Capítulo 5

Asthara Varyneus

...***...

O final do dia de aulas, chegou arrastado. A aula de matemática correu de forma lenta e preguiçosa. Não consegui entender quase nada do que o professor falava, entendi apenas o início dos exercícios, mas em algum momento, pensamentos aleatórios desviaram o meu foco da aula e quando eu voltei a prestar atenção, o quadro negro já estava coberto de conteúdo que a minha mente limitada não conseguiria perceber.

— Por hoje é tudo meninos, estudem exercícios como esses. Sairão nas provas.

Quase chorei de emoção quando as aulas terminaram, mas agora eu tinha um problema maior. Como eu vou estudar um exercício que eu nem faço ideia de como resolver?

— Thara, tudo bem? — levantei a cara da carteira, a minha esperança aparecendo bem diante dos meus olhos. O aluno nota dez em matemática, meu melhor amigo, Kaio Del Rey.

— Kaio — o chamei, deforma dramática e me jogando nos seus braços com uma falsa voz de choro — Você precisa me salvar. — pedi, fazendo aquela cara de cachorro sem dono.

Kaio revirou os olhos, ciente do quanto de escândalos eu fazia com a única disciplina que me fazia arrancar os cabelos todos.

— Certo, certo. Eu ajudo você a estudar matemática — ele disse por fim, e eu dei um gritinho feliz — Você me ajuda com literatura moderna e mitologia, e ficas me devendo um almoço no Nycolas.

— Feito. — respondi rápido e sem pensar — Espera aí, porque sou eu quem tem que pagar o almoço? — perguntei, seguindo o fluxo de alunos.

Deu de ombros, o sorrisinho feliz no seu rosto.

— Foi você quem concordou — pontuou.

— Você me enganou. — rebati.

Ele negou, movendo os dedos de um lado para o outro.

— Você quem se precipitou, não me culpe. — me conformei, apenas porque sabia que ele sempre conseguia o que queria — Ouvi alguns rumores de que Theoclenio esteve aqui. Você está bem?

Segurei a sua mão, antes que algum daqueles alunos altos não vissem a minha mísera presença baixinha e tombassem em mim.

— Por que não estaria? — desconversei.

— Não sei — confessou — Eu só fiquei preocupado. Não gosto ele perto de você.

Assenti mais uma vez, dando razão em suas palavras.

— Me desculpe por duvidar de você — confessei, meu coração apertado, por não ter ouvido as suas palavras de alerta.

Era curioso como Kaio sempre tinha razão sobre a má índole das pessoas. Ele vai machucar você, foram as palavras que ele me disse quando eu o contei de que estava me apaixonando por Theo, e mais uma vez nas nossas vidas, ele era o certo e eu a errada.

— Você está se desculpando? — perguntou surpreso, descendo as escadas e apertando as minhas mãos com força — Asthara Varyneus, está a me pedir desculpas?

Ele riu surpreso, quase não acreditando nas suas próprias palavras.

— Não me faça repetir bebezinho Del Rey, porque eu não vou.

Ele assentiu, brincando com os nossos dedos entrelaçados.

— Eu sei que não — disse, já me conhecendo — Fiquei surpreso.

— Eu notei.

Ele riu, me olhando pelo canto dos olhos. O campus da escola Destiny se encontrava especialmente cheio. Os alunos conversavam descontraídos alguns se preparando para ir para casa ou curtir em qualquer lugar que tivesse mulher e drogas. Infelizmente o uso constante de drogas era uma realidade desesperadora para aqueles adolescentes com hormônios a flor da pele.

Algumas meninas lançavam sorrisos sensuais na direção do moreno a minha frente na intenção de o seduzir, o que nunca funcionava. Pobres garotas. Kaio estava apaixonado por Elise e desde o momento que ele constatou isso parecia que todas as outras garotas perderam valor para ele.

Soltei um suspiro relaxado quando me joguei no banco de passageiro do carro de Kaio. Desde que ele recebeu o carro no aniversário de dezoito anos, ele sempre me buscava e me levava para casa em segurança, e eu o agradecia mentalmente por isso.

Kaio pôs a sua mochila no banco de trás onde a minha repousava e me lembrei da questão que tem me enlouquecendo.

— Você conhece Viktor Bestlin? — perguntei de uma vez, na lata.

