O relógio marcava pouco mais das sete da manhã, mas Clara já estava em sua mesa, revisando os documentos da reunião que Nicolas lhe atribuíra na noite anterior. Depois de ouvir os comentários de Sofia e do outro executivo, ela passara boa parte da madrugada tentando compreender tudo que o CEO esperava dela, entrelaçado àquela sombra de mistério que envolvia seu passado. Sentia-se atraída pelo desafio, mas, ao mesmo tempo, pressionada por uma responsabilidade que parecia grande demais para alguém em sua posição.
Seu café esfriava lentamente na mesa quando Nicolas apareceu. Ele não estava sozinho; ao lado dele, acompanhava-o Lucas, o analista de quem Clara começava a entender a personalidade e influência. Ele estava sempre sorridente, mas o sorriso não alcançava os olhos. Ao ver Clara, ele trocou um rápido olhar com Nicolas e manteve uma expressão de leve desdém que ela tentava ignorar.
“Clara, prepare-se. Hoje será um dia cheio,” disse Nicolas, direto. Ele entregou a ela uma pasta cheia de relatórios financeiros e apresentou o que seria sua primeira grande missão: uma reunião com potenciais investidores estrangeiros interessados em um novo projeto de tecnologia sustentável. “Você será responsável por organizar as informações para essa reunião. Preciso que esteja com tudo pronto para o briefing às três.”
A notícia pegou Clara de surpresa, mas ela se manteve firme. O simples fato de Nicolas confiar nela para uma tarefa tão importante significava mais do que qualquer elogio que ele poderia ter feito. “Entendido, senhor Monteiro. Não o decepcionarei.”
Lucas, ao seu lado, soltou uma risada seca. “Esperamos que não, afinal, esta empresa não é conhecida por ser tolerante com erros, não é, Clara?”
Clara sentiu o impacto da provocação, mas manteve a expressão neutra, decidida a não dar a ele o prazer de vê-la abalada. A presença de Lucas tornava-se cada vez mais irritante, mas ela sabia que precisava manter o foco. Nicolas observou a interação entre os dois com uma expressão indecifrável e, sem perder tempo, deu instruções adicionais para Clara, explicando o que esperava da apresentação e destacando pontos-chave sobre os investidores.
As horas seguintes foram uma verdadeira corrida contra o tempo. Clara mal se levantou de sua mesa, mergulhada em planilhas, relatórios e gráficos, absorvendo cada detalhe que pudesse ser relevante para o briefing. A cada nova descoberta, ela sentia uma confiança crescente, mesmo com as palavras afiadas de Lucas ainda ressoando em sua mente.
Já passava das duas e meia quando Nicolas a chamou para uma prévia da apresentação. No pequeno espaço de sua sala, Clara apresentou tudo o que havia preparado, cada número, cada projeção e cada detalhe do projeto que ela estudara. Nicolas ouvia atentamente, seus olhos fixos nela, avaliando cada palavra com a intensidade que ela já começava a reconhecer. Ao final, ele fez algumas pequenas correções, mas demonstrou uma satisfação silenciosa com o que ela havia feito.
Quando o relógio marcou três horas, Clara e Nicolas entraram na grande sala de reuniões onde os investidores os aguardavam. Eram figuras imponentes, falando entre si em inglês e francês, e Nicolas os cumprimentou com um charme natural, alternando entre as línguas com fluência e facilidade, o que impressionou Clara. Era um lembrete de que, além de toda a seriedade e mistério, ele era um homem capaz de cativar e dominar qualquer ambiente.
Durante a reunião, Nicolas conduziu a conversa com precisão cirúrgica, enquanto Clara, a seu lado, organizava e entregava as informações sempre que ele precisava. Ela observava o modo como ele falava, a forma como manipulava cada palavra para garantir que tudo fluísse a seu favor. Quando chegou a vez de Clara apresentar os dados que preparara, ela respirou fundo e manteve o olhar nos investidores, sentindo que aquele momento definiria se ela realmente pertencia àquele mundo ou não.
Para sua surpresa, cada ponto que ela apresentava era recebido com olhares de aprovação e algumas palavras de elogio. Ao fim da reunião, os investidores pareciam genuinamente impressionados, e Nicolas lhe lançou um olhar de aprovação, um simples gesto que, para Clara, parecia um prêmio após tanto esforço.
No entanto, ao sair da sala, Clara sentiu uma leve apreensão ao encontrar Lucas à espera do lado de fora. Ele não disse nada, apenas a observou com aquele sorriso enigmático. Ela sabia que ele não perderia a oportunidade de lhe provocar.
"Parabéns, Clara," disse ele com um tom falso de entusiasmo. "Espero que continue nessa maré de sorte. Nem todos têm tantas… oportunidades."
Clara sabia que o comentário era uma tentativa de desestabilizá-la, mas agora, depois de tudo, sentia-se mais forte. "Sorte ou esforço, o que importa é o resultado," respondeu, mantendo a postura firme.
Lucas, ainda com o sorriso forçado, deu de ombros. "Veremos se o esforço será suficiente."
Mais tarde, enquanto Clara organizava seus documentos, Nicolas entrou em sua sala e parou diante de sua mesa. Ele olhou diretamente para ela, seu rosto sério, mas havia uma leveza nos olhos que Clara nunca vira antes.
“Você fez um ótimo trabalho hoje,” disse ele, em um tom que quase soava caloroso. “Eu sabia que podia confiar em você.”
Clara sorriu, orgulhosa e grata, sentindo uma nova onda de determinação. “Obrigada, senhor Monteiro. Eu quero fazer a diferença aqui.”
Ele assentiu, observando-a por um instante antes de sair sem mais palavras. O silêncio que ele deixou após sair parecia dizer mais do que qualquer outra coisa. Era uma confiança discreta, mas poderosa, que Clara valorizava cada vez mais.
Ao voltar para casa naquela noite, Clara refletiu sobre tudo o que acontecera. A empresa, o ambiente competitivo, as tensões com Lucas e a presença intensa de Nicolas. Aquela rotina era exaustiva, mas, ao mesmo tempo, revigorante. Sabia que havia muito mais pela frente, e que o caminho seria cheio de desafios. Mas, por algum motivo, ela sentia que estava exatamente onde deveria estar.
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Atualizado até capítulo 76
Comments
Binha
eita como tem 🐍
2024-10-28
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