Capítulo 03

...Não é sua culpa eu estragar tudo...

...Não é sua culpa que eu não sou o que você precisa...

...Amor, anjos como você não podem voar para o inferno comigo...

...Eu sou tudo o que eles disseram que eu seria...

...— Angels Like you( Miley Cyrus)...

Fernanda Milani:

Odeio Rodrigo Vasconcellos. Com todas as forças que possuo. Com a intensidade de quem é obrigada a vê-lo quase diariamente e suportar suas piadinhas arrogantes como se fossem inevitáveis. Ele é o tipo de homem que não só faz questão de ser irritante, mas que se diverte vendo o quanto me tira do sério. 

E hoje ele está particularmente insuportável. 

Do outro lado da sala, ele se ajeita na cadeira, relaxado, como se estivesse em um happy hour e não no meio de uma audiência por homicídio. O infeliz parece ter nascido sabendo como estar no controle de qualquer situação. E o pior é que sabe que fica bem em qualquer coisa que veste. Aquele terno cinza escuro, por exemplo, só reforça a maldita aura de autoconfiança. O cabelo dele, como sempre, está penteado de um jeito desleixado e perfeitamente calculado, como se dissesse: *Eu nem me esforço e, mesmo assim, sou melhor que você.* 

Eu fecho meu fichário com um pouco mais de força do que deveria, tentando controlar a vontade de lançar alguma caneta na direção dele. Ele nota, claro. Rodrigo nota tudo. E como bom canalha que é, lança um sorriso presunçoso para mim. 

— Cansada já, doutora Milani? — ele provoca em voz baixa, só para eu ouvir. — Achei que seu tônus de perfeição durasse mais. 

— E eu achei que você soubesse quando calar a boca — devolvo sem hesitar, os olhos fixos nos papéis à minha frente. Não vou lhe dar o prazer de encará-lo. 

Ele solta uma risada curta, daquele tipo que faz o sangue subir à minha cabeça. 

— Calar a boca? Poxa, você é sempre tão doce comigo. 

— Acredite, Rodrigo, eu sou um anjo perto do que você merece. 

Antes que ele possa responder, o juiz volta à sala e nos silencia com uma batida seca do martelo. Respiro fundo e foco novamente no caso. No que importa.Não vou deixar que aquele sorriso irritante desvie minha atenção. 

— A defesa, pode continuar? — o juiz pergunta. 

Me levanto com a compostura de sempre e ajeito a jaqueta do terno. Sinto os olhos de Rodrigo em mim – ele sempre faz questão de me observar como se eu fosse alguma espécie de desafio pessoal.

Mantenho a expressão neutra, como se ele não estivesse ali, mas sei que está. Ele sempre está. 

— Excelência, como eu dizia... — começo, retomando meu argumento e lançando uma nova série de questionamentos que Rodrigo vai precisar contornar se quiser alguma condenação. Não vou facilitar para ele. Não mesmo. 

Durante meu discurso, faço questão de não olhar para ele, mas sinto a presença dele do outro lado da sala, como se cada palavra minha o divertisse de alguma forma. Ele é assim. O tipo de pessoa que acha graça em me testar. 

Eu aperto a mandíbula e volto a focar no que importa. A audiência ainda está longe de terminar, mas uma coisa é certa: se eu não acabar com Rodrigo Vasconcellos nessa sala, pelo menos vou garantir que ele nunca esqueça quem é Fernanda Milani. 

E, se tiver sorte, um dia desses consigo arrancar aquele maldito sorriso da cara dele. Nem que seja à força.

...[...]...

Assim que fecho a porta do apartamento, solto um suspiro longo, daqueles que parecem carregar o peso de todo o dia. Jogo a bolsa no sofá e chuto os sapatos para longe, sentindo um alívio imediato por estar finalmente em casa. Um dia inteiro encarando Rodrigo Vasconcellos não é para qualquer um. Mas eu sobrevivi. De novo. 

Minha melhor amiga e sócia, Camila, surge na sala com uma taça de vinho na mão e um sorriso travesso. Ela é exatamente o oposto de mim: descontraída, espirituosa e sempre pronta para rir da minha desgraça. Está usando uma camiseta da nossa marca, com o bordado "Nem todo caos precisa de solução, às vezes só de vinho." no peito. 

