...Luca, Serena e Aurora estavam sentados no chão da sala de Luca, o ambiente ainda refletindo o estresse da batalha que acabara de ocorrer no bosque. As paredes, antes tão silenciosas, agora pareciam testemunhar o cansaço e a dor que emanavam dos três amigos. Uma hora havia se passado desde que enfrentaram a adversidade, mas as marcas daquela luta ainda estavam presentes em seus corpos e mentes....
...Aurora, tentando se acomodar na posição cruzada que havia adotado, sentiu uma pontada de dor no ombro. Ele olhou para os lados, notando as expressões cansadas dos amigos. Serena estava ao seu lado, concentrada em passar um ungüento sobre os arranhões e machucados que cobriam o corpo de Aurora. O cheiro do remédio, um pouco forte, era reconfortante e, ao mesmo tempo, fazia a pele de Aurora arder levemente, mas ele sabia que era necessário....
...“Acho que perdemos.” disse Luca, quebrando o silêncio e olhando para o chão. Sua expressão era uma mistura de frustração e tristeza....
...Aurora balançou a cabeça, tentando encorajar o amigo. “Talvez um empate. Sua Death conseguiu fazer algum estrago.”...
...“Eu tentei invocar minha Death para avisar a vocês... mas, por algum motivo, não consegui. Me desculpem.” Luca continuou, a voz baixa e cheia de arrependimento....
...“Está tudo bem. No final de tudo, você nos salvou.” respondeu Aurora, tentando infundir confiança nas palavras, mesmo que ele mesmo estivesse se sentindo inseguro....
...Luca olhou para sua mão, como se visse algo além da pele, e murmurou: “A Death nos salvou...” O peso das palavras pairou no ar, e todos sentiram a gravidade do que tinham enfrentado....
...Serena terminou de passar o remédio sobre as feridas de Aurora, cuidando dele com delicadeza. Com um gesto de determinação, ela pegou um pouco mais do ungüento e se virou para Luca. “Aqui, deixa eu fazer o mesmo com você.” Ela começou a aplicar o remédio nas áreas arranhadas e machucadas de Luca, que observava a ação em silêncio....
...“É verdade..” Luca finalmente falou, trazendo de volta o assunto que os deixava inquietos. Aurora olhou para ele, sem entender, e sentiu uma leve inquietação em seu estômago....
...“Eles viram meu rosto...” Luca completou, e as palavras pesaram sobre todos como uma sombra....
...Aurora desviou o olhar para baixo, lutando para processar a nova informação. A realidade do que tinham enfrentado no bosque começava a se desenhar mais sombria. Eles não apenas lutaram contra inimigos; agora, a possibilidade de serem reconhecidos pelos seus adversários se tornava uma preocupação real. A insegurança e a vulnerabilidade preenchiam o espaço, e Aurora sentiu a pressão da situação o oprimir....
...Na sala principal do palácio imperial, onde a presença do poder e da autoridade era quase palpável, o Daimyo estava sentado em uma cadeira de madeira escura esculpida, com entalhes ornamentados que refletiam sua posição e importância. Em suas mãos, ele segurava um pedaço de papel, onde estava fixada uma pequena foto de um jovem com expressão determinada: Luca. O olhar do Daimyo era impassível, mas quem o conhecia bem sabia reconhecer um traço de preocupação em seus olhos....
...Ele suspirou levemente e, após alguns instantes, guardou o papel na gaveta da mesa de madeira robusta. Ao seu lado, o arauto Lin observava atentamente, esperando o próximo comando....
...O Daimyo levantou o olhar para Lin e falou em um tom ponderado, mas firme: “Certo.” A palavra soou quase como um ponto final, mas Lin sabia que o assunto estava longe de ser resolvido....
...“E sobre o assunto daquele cientista?” o Daimyo perguntou, desviando o assunto com uma ligeira mudança na expressão....
...Lin inclinou-se, com um tom respeitoso e alerta. “Chris?”...
...O Daimyo fez um breve aceno de confirmação, os olhos semicerrados, como se considerasse uma série de possibilidades ao mesmo tempo. “Sim, sim. Notícias?”...
...Lin respirou fundo antes de responder. “Já faz algumas semanas desde a última informação que tivemos sobre ele. Mas estamos em busca constantemente, excelência…” Ele deixou a frase no ar, escolhendo as palavras com cuidado, consciente de que a situação era delicada....
