Arthur sentia o chão úmido e macio sob suas botas enquanto avançava, os olhos fixos na floresta sombria que Leira apontara. À medida que se aproximava, o ar ficava mais denso, como se o próprio ambiente estivesse tentando dissuadi-lo de entrar. Cada passo o fazia sentir-se mais distante do mundo que conhecia e mais imerso na estranha realidade de Etheria.
A floresta era imensa e antiga, as árvores torcendo-se em formas grotescas, como se estivessem em eterna agonia. As folhas eram de um verde escuro, quase negro, e bloqueavam a maior parte da luz do céu crepuscular, deixando o ambiente envolto em penumbra. Havia um silêncio perturbador, quebrado apenas pelo som ocasional de galhos estalando ou de criaturas invisíveis movendo-se nas sombras.
Arthur segurava a parte superior do manto que vestia, tentando encontrar algum conforto em sua textura desconhecida. Ele ainda estava se acostumando com a leveza e o corte incomum da vestimenta, que parecia feita para oferecer proteção sem sacrificar mobilidade. Seu olhar caía constantemente na marca em seu braço, brilhando suavemente como uma lanterna fraca, uma lembrança constante de sua nova realidade.
Conforme avançava pela trilha sinuosa, Arthur refletia sobre o que havia deixado para trás. Sua vida monótona e sem propósito agora parecia distante, quase irreal. E embora sempre tivesse sonhado com aventuras como as que lia em livros, estar ali, naquele mundo estranho e perigoso, era uma experiência esmagadora. A sensação de ser um estranho em um lugar onde não compreendia as regras ou os perigos o deixava ansioso e nervoso.
O som de passos ecoando atrás dele o fez parar abruptamente. Seu coração acelerou e ele se virou rapidamente, os olhos vasculhando a escuridão em busca da fonte. Não viu nada, apenas as sombras das árvores dançando ao sabor de um vento que ele não sentia.
“Quem está aí?” sua voz soou trêmula, ecoando na floresta como um sussurro perdido.
Por um momento, o silêncio voltou, apenas para ser interrompido por um riso baixo e rouco, que parecia vir de todas as direções. Arthur sentiu um frio percorrer sua espinha.
“Não seja tão desconfiado, Viajante,” disse uma voz masculina e rouca, surgindo de entre as árvores. Um homem surgiu das sombras, alto e magro, com cabelos grisalhos caindo sobre os ombros e olhos brilhando com uma astúcia predatória. Ele vestia uma armadura leve, feita de couro e metal, e carregava uma espada curta na cintura.
Arthur deu um passo para trás, instintivamente se colocando em posição defensiva. “Quem é você?” ele perguntou, tentando esconder o medo em sua voz.
O homem sorriu, exibindo dentes brancos e afiados demais para serem normais. “Meu nome é Eldrin,” ele respondeu, fazendo uma leve reverência, “e você, Arthur, é o Viajante de que todos estão falando. Que sorte a minha encontrá-lo tão cedo em sua jornada.”
Arthur franziu a testa, confuso. “Como você sabe meu nome? E o que quer de mim?”
Eldrin riu novamente, desta vez com um tom quase amigável. “Este mundo tem seus meios de espalhar notícias rapidamente. Quanto ao que eu quero... digamos que estou interessado em ver se a lenda do Viajante é verdadeira. Muitos chegaram antes de você, mas nenhum sobreviveu tempo suficiente para fazer a diferença.”
Arthur sentiu um nó se formar em seu estômago. “Você vai me matar?” ele perguntou, a voz saindo mais baixa do que pretendia.
Eldrin ergueu uma sobrancelha, claramente divertindo-se com a situação. “Matar você? Não, ainda não. A menos que, é claro, você prove ser um fracasso como os outros.”
O olhar de Eldrin tornou-se mais sério, seus olhos fixos nos de Arthur. “Você foi escolhido para salvar Etheria, mas salvar o que, exatamente? Este mundo está em ruínas, e há poucos que ainda acreditam em heróis ou salvadores. A pergunta, Viajante, é: você acredita em si mesmo?”
