Capítulo 2 me chame como quiser
A intimidade é um labirinto complexo, protegido por um código quase místico, mas que, uma vez desvendado, revela a beleza simples da verdade compartilhada entre dois corações que se encontram no silêncio.
Este quarto é magnífico, como todos os outros cômodos desta casa. A cama é imensa, sem contar a escrivaninha e o closet.
Caminho devagar até a janela e observo a fazenda: as lavouras, os animais, as pessoas trabalhando tranquilamente lá fora... tudo me encanta. Passo alguns minutos fascinada com a vista, a ponto de mal escutar as batidas leves à porta.
— Sim? — digo.
— Posso entrar, querida? — ouço a voz doce da minha mãe, e logo autorizo sua entrada.
— Você está bem?
— Estou, mamma. Por quê?
— Quero te pedir uma coisa, minha ragazza — ela diz, segurando minhas mãos com delicadeza.
— O quê?
— Quero que ignore qualquer provocação da Safira. Seja educada acima de tudo. Como somos em casa, está bem? Quero que este mês aqui seja inesquecível e agradável para todos.
Penso no que ela disse.
— Sim, mamma. Não se preocupe, eu já ia fazer isso mesmo — respondo com sinceridade.
Ela sorri, me dá um beijo carinhoso na testa e, antes de sair, diz:
— Não demore para descer, logo vamos almoçar, ok? — fala com um sotaque americano, o que me faz sorrir. Balanço a cabeça em concordância e a vejo fechar a porta.
Olho meu reflexo no espelho e decido trocar de roupa. Está calor lá fora, e um vestidinho leve é tudo o que me vem à mente.
Assim que termino de me vestir, desço as escadas, sentindo o aroma delicioso da comida italiana pairando no ar. Já faz muitos anos que moramos nos Estados Unidos, mas sempre preferi a culinária do nosso país de origem. A Itália é incrível em todos os sentidos: pense só, pessoas amorosas, educadas e loucas por massa convivendo em sociedade. Meraviglioso, não é?
Caminho alegremente até o lado de fora da casa, onde todos estão reunidos em uma enorme mesa ao ar livre. Junto-me a eles — parece que o almoço será ali hoje.
— Olha quem chegou! Querida, eu estava contando ao seu tio que em breve você começará a faculdade de engenharia! — meu pai diz, todo orgulhoso, me fazendo corar ao perceber que o assunto da mesa era eu.
— Isso é incrível, Stacey! Meus parabéns — diz Alexandre com gentileza, lançando um leve sorriso de canto enquanto me olha. "Para com isso, por favor", penso em desespero.
— Obrigada, Alexandre — respondo.
Meu pai franze a testa e ergue uma sobrancelha.
— Quer dizer... obrigada, tio Alexandre — corrijo-me diante da bronca silenciosa dele.
— Para com isso, Feh. Está assustando a menina. Não tem problema ela me chamar pelo nome. Ela deve ter perdido o costume. Está tudo bem — diz Alexandre, enquanto continua comendo.
Meu pai estava prestes a responder quando foi interrompido por Safira.
— Mas chamar os mais velhos pelo nome não é falta de ética e educação? — diz ela, com tom debochado.
O silêncio paira no ar. Todos parecem constrangidos — menos um.
— Eu não acho isso. Stacey, pode ficar à vontade para me chamar pelo nome — diz Alexandre, lançando um olhar ríspido para Safira, que se cala.
Quando o momento constrangedor passa, observo meu pai e seu amigo conversarem e relembrarem os tempos de adolescência.
— Ah, como era bom jogar futebol no fim da tarde e videogame sem preocupação nenhuma — diz meu pai, rindo.
— Verdade. Lembra de quando você entrou num bueiro para pegar nossa bola? — pergunta Alexandre, arrancando risadas de todos à mesa, menos de Safira, que ainda está emburrada.
— Lembro sim! E você? Lembra daquela vez que subiu no pé de manga para roubar todas as frutas da casa do garoto que a gente odiava? — diz meu pai.
Alexandre solta uma gargalhada sincera ao lembrar do episódio.
— Ô, papà, posso fazer uma pergunta? — diz meu irmão, e meu pai acena positivamente com um sorriso.
— Vocês eram muito amigos mesmo com essa diferença de idade? São quantos anos mesmo? — Rodrigo faz uma careta tentando lembrar, mas não consegue.
— Quatro anos de diferença, filhão! Isso nunca nos impediu de sermos amigos. Sempre vi seu tio como um irmão mais novo.
— E você como um irmão mais velho — completa Alexandre, abraçando meu pai de lado. Dava para ver o quanto os dois se amavam e se respeitavam.
— E você, tia Safira?
— O que tem?
— Como foi sua infância aqui na América? — ele pergunta.
— Bem, não tenho muitas memórias da minha infância, mas lembro que passei boa parte em shoppings, lojas de departamento... Eu amo o luxo desde muito nova — diz a americana.
Minha família, eu e Alexandre somos italianos, nascidos e criados em Trieste. Mas a moça apaixonada por shoppings nasceu e cresceu em Nova York.
Algum tempo depois do almoço, ficamos boas horas conversando à mesa. Então decido que é hora de me retirar — o assunto agora é trabalho.
— Com licença, gostaria de me retirar — digo. Minha mãe assente com a cabeça.
— Posso ir, papà? — ele também concorda.
— Vamos passear, Rô? — convido meu irmão, que logo se levanta e me acompanha.
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Atualizado até capítulo 81
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