Clara mal dormiu naquela noite. Entre o calor da excitação e a frieza das dúvidas, sua mente girava em torno de cada detalhe da reunião com Nicolas. O olhar dele, tão desconcertante, não lhe saía da cabeça. A forma como ele parecia enxergá-la, como se visse algo além da aprendiz comum que ela era. Pela primeira vez, Clara se questionava sobre o que realmente a esperava na Legrand Corp. Era apenas um emprego, mas parecia ter se tornado o começo de algo maior — ou talvez, mais perigoso.
No dia seguinte, ao retornar ao escritório, sentia-se ainda mais ansiosa. A sala que Nicolas lhe indicara ficava próxima à dele, como uma sombra ao lado do sol. Clara tentava manter a expressão profissional, mas os olhares curiosos dos colegas de trabalho a deixavam nervosa. Sentia-se uma estranha, uma intrusa naquele ambiente onde o poder e o prestígio eram o passaporte. Funcionários mais experientes murmuravam entre si, tentando entender como uma aprendiz havia se tornado a nova protegida do CEO.
Enquanto organizava papéis e revia os documentos que Nicolas pedira, sentiu uma presença às suas costas. Era Sofia, uma analista conhecida por sua ambição. Tinha olhos frios e uma postura calculada que exalava um tipo de superioridade.
"Então, você é a queridinha do chefe agora, é?" Sofia sussurrou com um sorriso forçado, os olhos afiados, como se estivesse tentando intimidá-la.
Clara hesitou. Não queria criar conflitos, especialmente com alguém de quem ainda precisava aprender tanto. “Estou aqui para aprender, assim como qualquer outra pessoa,” respondeu com suavidade, mas firmeza.
Sofia riu, um som oco e mordaz. “Claro, querida. Mas já aviso: ninguém aqui consegue o que quer sendo só ‘mais um’. Você tem muito a provar, Clara.”
E com isso, Sofia se afastou, deixando no ar uma tensão que Clara sabia que só aumentaria dali em diante. Sabia que, para sobreviver, teria de ser mais do que apenas esforçada; precisaria de uma estratégia. Cada passo, cada palavra, precisava ser calculado. E assim que se sentou de volta, a campainha interna soou, indicando que Nicolas a chamava para seu escritório.
Ao entrar, encontrou Nicolas no telefone, com o olhar fixo na vista da cidade. Ele se virou ao vê-la, fazendo um sinal para que se sentasse. A conversa parecia tensa; Clara notava o maxilar dele travado, a postura rígida, como se estivesse prestes a explodir. Quando desligou, suspirou profundamente, e pela primeira vez ela percebeu uma pequena fissura naquela fachada impenetrável.
“Temos que ser rápidos, Clara,” ele disse, sem rodeios. “Você vai me acompanhar em uma reunião importante esta tarde. Preciso que estude esses arquivos e tenha as informações prontas. Preciso de alguém confiável ao meu lado.”
Ela assentiu, tentando esconder o nervosismo. Sabia que essa era sua chance de mostrar a ele que era capaz, mas a responsabilidade era esmagadora. Ele continuou falando, enquanto ela anotava tudo freneticamente, absorvendo cada instrução como uma esponja.
À medida que a reunião se aproximava, Clara se dedicou a estudar tudo o que podia. Cada detalhe era crucial, e ela sabia que o menor erro poderia ser o suficiente para colocá-la em maus lençóis. Quando a hora chegou, seguiu Nicolas até o andar de reuniões, o coração martelando. Ele não dissera uma palavra desde que saíram de seu escritório, mas a tensão entre eles era palpável.
Ao entrar na sala de reuniões, Clara notou a presença de outras pessoas influentes do setor. Executivos de outras empresas, todos eles pareciam avaliá-la como se fosse uma peça misteriosa no jogo que Nicolas montava. O CEO, com sua presença imponente, dominava o ambiente, e Clara o observava em ação, admirando a habilidade com que ele falava e direcionava a conversa.
Em um momento crítico, Nicolas a chamou para apresentar as informações que havia preparado. Era a primeira vez que todos os olhos se voltavam para ela, e sua voz quase falhou. Mas, como se sentisse a hesitação dela, Nicolas inclinou levemente a cabeça, um incentivo discreto. E isso foi tudo o que ela precisava. Clara se concentrou, apresentou os dados de forma clara, deixando todos impressionados com sua segurança. Quando terminou, viu um pequeno sorriso nos lábios de Nicolas, como se ele soubesse que ela faria exatamente aquilo.
Ao final da reunião, Clara sentia-se exausta, mas triunfante. Pela primeira vez, percebeu que talvez pudesse não apenas sobreviver ali, mas realmente fazer parte daquele mundo. Nicolas não lhe deu qualquer elogio direto, mas, enquanto caminhavam de volta ao escritório, ele fez uma pausa e olhou para ela com algo que parecia aprovação.
“Bom trabalho, Clara,” disse ele, em tom baixo. “Espero que continue assim.”
E ao dizer isso, Nicolas virou-se e desapareceu pelo corredor. Mas Clara sabia que aquele momento, aquele simples elogio, significava muito mais. Ela estava em um jogo onde cada passo era observado, e Nicolas havia lhe dado uma pequena vitória — mas o que ele esperava dela dali em diante era apenas o começo de uma nova e perigosa jornada.
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Atualizado até capítulo 76
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