...O Daimyo levou a mão à testa, pressionando-a por um instante, um gesto que raramente demonstrava em público. Seus ombros pesavam um pouco mais, e o cansaço parecia transparecer pela primeira vez. “Agora são dois problemas…” murmurou ele, em um tom mais suave, quase um desabafo para si mesmo....
...Lin percebeu a breve vulnerabilidade e, numa tentativa de oferecer apoio, se aproximou mais. “Essas situações são complexas, excelência. Mas sabemos que há poucas coisas que o senhor não consegue controlar.”...
...O Daimyo ergueu o olhar e deixou escapar um sorriso de canto, uma expressão quase imperceptível, mas que trazia uma sombra de esperança. “Talvez você esteja certo, Lin. Mas a questão é que, ao lidar com jovens como esse…” Ele apontou levemente para a gaveta onde guardara a foto de Luca. “…e com mentes imprevisíveis como a de Chris, cada decisão parece ter um peso ainda maior.”...
...Lin assentiu, sentindo o peso das palavras. “Vamos continuar nossa busca, Daimyo. E em breve, traremos respostas.”...
...O Daimyo suspirou mais uma vez, mas agora sua postura parecia recuperar o vigor e a firmeza de sempre. Ele voltou a se acomodar na cadeira, olhando para Lin com uma expressão mais resoluta. “Faça o que for necessário. Eles não podem continuar livres, ignorando as regras e ameaçando nosso equilíbrio.”...
...Lin fez uma reverência respeitosa, ciente de que a situação exigiria persistência e sagacidade....
...Três anos atrás, no imponente edifício da Anti-Essentia Corporation (A.E.C.), um ambiente repleto de tecnologia de ponta e rigor científico, uma equipe de mentes brilhantes trabalhava incansavelmente. Localizada no meio da cidade, a estrutura da A.E.C. dominava o horizonte, com seus andares altos e revestidos de metal, que reluziam sob o sol, passando uma sensação de frieza e poder....
...Os cientistas, todos eles Nox, circulavam pelos corredores e laboratórios, cada um vestido com jalecos impecáveis, imersos em dados e fórmulas complexas. A atmosfera era densa, mas ordenada, com o som de máquinas e computadores processando informações. O trabalho era preciso, focado, e todos ali partilhavam de uma visão comum: a criação de armas e dispositivos que pudessem conter o poder dos Vitalis e, de certa forma, equilibrar o mundo para que tanto Nox quanto Vitalis pudessem coexistir em harmonia — ou ao menos era o que acreditavam profundamente....
...Em meio a esse ambiente controlado, um cientista destacado pelo seu brilhantismo e ambição começava a questionar silenciosamente o que realmente significava o poder dos Vitalis. Chris, conhecido por sua inteligência e percepção aguçada, era um homem de poucas palavras, mas de mente ativa. Ele observava os relatórios, as análises sobre Essentia e os impactos que essa energia tinha tanto nos Vitalis quanto no mundo ao redor....
...Enquanto muitos de seus colegas viam o desenvolvimento de armas contra os Vitalis como uma necessidade para a paz, Chris começava a ter pensamentos diferentes. Ele se perguntava sobre o verdadeiro potencial da Essentia e o porquê de ela manifestar-se de forma tão única nos Vitalis....
...Era uma noite silenciosa no imenso prédio da Anti-Essentia Corporation. As luzes frias dos laboratórios iluminavam parcialmente os corredores vazios, refletindo nas paredes de aço e vidro, dando ao ambiente um ar quase asséptico, como se até mesmo os pensamentos ali precisassem ser controlados. Chris, com seu jaleco ainda bem alinhado, estava terminando os últimos detalhes de seu trabalho, quando ouviu vozes próximas....
...A alguns metros de onde estava, dois cientistas conversavam, sem perceber que ele os escutava. Eles falavam em um tom baixo, mas curioso, com uma ponta de especulação....
..."Às vezes eu me pergunto.." um deles murmurou, "se juntássemos o sangue de um Vitalis em um Nox... o que aconteceria?"...
...O segundo cientista hesitou por um instante, respondendo em tom de dúvida: "Talvez... talvez o Nox morresse."...
...O primeiro cientista, sem muita certeza, murmurou de volta, "Talvez."...
...Chris ouviu atentamente. Os dois cientistas logo se despediram dele com um simples "Tchau, Chris." saindo pela porta com passos leves. Quando ficaram sozinhos, Chris sentiu um incômodo novo no pensamento. Ele continuou a arrumar seus pertences, mas agora com a mente longe dali, os olhos ligeiramente fixos em algum ponto, como se estivesse contemplando aquela ideia....
