Capítulo 4 – O Encontro com o Desespero

O Encontro com o Desespero

A noite caía pesadamente sobre a mansão Bernardi, lançando sombras longas e sinistras pelos corredores. O som dos sapatos elegantes de Matteo Dilmurat ecoava pelo chão de mármore, cada passo marcando o início de uma nova era para Helena. Ele caminhava com confiança, sua expressão fria e calculada. Havia algo quase intimidador na maneira como ele entrava na casa — como se já fosse o dono de tudo ali, incluindo a própria Helena.

Helena observava de longe, sentada em uma poltrona na sala de estar. Seus dedos entrelaçavam nervosamente enquanto seus olhos acompanhavam cada movimento de Matteo. Ela sabia que sua vida mudaria para sempre a partir daquele momento, mas não tinha ideia do que o futuro lhe reservava. O desespero começava a tomar conta dela, uma sensação sufocante que ameaçava dominá-la.

Matteo (com um olhar severo): “Onde está Raul Bernardi?”

Sua voz cortou o ar como uma lâmina, fria e sem emoção. O capanga que o acompanhava deu um passo à frente, indicando a direção do escritório. Raul, que ouvira a chegada de Matteo, não demorou a aparecer na porta do escritório, com o semblante abatido e cansado. Havia um tremor quase imperceptível em suas mãos, sinal de seu nervosismo crescente.

Raul (tentando soar confiante): “Matteo... que bom que chegou.”

Matteo nem sequer olhou para Raul. Seus olhos se voltaram diretamente para Helena, que sentiu seu coração acelerar ao encontrar o olhar dele pela primeira vez. Os olhos de Matteo eram escuros e impenetráveis, cheios de uma frieza que a fez estremecer. Ele não via ali uma pessoa, mas sim um acordo, uma troca que estava prestes a ser finalizada.

Matteo (sem tirar os olhos de Helena): “Está tudo pronto?”

Raul deu um passo à frente, tentando se manter firme, mas claramente desconfortável com a presença de Matteo. Ele sabia que estava à mercê daquele homem, e qualquer erro poderia ser fatal.

Raul (hesitante): “Sim, sim. Tudo está conforme o combinado.”

Matteo, finalmente, desviou o olhar de Helena e voltou-se para Raul. Seu rosto era uma máscara de indiferença, mas sua presença era sufocante.

Matteo: “Espero que tenha cumprido sua parte. Eu não gosto de ser decepcionado, Raul.”

Raul assentiu rapidamente, como um cão submisso, e gesticulou para que Helena se aproximasse. Ela hesitou por um momento, o medo e o desespero se misturando dentro dela, mas então se levantou. Sua postura era ereta, a dignidade ainda intacta, mesmo que por dentro estivesse desmoronando.

Helena (fria e determinada): “Eu estou pronta.”

Aquela frase, embora dita com convicção, carregava todo o peso da sua resignação. Helena sabia que não havia escapatória. Ela havia sido vendida por seu próprio pai, entregue a um homem que não conhecia e cuja fama a precedia como um predador implacável no submundo do crime.

Matteo observou Helena por um momento, seus olhos analisando-a minuciosamente. Ele não disse nada, apenas deu um leve aceno de cabeça, indicando que aceitava a transação. Era como se estivesse aprovando a mercadoria que comprara.

Matteo (secamente): “Venha. Não temos tempo a perder.”

Helena lançou um último olhar para seu pai. Raul não conseguiu encará-la. Havia vergonha em seu rosto, mas, acima de tudo, havia covardia. Ele havia escolhido seu dinheiro, sua própria sobrevivência, ao invés da filha. Helena sentiu um aperto no peito, mas não derramou nenhuma lágrima. Já não restava espaço para lágrimas.

Helena (amargamente, para Raul): “Espero que tenha valido a pena.”

Raul não respondeu, apenas desviou o olhar, envergonhado demais para encarar as consequências de suas ações.

