(5) "Medos e Incertezas"

Jacira

Assim que deixo Lucas na tenda onde ele irá ficar, adentro a minha tenda, onde divido o espaço com a professora Paula. O ambiente é familiar, mas a presença de Lucas ainda ecoa na minha mente, trazendo uma confusão de emoções que eu prefiro ignorar.

Retiro minhas vestes molhadas, sentindo o frio da chuva em minha pele, e encho a banheira de bambu com água quente. Assim que mergulho, fecho os olhos e me permito relaxar por um momento. O calor envolve meu corpo, e o som da chuva caindo do lado de fora cria uma atmosfera íntima e tranquila.

Lembro do que Lucas disse, sobre a chuva ser um relaxante natural, e balanço a cabeça, tentando afastar esses pensamentos, ao dizer para mim mesma:

— Para de pensar nele, Jacira! Ele é um homem branco! E você não deve confiar totalmente nele. Precisa estar atenta, alerta ao perigo.

Enquanto me deixo levar pela água, a dúvida se instala em mim. A curiosidade que sinto por Lucas é desconcertante, e uma parte de mim se pergunta se essa é uma abertura para algo novo ou um convite ao desastre.

Nesse momento, Paula aparece com seu caderno de anotações em mãos, sentando-se em uma rede próxima. Ela me observa com um olhar inquisitivo e diz:

— Como foi? Ele está se adaptando bem?

Balanço a cabeça, confirmando para ela. O gesto é automático, mas há uma hesitação em mim, uma parte que se pergunta o que realmente significa "se adaptar". Contudo, Paula não parece satisfeita com a resposta superficial.

Ela me olha fixamente e diz:

— E essa carinha aí, senhorita Jacira? Eu te conheço. Você gostou dele, não foi?

Jogo um pouco de água da banheira para o lado dela, tentando disfarçar a irritação que surge, dizendo:

— Não! Eu não... ele só é... estranho, e me deixa desconfiada, é isso.

Paula levanta uma sobrancelha, desafiadora, enquanto um sorriso brinca em seus lábios.

— Estranho? Ou intrigante? — provoca, claramente se divertindo com a minha defesa.

Respiro fundo, tentando recuperar o controle da conversa. Não quero que ela perceba o turbilhão de emoções que sinto. Lucas é um enigma, e essa incerteza me deixa nervosa.

— Ele é diferente, isso é tudo — digo, forçando uma indiferença na voz. — É só que... ele não pertence a este lugar. A forma como ele fala, como se move... eu não sei, Paula.

Ela observa atentamente, como se estivesse tentando decifrar um quebra-cabeça.

— Jacira, você já se deu conta de que está se importando mais do que gostaria? — pergunta, com um tom suave, mas incisivo.

Isso me faz hesitar. Será que realmente estou me importando? A verdade é que a presença de Lucas mexeu comigo de uma maneira que eu não esperava. Um misto de curiosidade e resistência se instala em mim, e essa tensão é difícil de ignorar.

— Eu só... não quero que ele atrapalhe o que temos aqui — respondo, buscando uma justificativa. — Nossas tradições, nossa cultura. Não podemos permitir que estranhos venham e nos mudem.

Paula se inclina, olhando nos meus olhos e, diz:

— Mas talvez ele não esteja aqui para mudar nada, Jacira. Às vezes, a verdadeira conexão vem de entender e aprender com o diferente.

Suas palavras ecoam dentro de mim. Não posso negar que há algo em Lucas que desafia meu entendimento. Um desejo de saber mais, de entender sua perspectiva. Mas também há um medo que me impede de me abrir.

— Você confia no que sente? — Paula pergunta, interrompendo meus pensamentos.

Fico em silêncio, pensando na pergunta. A resposta não é simples. Sinto que há algo além da superfície, uma atração que eu não posso ignorar, mas que também me assusta.

— Eu não sei — confesso, finalmente. — É complicado.

Paula sorri, como se soubesse que essa confissão é um passo, então diz:

— Às vezes, o primeiro passo é reconhecer que não temos todas as respostas. E isso é perfeitamente aceitável.

A conversa flui, e enquanto a chuva continua a cair, sinto um alívio ao poder compartilhar meus sentimentos com alguém que entende o peso das expectativas.

— Então, o que você vai fazer? — ela pergunta, inclinando-se um pouco mais, como se estivesse me encorajando a olhar para dentro.

Respiro fundo, tomando coragem para me abrir e, respondo:

— Eu preciso ser cautelosa. Mas, ao mesmo tempo, quero entender o que está acontecendo dentro de mim.

Paula acena com a cabeça, solidária, respondendo:

— Isso é bom, Jacira. Não tenha medo de explorar. Às vezes, o que mais tememos pode se tornar a maior fonte de aprendizado.

Enquanto as palavras dela se instalam em mim, a água da banheira me envolve como um abraço. Posso sentir que essa jornada está apenas começando, e, talvez, seja hora de me permitir explorar o desconhecido, mesmo que isso signifique confrontar meus medos e incertezas.

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