Jacira
Enquanto Lucas conversa com meu pai, o Pajé, sinto a tensão pairar no ar. A professora Paula se aproxima de mim, entrelaçando os braços nos meus, e sussurra:
— Acha que seu pai vai aceitar ele aqui? Contando a história de vocês?
Suspiro profundamente, refletindo sobre a situação.
— Eu não sei. Às vezes é difícil compreender meu pai.
Ela assente, seu olhar preocupado me conforta um pouco. Nesse momento, meu pai me chama:
— Jacira, se aproxime.
Sem hesitar, Paula me lança um olhar encorajador, e eu sigo em direção a eles, posicionando-me ao lado de Lucas.
— Sim, pai Pajé, estou aqui — digo firmemente, mantendo o olhar fixo nele.
Meu pai começa a queimar algumas ervas, o aroma das fumaças se espalhando pela tenda, trazendo um toque sagrado ao ambiente.
— Você ficará encarregada de mostrar a ele alguns de nossos costumes e sanar suas dúvidas. Mas somente o que eu permitir — afirma ele, a voz grave e autoritária.
Engulo em seco, ciente da responsabilidade que estou assumindo, e afirmo:
— Farei isso.
Lucas, parecendo surpreso com a determinação de meu pai, esboça um sorriso e pergunta:
— Então isso é um sim, senhor?
A atmosfera muda levemente, e sinto um misto de alívio e apreensão. A resposta de meu pai não é apenas uma autorização; é um sinal de que Lucas pode realmente ter a chance de entender nosso mundo.
— Sim, é um sim — responde meu pai, mantendo um olhar sério, mas com um leve toque de aprovação. — Mas lembre-se, Lucas, respeito é fundamental. Nossas histórias são sagradas.
Lucas acena, o sorriso se ampliando, e eu percebo que, por trás de sua confiança, há um genuíno desejo de aprender. Enquanto meu pai continua a preparar o ritual, sinto que este pode ser o início de algo significativo, tanto para nosso povo quanto para Lucas.
O cheiro das ervas queima no ar, misturando-se ao som distante da floresta, e percebo que estou prestes a guiá-lo em um caminho que pode mudar nossas vidas para sempre.
Meu pai, sem perder tempo, segura uma vasilha contendo uma erva que continua a queimar, exalando sua fumaça densa e perfumada.
— Agora, aproxime-se mais, Lucas — diz ele, a voz firme e direta.
Lucas, um pouco intrigado, avança hesitante.
— O que é isso, senhor? — pergunta, a curiosidade evidente em seu olhar.
Meu pai não hesita em responder:
— É um ritual de preparação e limpeza. Preciso retirar a energia densa que você trouxe consigo. Agora, abra os braços.
Lucas assente, um pouco sem jeito, e lentamente abre os braços. Meu pai inclina-se, passando a vasilha sobre ele, permitindo que a fumaça o envolva como um manto etéreo. Sinto a tensão no ar enquanto observo essa cena, as chamas dançando suavemente na vasilha.
Os olhos de Lucas encontram os meus, e um lampejo de incerteza brilha neles, mas também há uma curiosidade palpável. A fumaça flui, cercando-o em um abraço etéreo, e por um momento, tudo parece suspenso.
Então, de repente, Lucas começa a tossir, a fumaça penetrando em seus pulmões de forma inesperada. Um riso involuntário escapa de mim, e a cena se torna quase cômica, quebrando a seriedade do momento.
Ele me olha novamente, agora com um sorriso genuíno, apesar da tosse. O contraste entre sua vulnerabilidade e a autenticidade de seu sorriso me faz sentir uma conexão mais forte.
— Parece que a limpeza está funcionando — digo, tentando controlar o riso, enquanto a fumaça se dissipa lentamente ao nosso redor.
Meu pai observa, um leve sorriso se formando em seus lábios, satisfeito com a reação de Lucas.
— Este é apenas o começo, jovem — ele avisa. — Mas é essencial que você se desprenda do que não serve mais.
Lucas, recuperando-se da tosse, olha para meu pai com seriedade.
— Estou pronto para isso — responde ele, a determinação visível em seu tom.
Enquanto a fumaça esmorece, sinto que algo especial se forma neste instante. A aceitação de Lucas, embora ainda delicada, começa a se entrelaçar com a sabedoria de meu pai, e percebo que estamos prestes a abrir um novo capítulo em nossas vidas.
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Atualizado até capítulo 25
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