O meu amigo me olhou estranho. Quer dizer, estranho mesmo, como se aquele assunto fosse de conhecimento geral e só um louco não o conheceria.

— Você não o conhece? — perguntou, eu neguei — Não mesmo? — voltou a perguntar.

— Não mesmo. — respondi, já achando aquilo estranho.

Notando o meu semblante sério, ele arranhou a garganta e ligou o motor, dando partida para o nosso caminho para casa.

— Você faz caminhada nas trilhas da floresta toda a semana, e não os conhece Asthara?

— E o que isso tem a ver? — perguntei, ainda mais confusa.

— Você praticamente invadi o território do cara toda maldita semana e não sabe quem é o dono? — agora ele riu divertido, prestando atenção na estrada.

Agora foi a minha hora de o olhar estranho. Eu caminhava sempre na floresta aos finais de semana e nunca invadi território de ninguém, não pelo que eu saiba.

— Eu não invadi território de ninguém Kaio. — falei — Eu apenas faço caminhadas pela floresta e vou ao lago.

— Essa é a questão, Asthara — ele disse, sério — A floresta é o território dos Bestlin's.

— O quê? — perguntei surpresa — E desde quando alguém compra uma floresta?

Kaio riu, se divertindo da minha ingenuidade para esse assunto.

— Desde que ele tenha dinheiro suficiente para comprar uma cidade do tamanho de Screamsville, ou várias delas. Há gerações que os Bestlin's compraram a cidade, na verdade, toda Screamsville é território deles, mas eles preferiram construir o seu lar na floresta. Eles são um clã bem grande e multimilionário — quanto mais ele dizia, mas surpresa eu ficava — Eles dificilmente voltam para a cidade, porque têm várias propriedades ao redor do mundo. Acho que essa é a primeira vez que eles vêm aqui depois de vários anos. — concluiu.

Caraca! Esse é um daqueles babados que minha amiga, Nora Nycolas adoraria me contar com todo seu exagerismo e disponibilidade.

— Que surpresa. — foi das poucas coisas que eu disse.

— É, não é? — ele disse — Mas surpreende-me que você não sabia disso. Os Bestlin's trabalham com a polícia a anos, mesmo que as vezes de forma indirecta.

Então ele trabalha com a polícia. Que coisa mais estranha.

— Poderia me levar até a propriedade onde Viktor Bestlin reside? — perguntei após alguns minutos em silêncio.

Kaio lançou-me um olhar curioso e, ao mesmo tempo, alarmante.

— Quer dizer, a mansão da floresta? — eu assenti — Isso é loucura, Thara. Mesmo os meus pais não têm permissão para entrar lá, já é sorte o suficiente eles não te expulsarem de lá durante as suas caminhadas.

Eu apenas assenti, mesmo receosa. Se até os prefeitos não tinham autorização será que eu conseguiria? Embora eu tentasse enganar a mim mesma dizendo que era só para entregar a pulseira de voltar eu sabia que era mentira. Eu queria o ver de novo, Viktor Bestlin.

— Eu tenho algo que pertence ao Sr. Bestlin, e eu gostaria de o devolver. — falei.

— Você não conhecia o cara até meio minuto atrás, Asthara. Como pode ter algo que o pertence? — perguntou descrente, mas seguindo a rota que nos levasse a floresta.

Tinha certa lógica, mas não era como se eu não conhecesse Viktor Bestlin.

— Eu conheci-o, só não sabia quem ele era na hora.

Kaio não disse mais nada, e seguimos em silêncio pela estrada silenciosa e estranhamente muito bem asfaltada que seguia para portões ferrosos altos e pontiagudos com a imagem de uma cabeça de lobo cravada nela. Eles realmente adoravam lobos.

Os portões moveram-se devagar quando alguém, curioso, saiu da propriedade para ver quem se aproximava com exímia coragem. Era um homem, alto e vestido em tons de preto e aos seus pés o que parecia ser um lobo corria por entre as suas pernas. Eu desci do carro, seguida de Kaio e caminhei em passos calmos até perto do homem de cabelos brancos, como os de Viktor.

— Quem é você e o que faz nessa propriedade, garota? — perguntou, com os seus olhos verdes brilhando acusatórios.

