As três irmãs

Eu estava em um vilarejo distante, um lugar tão pequeno que quase não aparecia nos mapas. A chuva fina caía incessante quando ouvi pela primeira vez a história das Três Irmãs. Diziam que elas eram inseparáveis, ligadas por um destino trágico e misterioso, e que, apesar de sua beleza e juventude, carregavam consigo uma maldição tão antiga quanto as montanhas que cercavam sua casa.

Cada uma das irmãs possuía um dom especial, mas, como todos os dons, os delas vinham acompanhados de um preço terrível.

A mais velha se chamava Lúcia, e seu dom era ver o futuro. Desde pequena, Lúcia teve visões do que estava por vir — desastres, amores, perdas. Ela sabia, por exemplo, que a colheita daquele ano seria farta, mas que a alegria duraria pouco, pois uma praga devastaria a plantação logo em seguida. Sabia, também, quando e como cada pessoa que ela amava partiria deste mundo. Seu coração, outrora cheio de esperança, foi se endurecendo com o tempo, pois a cada visão que tinha, sua impotência diante do inevitável a corroía. Mesmo sabendo o que estava por vir, ela não podia mudar nada. Seu dom não era uma bênção, mas uma tortura.

A segunda irmã, Clara, era a mais bela e doce das três. Seu dom era o de curar com um simples toque. As pessoas vinham de longe para serem tratadas por Clara, que parecia trazer de volta à vida até os moribundos. Porém, seu dom tinha um custo terrível. Cada vez que curava alguém, uma parte de sua própria vitalidade era consumida. O preço da cura era sua própria saúde, e, a cada dia, Clara se tornava mais frágil, com a pele mais pálida e os olhos mais opacos. Seus sorrisos, antes luminosos, começaram a desaparecer. Ela sabia que, a cada cura, se aproximava de seu próprio fim, mas não conseguia recusar o pedido de ajuda daqueles que vinham até ela. A bondade em seu coração era maior que o medo da morte.

Por fim, havia Eva, a mais jovem das três. Eva não tinha a visão do futuro nem o poder de cura. Seu dom era o mais misterioso e sombrio: ela podia falar com os mortos. Desde muito jovem, Eva ouvia sussurros vindos de além do túmulo. Espíritos a cercavam, buscando consolo, respostas, ou simplesmente desejando serem ouvidos. Ao contrário do que se poderia imaginar, esses encontros não eram aterrorizantes para Eva. Na verdade, ela se sentia em paz entre os mortos, como se estivesse destinada a caminhar entre eles. Mas havia um problema: quanto mais ela falava com os mortos, mais difícil era para ela se conectar com os vivos. Eva começou a se afastar do mundo, preferindo a companhia silenciosa dos espíritos à presença de pessoas reais. Ela vivia entre dois mundos, sem pertencer completamente a nenhum deles.

As três irmãs viviam juntas em uma pequena casa à beira do bosque, afastadas da cidade, mas ainda assim veneradas e temidas pelos aldeões. Todos sabiam dos dons das irmãs e as respeitavam, mas também havia um sussurro constante de medo. A cidade inteira acreditava que os dons delas vinham de uma maldição ancestral, algo que as condenava a viver em solidão e sofrimento. E, de fato, as irmãs sabiam que estavam presas a esse destino.

Um dia, uma tragédia se abateu sobre o vilarejo. Uma doença desconhecida começou a se espalhar, levando os mais fracos primeiro, e logo ameaçando a vida de todos. Desesperados, os aldeões procuraram Clara, implorando por sua ajuda. Eles sabiam que sua cura tinha limites, mas estavam dispostos a tudo para salvar suas famílias. Clara, exausta e já à beira da morte, curou tantos quanto pôde, mas seu corpo não suportou. No final daquele dia, a segunda irmã caiu doente, seu dom finalmente a consumindo por completo.

Lúcia, sabendo que o fim de Clara estava próximo, havia visto essa cena em uma de suas visões muito tempo antes. Ela chorou, não por ter perdido a irmã — isso ela já sabia que aconteceria —, mas por sua própria incapacidade de mudar o destino. Quando Clara deu seu último suspiro, Lúcia se isolou, ciente de que o futuro que ela podia ver, nunca poderia evitar. Eva, por outro lado, não chorou. Ela sabia que Clara não havia ido embora. Eva sentia a presença da irmã no ar ao seu redor, e quando tudo ficou em silêncio, ela ouviu a voz suave de Clara lhe agradecendo por tudo.

Agora, restavam apenas Lúcia e Eva, cada uma carregando seu fardo. A cidade, devastada pela doença, foi gradualmente abandonada. As pessoas foram embora, deixando as duas irmãs em sua solidão. Lúcia, sabendo que o futuro guardava para ela um fim igualmente trágico, começou a perder a vontade de viver. Eva, por sua vez, passou a conversar mais com os mortos do que com sua própria irmã, tentando encontrar um sentido no que restava da sua vida.

A última visão de Lúcia foi sobre ela mesma e Eva, as duas paradas em frente à pequena casa, vendo o tempo passar sem nada poder fazer. E assim foi. As três irmãs, cujos dons as separaram do mundo, permaneceram presas à maldição que carregavam, enquanto o vilarejo ao redor delas desaparecia, lentamente esquecido pelo tempo.

E eu, o Caçador de Ecos, captei o que restou da história delas, ecos de vidas que foram tragicamente belas, ligadas por laços invisíveis de amor e sacrifício. A cidade já não existe mais, mas as irmãs... seus ecos ainda percorrem o vento, sussurrando segredos antigos que poucos ousam ouvir.

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