..."Sua cabeça anda sem ter tempo pra pensar...
...Que antes era a gente e hoje é vida singular...
...E agora?...
...Pra quem 'tá solteiro, cidade grande é foda"...
...— Cidade Vizinha ( Henrique e Juliano)...
RODRIGO:
O som das placas de ferro batendo ecoa pela academia, misturado ao ronco baixo das esteiras e ao pop meio eletrônico tocando nas caixas de som. Já estou na metade da minha série de supino, com os braços começando a pesar, mas, mesmo assim, continuo.
A barra de ferro descia lentamente, e eu sentia o peso se acumulando nos braços. Concentração total. Pelo menos era isso que eu tentava manter. Inspirei fundo, empurrei a barra e ouvi o som das placas batendo no suporte.
— Boa! Mais uma série e fechamos — Thiago avisou, em pé ao lado do banco, monitorando meu ritmo.
Treinar com ele era sempre assim: incentivo constante e piadas nas entrelinhas. Ele estava na academia tanto para puxar ferro quanto para puxar conversa.
— Vamos lá, mais cinco! — Ele sorriu.
Peguei a barra novamente, e, enquanto meus músculos queimavam, a cabeça começou a vagar. Não era sobre o trabalho, nem o caso complicado em que eu estava metido. Na verdade, era sobre coisas soltas: aquela viagem que eu venho adiando, o projeto de aprender a surfar que nunca sai do papel, e o apartamento novo que parecia vazio demais, mesmo com todas as caixas já desfeitas.
Empurrei a última repetição, com Thiago dando uma forcinha no final. Ele descansou a barra no suporte e estendeu a mão.
— Foi pesado, hein? Tá pensando em quê? — ele perguntou, enquanto me sentava e passava a toalha pelo rosto.
— Nada específico. — Dei de ombros. — Só na vida, no geral. Acho que tô começando a perceber o quanto tudo anda na mesma, sabe?
Thiago se recostou na máquina de puxada alta, me observando com curiosidade. — Vai me dizer que você tá ficando reflexivo? Porque aí eu vou ter que te levar pra tomar uma cerveja.
— Nada tão dramático. — Ri baixo, mas o incômodo estava lá. — Só tô cansado dessa rotina: trabalho, casa, treino. Parece que tudo é previsível demais ultimamente.
— Isso é porque você não se dá uma folga. — Thiago deu um tapa amigável no meu ombro. — Você vive no automático, cara. Precisa parar de se cobrar tanto.
— Talvez. — Suspirei, ainda tentando encontrar um motivo claro para o que estava sentindo.
— E aquela viagem pra Florianópolis que você falou? Vai rolar ou era papo furado? — Ele perguntou, já sabendo a resposta.
Revirei os olhos.
— Papo furado. Ainda não deu tempo.
Thiago riu, balançando a cabeça.
— Aí está. Você nunca tem tempo, mas também nunca tenta encaixar nada diferente. Um fim de semana fora não vai desmoronar sua carreira, Rodrigo.
— É quem sabe...
Eu sabia que ele estava certo, mas, por algum motivo, era difícil mudar o ritmo. Era como se eu tivesse entrado em um ciclo e não soubesse como sair.
— Sabe o que eu acho? — Thiago falou, enquanto pegava os halteres para começar sua série. — Acho que você precisa de algo que te tire da zona de conforto. Pode ser uma viagem, um hobbie novo, Uma namorada... qualquer coisa. Mas ficar nessa bolha não vai te levar a lugar nenhum.
Fiquei em silêncio por um momento, refletindo. Ele tinha razão. Talvez fosse hora de sair do automático e tentar alguma coisa nova.
— Quem sabe um surf em Floripa, então. — Comentei, meio brincando, meio me convencendo.
Thiago sorriu.
— Isso aí. O mundo tá esperando, irmão. Só falta você se mexer.
...[...]...
Eu amava meu trabalho, mas os finais de semana estavam facilmente no top cinco das coisas que mais valorizava na vida. Recentemente, me mudei de apartamento porque o anterior ficava um pouco distante do tribunal, o que acabava complicando a minha rotina.
Ainda tinha algumas caixas para desempacotar, então aproveitei aquela tarde tranquila de sábado e me dediquei a organizar tudo. Quando terminei, já eram quase seis da tarde.
Talvez Thiago estivesse certo. Talvez eu precisasse mesmo sair da minha zona de conforto e encontrar algo mais para fazer. Afinal, eu tenho 33 anos, não posso ficar nessa vida de curtição para sempre.
Não que eu fosse um cafajeste, longe disso. Mas sou homem, e de vez em quando surgem uns rolos. Só que isso já não parecia o suficiente. Talvez eu estivesse realmente precisando de algo mais.
— A vida adulta deveria vir com um manual de instruções — murmurei, me sentindo meio perdido naquele apartamento recém-organizado.
A verdade é que eu nunca fui de me apegar. Meus relacionamentos, se é que posso chamar assim, eram sempre passageiros. No começo, parecia suficiente. Saídas descompromissadas, conversas leves, e quando o clima esquentava demais, eu já tinha um pé na porta. Não que eu não quisesse algo mais sério, mas as exigências da minha carreira sempre tomavam muito tempo de mim.
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Atualizado até capítulo 35
Comments
Sandra Regina
tá bom de mais
2024-11-15
1
Lucia Cezar
Capítulo maravilhoso.
2024-10-27
1
Dulce Gama
o livro tá bom tô gostando só não demora muito pra atualizar ok
2024-10-25
2