Os dias começaram a passar, e Junho se via cada vez mais atraído pela simplicidade da feira e pela companhia de Soo-ah. Ele, que sempre fora tão cético quanto ao que chamam de destino, agora se pegava acreditando que havia algo de especial naquela garota que, de maneira inesperada, se tornara o ponto alto de suas semanas. Assim que suas obrigações empresariais o permitiam, ele seguia para aquele mesmo bairro, aquele pedaço de mundo onde podia se despir de títulos e do peso das responsabilidades para ser apenas alguém curioso, alguém em busca de algo que talvez nem ele soubesse definir.
Em um desses encontros, o cenário era típico de uma tarde de outono. A brisa estava fresca, e o céu, tingido de um azul suave, parecia refletir a calma que Soo-ah trazia consigo. Ela estava arrumando uma pilha de tangerinas, perdida em seus próprios pensamentos, quando Junho se aproximou. Ele observou, por um momento, as mãos dela — tão delicadas e firmes ao mesmo tempo, como se cada fruta fosse uma pequena obra de arte. Ele a admirava de longe, mas sabia que, para ele, aquilo não seria suficiente por muito tempo. Precisava conhecê-la mais profundamente.
“Soo-ah,” ele chamou, interrompendo os pensamentos dela.
Ela ergueu o olhar, surpresa, mas sorriu ao vê-lo. Havia uma familiaridade nas interações deles agora, algo que ambos reconheciam em silêncio, mas sem a necessidade de palavras. "Junho," ela respondeu, com um sorriso que parecia aquecer o clima frio da estação.
Os dois começaram a caminhar pela feira, conversando sobre trivialidades, mas Junho logo percebeu que, naquele dia, precisava falar sobre algo mais profundo. Ele nunca fora de abrir o coração para ninguém; sempre fora reservado, confiando apenas em si mesmo para enfrentar seus desafios. No entanto, ao lado dela, sentia uma segurança que nunca experimentara antes. Era como se, com Soo-ah, ele pudesse ser vulnerável, ainda que essa ideia o assustasse.
"Você já pensou em como tudo pode mudar de uma hora para outra?" ele perguntou, em um tom que a surpreendeu.
Soo-ah, percebendo a seriedade no olhar dele, respondeu com sinceridade. "Sim… A vida é frágil, e acho que, como artista, estou sempre ciente disso. Cada momento, cada expressão, tudo pode desaparecer num instante. E talvez seja por isso que eu tento valorizar o presente."
Junho hesitou, mas respirou fundo antes de continuar. “Algumas coisas são difíceis de lidar, sabe? Às vezes, mesmo com todo o poder e recursos do mundo, não conseguimos evitar certas situações.” Ele não queria revelar demais, mas sentia uma necessidade urgente de compartilhar ao menos um pouco do que estava enfrentando.
Soo-ah o observava com atenção, com uma empatia silenciosa que o encorajava a continuar. E assim, num impulso que ele mesmo não compreendia, ele contou a ela sobre seu diagnóstico, sobre a batalha invisível que enfrentava. Não entrou em muitos detalhes, mas mencionou o medo constante, a incerteza que pesava sobre ele, uma sombra que ninguém ao seu redor sabia existir. Para ele, aquilo era um teste de confiança, uma exposição de sua parte mais vulnerável.
Ela o ouviu em silêncio, absorvendo cada palavra com uma serenidade que parecia natural para ela. E quando ele terminou, ela segurou sua mão com delicadeza, num gesto que o pegou de surpresa. "Eu sinto muito que você esteja passando por isso," ela disse, a voz carregada de ternura. "Mas acho que a vida é feita de momentos. Cada momento pode ser vivido plenamente, independentemente do que o futuro traga. E, às vezes, a arte pode nos ajudar a expressar o que sentimos quando as palavras não são suficientes."
Aquelas palavras tocaram Junho de uma forma profunda. Era como se, naquele instante, ele tivesse encontrado algo que nunca soubera que procurava — um refúgio, um conforto em meio ao caos. Soo-ah não o tratava com pena ou como um homem prestes a desmoronar, mas sim como alguém que ainda tinha muito para viver, para experimentar e para sentir. Aquilo lhe deu forças que ele nem sabia ter.
Ao final da tarde, eles se despediram, mas Junho sentiu que algo dentro dele havia mudado. Ele não sabia se era o conforto da presença dela, a gentileza de suas palavras, ou talvez o simples fato de que, pela primeira vez, não se sentia sozinho em sua batalha. Soo-ah representava algo puro, uma lembrança de que, apesar das dificuldades, ainda havia beleza no mundo — e, talvez, uma esperança de que ele pudesse viver além da doença, além do medo.
Enquanto caminhava de volta, Junho percebeu que havia encontrado em Soo-ah mais do que uma distração. Ela era um ponto de luz em meio à escuridão que ele enfrentava. E, no fundo, ele sabia que, ao lado dela, estava começando a ver a vida de uma maneira completamente nova.
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Atualizado até capítulo 58
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