Capítulo 4

Asthara Varyneus

...***...

O meu corpo, cansado, reclamou quando o despertador tocou, me alertando que eu tinha que começar a me preparar antes que eu atrase para a escola. O que eu não ligava, mas a escola Destiny era rigorosa demais com os horários e faltas dos alunos, não queria arriscar estragar a minha reputação de boa aluna por nada. Mesmo que, eu chegasse na escola mais cansada do que nunca.

Lenon acordou com o barulho do despertador, e veio tentar me mover com a sua cabeça, para que eu levantasse da cama e fosse me preparar.

— Eu sei Lenon. Já estou acordada — murmurei ao cobrir a minha cabeça com o cobertor — Eu só preciso de mais cinco minutos.

Estava preparada para tentar dormir nem que fossem uns míseros cinco minutos, mas a coberta foi puxada de mim num instante, o frio assolando a minha pele.

— Lenon! — exasperei para o cachorro que me olhava de forma tediosa sentado no tapete do quarto com o meu cobertor preso nos seus dentes — Eu só pedi cinco minutos, criatura.

Contrariada, sabendo que aquele folgado não me daria esse tempo me dirigi ao banheiro, ouvindo os seus latidos felizes.

— Eu sei, obrigada por acordares-me. — falei assim que eu fechei a porta, o seu latido de confirmação chegou logo após, como se estivesse satisfeito.

Lenon sempre sabia quando eu mentia, os meus cinco minutos se transformavam em trinta se eu me distraísse só por um segundo. E mesmo que as minhas noites de sono não fossem tão boas, quando eu dormia o dia inteiro me sentia mais viva e relaxada.

Terminei o meu banho em poucos minutos, escovei os dentes e arrumei o cabelo lutando para fazer um rabo de cavalo decente, e depois de um longo tempo e com os braços dormentes eu consegui. Revirei o meu guarda-roupa procurando por roupas quentes.

Me vesti com uma blusa longa grafic tees amarela, um ténis dunk da Nike preta e uma calça cargo também preta.

Passei o meu amado gloss, peguei a minha mochila, meu celular e os meus fones de ouvido e prontos. Estava pronta para enfrentar o inferno.

Desci as escadas de casa ainda bocejando, as malditas olheiras aparentes no meu rosto. Mal acabei descendo as escadas e um cheiro gostoso invadiu as minhas narinas, sabendo quem era a única pessoa da casa que cozinhava as seis da manhã me dirigi a cozinha, encontrando a sua figura de frente ao fogão retirando os ovos da frigideira.

— Vai ficar apenas aí me olhando, Asthara? — bufei descrente, ele ainda estava de costas, mas conseguia ler a minha presença tão fácil.

Apoiei a minha mochila na cadeira e sentei-me, o perguntando de forma curiosa:

— Como sempre sabe onde eu estou? — perguntei, roubando uma metade de maçã que estavam dispostos num prato a minha frente.

Desligando o fogão, ele juntou-se a mim, servindo ovos, café e bacon para os dois de nós.

— Eu conheço o som dos seus passos. São pesados e ritmados, é como se fosse uma música com ritmo forte. — explicou, colocando açúcar na sua xícara de café.

Apenas ergui a sobrancelha em questionamento na sua direção.

— Sabe que isso pareceu um Stalker falando, não é? — perguntei, esticando os meus braços e puxando a sacola de pão para perto de mim.

Não se importando, ele deu um riso contido, o seu ombro subindo e descendo num gesto despreocupado.

— No final das contas, os pais são sempre, os maiores Stalker das filhas. — disse reflexivo — É por isso que notamos cada pequena mudança no comportamento, medos, ou até mesmo quando os nossos bebés têm problemas para dormir, como agora. — apontou para as minhas olheiras.

Nesse momento eu parei de comer, engolindo o café sem açúcar com dificuldade.

— Eu já não sou um bebê e não é nada de mais. — desconversei, comendo algumas das maçãs que ele havia cortado.

— Pra mim você ainda é, e da última vez que você me disse isso, não foi nada de mais, Asthara. — rebateu, relembrando os episódios de noites anteriores.

Quando eu estava a passar por uma decepção amorosa. Tragando o ar com força para os meus pulmões tentei controlar o bater frenético do meu coração, e a falta de ar que me atingia.