— Olá. Eu sou As-

— Intrusos não são bem vindos. — interrompeu-me, o olhar duro.

— Não é como se essa sua cara amarga, fosse convidativa o suficiente para alguém se sentir bem-vindo. — os meus lábios pronunciaram antes que eu pudesse segurar.

O homem me olhou furioso, dando um passo na minha direção, e Kaio prontamente deu outro passo na sua direção.

Alguém riu no clima tenso, e não foi nenhum de nós três.

— Ora, parece que você tem senso de humor Srta. Varyneus — os meus olhos seguiram a figura que vinha na minha direção de forma relaxada — Ela é uma visita. Tem permissão total para entrar nos meus territórios. — ele disse ao homem que antes falava comigo, deixando a mim e a Kaio totalmente surpresos.

— Não tanto quando o seu, Sr. Bestlin. — rebati.

Ele olhou-me nos olhos, ignorando a presença de Kaio e chegando bem perto de mim, quase colando os nossos corpos.

— Eu disse que a veria de novo, Srta. Varyneus. — ele disse baixinho, quase sussurrando com aquela voz que me enlouquecia — E agora, a vejo bem em frente de mim.

— Começo a cogitar que deixou a sua pulseira cair de propósito, Sr. Bestlin. — acusei, entregando a peça prateada a ele.

Ele recebeu-a, os seus olhos em nenhum momento deixando os meus.

— Quem sabe — disse a dar de ombros — Não é todo o dia que se encontra alguém tão peculiar quanto você, Asthara Varyneus.

Franzi os lábios, os meus olhos dourados queimando num resquício de ódio mal contido.

— Isso tudo fazia parte do seu plano? — eu perguntei — Me manipular para que eu trouxesse a porcaria da sua pulseira?

Ele negou.

— Nem tudo — disse a apontar para Kaio — Ter um Del Rey no meu território não fazia parte do plano. — pude jurar que eu quase explodi de irá.

Aquele homem irritou-me tanto que eu sentia que a qualquer momento poderia arrancar a sua garganta.

— Vamos embora, Kaio — eu disse, me virando e voltando para o carro.

O meu amigo seguiu-me, olhando de forma enigmática para o homem de olhar violeta e cabelos níveos, que o olhava de uma forma semelhante.

— Assim você me deixa triste, Srta. Varyneus — Viktor disse, as mãos nos bolsos da calça na sua típica figura relaxada — Não vai ficar nem para um chá?

Quase revirei os olhos de desgosto.

— Não tomo chá com desconhecidos. — foi a minha resposta antes de sentar no banco de passageiro e fechar a porta.

Kaio ligou o motor, os seus dedos apertando o volante com força. Ele estava nervoso.

Viktor Bestlin, observou-me, lentamente, como se degustasse a minha presença com os seus olhos. A sua língua umedeceu os seus lábios e com os seus olhos violetas presos nos meus dourados ele disse:

— Eu não sou um desconhecido para você, Srta. Varyneus — disse, dando as costas e caminhando de volta para a sua fortaleza — Descobrirá isso mais tarde ou mais cedo — ele levantou a mão no alto, acenando — Nos vemos logo, Asthara.

Ele disse o meu nome na sua última frase, arrastando as vogais e consoantes de forma lenta numa promessa sensual que estranhamente arrepiou a minha pele em expectativa. Porra!

No caminho de volta para casa, não falamos do que aconteceu quando encontramos Viktor Bestlin, apenas ficamos em silêncio. Assim que Kaio me deixou em casa, ele foi às pressas para a sua quando recebeu uma chamada da mãe que o deixou com o semblante preocupado. Ele não me disse o que era, mas era algo sério.

E quando finalmente estava no conforto do meu quarto e deitada na minha cama, não pude deixar de pensar no quanto Viktor Bestlin era um homem arrogante e prepotente. Encontrar-me com ele de facto não foi uma boa ideia.

Nora Nycolas ( 19 anos)

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Comments

Elenita Ferreira

Elenita Ferreira

Acho que Victor falou que Kaio esteve em seu "território"🤔

2025-04-11

0

Elenita Ferreira

Elenita Ferreira

Quê linda, Nora!!😃👏🏾

2025-04-11

0

Elenita Ferreira

Elenita Ferreira

kkkkk

2025-04-11

0

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