O campo é como a calmaria dentro da alma, notas sutis de um piano tocando baixinho no fim da tarde. Por outro lado, a cidade é agitação, pressa e milhares de histórias correndo por aí — como o solo de uma guitarra potente.
As manhãs aqui soam como magia. Em vez de buzinas e pessoas falando alto, sou acordada pelo canto dos pássaros lá fora.
Olhei para o criado-mudo. Em cima dele, um relógio marcava sete e meia da manhã. Ainda era cedinho.
— Acho que não tem ninguém acordado a essa hora... Vou aproveitar para tomar um café sossegada — murmurei para mim mesma, partindo em direção ao banheiro para minha higiene matinal.
Desci as escadas tentando não fazer barulho. Parei no meio do caminho ao ouvir os ruídos que meus passos faziam sobre a madeira. Por um momento, pensei em voltar para o quarto.
— O que foi? Está fugindo de alguém? — Levei um susto ao ouvir a voz de Alexandre, que estava sentado em uma banqueta no balcão da cozinha, segurando uma xícara de café. Ele riu da minha reação, mas logo perguntou com um tom preocupado:
— Desculpa! Você está bem?
— Sim! Só achei que não teria ninguém aqui embaixo a essa hora.
— Desculpe te decepcionar. Quer café? — perguntou, abrindo um sorriso enquanto eu descia os últimos degraus e me sentava à sua frente, do outro lado da bancada.
— Foi pra isso que desci. Obrigada! — agradeci, pegando a xícara que ele me serviu.
Depois de alguns breves minutos em silêncio, ele perguntou:
— Então... o que está achando daqui?
— Este lugar é incrível. Que bom que nos convidou! — Ele sorriu com minha resposta, e isso me surpreendeu. Ouvi dizer que ele não era tão simpático.
— Fico feliz de tê-los convidado. Estava com saudade — disse, assumindo um tom mais sério. Logo tomou mais um gole do café.
— Já fazia tempo, não é? — perguntei.
— Sim. O quê... uns sete anos? — sugeriu.
— Seis, na verdade.
— Caramba! Você tinha treze anos da última vez que nos vimos? — Concordei com a cabeça. Ele fez uma careta, parecendo chocado.
— Você cresceu tanto... Eu te vi crescer. Perdi uma boa parte da sua vida e agora... já é uma mulher. Uma linda mulher — disse, encarando-me seriamente.
Engoli em seco e fingi tossir, tentando dissipar o nervosismo. Ele não desviava o olhar.
— Você já tinha este lugar naquela época? — perguntei, tentando mudar de assunto para afastar o calor que subia pelas minhas pernas.
— Não. Faz três anos que comprei este lugar. Jerry ainda estava vivo.
— Jerry? — perguntei.
— Sì, o antigo fazendeiro.
— O pai do Lucas?
De repente, ele desviou o assunto.
— Hum... Vi que você se deu bem com ele ontem — comentou em um tom estranho, um que eu não reconhecia. Seu olhar se perdeu lá fora, pela janela.
— Bom, fomos apenas apresentados.
Ele soltou um suspiro breve, quase um bufo, e levantou-se, levando a xícara até a pia.
— Obrigado pela companhia, Sta. — disse, antes de simplesmente desaparecer escada acima.
— Mas que porra foi essa? — murmurei para mim mesma, franzindo a testa.
Terminei meu café e caminhei até a sala, onde me sentei para conferir as mensagens no celular.
— Bom giorno, manna! — Rodrigo apareceu sorrindo, beijando minha bochecha com carinho.
— Buongiorno, meu bambino favorito — retribuí o beijo com outro em sua bochecha.
Pouco tempo depois, todos já estavam lá embaixo. Todos, exceto Alexandre. Desde aquela nossa conversa, não o vi mais.
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Atualizado até capítulo 81
Comments
Marina lopes
já tem clima ,ele está com ciúmes
2024-12-05
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