O dia estava nublado quando Isabela finalmente saiu de casa naquela manhã. O céu cinza refletia perfeitamente o que ela sentia por dentro, uma mistura de incerteza e determinação. As ruas da pequena cidade pareciam mais apertadas, os rostos familiares nas calçadas a encaravam como se já soubessem que algo estava para mudar. Isabela caminhava devagar, o vento frio de fim de tarde batendo contra sua pele, enquanto seu coração pesava com a decisão que ela havia acabado de tomar.
Seus passos a levaram até a praça central, um lugar onde ela costumava ir com sua mãe quando era criança. O chafariz velho ainda estava lá, jogando água em pequenas ondas rítmicas. O som da água batendo nas pedras trouxe uma breve sensação de calma, mas não era o suficiente para afastar a tempestade de emoções que a acompanhava.
Sentou-se em um dos bancos, o frio da madeira penetrando através de suas roupas finas. Naquele momento, tudo o que Isabela queria era uma resposta clara para suas dúvidas, uma garantia de que estava fazendo a coisa certa. Mas a única certeza que ela tinha era que sua vida ali havia chegado ao fim.
Pegou o celular com mãos trêmulas, respirando fundo antes de procurar o nome de Clara na lista de contatos. O telefone tocou uma, duas vezes, e Isabela quase desistiu de ligar. Mas, antes que pudesse desligar, a voz animada de Clara preencheu a linha.
— **Isa! Como você está, menina? Que surpresa!**
A voz alegre da amiga trouxe uma pequena onda de conforto, e Isabela sorriu apesar de tudo.
— **Oi, Clara...** — A voz de Isabela saiu fraca, como se ela estivesse se segurando para não chorar. — **Eu acho que vou aceitar sua oferta. Vou para Nova York.**
Houve um breve silêncio do outro lado da linha, e Isabela imaginou Clara com os olhos arregalados, tentando processar a informação.
— **Sério? Você está falando sério, Isa? Isso é incrível!** — A voz de Clara agora transbordava entusiasmo. — **Você não vai se arrepender! Nova York é cheia de oportunidades. Você precisa vir. Isso pode ser a sua chance!**
Isabela fechou os olhos por um momento, tentando se concentrar nas palavras de Clara. Nova York... um lugar completamente diferente de tudo o que ela conhecia. A cidade que nunca dorme, com suas luzes, suas multidões, seu ritmo frenético. Mas também um lugar onde ela poderia recomeçar. Longe de Regina, longe de seu pai. Longe de tudo que a fazia se sentir pequena.
— **Eu sei... mas ainda estou com medo, Clara.** — Ela admitiu, sua voz quase um sussurro. — **É uma decisão tão grande. E se eu falhar? E se eu não conseguir me adaptar?**
Do outro lado, Clara soltou uma risada suave.
— **Medo? Isa, você é uma das pessoas mais fortes que eu conheço. Você sobreviveu a tanta coisa... Nova York vai ser fácil comparado ao que você já enfrentou. E eu estarei aqui para te ajudar em tudo. Não se preocupe.**
As palavras de Clara foram como um bálsamo para o coração de Isabela. Pela primeira vez, ela sentiu uma fagulha de esperança crescendo dentro de si. Talvez Clara estivesse certa. Talvez essa fosse sua chance de recomeçar, de construir algo novo, algo que fosse realmente dela.
— **Obrigada, Clara. Sério.** — Isabela sorriu, enxugando rapidamente uma lágrima que ameaçava escorrer. — **Eu não sei o que faria sem você.**
— **Você faria o que sempre faz: daria um jeito.** — Clara respondeu com firmeza. — **Agora, vamos falar sobre os detalhes. Quando você pretende vir?**
Isabela olhou para o horizonte, vendo as nuvens escuras começando a se dissipar, deixando entrever pequenas faíscas de luz por trás delas.
— **Eu quero ir o mais rápido possível. Já estou cansada de esperar.**
Clara riu, sua voz carregada de entusiasmo.
— **Essa é a minha Isa! Ok, vou procurar passagens e te aviso. Aqui você vai ter onde ficar. Não se preocupe com isso.**
A ideia de finalmente deixar tudo para trás fez o coração de Isabela bater mais rápido. Ela sabia que seria difícil, mas pela primeira vez em muito tempo, sentiu-se empolgada com o futuro.
— **Eu vou fazer isso acontecer, Clara.** — disse Isabela, sua voz carregada de convicção. — **Vou recomeçar minha vida.**
Depois de encerrar a ligação, Isabela ficou um momento parada, observando a praça ao redor. O vento suave fazia as folhas das árvores balançarem, produzindo um som suave que ecoava pelo ambiente. Crianças corriam por ali, rindo e brincando, como se o mundo delas fosse imutável. E talvez fosse. Mas não o mundo de Isabela. O dela estava prestes a mudar completamente.
Ela respirou fundo, enchendo os pulmões com o ar fresco da tarde e, ao soltá-lo, sentiu um peso sair de seus ombros. Era a primeira vez que sentia a possibilidade de liberdade. A decisão de partir, que antes parecia assustadora, agora começava a tomar forma como uma saída. Uma chance real de algo diferente.
Quando retornou para casa naquela tarde, o clima tenso que sempre pairava por lá parecia menos sufocante. Ela caminhou pelos corredores com um senso de propósito renovado, seus olhos observando cada detalhe como se fosse a última vez que veria aquilo. As paredes descascadas, o cheiro de mofo misturado ao perfume barato de Regina que permeava o ar, os móveis velhos que nunca foram trocados desde que sua mãe morrera.
Isabela sabia que aquela casa não seria mais o lugar onde ela viveria. Não mais. Sua mala ainda estava no quarto, parcialmente pronta. Faltava apenas o necessário para completar a bagagem de uma vida que ela deixaria para trás.
De volta ao seu quarto, ela se sentou na beirada da cama e olhou ao redor. As paredes pálidas, o pequeno armário que mal comportava suas poucas roupas, a janela que oferecia uma visão limitada da rua. Ali, naquela pequena e triste parte do mundo, Isabela tinha vivido tantas frustrações, tantas mágoas, mas também tinha sonhado. Agora, era hora de transformar esses sonhos em algo real.
Enquanto olhava para o espelho gasto na parede, Isabela viu o reflexo de uma mulher diferente da que sempre conheceu. Uma mulher que estava prestes a enfrentar o desconhecido, determinada a fazer isso com a cabeça erguida.
Ela começou a arrumar o restante das suas coisas, colocando as roupas restantes na mala. Tocava em cada peça com cuidado, lembrando-se de momentos específicos da sua vida em cada uma delas. O vestido que usou no último Natal com sua mãe, o casaco que ganhou em seu aniversário de 25 anos... cada item carregava uma história. Mas ela sabia que agora era hora de começar uma nova.
Quando a mala finalmente estava fechada, o som do zíper se fechando pareceu selar não apenas a bagagem, mas também o fim de um ciclo. Isabela se levantou e caminhou até a janela, olhando para fora, onde as luzes da cidade começavam a acender. A sensação de incerteza ainda estava lá, mas havia algo maior tomando conta: uma confiança renovada.
Ela sabia que a estrada à frente seria desafiadora, mas também sabia que já havia enfrentado o pior. E agora, estava pronta para encarar o que viesse. Nova York a aguardava, e com ela, uma nova vida, novas oportunidades. Uma chance de, finalmente, ser feliz.
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Atualizado até capítulo 103
Comments
MARIA RITA ARAUJO
muita sofrência para uma jovem
2025-01-25
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