Arthur sentiu o peso das palavras de Eldrin. Ele não tinha certeza se acreditava, não realmente. Tudo parecia surreal, como um sonho do qual ele poderia acordar a qualquer momento. Mas o olhar penetrante de Eldrin, cheio de expectativas, o desafiava a encontrar uma resposta.
“Eu... Eu não sei,” Arthur admitiu, desviando o olhar para o chão. “Mas estou disposto a tentar.”
Eldrin observou-o por mais um momento antes de acenar com a cabeça, como se tivesse tomado uma decisão. “Bom o suficiente,” ele disse, aproximando-se de Arthur. “Eu vou guiá-lo até as Colinas de Sombra. Lá, enfrentaremos o primeiro teste, e então veremos do que você é realmente feito.”
Arthur ainda estava confuso e inseguro, mas havia algo em Eldrin, uma força silenciosa e uma experiência inegável, que o fez confiar nele, pelo menos por enquanto. Talvez fosse apenas porque ele precisava de alguém para guiar seus passos, alguém que soubesse o que estava fazendo. E Eldrin parecia exatamente essa pessoa.
“Vamos, Viajante,” Eldrin disse, virando-se e começando a caminhar pela trilha escura. “O caminho não será fácil, mas é o único que você pode seguir agora.”
Arthur respirou fundo, tentando acalmar os nervos, e seguiu o estranho guerreiro nas profundezas da floresta. A cada passo, sentia-se afundando mais no mistério de Etheria, sem saber o que o aguardava, mas consciente de que não havia volta. A jornada havia começado, e com ela, a transformação de um homem comum em algo muito maior do que ele jamais poderia imaginar.
A floresta fechava-se ao redor deles, como se o mundo estivesse conspirando para testar o Viajante e seu guia. E em algum lugar, nas sombras adiante, aguardavam as Colinas de Sombra – e o primeiro grande desafio de Arthur.
Provações na Escuridão
A floresta parecia se fechar ainda mais à medida que Arthur e Eldrin avançavam, os galhos retorcidos das árvores entrelaçando-se acima deles, bloqueando quase toda a luz do crepúsculo. O ar ficava mais frio e pesado, carregado com um cheiro de terra úmida e algo que Arthur não conseguia identificar, mas que lhe dava uma sensação de inquietação crescente.
Eldrin seguia à frente, movendo-se com a facilidade de alguém que conhecia bem o terreno, embora suas expressões permanecessem impenetráveis. Arthur, por outro lado, sentia-se cada vez mais desconfortável. Cada ruído, cada sombra parecia espreitar, como se a própria floresta estivesse viva, observando-os.
"Como você conheceu Etheria?" Arthur perguntou, tentando quebrar o silêncio sufocante.
Eldrin parou por um instante, virando a cabeça levemente para Arthur. "Há muito tempo, eu era como você," ele disse, sua voz baixa e distante. "Um forasteiro em um mundo estranho, tentando encontrar meu caminho. Mas Etheria tem uma maneira de moldar os homens, de testar suas almas."
Arthur notou um tom de amargura nas palavras de Eldrin, mas antes que pudesse perguntar mais, Eldrin retomou a caminhada, encerrando a conversa.
Após o que pareceu horas de marcha, os dois chegaram a uma clareira. No centro, havia uma grande pedra coberta por musgo, cercada por símbolos antigos gravados no chão. Eldrin parou e apontou para a pedra.
"Aqui é onde começamos," disse ele, os olhos brilhando de expectativa.
Arthur franziu a testa, olhando ao redor. "O que é isso? Um tipo de ritual?"
"Algo assim," Eldrin respondeu, dando um passo para o lado e permitindo que Arthur se aproximasse da pedra. "Esta é uma pedra de ligação. Em Etheria, muitos lugares são protegidos por barreiras mágicas. Apenas aqueles que passam por um teste podem avançar."
Arthur olhou para a pedra e depois para Eldrin, um sentimento de apreensão crescendo em seu peito. "Que tipo de teste?"
