O céu sobre as Colinas de Sombra estava mais claro quando Arthur e Eldrin começaram a descida. O manto da noite já tomava o lugar do crepúsculo, e as primeiras estrelas começaram a aparecer no firmamento. Arthur segurava a urna com as Cinzas do Vento com um cuidado quase reverente, ciente de que carregava algo de imenso poder. O peso simbólico do artefato parecia refletir o fardo crescente que ele sentia em seus ombros.
À medida que se afastavam do cume, Arthur sentiu a atmosfera ao seu redor mudar sutilmente. A energia que antes estava carregada e opressiva começou a se dissipar, substituída por uma sensação de expectativa, como o ar antes de uma tempestade.
“Para onde vamos agora?” Arthur perguntou, sua voz baixa, quase como se não quisesse perturbar a calma momentânea.
Eldrin, que caminhava à frente, olhou por sobre o ombro e respondeu em um tom firme: “Nosso próximo destino é o Vale das Tempestades. As Cinzas do Vento devem ser ativadas lá, onde o poder elemental do vento é mais forte. Mas não será fácil. O vale é conhecido por suas tempestades constantes e imprevisíveis. A maioria dos viajantes que ousa cruzá-lo nunca retorna.”
Arthur respirou fundo, tentando processar as palavras de Eldrin. Ele já havia enfrentado perigos desde que chegara a Etheria, mas cada novo desafio parecia ainda mais aterrorizante que o anterior. No entanto, algo dentro dele, uma força recém-descoberta, o impedia de recuar. Havia um propósito maior, uma responsabilidade que ele não podia ignorar.
“Vamos então,” disse Arthur, determinado, “precisamos continuar antes que a noite se torne ainda mais perigosa.”
Eldrin apenas assentiu e os dois seguiram em frente. A descida pelas colinas foi mais rápida que a subida, e logo eles estavam de volta à densa floresta que rodeava a base. Os ruídos noturnos da floresta, antes abafados pelas sombras das colinas, agora ressoavam ao redor, criando uma trilha sonora de vida selvagem e mistério.
***
O Vale das Tempestades não estava longe, mas ao chegarem à entrada, Arthur entendeu por que Eldrin havia alertado sobre os perigos do lugar. Ao longe, relâmpagos cortavam o céu com uma frequência impressionante, e o som dos trovões reverberava como uma constante ameaça. Nuvens negras e espessas rolavam acima do vale, movendo-se rapidamente como se fossem guiadas por uma força invisível.
“Antes de entrar, preciso te alertar,” Eldrin começou, sua voz ganhando um tom mais severo. “As tempestades aqui não são naturais. Elas são alimentadas por uma antiga magia. Há criaturas que vivem no vale, alimentando-se da energia das tempestades, e elas não veem com bons olhos intrusos em seu território.”
Arthur sentiu um calafrio correr pela espinha. “Que tipo de criaturas?”
“Os Ventuários,” Eldrin respondeu, sua expressão sombria. “Seres feitos de vento e relâmpago, praticamente indestrutíveis. A única maneira de sobreviver a um encontro com eles é não ser visto.”
Arthur engoliu em seco, mas sabia que não havia outra escolha. “Então devemos ser rápidos.”
Com um aceno de cabeça, Eldrin começou a avançar, e Arthur o seguiu de perto. Assim que entraram no vale, a mudança no clima foi imediata. O vento chicoteava com força, jogando folhas e galhos em todas as direções. A chuva começou a cair em grandes gotas, encharcando-os em questão de minutos. Mas o que mais impressionava eram os relâmpagos, que pareciam estar em todo lugar ao mesmo tempo, iluminando brevemente as formas rochosas do vale e as silhuetas sombrias das montanhas ao redor.
Eles avançavam cuidadosamente, cada passo cuidadosamente calculado. O terreno era traiçoeiro, com pedras soltas e fendas escondidas pela chuva torrencial. Arthur se esforçava para manter o equilíbrio, o som do vento e da tempestade tornando difícil até mesmo ouvir seus próprios pensamentos.
De repente, um relâmpago iluminou o céu diretamente acima deles, e Arthur viu uma sombra se mover na periferia de sua visão. Ele parou, o coração batendo forte. “Eldrin... você viu isso?”
Eldrin não respondeu imediatamente, mas estava claro que ele também tinha notado a presença. “Fique abaixado,” ele instruiu, sua voz quase inaudível em meio ao barulho da tempestade.
