A cidade Perdida no Tempo

Há lugares que a história esqueceu, lugares onde os dias se repetem eternamente, como um eco preso em uma caverna sem saída. Uma dessas histórias é sobre uma cidade que nunca conheceu o amanhã. Eu a chamo de "A Cidade Perdida no Tempo".

Ela existia em um vale remoto, cercado por montanhas imponentes, uma cidade próspera e cheia de vida. No entanto, seu destino mudou em um piscar de olhos, ou, melhor dizendo, num único segundo congelado no tempo. Hoje, quem tentar encontrá-la verá apenas uma paisagem vazia, desabitada, como se jamais tivesse existido. Mas eu, o Caçador de Ecos, consegui chegar lá, e o que encontrei foi além da compreensão.

Tudo começou numa manhã como outra qualquer. As pessoas acordaram, abriram as janelas para deixar o sol entrar, caminharam pelas ruas, foram para o trabalho, almoçaram com seus familiares. Nada parecia fora do comum. Exceto por uma coisa: naquela noite, um meteoro, um corpo celeste de proporções inimagináveis, desceria dos céus e destruiria tudo. Eles não sabiam disso. E, para eles, não fazia diferença.

O meteoro veio, rompendo o céu com um brilho ardente, devastando tudo ao seu redor em um único instante. As casas foram transformadas em escombros, as árvores queimadas até as raízes, e a vida que ali existia foi apagada como se nunca tivesse sido. Mas, em vez do silêncio da destruição, algo inexplicável aconteceu.

O relógio da cidade, o imponente mostrador no centro da praça, quebrou o ciclo natural do tempo. Ninguém sabe ao certo como ou por quê, mas o tempo, de alguma forma, se rebelou. Ao invés de seguir em frente, ele recuou. O ponteiro que deveria continuar sua marcha incessante simplesmente girou para trás. E quando atingiu o início daquele mesmo dia, tudo começou de novo.

A cidade, devastada apenas momentos antes, se reconstruiu diante dos olhos de seus habitantes, como se a catástrofe jamais tivesse acontecido. As casas voltaram a se erguer, as ruas se limparam, e as pessoas... bem, as pessoas voltaram a viver o mesmo dia, sem memória do que estava por vir.

Eles acordaram no mesmo dia, abriram as mesmas janelas, caminharam pelas mesmas ruas. Viviam suas vidas exatamente como antes, até que a noite caísse e o meteoro, como uma sentença inevitável, descesse novamente dos céus, trazendo consigo a destruição total. E assim, o ciclo se repetia.

Mas o mais cruel dessa história é que, para as pessoas da cidade, o tempo não parecia anormal. Elas não sabiam que estavam presas. A cada dia, acordavam acreditando que aquele era um novo começo. Suas rotinas continuavam, seus risos e conversas seguiam como se o tempo fosse um rio fluindo naturalmente. Mas para mim, o Caçador de Ecos, que vê além dos véus do tempo, a tragédia estava clara.

A cada ciclo, o meteoro caía. E a cada queda, o tempo se recusava a seguir em frente, girando para trás e reiniciando tudo. O dia se repetia, como uma peça de teatro sem fim, onde os atores estavam condenados a interpretar os mesmos papéis sem jamais perceberem o enredo.

Algumas pessoas, no entanto, começaram a sentir algo diferente, mesmo sem compreender. Elas experimentavam pequenos flashes, sensações de déjà vu, como se soubessem, em algum nível profundo, que algo estava errado. Um homem, um ferreiro da cidade, por exemplo, toda vez que ouvia o som de marteladas em sua oficina, sentia uma pontada de desconforto, como se aquela ação já tivesse sido realizada inúmeras vezes antes. Uma jovem, ao ver a lua subir no horizonte, tinha a impressão de já ter contemplado aquele céu com o mesmo terror velado. Mas esses fragmentos de memória se dissipavam tão rápido quanto surgiam, e logo todos voltavam ao fluxo de suas vidas normais.

O meteoro, aquele pedaço de rocha colossal, era mais do que apenas um destruidor de cidades. Ele trouxe consigo uma maldição, um rasgo na própria teia do tempo. A cidade, uma vez próspera e cheia de sonhos, agora estava aprisionada em um looping interminável. Nenhum deles podia escapar, nenhum deles podia avançar para o amanhã. Eles estavam presos na prisão mais cruel de todas: o mesmo dia, repetido até a eternidade.

Tentei entender o porquê, tentei rastrear os ecos daquela tragédia, mas até eu, o Caçador de Ecos, não conseguia desvendar completamente os mistérios desse lugar. O tempo ali não fluía como em qualquer outro lugar que eu já visitara. Era como se a cidade estivesse fora da realidade, presa num limiar entre o que era e o que nunca seria.

A verdade, caro leitor, é que a cidade perdida nunca deixou de existir. Ela está lá, em algum lugar, vivendo o mesmo dia, vez após vez. Talvez, se você ouvir com atenção em noites silenciosas, consiga captar os ecos dessa cidade esquecida. O som de risos, conversas, o badalar de um relógio que nunca avança. Mas lembre-se: mesmo que tente encontrá-la, você jamais escapará de seu ciclo.

Porque ali, o amanhã nunca chega.

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