(17) "Momento Inesperado"

Jacira

Com coragem e amor, decidimos que é hora de seguir em frente. O dia amanhece ensolarado e fresco, com a luz dourada filtrando-se pelas árvores que cercam a aldeia. Os sons da natureza e os afazeres matinais preenchem o ar. O cheiro do café fresco mistura-se com a terra úmida, criando uma atmosfera acolhedora e vibrante.

Eu e Paula estamos na cozinha comunitária, nossas mãos ocupadas em moldar bolinhos de milho, enquanto a massa amarela se gruda em nossos dedos. Ela, com seu jeito radiante e brincalhão, vira-se para mim, um sorriso travesso iluminando seu rosto.

— Jacira, você não acha que já passou da hora de você e o Lucas darem uns beijos? — pergunta ela, com os olhos brilhando de expectativa.

Meus olhos se arregalam, e um frio na barriga me faz perder a concentração. O bolinho que estou moldando escorrega de minhas mãos, e eu gaguejo, alarmada:

— O que você está dizendo, Paula? Isso não tem nada a ver!

Ela ri, um som leve e contagiante, enquanto eu tento esconder a cor que sobe ao meu rosto. Neste momento, a ideia parece absurda, mas uma parte de mim não consegue ignorar a faísca que existe entre mim e Lucas. A lembrança de seus sorrisos e da forma como me olha faz meu coração acelerar.

— Você está pensando muito! — provoca ela, balançando a cabeça com um ar de cumplicidade. — Às vezes, só precisamos de um empurrãozinho.

Respondo com uma risada nervosa, mas internamente, já começo a refletir sobre o que significaria esse “empurrãozinho”. A cozinha está repleta de risos e conversas, mas, neste instante, tudo o que consigo ouvir é a batida do meu coração e a voz de Paula, insinuando possibilidades que nunca considerei antes. Depois de terminarmos os bolinhos de milho, a animação contagiante toma conta do lugar.

(...)

À tarde, enquanto estamos sentadas próxima de uma árvore, Paula se inclina para mim, com um brilho travesso nos olhos.

— Jacira, tenho uma ideia incrível! — diz ela, sussurrando. — Que tal a gente ir até o riacho para nadar?

Sinto uma empolgação misturada à apreensão.

— Claro, eu adoro dar uns mergulhos — respondo, sorrindo.

— Ótimo! Mas você pode ir indo na frente, eu te encontro lá um pouco depois, ok? — sugere Paula, com um sorriso enigmático.

Intrigada, concordo. A ideia de um momento só para nós, longe da agitação da aldeia, me anima. Caminho até o riacho, o som da água fluindo criando uma melodia relaxante. Quando chego, tiro rapidamente minhas roupas e mergulho na água fresca. O cenário é mágico, cercado por árvores e a luz do sol filtrando-se através das folhas.

Depois de alguns minutos, ouço passos e, ao olhar para cima, esperando ver Paula, vejo Lucas se aproximando. Meus olhos se arregalam em descrença, e instintivamente cubro meus seios com os braços.

— O que você faz aqui, Lucas? — esbravejo, impaciente, a vergonha me invadindo.

— A Paula disse que você pediu para me encontrar aqui — ele diz, nervoso, a expressão confusa.

Meu coração dispara. A surpresa e a vergonha por Lucas estar aqui, enquanto estou nua na água, me dominam.

— Eu vou matar a Paula! Eu não disse nada disso! — respondo, a adrenalina correndo.

O clima que se segue é tenso e desconcertante. Lucas leva a mão até a nuca, em um gesto que demonstra que ele está tão desconfortável quanto eu. O silêncio pesa entre nós, e eu sinto a água fria em contraste com o calor que surge no meu rosto.

— Eu não queria interromper… — ele tenta, mas as palavras falham. O olhar dele busca o meu, confuso e curioso.

A situação é embaraçosa, mas há algo mais no ar. A tensão entre nós é palpável, e eu sinto meu coração acelerar. Lucas dá um passo em minha direção, o olhar se intensificando.

— Desculpe por estar aqui assim… — ele murmura, tentando quebrar o gelo.

— Não precisa pedir desculpas — digo, tentando aliviar a situação. Mas o nervosismo ainda paira entre nós.