Arthur seguiu as instruções, agachando-se atrás de uma rocha. Seus olhos tentavam penetrar a escuridão, procurando por sinais dos Ventuários que Eldrin mencionara. Mas o vale estava em constante movimento, com o vento e a chuva criando ilusões que dificultavam discernir o que era real.
Mais uma vez, um relâmpago rasgou o céu, e desta vez Arthur viu claramente – uma figura alta e esguia, feita de pura energia, movendo-se com uma velocidade sobrenatural. Seu corpo parecia um tornado humanoide, com correntes de ar e faíscas elétricas dançando ao redor de sua forma. Era uma visão ao mesmo tempo bela e aterrorizante.
Eldrin se moveu silenciosamente para mais perto de Arthur. “Não podemos lutar contra isso,” ele sussurrou. “Mas podemos usar a tempestade a nosso favor. Siga-me e faça exatamente o que eu fizer.”
Arthur assentiu, a adrenalina bombeando em suas veias. Eldrin começou a se mover novamente, mais rápido desta vez, mas com uma graça que indicava anos de experiência. Arthur tentou imitá-lo, mas a tempestade parecia conspirar contra ele, dificultando cada movimento. Mesmo assim, ele manteve o foco, determinado a seguir o guerreiro até o fim.
Eles avançaram por mais alguns minutos, as sombras dos Ventuários sempre presentes, mas nunca se aproximando o suficiente para atacar. Eldrin guiou Arthur por entre rochas e desfiladeiros, sempre procurando a melhor cobertura, até que finalmente chegaram a um ponto onde o vento parecia menos intenso, e a chuva, mais leve.
“Estamos perto,” Eldrin disse, respirando um pouco mais aliviado. “A caverna onde as Cinzas do Vento devem ser ativadas está logo à frente.”
Arthur olhou na direção indicada e viu uma abertura na rocha, uma fenda estreita que parecia se estender para dentro da montanha. Mas antes que pudessem avançar, um som agudo cortou o ar, como um grito de fúria. Arthur virou-se a tempo de ver um Ventuário deslizando rapidamente na direção deles, a energia ao redor de seu corpo crepitando com intensidade crescente.
“Corra!” Eldrin gritou, e ambos dispararam em direção à caverna.
O Ventuário os perseguiu com uma velocidade assustadora, o som de sua aproximação ecoando como um trovão. Arthur sentia o coração martelando em seu peito enquanto corria o mais rápido que podia, a caverna agora parecendo ao mesmo tempo próxima e distante demais.
Eles chegaram à entrada da caverna no último instante, mergulhando para dentro enquanto o Ventuário se chocava contra a rocha atrás deles. Arthur ouviu o som da tempestade rugindo do lado de fora, mas dentro da caverna, tudo estava surpreendentemente quieto.
Ambos respiravam pesadamente, tentando recuperar o fôlego. Arthur olhou ao redor, tentando se situar. A caverna era pequena, mas havia uma aura de poder no ar, algo antigo e profundo. No fundo da caverna, havia um pedestal esculpido em pedra, com símbolos semelhantes aos que ele havia visto nas colinas.
“Este é o lugar,” Eldrin disse, sua voz calma, mas ainda ofegante. “Agora, Arthur, use as Cinzas do Vento.”
Arthur aproximou-se do pedestal, suas mãos ainda trêmulas. Ele abriu a urna, e as Cinzas começaram a brilhar com uma luz prateada. Com cuidado, ele derramou um punhado das cinzas sobre o pedestal, e imediatamente, sentiu uma onda de energia preencher o espaço ao seu redor.
O vento do lado de fora pareceu se intensificar, e o som dos trovões ecoou mais uma vez, mas desta vez, a energia da tempestade parecia estar sendo absorvida pela caverna, convergindo para o ponto onde as Cinzas do Vento repousavam.
Arthur sentiu a marca em seu braço pulsar com força, conectando-se com a energia ao seu redor. De repente, ele soube o que precisava fazer. Com os olhos fechados, ele concentrou-se, canalizando a energia das Cinzas através de sua marca, e uma luz intensa encheu a caverna.
Quando a luz diminuiu, Arthur abriu os olhos e viu que o pedestal havia se transformado. No lugar onde antes estavam as Cinzas do Vento, agora repousava um amuleto em forma de espiral, feito de prata e emitindo um brilho suave.