A viagem

Matteo não ofereceu nenhuma palavra de conforto, nem uma explicação sobre o que estava por vir. Ele simplesmente entrou no carro, seguido por Helena, que agora se encontrava ao lado de um homem perigoso, seu novo “dono”. O carro deslizou silenciosamente pela estrada escura, afastando-se da mansão Bernardi, e Helena sabia que aquela seria a última vez que veria aquele lugar.

No silêncio do carro, Helena sentia-se presa em uma tempestade de emoções. Raiva, tristeza, medo... tudo girava dentro dela. Matteo, por outro lado, parecia inabalável, seu rosto impassível. Ele não olhou para Helena durante toda a viagem, como se sua presença ao lado dele fosse irrelevante.

Mas Helena não era irrelevante. Não mais.

Ela sabia que precisava encontrar uma maneira de sair daquela situação. Não importava o quão desesperador fosse o cenário, ela não podia se permitir desistir. Matteo podia ser poderoso, mas ela também tinha uma força interna que ainda não havia revelado. Talvez, de alguma forma, pudesse usar isso a seu favor.

Helena (pensando consigo mesma): “Eu preciso sobreviver. Eu vou encontrar uma maneira.”

Chegada à mansão de Matteo

A viagem parecia durar uma eternidade, mas, finalmente, o carro parou diante de uma grande propriedade cercada por altos muros. A mansão de Matteo Dilmurat era imponente, muito maior e mais opressora do que a mansão Bernardi. Helena olhou para o edifício com uma mistura de curiosidade e medo. Aquilo seria sua nova prisão.

Os portões se abriram automaticamente, e o carro passou pelo pátio antes de parar na entrada principal. Matteo saiu do carro primeiro, sem se preocupar em olhar para Helena, que foi obrigada a segui-lo. Ela observava tudo ao redor, cada detalhe da mansão, cada rosto desconhecido que passava por eles.

Assim que entraram, foram recebidos por uma mulher que irradiava elegância e poder. Seus cabelos estavam impecavelmente presos, e seus olhos avaliavam Helena com curiosidade e um toque de desprezo. Era Dilraba Dilmurat, a mãe de Matteo.

Dilraba (com um leve sorriso): “Então, esta é Helena Bernardi.”

Helena sentiu um arrepio ao ouvir seu nome pronunciado com tanto desdém. A matriarca da família Dilmurat não parecia surpresa com a presença dela ali; parecia até satisfeita com o que via.

Matteo (com um tom frio): “Ela vai ficar no quarto de hóspedes. Quero que tudo esteja pronto para amanhã.”

Helena olhou para Matteo com surpresa. "Amanhã?" O que aconteceria amanhã? Ela estava prestes a perguntar, mas a frieza no olhar de Matteo a impediu de fazê-lo.

Dilraba (olhando diretamente para Helena): “Você terá tudo o que precisa. Matteo foi generoso ao trazer você para cá. Espero que entenda a sorte que teve.”

Helena sentiu um nó na garganta. Aquela mulher, assim como todos ali, a via como um objeto, uma mercadoria que havia sido adquirida. Mas ela sabia que não era sorte. Era um destino cruel que agora precisava enfrentar de frente.

Helena (erguendo a cabeça com determinação): “Eu não pedi para estar aqui.”

Dilraba apenas sorriu, sem se abalar pela atitude de Helena.

Dilraba: “Não, querida. Mas agora está.”

Sem mais palavras, Dilraba virou-se e saiu da sala, deixando Helena sozinha com Matteo. Ele a observou por um instante, seus olhos ainda tão impassíveis quanto antes.

Matteo (frio e direto): “Prepare-se. Sua nova vida começa amanhã.”

E, com isso, ele também se retirou, deixando Helena sozinha em um lugar desconhecido, com um futuro incerto e o desespero crescendo dentro dela.

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