ALEXANDRE
As emoções dentro de mim se tornaram um mar em tempestade fervorosa desde que nossos olhos se encontraram.
Eu simplesmente não sei o que deu em mim para agir daquela forma, mas desde ontem me sinto estranho. Foi um choque vê-la. Senti arrepios por todo o corpo assim que olhei em seus olhos. E ver Lucas perto dela, tocando nela… por algum motivo, me deu nos nervos. E por outro motivo ainda mais estranho, eu queria socar a cara daquele moleque.
— Porra, Alexandre, o que você está fazendo, cara? Que sensação é essa? — digo, olhando meu reflexo no espelho do banheiro.
— Alexandre! — gritos com meu nome ecoam pelo quarto inteiro. Reviro os olhos ao reconhecer a voz.
— O que você quer? — pergunto a Safira.
— Você não vai descer? Já está aí há muito tempo. Não quero ficar sozinha com os seus amigos — ela diz, abrindo a porta do banheiro.
— Claro, eu vou descer. Não quero que eles se sintam sozinhos tendo você como companhia.
— Será que dá pra gente manter as aparências de um casamento feliz, pelo menos na frente deles? — ela pergunta.
— Claro. Para você sempre foi uma questão de aparências e status, não é mesmo?
— Alexandre!
— Argh! Faz o que você quiser — respondo, saindo de sua presença.
Desço para encontrar meus amigos e seus filhos reunidos à mesa, do lado de fora. É lindo de ver a união dos quatro.
— Olá, família linda! — digo, e olho de canto para Sta, que também me olha. Devo tê-la assustado mais cedo.
— Está tudo bem? — Ferdinand pergunta, parecendo perceber o clima tenso no ar.
— Sim, está. Não se preocupe, irmão — respondo. O vejo assentir com a cabeça.
Eu estava tentando concentrar-me no que Ferdinand dizia, mas meus olhos sempre iam na mesma direção: Stacey. Eu precisava dar um jeito de falar com ela. E em um momento de adrenalina, eu disse:
— Quem está a fim de andar a cavalo?
Chelsea e Ferdinand recusam ao mesmo tempo, sobrando apenas Rodrigo e Sta. Levanto a sobrancelha, os observando.
— Ah, não. Eu tô totalmente fora! — Rodrigo diz, balançando a cabeça várias vezes.
— Parece que só sobrou você, Sta. O que me diz?
— Está bem, vamos lá! — ela se levanta sutilmente da cadeira.
— Tudo bem se formos, Feh? — pergunto ao meu amigo.
— Claro, divirtam-se. Mas acho melhor levar uma garrafa de água. Stacey enjoa fácil! — ela sorri, tímida, com a revelação do pai.
— É, eu percebi isso ontem — sorrio, feliz com o sucesso do meu 'planinho.
Preparo os cavalos, ajudo-a a subir no dela e logo monto no meu.
— Eles são lindos! — diz, encantada com os animais.
— São mesmo. Esse com você é o Breet, e este aqui é o Alfa.
— Os nomes super combinam. Adorei. Mas… duvido que você me alcance — diz, zarpando com o cavalo à minha frente. Com um sorriso brilhante.
— Ah, então você quer um desafio? — falo, acelerando para alcançá-la.
Ela fazia isso tão bem… tinha total controle do cavalo, sem nenhum resquício de medo. Só via habilidade e maestria.
— Não sabia que você cavalga tão bem! — digo, assim que a alcanço, quando ela diminui o ritmo, fazendo o cavalo apenas andar tranquilamente.
— Bem, pratico há cinco anos. Já ganhei oito campeonatos de hipismo na Geórgia — diz, me deixando impressionado.
— Uau! Isso é fantástico — a sinceridade transparece nas minhas palavras. Ela sorri; suas bochechas estão vermelhas.
— Você já me surpreendeu de diversas maneiras desde ontem — digo.
— É mesmo? Por quê? — ela pergunta, curiosa.
Não respondo. Apenas lanço um sorriso malicioso para ela.
Ela cora ainda mais.
A manhã estava tranquila. Deixamos os cavalos na sombra debaixo de uma árvore e nos sentamos à beira do lago.
A observo enquanto ela olha para a água com muita atenção.
— Magnífico, não é? — pergunto, despertando-a de seus pensamentos, esses que eu gostaria tanto de conhecer.
— Sì, molto! — ela confirma, se ajeitando no tronco de madeira em que estava sentada.
— Seu italiano é perfeito, bambina! — digo, e ela ri.
— Obrigada! É que lá em casa a gente sempre conversa em italiano. Só usamos o inglês quando estamos fora.
— Isso é legal! Eu sinto falta de falar em italiano... Já fazia um bom tempo que não usava nenhuma palavra do nosso idioma — digo, fixando meus olhos no lago. Sinto quando ela se aproxima para sentar ao meu lado.
— Posso fazer uma pergunta? — ela diz.
— Sì, você pode fazer outra pergunta — sorrio, ao ver sua expressão.
— Você está bem?
Era uma pergunta simples, mas que me causava uma confusão interna. Alguns segundos se passam, e meu silêncio era resposta suficiente.
— Por quê? Por que está me fazendo essa pergunta? Não pareço bem?
— Bom, eu perguntei primeiro — ela responde, com um leve sorriso.
— Sabe, Sta... Chega um momento da vida de todo adulto em que a gente não sabe se está vivendo ou apenas existindo.
Desta vez o silêncio é dela. Apenas sinto seus olhos em mim.
— Hum... sabe, Alexandre...
— É um nome longo. Não prefere algo mais curto? — sugiro.
— Tem razão. Eu devia mesmo te chamar de "tio", me desculpe — ela diz, entendendo tudo errado.
— Não foi isso que eu quis dizer, Sta. Digo, pense em um apelido. Você me chamando pelo nome... parece que somos estranhos um para o outro.
Ela se cala de novo, parece pensar enquanto ajeita os óculos de grau no rosto.
— Que tal Alê? — finalmente diz.
— Gostei. Parece descontraído, passa uma imagem bem diferente da que a maioria das pessoas tem de mim — ela ri.
— É, fiquei sabendo da sua fama de sociopata — fala, me arrancando uma risada.
— Ah, eu sou tipo um espelho: reflito o que me entregam — digo, sincero.
Viro-me para olhá-la. Os olhos dela brilham... um brilho intenso. Talvez seja a primeira vez que vejo os olhos de alguém brilharem desse jeito.
— Certo, tio Alê. Vamos voltar? — ela diz, parecendo querer fugir do meu olhar.
A cavalgada de volta até o casarão foi tranquila, sem competições ou qualquer conversa.
Observo Sta entrar em casa, dizer algo aos pais e subir.
"O que deu nela?", penso, enquanto caminho para dentro também.
— Como foi a cavalgada? A Sta disse que ficou enjoada — Ferdinand pergunta.
— Foi legal. Ela está bem? — pergunto.
— Está, não se preocupe. Ela é sensível a muitas coisas, mas é teimosa — ele responde.
— Como assim?
— Não é nada que tenha que se preocupar tanto. Ela só é um pouco mais sensível do que as outras pessoas.
— Ela tem o estômago sensível, tio. Enjoa de quase tudo, não suporta movimentos muito bruscos. Sua adaptação à comida, quando nos mudamos, foi difícil. Mas, como o papá disse, ela é teimosa — Rodrigo acrescenta.
Deve ser difícil para ela... Ela devia ter recusado meu convite.
"Será que ela está bem?", penso, enquanto olho os degraus da escada.
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Atualizado até capítulo 81
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