Eldrin olhou para o amuleto com respeito. “O Amuleto dos Ventos... Agora, você pode controlar parte do poder do vento, Arthur. Isso será crucial para o que vem a seguir.”
Arthur pegou o amuleto, sentindoo peso da responsabilidade aumentar, mas ao mesmo tempo, uma nova confiança brotava dentro dele. O Amuleto dos Ventos parecia vibrar levemente em sua mão, como se estivesse vivo, aguardando suas próximas ações.
“Agora que temos o amuleto, para onde devemos ir?” Arthur perguntou, ainda ofegante, mas determinado a continuar.
Eldrin olhou para ele com uma expressão que mesclava admiração e seriedade. “Nosso próximo destino é o Templo das Estações, onde você precisará ativar o segundo dos quatro amuletos. O caminho será difícil, e nossos inimigos saberão que você está em posse desse poder. Mas primeiro, devemos sair deste vale e encontrar abrigo para a noite.”
Arthur assentiu, ciente de que as palavras de Eldrin não eram um exagero. A jornada que ele havia iniciado estava apenas começando, e a cada passo, os desafios se tornavam mais perigosos e as apostas mais altas.
Eles saíram da caverna, com Arthur segurando o amuleto firmemente. A tempestade lá fora parecia ter perdido parte de sua intensidade, como se o próprio vale estivesse reconhecendo o novo guardião do Amuleto dos Ventos. Contudo, o perigo estava longe de ter passado. Eles precisavam sair do Vale das Tempestades antes que os Ventuários voltassem a atacar.
Eldrin liderou o caminho, e desta vez, o trajeto parecia mais seguro, como se o vento e os relâmpagos evitassem o caminho deles. Arthur sentiu o amuleto pulsar ocasionalmente em sua mão, e cada vez que isso acontecia, ele percebia que a tempestade ao redor reagia, abrindo caminho para eles.
Depois de um tempo que pareceu uma eternidade, eles finalmente deixaram o Vale das Tempestades para trás e encontraram um pequeno bosque onde poderiam descansar. As árvores densas proporcionavam um abrigo natural contra o vento, e o som distante da tempestade era um lembrete do perigo que haviam superado.
“Precisamos descansar,” Eldrin disse, preparando uma pequena fogueira. “Amanhã, partiremos ao amanhecer. Cada dia que passa, a escuridão em Etheria cresce mais forte. Não temos tempo a perder.”
Arthur assentiu, sentando-se perto do fogo e sentindo o cansaço finalmente alcançá-lo. Ele olhou para o amuleto em sua mão, ainda maravilhado com o poder que agora carregava. Ao mesmo tempo, sentia o peso das expectativas e das responsabilidades que vinham com ele.
“Eldrin,” Arthur começou, hesitante, “você acha que realmente sou capaz de fazer isso? De salvar Etheria?”
Eldrin olhou para ele através das chamas da fogueira, seus olhos brilhando com uma sabedoria que parecia quase infinita. “Arthur, você já deu os primeiros passos, e isso por si só já é uma prova de sua força. Ninguém pode prever o futuro, mas eu acredito que você tem o que é necessário para completar essa jornada. Lembre-se, o poder não está apenas no amuleto, mas na pessoa que o carrega.”
As palavras de Eldrin ecoaram no coração de Arthur. Ele sabia que a jornada seria longa e cheia de perigos, mas pela primeira vez, ele começou a acreditar que talvez, apenas talvez, fosse possível.
Com essa nova determinação, Arthur fechou os olhos, deixando o som suave do vento nas árvores e o calor da fogueira acalmá-lo. O sono veio rápido, e em seus sonhos, ele viu o horizonte de Etheria, vasto e cheio de possibilidades, esperando por ele.
A noite passou tranquila, e quando o primeiro raio de sol tocou o céu, Arthur acordou, pronto para continuar sua jornada. O Templo das Estações era seu próximo destino, e com Eldrin ao seu lado, ele sabia que, apesar dos desafios que enfrentaria, estava no caminho certo para descobrir o que significava ser o Viajante de Etheria.
E assim, com o amuleto pendurado ao redor do pescoço e a esperança renovada em seu coração, Arthur e Eldrin partiram, prontos para enfrentar os mistérios e perigos que ainda os aguardavam, com o destino de Etheria firmemente entrelaçado com cada escolha que ele fizesse.
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Atualizado até capítulo 60
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