— Eu sei que você não gosta de falar sobre isso, ou me preocupar, querida. — ele disse, segurando minhas mãos por cima da mesa — Mas, você sabe que pode falar comigo sobre tudo que a preocupa. Você é minha filha, e eu não pretendo negligenciar você fingindo que não ouço você chorando ou gritando por causa dos pesadelos a noite.

Engoli o nó na garganta, controlando a vontade de chorar.

— Eu vou ficar bem, prometo. — tentei tranquilizar nós dois, a tristeza quase me inundando por completo.

— Você terá que cumprir essa promessa srta. Varyneus — assenti, querendo livrar-me daquele clima nada agradável.

O resto do pequeno-almoço passou-se de forma silenciosa, apenas o som de talheres e pratos sendo lavados foram ouvidos por longos minutos.

— Ah, papai. — chamei, ganhando coragem.

— Sim? — ele virou-se para mim, pegando a chave do carro em cima da mesinha da sala de estar para me levar a escola.

— Você conhece alguém chamado Viktor Bestlin? — finalmente perguntei.

Ele parou, os seus ombros tensos sobre o tecido da jaqueta. E a sua reação levou-me a uma conclusão, ele conhece.

— Onde ouviu esse nome? — perguntou, a sua expressão mais séria que o normal.

Já estava a cogitando que Viktor Bestlin, não era um homem qualquer.

— Na cidade — eu disse uma meia verdade, a sua reação já era o suficiente para saber que ele surtaria se soubesse que eu me encontrei com esse homem.

Ele assentiu, de maneira lenta, como se estivesse a processar as informações.

— Fique longe desse homem, Asthara. — ele não pediu, ordenou, seriamente, dando a sua palavra final.

— Por quê? — a minha curiosidade falou mais alto.

— Acredite querida, ele não é alguém que tu deves conhecer. Entendeu?

Toda a calmaria esvaiu-se como água e a curiosidade de saber quem Viktor Bestlin era, se enraizou no meu ser como as raízes de uma árvore ancestral. Claro que eu descobriria quem ele era.

— Tudo bem. — foi minha única resposta, antes que ele me levasse para a escola.

***

Quem raios era Viktor Bestlin?

Essa pergunta não saia dos meus neurónios. Martin Varyneus, meu pai, conhecia e sabia alguma coisa muito ruim sobre esse homem e contar-me não estava nos planos dele. Ele nunca agiu assim ou proibiu-me de coisas tão insignificantes assim, como me mandar ficar longe de alguém.

Ele praticamente ordenou que eu me afastasse de Viktor Bestlin, o que já era anormal. Mas, eu não tinha tanta certeza se eu realmente o obedeceria dessa vez.

— Presidente?

— Hum? — me virei para Caleana, a minha vice-presidente no clube de jornalismo da escola.

Estávamos no clube, escrevendo alguns artigos sobre como esse ano letivo tem corrido, e as atividades escolares que estavam para serem realizadas ainda esse ano.

— Tem alguém querendo falar contigo. O deixo entrar? — apontou para fora da porta, onde ela estava ancorada.

A única pessoa que me procurava no clube era Kaio, mas se fosse realmente ele não havia necessidade de avisar-me, ele praticamente fazia daquela sala a sua casa.

— Quem é? — perguntei, colocando o note book e o meu bloco de notas de lado.

— Sou eu. — o rapaz de olhar acastanhado falou, a sua figura entrando na sala — Olá, Asthara.

— O que você faz aqui? — perguntei, o meu olhar furioso direcionado ao rapaz de pele clara e cabelos castanhos.

Ele chegou mais para perto, os seus movimentos nervosos e quase desequilibrados, o seu rosto com uma expressão culpada que me enojava.

— Precisamos conversar, Asthara — ele disse — Você precisa me ouvir.

— Você não entende o que significa um não? — ele tentou se aproximar e eu o parei, levantando a palma na sua direção.

— Asthara, por favor — ele tentou pedir — Eu fui um idiota e sei que cometi um erro, por favor, converse comigo.

Soltei um suspiro descrente e cansado, sabendo que ele não desistiria até ouvir umas boas verdades de mim.