Eldrin sorriu de forma enigmática. "Um teste da alma. O que você verá dependerá de suas próprias fraquezas, de seus próprios medos. Para acessar as Colinas de Sombra, você deve enfrentar algo de dentro de você."
Arthur engoliu em seco, a mão tremendo levemente ao estendê-la em direção à pedra. Havia algo na superfície que o atraía, como se estivesse destinado a tocá-la. Assim que seus dedos fizeram contato, ele sentiu uma energia percorrer seu corpo, e o mundo ao seu redor começou a se distorcer.
De repente, ele estava em outro lugar. A floresta havia desaparecido, substituída por um campo familiar – o campo de futebol onde ele costumava jogar quando era criança. Ele estava lá, em pé no centro do campo, mas tudo estava coberto por uma névoa espessa.
"Isso não é real," Arthur murmurou para si mesmo, tentando manter a calma. "É apenas um teste."
Mas então ele ouviu vozes na névoa, vozes familiares que ele não ouvia há anos. A primeira voz era de seu pai, um homem austero que sempre exigiu muito de Arthur. A voz estava cheia de decepção, ressoando no ar como um julgamento silencioso.
"Você sempre foi fraco, Arthur. Nunca fez nada certo. Sempre falhou."
Arthur sentiu um aperto no peito, as palavras cortando fundo, trazendo à tona memórias dolorosas de sua infância, onde ele lutava para corresponder às expectativas impossíveis de seu pai. Antes que pudesse responder, outra voz se juntou à primeira, mais suave, mas igualmente carregada de dor – a voz de sua mãe.
"Por que você nunca tentou mais? Por que nunca fez algo de verdade com sua vida?"
Arthur olhou ao redor, desesperado para encontrar uma saída da névoa que agora parecia engolfá-lo. Mas as vozes continuavam, sussurrando suas falhas, seus medos mais profundos, seus arrependimentos. A névoa parecia apertar ao redor dele, sufocando-o, enquanto ele caía de joelhos.
"Eu... eu tentei," Arthur balbuciou, as lágrimas escorrendo por seu rosto. "Eu fiz o meu melhor..."
Mas as vozes não se calaram. Elas continuaram, implacáveis, e Arthur sentiu como se fosse desmoronar sob o peso de sua própria culpa e vergonha.
No entanto, uma faísca de determinação começou a surgir dentro dele. Lembrou-se das palavras de Leira, da promessa que havia feito a si mesmo de tentar, de fazer algo que realmente importasse. E então, ele levantou a cabeça.
"Eu sei que falhei no passado," ele gritou para a névoa, sua voz ganhando força. "Mas não vou falhar agora. Este é o meu caminho, minha jornada, e eu farei o que for necessário para salvar Etheria."
De repente, a névoa começou a dissipar-se, e as vozes foram ficando cada vez mais distantes, até desaparecerem completamente. Arthur ficou de pé, ainda tremendo, mas com uma nova determinação brilhando em seus olhos. Ele olhou ao redor, e o campo de futebol desapareceu, revelando novamente a clareira da floresta, com Eldrin esperando por ele.
O guerreiro olhou para Arthur, avaliando-o cuidadosamente. "Você passou," disse Eldrin, com um tom de aprovação em sua voz. "Nem todos conseguem."
Arthur assentiu, ainda recuperando o fôlego. "Foi... foi mais difícil do que eu imaginava."
Eldrin colocou uma mão no ombro de Arthur, um gesto surpreendentemente amigável. "Você está mais forte agora, Viajante. A partir daqui, as coisas só ficarão mais difíceis, mas lembre-se: a força para vencer seus maiores desafios sempre estará dentro de você."
Com essas palavras, Eldrin começou a caminhar novamente, agora em direção às Colinas de Sombra, visíveis à distância. Arthur olhou para elas, sentindo uma mistura de ansiedade e excitação. O primeiro desafio estava superado, mas muitos mais aguardavam. E enquanto seguia Eldrin, ele sabia que não podia mais olhar para trás. Sua jornada apenas começara.
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Atualizado até capítulo 60
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