Ela ta passando um tempo na minha casa ja que seu apartamento esta em reforma.

— Como foi a guerra? — ela pergunta, estendendo uma taça para mim. 

— Exaustiva. E irritante. Como sempre. — Pego a taça e me deixo afundar no sofá, sentindo o corpo relaxar pela primeira vez no dia. 

Camila senta ao meu lado, apoiando os pés na mesinha de centro, como se aquela fosse a coisa mais natural do mundo. E, para ser justa, é. Nossa amizade funciona assim: minha rigidez encontra o caos dela e, de alguma forma, a gente se equilibra. 

— Deixa eu adivinhar... — Camila dá um gole na bebida e me lança um olhar de espertinha. — Rodrigo? 

Reviro os olhos. Só de ouvir o nome dele, meu corpo todo já reage: os músculos da nuca tensionam e a mandíbula volta a apertar. 

— Quem mais seria? — respondo, quase exasperada. — Ele é insuportável, Camila. Hoje ele passou a audiência inteira com aquele sorrisinho debochado, como se o mundo fosse uma grande piada e eu, o principal entretenimento. 

Camila ri, claro. Porque para ela, Rodrigo é apenas um “desafio divertido”. Ela não precisa aturá-lo todos os dias. 

— Admito, ele tem um charme irritante. — Ela ergue a sobrancelha, provocando. — E você sabe que ele adora te provocar, né? Acho que nunca vi ninguém mexer tanto com você. 

— Porque ele é um idiota completo. — Dou um longo gole no vinho, tentando afastar a lembrança daquele sorriso insuportável. 

Camila me observa por um momento, como se ponderasse alguma coisa. 

— E você tem certeza de que é “só” ódio o que você sente? — ela pergunta com uma expressão curiosa. 

— Não comece. — Aponto para ela com a taça de vinho. — Não é esse tipo de história. 

— Claro que não. — Ela dá de ombros, mas o sorriso travesso não sai do rosto. — Só acho engraçado que toda vez que você fala dele, parece mais viva. Mesmo que seja pra reclamar. 

Solto um suspiro frustrado e me recosto no sofá, deixando a cabeça tombar para trás. 

— O problema é que ele faz isso de propósito. Rodrigo sabe exatamente como me irritar e se diverte vendo cada segundo disso. É como se eu fosse o brinquedinho favorito dele. 

— Talvez ele só esteja esperando você parar de fugir e dar uma chance. 

Viro para ela, incrédula. 

— Camila, você bebeu demais. 

— Só um pouquinho. — Ela ri e termina sua taça. — Mas, fala sério... E se ele não fosse promotor? E se ele não estivesse sempre competindo com você? Você acha que... sei lá, talvez...? 

— Não. — Corto rápido. — Mesmo sem as piadas e a rivalidade, ele ainda seria Rodrigo Vasconcellos. E isso já é motivo suficiente pra mantê-lo a quilômetros de distância. 

Camila ergue as mãos em rendição, mas ainda há aquele brilho divertido nos olhos dela. 

— Tá bom, tá bom. Sem romance com o promotor bonitão. Por enquanto. 

Ignoro a provocação e termino minha taça, tentando me convencer de que tudo que sinto por Rodrigo é ódio puro e simples. 

Mas lá no fundo, uma pequena e irritante voz me lembra que, se fosse só isso, ele não ocuparia tanto espaço nos meus pensamentos. 

E esse, definitivamente, é um problema que eu não quero admitir.

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Comments

Angela

Angela

comecei a ler em 08 de março
feliz dia internacional da mulher pra você autoraaaaaaaa ❤️
e todas as leitoras maravilhosas que te seguem 😉😘

amando cada capítulo...
o hot desses dois será apocalíptico 😁 🔥

2025-03-08

1

Professora Graça de Língua Portuguesa e Filosofia

Professora Graça de Língua Portuguesa e Filosofia

Autora, estou aqui ansiosa pelo momento em que eles se deixarão levar pela paixão... será maravilhoso!

2024-11-24

2

Heloisa Guerrera

Heloisa Guerrera

Qdo se entregarem um ao outro vai ser uma explosão ❤❤🚀🚀

2024-11-25

1

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