— Pessoal — me dirigi a todos os meus colegas presentes — Podem dar-me um momento, por favor?

Todos concordaram, se levantando dos seus assentos e caminharem em direção a saída.

— Ouse tocar nela e sairá sem um dos membros do seu corpo dessa escola, Quim — Rodric, o alertou, tão calmo e sério como nunca o tinha visto.

Eles se encararam com olhares tempestuosos e expressões frias como o gelo.

— Não me ameace, Rodric — respondeu baixo, se aproximando do meu amigo lentamente.

— Você sabe que isso não é apenas uma ameaça — Rodric disse, se afastando lentamente e depois acenou para mim — Estarei no corredor. Chame se precisar.

Eu apenas concordei, meus olhos furiosos não desgrudando dos castanhos tão familiares que fitavam-me de volta.

Assim que a porta da sala foi fechada e a presença de Rodric sumiu por de trás da madeira branca, a tensão no ambiente quase me sufocou.

— O que você quer, Theo? — o questionei sem rodeios. Não estava com ânimo nenhum para ter essa conversa, ainda mais agora e na escola.

— Asthara — ele começou dizendo, mas eu o parei antes que começasse com mais um daqueles discursos ridículos que me faziam querer cometer um crime.

— Vá directo ao ponto, por favor. Só a tua presença já me deixa doente — vi sua garganta oscilar e ele me direcionar um olhar culpado.

E aquilo me irritou mais do que deveria.

— Eu quero o seu perdão, Asthara — ele começou dizendo — Eu agi errado com você e acabei te machucando da pior forma possível. Eu tentei, mas não consegui. Por favor tente me entender.

Pisquei, atónita com o rumo em que as suas palavras estavam tomando.

— Entender? — perguntei furiosa, dando um passo na sua direção — O que eu devo entender? — o questionei rudemente — Você me traiu! — o acusei apontando para ele — Não tem nada para eu entender aqui, Theoclenio.

Era ridículo o que ele sequer estava tentando insinuar com isso. Eu deveria sentir pena com essa cena estúpida? Sem chance.

— Foi um erro. Você me conhece a anos, Asthara. Sabe que eu jamais seria capaz de fazer isso com você — foi inevitável não soltar um riso sarcástico cheio de humor amargo e desprezo.

Nada nele me pareceu tão falso como naquele momento. Eu o conhecia desde os dez anos, fomos amigos a anos e estamos juntos a dois anos. Achei que namorar o meu amigo de infância era uma escolha segura e que eu seria feliz com ele porque eu fui idiota de me apaixonar e confiar nele.

— Você já fez, Theoclenio. Não consegue ver isso? — parecia inacreditável o cinismo com que ele se referia ao facto de ter me traído. Ele traiu a minha amizade e o meu amor, e isso é inconcebível — Você sumiu por dois meses e nós te procuramos feito loucos, eu te procurei, meu pai te procurou. Nossos amigos e todos os policias daquela maldita delegacia. E adivinha só? — apontei ao redor, meus olhos se enchendo de lágrimas — Você estava em França, aproveitando a vida com quantas mulheres você achou necessário. Então não, eu não entendo e não te perdoo. Eu não conheço essa pessoa que está agora na minha frente.

— Asthara...

— Não. Já ouvi o necessário. Saía e nunca mais apareça na minha frente. Nunca mais! — deixei bem claro antes que ele dissesse mais qualquer coisa.

Os seus olhos encontraram os meus novamente, e eu pude perceber. Aqueles não eram os olhos de um amigo ou de um amante. Eram olhos de um completo desconhecido.

E finalmente percebi que aquela página da minha história, estava apagada para sempre. Theoclenio Quim estava oficialmente apagado da minha alma e do meu coração.

Kaio Del Rey ( 20 anos)

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Comments

Elenita Ferreira

Elenita Ferreira

Sim, né!!???🫣 Bestlin tá na a área!!!😀😀😀

2025-04-11

0

Elenita Ferreira

Elenita Ferreira

Quê nome horroroso!!!🫣🫣🫣 kkkkkkkk

2025-04-11

0

Elenita Ferreira

Elenita Ferreira

Del Rey vc é lindo 😀😀😀👏🏾

2025-04-11

0

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