— O que você estava fazendo? Nadando sozinha? — ele pergunta, o tom dele mudando para algo mais descontraído, como se tentasse tornar o momento menos constrangedor.

— Era só um momento para relaxar… — respondo, olhando para a água. — Agora estou pensando em como vou me vingar da Paula.

Ele ri, e a leveza retorna à conversa.

— Ela parece boa em arrumar essas confusões — Lucas comenta, a tensão começando a se dissipar.

— E eu caí direitinho! — eu digo, rindo nervosamente.

Nesse momento, a atmosfera muda. O riacho, antes apenas um cenário, agora parece criar um espaço seguro entre nós. Lucas me observa, e, por um instante, tudo ao nosso redor desaparece.

— Jacira… — ele começa, hesitante, e eu prendo a respiração.

O olhar dele é intenso, e a proximidade entre nós aumenta.

— Desculpe… eu não queria te trazer transtorno — ele diz, a voz um pouco mais baixa, quase como um sussurro.

Eu sinto uma mistura de emoções. A vergonha inicial se transforma em algo mais, uma curiosidade crescente. E, pela primeira vez, a ideia de estar aqui, com Lucas, não parece tão ruim.

— Bem, agora você já está aqui — respondo, tentando ser leve, mas meu coração não para de acelerar.

Lucas dá um passo mais perto, e o momento se torna eletricamente carregado. O som da água e a luz do sol criam uma atmosfera quase etérea ao nosso redor.

— E agora? O que fazemos? — ele pergunta, um sorriso tímido surgindo em seus lábios.

Seu sorriso me dá coragem. E, sem pensar muito, digo:

— Que tal entrar na água?

Com a proposta no ar, a tensão entre nós se transforma em expectativa. Mas só então, quando Lucas retira sua roupa e adentra na água de sunga, a realidade me atinge como um balde de água fria: estou nua. O que foi que eu fiz? A pergunta ecoa em minha mente, causando um tumulto interno.

Volto um pouco para trás, tentando me esconder, ainda tapando meus seios com os braços. O olhar dele, intrigado, se fixa em mim.

— O que foi? — Lucas pergunta, a confusão evidente em seu tom.

A inquietação toma conta de mim. Me pergunto se ele não consegue enxergar minha nudez através da água, e, nesse momento, os olhos dele descem involuntariamente, avaliando minha silhueta.

Sinto meu coração disparar, e um frio na barriga me invade.

— Céus! Eu não sabia que você estava... — ele começa, mas as palavras ficam presas em sua garganta.

O rubor que se espalha pelo rosto dele é instantâneo, e ele rapidamente desvia o olhar, quase como se estivesse tentando se proteger do que acabou de ver. Lucas se vira de costas, tentando se recompor, mas a expressão dele diz tudo.

— Desculpe! — eu apresso em dizer, a vergonha me dominando. — Eu não sabia que você viria! Paula…

A menção do nome de Paula ecoa no ar como uma desculpa, mas não consigo evitar a sensação de que tudo isso é um grande erro. Lucas vira a cabeça levemente, como se estivesse tentando se certificar de que eu realmente estou aqui, e não apenas em sua imaginação.

— É… eu realmente não esperava que você estivesse assim — ele responde, a voz falhando um pouco. — Mas, ei, não precisa ficar assim!

O calor ainda queima em meu rosto, mas a leveza em sua voz parece quebrar o gelo. O rio murmura suavemente ao nosso redor, e, por um instante, a tensão se transforma em uma curiosidade compartilhada.

— Certo, então… — digo, tentando retomar a normalidade. — Que tal a gente nadar um pouco?

Lucas finalmente se vira de frente, e a expressão dele é de surpresa e alívio. Ele dá um passo mais próximo, e, apesar do constrangimento, sinto uma centelha de algo novo entre nós.

— Vamos lá! — ele diz, um sorriso tímido se formando em seus lábios. A atmosfera, que antes era carregada de vergonha, agora parece vibrar com uma expectativa.

E assim, mergulhamos juntos na água, tentando esquecer o constrangimento inicial, deixando que as risadas e as brincadeiras nos ajudem a relaxar. Mas, no fundo, eu sei que algo mudou. Este momento, inesperado e intenso, já não é apenas sobre nadar; é sobre descobrir o que essa nova dinâmica entre nós pode significar.

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