...Quando finalmente guardou tudo na sua mala, saiu do edifício, atravessando o estacionamento silencioso sob o céu noturno, onde as luzes urbanas lançavam sombras que se misturavam aos seus próprios pensamentos. Ele entrou em seu carro, e após fechar a porta, o silêncio dentro do veículo o envolveu ainda mais....
...Apertando o volante com um ar pensativo, ele deu a partida e começou a dirigir pelas ruas quase desertas, enquanto aquelas palavras ecoavam em sua mente: “E se…?”...
...A pergunta parecia agora se expandir em possibilidades. A ideia de entender a Essentia, aquele poder que fazia dos Vitalis algo único, capturava a atenção de Chris. Enquanto as luzes da cidade passavam rapidamente pelas janelas, ele se perguntava até onde essa linha de raciocínio poderia levá-lo....
...Chris era um homem movido pela curiosidade. Desde a infância, ele havia sido cativado pelo mundo da ciência, cada descoberta e avanço era um combustível para seu espírito. No trabalho, ele era conhecido pela vontade de testar novas ideias, sempre em busca de algo inédito que pudesse contribuir para a ciência e para o futuro. Mesmo na Anti-Essentia Corporation, onde tudo seguia um padrão rígido, essa chama interior não se apagava....
...Ao chegar em casa naquela noite, ele estacionou o carro cuidadosamente na garagem. O motor silenciou, e Chris permaneceu um momento dentro do veículo, respirando fundo e deixando os pensamentos sobre os experimentos e as conversas que ouvira se dissolverem. Com um último suspiro, ele abriu a porta e saiu, fechando-a atrás de si com calma....
...Assim que abriu a porta da casa, uma voz animada ecoou pela entrada: "Paiii!!" Seu filho pequeno correu em sua direção com os braços estendidos. Chris abaixou-se para receber o abraço, um sorriso verdadeiro se formando em seu rosto enquanto envolvia o garoto em um abraço firme e carinhoso. "Está bem, Júnior?" perguntou ao filho....
...O filho acena e a esposa de Chris, que estava na sala observando a cena, se aproximou sorridente e perguntou em um tom ameno: "Como foi no trabalho?"...
...Ele respondeu enquanto colocava o garoto no ombro: "Tudo bem." Havia um cansaço em sua voz, mas a presença da família trazia uma leveza diferente àquele momento. O garoto ria, animado por estar sobre o ombro do pai, e Chris caminhou com ele até a mãe....
...Chegando perto dela, ele abaixou o menino, colocando-o no chão e trocou um olhar terno com a esposa antes de inclinar-se para beijá-la suavemente na bochecha. "Vou tomar um banho." disse ele em voz baixa, transmitindo uma sensação de paz e rotina....
...Ela sorriu de volta, balançando a cabeça de leve enquanto observava ele se afastar. Chris caminhou até o corredor, tirando o paletó e desfazendo o nó da gravata enquanto se dirigia ao banheiro....
...Embora Chris encontrasse conforto e paz na sua rotina familiar, as lembranças do passado vinham à tona com frequência, o perturbando em momentos de silêncio. Assim que a água quente começou a escorrer pelo seu corpo, ele fechou os olhos, e cenas da infância emergiram em sua mente, lembranças que o acompanhavam há anos. Desde cedo, seu fascínio pela ciência e pelo desconhecido havia isolado ele das outras crianças. Elas o viam como estranho, e suas tentativas de se aproximar eram sempre respondidas com risos e desprezo. Ele se recordava das expressões de deboche, das vezes em que o chamaram de "esquisito" e da solidão que o seguia onde quer que fosse....
...Com o pensamento intenso e a água caindo em seu rosto, Chris apertou o punho contra a parede fria do chuveiro, sentindo a frustração transbordar por um instante. "Não mais..." pensou ele, como uma promessa para si mesmo. Ele estava em uma posição que o permitia avançar na ciência e fazer algo relevante, algo que superasse as lembranças amargas e que justificasse todos os anos de isolamento....
