava o quanto aquilo significava para ela. "Sempre quis ver o mundo de uma forma diferente, sabe? Através das cores, das formas… A arte me permite mostrar o que sinto, o que vejo de especial na vida. Acho que só assim as pessoas conseguem enxergar o que eu vejo."
As palavras dela tocaram um lugar sensível em Junho. Ele, que sempre vivera em um mundo de números, metas e planos, raramente se permitia ver além das estruturas rígidas que construíra ao seu redor. E ali, na simplicidade da feira, em uma conversa aparentemente trivial, ele sentiu algo se quebrar dentro de si. Era como se a franqueza dela iluminasse o que ele, de alguma forma, tinha esquecido. "Eu toco piano," ele disse, quase sem pensar. Foi uma revelação inesperada, até para ele. "Mas, ultimamente, tenho me afastado disso. A vida tem me levado para outros caminhos."
Soo-ah o olhou com genuína empatia, como se compreendesse a essência por trás de suas palavras. "A música também é uma forma de arte," ela comentou suavemente. "E eu acredito que toda forma de arte cura, de algum modo. Mesmo quando a gente está perdido."
Junho ficou em silêncio, absorvendo a profundidade do que ela disse. Havia algo de transformador naquelas palavras. Naquele momento, ele percebeu que seu encontro com Soo-ah não era apenas uma coincidência, mas uma espécie de intervenção do destino. Ela era como uma brisa leve, uma pausa em meio ao peso que ele carregava. Ele a admirou, ali, diante de sua barraca modesta, com um brilho que apenas as pessoas que ainda acreditavam no poder dos sonhos e da beleza genuína carregavam.
Quando finalmente se despediu, sentiu que algo dentro dele mudara, ainda que de forma sutil. E ao sair da feira, decidiu que voltaria no dia seguinte. Não sabia exatamente o que estava procurando, mas uma coisa era certa: Soo-ah o fazia sentir-se mais humano, como se, por meio da pureza e da arte que ela representava, ele pudesse encontrar algo que, há muito tempo, estava enterrado dentro de si.
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Atualizado até capítulo 58
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