...Depois de algum tempo sob a água quente, Chris desligou o chuveiro, respirou fundo e se enxugou. Vestiu roupas casuais, uma camiseta leve e calça confortável, e saiu do banheiro renovado, deixando para trás as lembranças amargas. Ao chegar na sala de jantar, encontrou a esposa e o filho sentados à mesa, aguardando sua presença para iniciar a refeição. O sorriso dele foi automático ao ver os dois, trazendo um brilho sincero aos seus olhos. Ele se sentou, compartilhando um breve olhar de cumplicidade com a esposa antes de começarem a comer. Naquele momento, o peso das lembranças parecia menos esmagador. A presença da família suavizava a inquietude que às vezes se instalava em seu coração....
...No dia seguinte, a rotina de Chris recomeçava, como em tantos outros dias. No edifício da A.E.C., ele continuava seu trabalho minucioso, afundado em cálculos e experimentos. A conversa que ouvira sobre a possibilidade de misturar sangue de Vitalis com o de um Nox continuava a rondar seus pensamentos, uma ideia que ele não conseguia afastar. Dia após dia, ele repetia a jornada entre casa e trabalho, até que, em um desses dias, sentiu-se mal. Febril e debilitado, foi obrigado a ficar em casa, um raro momento de pausa involuntária que o afastou de sua rotina....
...Enquanto estava no quarto, sentado, ele não conseguia parar de pensar na conversa dos colegas, algo que parecia estar plantado em sua mente. Com a mão trêmula, girava uma caneta entre os dedos, tentando organizar as ideias. O som da casa estava em silêncio. Sua esposa, sempre dedicada, estava fora, buscando oportunidades de trabalho para ajudar nas despesas, enquanto o filho estava na escola. O silêncio quase o sufocava, e ele se via sozinho com seus pensamentos, um contraste tão grande com o ambiente agitado do laboratório que o fez se sentir ainda mais perdido....
...Chris olhava para o teto, deixando a mente vagar. Aquela possibilidade de uma fusão entre Vitalis e Nox lhe parecia ao mesmo tempo absurda e fascinante. O que poderia ocorrer? Uma força incontrolável? Uma resposta violenta do organismo? Ele girava a caneta com mais intensidade, deixando-se levar por esses questionamentos, sem conseguir prever aonde essa linha de pensamento poderia levá-lo....
...Chris estava sentado na cama, o olhar perdido enquanto girava a caneta em sua mão, quando notou sua esposa entrando no quarto com uma bacia cheia de roupas. Ela depositou a bacia ao lado dele na cama, depois começou a tirar peça por peça, dobrando com cuidado antes de guardá-las no guarda-roupas. Chris a observava em silêncio, seu olhar fixo acompanhando cada movimento dela, como se tentasse capturar algum detalhe invisível. As palavras dos cientistas ecoavam em sua mente, plantando uma inquietação que ele mal conseguia explicar....
...Ele interrompeu o silêncio, chamando por ela com um tom quase hesitante....
..."Amor." começou ele....
...Ela parou de dobrar as roupas, virando-se para ele com uma expressão gentil e curiosa....
..."Sim, meu bem?" perguntou ela....
...Chris respirou fundo, escolhendo bem as palavras antes de continuar. "Você é uma Vitalis, certo?"...
...Ela franziu o cenho por um instante, como se não entendesse de onde vinha a pergunta, mas assentiu, mantendo o tom suave....
..."Sim." respondeu ela, com um pequeno sorriso, "sou uma Vitalis. Por que a pergunta?"...
...Ele hesitou, desviando o olhar por um segundo, mas não conseguiu afastar o pensamento que vinha crescendo dentro dele desde aquela conversa que escutara....
..."Eu só... estava pensando." disse ele, quase em um murmúrio, "você não... você não me odeia por eu ser um Nox, certo?"...
...Ela soltou uma risadinha, genuinamente divertida, e balançou a cabeça, voltando a dobrar as roupas com um sorriso nos lábios....
..."Oh, Chris." respondeu ela, "normalmente é o contrário. Até hoje penso em como um padre Nox aceitou nos casar! Foi tão inusitado." Ela deu uma risada leve, lembrando-se do dia com carinho e um pouco de humor, um brilho nostálgico em seu olhar....
...Chris esboçou um sorriso fraco, mas seus olhos estavam distantes, fixos nela com uma intensidade contida. A resposta dela aliviava uma pequena parte dele, mas a outra parte, inquieta com as possibilidades científicas, ainda ecoava na mente. Ele olhava para sua esposa como se buscasse nela uma resposta que, talvez, ele mesmo não estivesse preparado para encontrar....
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Atualizado até capítulo 62
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